terça-feira, 31 de janeiro de 2017

A ciência pode acabar?

Um dos principais marcos da cultura ocidental é o advento da ciência, que não só tem permitido o desenvolvimento das principais tecnologias da atualidade, mas também satisfaz aquela outra sede, tão particularmente humana, a sede de conhecer.

A compreensão do mundo material favorecida pelo método científico não tem comparação com qualquer outra via de obtenção de conhecimentos. Um dos sustentáculos da atividade científica é precisamente um amplo compartilhamento de dados, conceitos, ideias, não só entre cientistas, mas também com o público em geral. Imagine se um dia esse fluxo de conhecimentos cessasse. Como ficaríamos?

O tema já foi explorado sob diferentes ângulos, como, por exemplo, fez John Horgan em seu O fim da ciência – Uma discussão sobre os limites do conhecimento científico (Cia. das Letras, 1996). Neste livro, Horgan entrevista cientistas e intelectuais perguntando, entre outras coisas, se eles creem ter o conhecimento científico atingido um apogeu e, a partir de agora, não ser mais capaz de avançar significativamente, muito menos prover benefícios reais à humanidade. O conhecimento possível teria atingido um limite – já saberíamos tudo que há para saber – por que a Natureza não teria muito mais coisas escondidas de nossos “sentidos ampliados pelas tecnologias”, que são as ferramentas da ciência empírica.

Essa ideia de um limite físico do conhecimento já foi postulada por alguns cientistas no final do século 19, mas bastou surgirem a relatividade, a mecânica quântica e a biologia molecular, por exemplo, para evidenciar o tamanho do equívoco.

Há, também, a perturbadora possibilidade de que o limite seja de natureza cognitiva, que limitações em nossa própria estrutura mental – como os conhecimentos a priori de causa e tempo, apontadas por Kant, por exemplo – acabem impedindo nossa compreensão do mundo a partir de certo nível de complexidade.
Embora essa ideia esteja longe de ser demonstrada, há quem proponha – num flerte com a ficção científica
– que, se nós não pudermos, máquinas inteligentes desenvolvidas por nós, poderiam. Só o tempo dirá.
Mas pode ser que os limites do conhecimento sejam atingidos muito antes de arranharmos esses hipotéticos obstáculos, e por razões bem mais mundanas: causas sociais.

Já Mario Bunge, físico e filósofo da ciência argentino, advertia que a ciência como a conhecemos pode desaparecer, e que até mesmo “já morreu várias vezes”, referindo-se ao ocaso da Grécia clássica – simbolizada pela segunda destruição da Biblioteca de Alexandria e ascensão do pragmatismo romano −
e ao interregno vivido pela ciência italiana sob o fascismo.

Mas não é necessário invocar situações tão dramáticas. O Nobel em física de Stanford, Robert B. Laughlin, formulou uma crítica que surpreendeu a muitos em seu livro de 2008, The crime of reason and the closing of the scientific mind (“O Crime da Razão – O fim da mentalidade científica”, ainda sem tradução aqui).

Laughlin descreve o atual quadro de crescentes restrições no acesso ao conhecimento pelo grande público
e mesmo pela comunidade científica em função de legislações de proteção comercial, patenteamentos abusivos, profusão de processos judiciários sobre propriedade intelectual e a onipresença da propaganda comercial.

A alegação soa um tanto contraintuitiva para quem vive em meio à era da internet, onde tudo parece estar ao alcance de todos, mas Laughlin constrói bem seu caso, em um estilo leve e bem embasado: na internet, a escalada comercial cria tanto ruído que é cada vez mais difícil encontrar informações realmente valiosas (exceto mediante pagamento); na pesquisa científica, estudos relevantes são bloqueados por demandas judiciais patentárias, ao passo que nos Estados Unidos chega a ser arriscado ter ou dar acesso, mesmo que acidentalmente, a conhecimentos tidos como “perigosos”.

A Suprema Corte americana, mesmo após decidir que princípios matemáticos e leis da Natureza não podiam ser patenteados, acabou autorizando o patenteamento de programas de computador e de trechos do código genético humano: a crise de legitimidade vivida pelo atual sistema de propriedade intelectual, infelizmente, também se dá longe dos olhos do público.

