quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Vida e Morte


O ser humano é marcado essencialmente pela sua existência. Pensar, agir, sentir, realizar, sofrer, omitir, amar, odiar são atributos próprios ao homem ao longo de sua vida. A princípio, e numa fria análise, parece que se a vida dita o nosso ritmo, a morte põe termo às nossas intenções. É, apenas parece, porque na prática vida e morte estão mais ligadas do que a gente imagina.

Viver e morrer não são meros atos de representação biológica para nós humanos. São linhas paralelas que, inopinadamente, se tocam, se cruzam em algum ponto e eu ouço pensar que uma dá seqüência aos atos da outra como se nada houvesse de interrupção. Viver é algo muito mais profundo que a batida seca dos relógios cotidianamente. Morrer é algo mais que o silêncio de todas as horas. Somos, sem extreme de dúvidas, aquilo que aqui representamos em todo o nosso existencialismo e, há quem diga, que nesse mundo somos o que temos, nada mais que isso, donde vez por outra, a morte apenas cuida de emendar os nossos erros.

Os filósofos estóicos defendiam que somente após a morte é que podemos afirmar que alguém foi ou não feliz, Dando a morte o condão natural de julgar a felicidade ou infelicidade da vida.

Quem não souber morrer bem terá vivido mal”, definiu Sêneca.

Nessa dualidade de vida e morte, Montaigne nos sugere que “qualquer que seja a duração de nossa vida, ela é completa. Sua utilidade não reside na quantidade de duração e sim no emprego que lhe damos. Há quem viveu muito e não viveu”. E conclui o filósofo: “Meditar sobre a morte é meditar sobre a liberdade; quem aprendeu a morrer, desaprendeu de servir, nenhum mal atingirá quem na existência compreendeu que a privação da vida não é um mal, saber morrer nos exime de toda sujeição e coação.”

Morrer não é o fim, e quando falo do fim não me refiro da vida após a morte e sim na percepção do que verdadeiramente fomos em vida até aqui e o que seremos depois. Que história deixaremos, que legado produziremos. O que contarão, o que dirão de nós amanhã.

Morrer é um ato de extrema solidão não apenas para quem parte, mas também, representa profunda solidão para quem fica. O ato biológico de morrer é sempre um ato de extrema solidão, mas que transcende do campo metafísico para a solidão das emoções dos que aqui permanecem incompletamente vivos. Os amigos, a esposa, os filhos, os pais, enfim, todos, de certa forma, se vêm solitariamente, compondo saudades e recordações nunca antes revivida. Assim, ninguém morre só completamente. Morremos juntos ao passo que a cada morte vai-se um pedacinho da gente que aqui ficou. Morrendo um tanto de nós.

Quer ser bom? Morra!. Quem já não ouviu essa frase ? o dito popular faz coro com o fato de que somente com a morte mensuramos a nossa vida. Embora, todos nós, imperfeitos, dificilmente se ouve falar dos desdouros do falecido. O momento é de dor e emoção e o que nos vem à tona são as qualidade, os arroubos, alguns até excessivamente duvidosos, mas perdoáveis pela conotação da emoção que aos poucos vai cedendo, cedendo, até se perder no vazio do esquecimento, fruto da ausência inevitável.

Certo mesmo é que a morte emenda os erros da vida. Alguns deles sequer cometidos. Mas perdoados por antecipação.

De minhas tantas mortes, o certo que é um dia partirei de vez, e de igual forma serei julgado pela derradeira das horas. Alguns poucos haverão de morrer verdadeiramente comigo, outros, chorarão por mera obrigação, sobretudo os credores.

E que assim seja, que eu volte a terra de onde vim, mas que um dia “voltando à pátria da homogeneidade, abraçada com a própria eternidade, a minha sombra há de ficar aqui”.

Um comentário:

Unknown disse...

Que bom poder olhar para trás e saber que sempre valeu a pena ter vivido;onde ,tudo o que acontece na nossa vida é para o nosso bem, para o nosso crescimento interior,(embora muitas vezes entendamos o contrário). e aos leitores destes blog eu pergunto:Com seus passos, o que JESUS faria ?(Um abraço a todos).