Se Laughlin estiver certo, existe um conflito fundamental entre as necessidades de segurança e prosperidade econômica em nossa sociedade, por um lado, e o direito humano de conhecer e aprender – fruto dessa necessidade que nos distingue, como humanos, dos outros animais. O futuro do conhecimento
científico depende de sua resolução.

O bom é que, enquanto os limites físico e cognitivo são externos e pouco podemos fazer para superá-los, a limitação social é de origem humana, logo comporta soluções, ainda que difíceis.

Precisou um Prêmio Nobel para dar voz a essa preocupação sem cair no lodaçal das “teorias conspiratórias”. Ainda há tempo para reverter essa tendência, deixando definitivamente para trás esses tempos que Laughlin, com ironia, denominou de era da amnésia.

Jorge A. Quillfeldt
Fonte  aqui
Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, no que respeita ao universo, ainda não adquiri a certeza absoluta.

Há três espécies de cérebros: uns entendem por si próprios; os outros discernem o que os primeiros entendem; e os terceiros não entendem nem por si próprios nem pelos outros; os primeiros são excelentíssimos; os segundos excelentes; e os terceiros totalmente inúteis.

Violência


Acreditem, na Islândia a média de assassinatos é inferior a 02 por ano. 

Teófilo Júnior

Charge


segunda-feira, 30 de janeiro de 2017


"Pracas"





Olho as minhas mãos

Olho as minhas mãos: elas só não são estranhas
Porque são minhas. Mas é tão esquisito distendê-las
Assim, lentamente, como essas anêmonas do fundo do mar...
Fechá-las, de repente,
Os dedos como pétalas carnívoras !
Só apanho, porém, com elas, esse alimento impalpável do tempo,
Que me sustenta, e mata, e que vai secretando o pensamento
Como tecem as teias as aranhas.
A que mundo
Pertenço ?
No mundo há pedras, baobás, panteras,
Águas cantarolantes, o vento ventando
E no alto as nuvens improvisando sem cessar.
Mas nada, disso tudo, diz: "existo".
Porque apenas existem...
Enquanto isto,
O tempo engendra a morte, e a morte gera os deuses
E, cheios de esperança e medo,
Oficiamos rituais, inventamos
Palavras mágicas,
Fazemos
Poemas, pobres poemas
Que o vento
Mistura, confunde e dispersa no ar...
Nem na estrela do céu nem na estrela do mar
Foi este o fim da Criação !
Mas, então,
Quem urde eternamente a trama de tão velhos sonhos ?
Quem faz - em mim - esta interrogação ?


Mário Quintana

domingo, 29 de janeiro de 2017

A girafa que compreendeu logo que tudo é relativo

         Faz muito tempo, em um país distante, vivia urna Girafa de estatura regular mas tão descuidada que uma vez saiu da Selva e se perdeu.
 
Desorientada como sempre, se pôs a caminhar às tontas e à maluca daqui para lá, e por mais que se agachasse para encontrar o caminho, não o encontrava.

Assim, deambulando, chegou a um desfiladeiro onde nesse momento acontecia uma grande batalha.

Apesar das baixas serem muito altas em ambos os lados, nenhum estava disposto a ceder um milímetro de terreno.

Os generais arengavam suas tropas com as espadas no alto, ao mesmo tempo que a neve ficava manchada de púrpura com o sangue dos feridos.

Entre o fumo e o estrépito dos canhões se viam caindo sem vida os mortos de um e outro exército, com tempo apenas para recomendar sua alma ao diabo; porém os sobreviventes continuavam disparando com entusiasmo até que a eles também chegava sua vez e caíam com um gesto estúpido que porém na queda acreditavam que a História iria recolher como heroico, pois morriam para defender sua bandeira; e realmente a História recolhia esses gestos como heroicos, tanto a História que recolhia os gestos de um como a que recolhia os gestos de outro, já que cada lado escrevia sua própria História; de modo que Wellington era um herói para os ingleses e Napoleão era um herói para os franceses.

Enquanto isso, a Girafa continuou caminhando, até que chegou a uma parte do desfiladeiro em que estava montado um enorme Canhão, que nesse preciso instante fez um disparo exatamente uns vinte centímetros acima de sua cabeça, mais ou menos.

Ao ver a bala passar tão perto, e enquanto seguia com avista sua trajetória, a Girafa pensou:

         “Que bom que eu não sou alta, pois se meu pescoço me disse mais trinta centímetros essa bala tinha me arrebentado a cabeça; ou bem, que bom que esta parte do desfiladeiro onde está o Canhão não é tão baixa, pois se medisse trinta centímetros menos a bala também tinha me arrebentado a cabeça. Agora compreendo que tudo é relativo”

 

                             


Augusto Monterroso

Você fez o que pode!

Deus nos fala de muitas maneiras. Muitas vezes, reconhecemos sua voz em algo que lemos, numa ideia que de repente nos ocorre ou nas palavras de pessoas que estão a nossa volta.

Um dia, uma jovem estava assistindo a um desenho animado sobre dinossauros. Uma das criaturas lamentava a morte de outra e achava que não tinha feito o bastante durante os últimos momentos de sua vida. Mas uma outra personagem disse: “Você fez o que pode”.

Seus olhos se encheram de lágrimas, pois a cena da morte da sua mãe lhe veio à mente. Ela sentia que não tinha feito o bastante por ela nos últimos momentos de sua vida, e a lembrança lhe perseguia. Ficou aliviada quando ouviu as palavras de Deus na voz de uma figura animada: “Você fez o que pode”. Deus usou um desenho animado infantil para ajudar aquela jovem a ouvir as palavras que iriam curar seu coração machucado.

Prof. Menegatti 

“Quem somos?”

Neste início de ano, o noticiário nos impõe uma pergunta pouco confortável: quem somos?

Ninguém de nós responderia “eu sou um dos revoltosos do presídio Anísio Jobim”, assim como nenhum de nós contou as cabeças decepadas dos rivais, filmando a cena para exibi-la – ou exibir-se- nas redes sociais. Nós não somos os bárbaros.

Bárbaros são sempre os outros. Mas um bárbaro ou uma matilha de bárbaros ou hostes de bárbaros não aparecem por acaso, não têm geração espontânea. Sobretudo quando inseridos em uma sociedade que se pretende civilizada, os bárbaros são um produto.

Em geral, produto de uma barbárie menos aparente. Fabrica-se um bárbaro colocando três para viver onde só um caberia. Ajuda-se um bárbaro a tomar plena posse de sua barbárie colocando-o num ambiente propício. Bárbaros exercitam melhor sua barbárie quando armados e com acesso a celulares. Pode-se enxertar barbárie numa criança privando-a de proteção, educação e de um ambiente adequado ao seu crescimento. Bárbaros proliferam melhor sem esgotos do que postos em uma universidade. Bárbaros se alimentam e se multiplicam graças a exemplos de barbárie bem sucedida.

Quem somos? Nenhum de nós é aquele que viu os dois primos matando a socos o ambulante indefeso, cujo único crime havia sido defender uma travesti. Nenhum de nós é o que passou mais rápido e nada fez para impedir o assassinato. Muito menos somos aquele que, sorrateiro, aproximou-se do morto para roubar-lhe o celular que já não lhe serviria.

Nenhum de nós é um prefeito sumido do posto depois de ter sumido com outras coisas. Nenhum de nós, ao retirar-se do cargo público que exercia levou o computador ou a mesa. Nenhum de nós foi buscar o filho em um condomínio, na manhã de domingo, depois de uma festa de réveillon, a bordo de um helicóptero do estado. Nós não somos aquele que percorreu cerca de 300 quilômetros de carro, procurando o lugar melhor para desovar ou queimar o corpo do homem que havia assassinado e que levava na mala. Nós não somos sequer aqueles que escreveram “Fora Lésbica!”, sem esquecer o ponto de exclamação, em um quadro imantado destinado a atividades infantis.

O problema é que a pergunta não se pretende individual. Não se trata de saber quem sou eu ou quem é você. Trata-se de saber quem somos nós, os brasileiros, como sociedade. De como nos vemos e de como somos vistos.

O morticínio do presídio foi notícia no mundo inteiro. O olhar que se pousa sobre nós fez-se mais denso.
E aqui, o horror que sentimos diante do massacre de Manaus é o mesmo que sentimos diante dos repetidos massacres do EI? As cabeças cortadas, de um lado e do outro, têm para nós o mesmo peso? O fato de uns serem reféns inocentes e os outro serem bandidos faz diferença?

Ou estamos mais preocupados com os 80 e tantos que fugiram pelo túnel ameaçando a tranquilidade fora do presídio, do que com os que mataram ou foram mortos?

Na foto publicada na primeira página de O Globo de terça-feira, mostrando o lado de fora do Anísio Jobim há, entre os familiares, duas mulheres encapuzadas, só olhos de fora. Pode ser temor de um eventual gás lacrimogêneo, ou medo de ser reconhecida por elementos da facção rival à do seu parente. O enfrentamento não se limita ao recinto do presídio.

Nem se limita à luta entre uma facção de traficantes e outra. O enfrentamento mais amplo e mais fundo se situa, já faz tempo, entre a sociedade que somos e a que queremos ser.

Marina Colasanti

Charge


Uma única certeza
demora em mim:
o que em nós já foi menino
não envelhecerá nunca.

Mia Couto
.
No poema "Declaração de Bens",
do livro "Tradutor de Chuvas".
Fotografia de Renan Rosa

         
Certo dia, enquanto brincava com um vaso muito valioso, um garotinho colocou a mão dentro dele e não conseguiu tirá-la. Seu pai tentou ajudá-lo, mas não obteve êxito. Eles já estavam pensando em quebrar o vaso quando o pai disse:
 
         - Vamos, meu filho, faça mais uma tentativa. Abra a mão, estique os dedos da maneira como estou fazendo e puxe-a com força.
 
          Para sua surpresa, o garotinho disse:
 
      - Não posso, papai. Se eu esticar os dedos, minha moeda vai cair dentro do vaso.

         Sorria, se você quiser... quase todos nós somos iguais a esse garotinho, tão apegados às pequenas coisas do mundo que não podemos aceitar a libertação. Peço que você solte aquela pequena moeda que está dentro de seu coração. Renda-se! Solte-a e permita que Deus conduza a sua vida.

                                       Billy Graham

sábado, 28 de janeiro de 2017

Quando a velhice chegar, aceita-a, ama-a. Ela é abundante em prazeres se souberes amá-la. Os anos que vão gradualmente declinando estão entre os mais doces da vida de um homem. Mesmo quando tenhas alcançado o limite extremo dos anos, estes ainda reservam prazeres.


Versículos do dia

Eu vos castigarei segundo o fruto das vossas ações, diz o Senhor; e acenderei o fogo no seu bosque, que consumirá a tudo o que está em redor dela. Jeremias 21:14

E não nos cansemos de fazer bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido. Gálatas 6:9

Por que a violência cresceu no Brasil num período em que o PT alega ter reduzido a pobreza?

Ou não reduziu a pobreza, ou uma coisa não está ligada à outra como defende a esquerda
A pergunta do título, com leve variação, foi feita pelo Globo no levantamento sobre o aumento das taxas de homicídio em 20 de 26 estados brasileiros. E é por demais pertinente. Afinal, a esquerda alega que a ocorrência de tantos crimes nasceria da falta de oportunidades concedidas pela sociedade aos mais pobres. Contudo, passou anos propagando que, entre 2005 e 2015, período do levantamento, o petismo reduziu a pobreza no país. Assim sendo, deveria também ter diminuído a violência, mas findou justamente no contrário.
Ou o PT não reduziu a pobreza, ou a violência não está intimamente ligada à condição social do indivíduo.
Na dúvida, o Implicante aposta em ambos: nem o PT reduziu a pobreza, nem a violência está necessariamente ligada ao tamanho dela.
Porque os governos Lula e Dilma Rousseff usaram e abusaram do que eles mesmos batizaram de “contabilidade criativa. Por vezes, reduzir a pobreza era simplesmente alterar a forma de cálculo, diminuindo o limite que separava os mais pobres da classe média.
E porque a violência é um problema por demais complexo para ser fruto de um único fator. A própria matéria do Globo enumera um punhado de explicações. E não chega a qualquer conclusão definitiva.
Na verdade, se alguém disser que entende o que está acontecendo no Brasil, está mentindo. Pois não há informação confiável o suficiente para se chegar a qualquer conclusão.
 
Implicante

Bebês chorões e pais molengas, a aliança maldita.

Essa semana eu fui ao shopping e, quando sai da livraria, dei de cara com um pivetinho, de mais ou menos 7 anos, esperneando no chão, em frente à loja de brinquedo. O pequeno filho da puta berrava tanto que os funcionários das outras lojas e clientes correram todos para ver o que tava acontecendo - parecia que o moleque tava sendo maltratado, que arrancaram um braço dele, sei lá. A mãe, com aquela inconfundível cara de bunda, dizia:

- Filho, levanta, filho. Assim a mamãe vai ficar triste com você.

Respirei fundo e logo lembrei de uma única vez em que eu dei um chilique parecido com esse no casamento do meu tio e fui levada, discretamente, ao banheiro pela minha mãe que desceu o cacete em mim, sem pena, e nunca mais - nunquinha - eu a fiz passar vergonha de novo. O moleque, quase roxo, repetia:

- VOCÊ NÃO VAI COMPRAR???
- Mas eu nem disse isso, meu filho.
- MAS EU JÁ SEI QUE VOCÊ NÃO VAI COMPRAR! 
- Como você sabe? Eu não disse que não ia.
- MAS VOCÊ NUNCA FAZ O QUE EU QUERO PORQUE VOCÊ É RUIM!

Bom, eu já teria dado umas chineladas boas no meio das pernas ou deixado ele chorando sozinho, é claro. Mas, veja bem, o moleque tava morrendo de véspera que nem peru. Ele fez o escândalo antes mesmo da mãe dizer qualquer coisa porque, claramente, se trata de uma criança birrenta, dramática e mimada até os dentes. Depois de uns 5 minutos de lágrimas, babas e gritos, eles entraram na loja, compraram alguma coisa lá e saíram. Felizes? Não. O menino ainda reclamou "SÓ QUE EU QUERIA O PRETO TAMBÉM". Não sei do que se tratava, mas puta merda, hein?

Qualquer semelhança entre o moleque e esses esquerdistas que protestam contra governantes ANTES mesmo deles assumirem o cargo, como fizeram com Dória e Trump, só porque não queriam que eles assumissem, não é uma simples coincidência. São iguais. O esquerdista é essa mesma criança que cresceu sem ouvir um "não" ou levar uma lapeada de cinto. São uns marmanjos metidos a engajados, cheios de pêlo na cara, mas com a mesma mentalidade de um menino de 7 anos criado a leite com pêra.

Mariana Brito Soares

 Um passo à frente, um degrau a mais e você não está mais no mesmo lugar!

Os teimosos são os sublimes

Flama soberba essa, era a vontade visível. O olho do homem é feito de modo que se lhe vê por ele a virtude. A nossa pupila diz que quantidade de homem há dentro de nós. Afirmamo-nos pela luz que fica debaixo da sobrancelha. As pequenas consciências piscam o olho, as grandes lançam raios. Se não há nada que brilhe debaixo da pálpebra, é que nada há que pense no cérebro, é que nada há que ame no coração. Quem ama quer, e aquele que quer relampeja e cintila. A resolução enche os olhos de fogo; admirável fogo que se compõe da combustão dos pensamentos tímidos.

Os teimosos são os sublimes. Quem é apenas bravo tem só um assomo, quem é apenas valente tem só um temperamento, quem é apenas corajoso tem só uma virtude; o obstinado na verdade tem a grandeza. Quase todo o segredo dos grandes corações está nesta palavra: _ Perseverança. A perseverança está para a coragem como a roda para a alavanca; é a renovação perpétua do ponto de apoio. Esteja na terra ou no céu o alvo da vontade, a questão é ir a esse alvo; no primeiro caso é Colombo, no segundo caso é Jesus. Insensata é a cruz, vem daí a sua gloria. Não deixar discutir a consciência nem desarmar a vontade, é assim que se obtêm o sofrimento e o triunfo. Na ordem dos fatos morais o cair não inclui o pairar. Da queda sai a ascensão. Os medíocres deixam-se perder pelo obstáculo especioso; não assim os fortes.

Perecer é o talvez dos fortes, conquistar é a certeza deles. Podeis dar a Estevão todas as boas razões para que ele não se faça apedrejar. O desdém das objeções razoáveis cria a sublime vitória vencida que se chama o martírio.

Victor Hugo
Trecho do livro “Os trabalhadores do mar”

"A inteligência é o único meio que possuímos para dominar os nossos instintos". 

Sigmund Freud


"Pracas"




sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Finalmente Pasárgada

A morte ameaçava-o há bem uns cinqüenta anos. Só agora ganhou a parada. Enquanto ele folgou, nesse longo entremês para o último ato, continuou manipulando a matéria prima do seu pensamento, de onde sangrava os poemas.

E assim se fez rico, riquíssimo esse pernambucano ermitão, que acaba de desencarnar. Mas "almaticamente" — para usar do lindo neologismo recém criado por Tom Jobim — continua conosco, na cinza de todas as horas, até a consumação dos tempos.

Sua riqueza declarada são seus versos. O preço pago foi morrer, morrer sempre, sem parar, esvaindo-se, "dando à angústia de muitos uma palavra fraterna", como ele mesmo disse faz pouco tempo.

— "Eu faço versos como quem morre".

"Agora a morte pode vir — essa morte que espero desde os dezoito anos: tenho a impressão de que ela encontrará, como em Consoada está dito, a casa limpa, a mesa posta, com cada coisa em seu lugar".

Manuel Bandeira, poeta imenso, passou a limpo a história de sua vida nos poemas que cometeu. Sempre na mesma linguagem: a da poesia, em que se diz o que não se pode dizer.

Imagino que Bandeira nunca teve inimigos. Só implicava com as coisas absolutamente implicáveis.

— "Há três coisas que incompatibilizam a gente com uma pessoa. Uma é o esperanto. As outras duas são o positivismo e o xarope de groselha"!

Era um simples e um santo (há santos complicadíssimos). Seu Aqueronte seria assim: uma porção de diabinhos pregando o positivismo em esperanto e uma forte redolência de groselha, menu único em todas as refeições.

O poeta inventou a sua cidade, para onde se foi. Quem não sonha com a sua Pasárgada, numa Pérsia intangível, que a magia dos versos traz para tão perto de nós?

Lá, ele é amigo do rei. Aqui, seus milhões de herdeiros universais (basta que saibam a língua portuguesa) continuarão desfrutando o cabedal infinito da beleza que ele criou. À luz da sua poesia, espero purificar-me o suficiente para um dia merecer Pasárgada, ser amigo do rei, ter a mulher que eu quero, na cama que escolherei. E Joana a Louca da Espanha, rainha e falsa demente, virá a ser contraparente da nora que nunca tive".

Que lindo é ser Manuel Bandeira! Que eu seja amigo do amigo do Rei, é o quanto me basta.


Carlos Coqueijo

O cântico da terra

Eu sou a terra, eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte.
Vem o fruto e vem a flor.

 
Eu sou a fonte original de toda vida.
Sou o chão que se prende à tua casa.
Sou a telha da coberta de teu lar.
A mina constante de teu poço.
Sou a espiga generosa de teu gado
e certeza tranqüila ao teu esforço.


Sou a razão de tua vida.
De mim vieste pela mão do Criador,
e a mim tu voltarás no fim da lida.
Só em mim acharás descanso e Paz.


Eu sou a grande Mãe Universal.
Tua filha, tua noiva e desposada.
A mulher e o ventre que fecundas.
Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.


A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.
Teu arado, tua foice, teu machado.
O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste
e o pão de tua casa.


E um dia bem distante
a mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu seio
tranqüilo dormirás.


Plantemos a roça.
Lavremos a gleba.
Cuidemos do ninho,
do gado e da tulha.
Fartura teremos
e donos de sítio
felizes seremos.


Cora Coralina

Frase

Em momentos de crise, não há discernimento, o que para mim é uma referência contínua. [Há o risco de] procurarmos um salvador que nos devolva a identidade e nos defenda com muros, vedações ou que for, de outros povos que nos possam tirar a identidade. E isso é muito grave. Por isso, procuro sempre dizer: dialoguem entre vós.

Papa Francisco

A política e o tédio

Recebo o recado de um amigo: "Você precisa escrever mais sobre política". E acrescenta que eu ando muito "alienado" ou "por fora", como se costuma dizer agora." 1967, 19 de outubro, Rubem Braga publicou as frases acima, em sua crônica no Diário de Notícias. Meus leitores poderiam tomar como minhas, não fosse o "por fora" como expressão em "uso agora". Ela tem exatos 50 anos. E o Braga continuava seu texto dizendo: "O amigo tem razão, mas o diabo é que não gosto de forçar minha natureza, e confesso que mal tenho lido as seções políticas dos jornais. O tédio me vence". Eu poderia assinar essa parte da crônica hoje. Cinquenta anos depois. O Brasil é grande, lento, provinciano, e tropicalmente corrupto. Avança, mas muito lentamente.
 
Esta croniquinha estava pronta há vinte dias. Ante ontem recebo este comentário feito por Cassio Penteado: "Pessoalmente gostava mais de sua versão "comentarista do dia a dia" expondo opinião sobre assuntos quentes que provocavam os seus leitores. Vc mudou o foco para um passado glorioso da crônica brasileira com três ou quatro vultos. São agora escritos históricos apenas. Volte ao bom combate do dia a dia. Seja um renovado Jabor... Esperei um texto sobre a morte do Ministro e tu vem com Rubem Braga que repousa no panteão de uma era passada..."
 
E minha resposta ao meu leitor e primo é mais ou menos a que o velho Rubem deu 50 anos atrás. Mas vou além, desde sempre minhas abordagens foram sobre política, literatura, e memórias. Do dia a dia cuidam os jornalistas, repórteres, e articulistas que tem por obrigação cobrir os acontecimentos diários. Eu não. E se num passado recente falei quase todos os dias contra o governo corrupto da Dilma, e do PT, foi por uma necessidade cívica e patriótica. Hoje não há mais espaço para minha atuação. De quando em quando saio em defesa do Temer, porque dele depende nossa sorte. De quando em quando ataco ferozmente os apátridas que continuam bradando: "Fora Temer", e combatendo os ingênuos, ou nem tanto, que preconizam: "Diretas já". Quanto aos acidentes aéreos onde as falhas humanas, ou razões estritamente meteorológicas são as causas, como foram nos casos do Eduardo Campos  e agora do Ministro Teori Zavascki,  me nego entrar nessa bobagem da Teoria Conspiratória que sempre, "os mesmos", levantam. De resto temos que lamentar a fatalidade que certamente irá prejudicar muito a Operação Lava jato, ou no mínimo retardar seu desfecho.  
 
Eduardo P. Lunardelli

Fernanda Takai

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Imagem


Não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não me contento com a metade. Não serei sua meio amiga e nem te darei meu quase amor.Detesto coisas mais ou menos, não sei amar mais ou menos,não me alimento de quases. É tudo ou nada.Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre.

Os bons e os maus resultados dos nossos ditos e obras vão-se distribuindo, supõe-se que de uma maneira bastante uniforme e equilibrada, por todos os dias do futuro, incluindo aqueles, infindáveis, em que já cá não estaremos para poder comprová-lo, para congratularmo-nos ou para pedir perdão, aliás, há quem diga que é isto a imortalidade de que tanto se fala.

José Saramago

Frase

Pouco conhecimento faz com que as pessoas se sintam orgulhosas. Muito conhecimento, que se sintam humildes. É assim que as espigas sem grãos erguem desdenhosamente a cabeça para o Céu, enquanto que as cheias as baixam para a terra, sua mãe.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017


Coisas...

A turbulência no mar serve para testar os navios, os mais fortes serão os mais usados e valorizados.

Os ventos fortes testam a resistência dos carros, quanto menos impacto, mais velozes.

O carbono que passa por maiores pressões vira diamante, o que escapa das pressões, vira grafite.

Nós...
Queremos a fruta, mas poucos querem subir no pé e apanhá-la.
Queremos o arroz, mas poucos se dispõem a plantá-lo.
Queremos o casamento duradouro, mas na primeira provação, pedimos a separação.
Queremos filhos maravilhosos, mas não sabemos dizer não.
Queremos um mundo de paz, mas quantos vivem essa paz em suas casas?
Queremos sempre a verdade, mas vivemos contando mentiras.
Queremos a saúde perfeita, mas nos alimentamos mal, andamos pouco, nos agitamos muito.

Eu...
O que está acontecendo com você? Quando coloca a cabeça no travesseiro e pensa no seu dia? Você está feliz ou molhando o travesseiro com lágrimas?

Prof. Menegatti

O dom de ser mulher depois dos 40

Nos encontramos em um momento no qual nos permitimos crescer e curar aquelas feridas e questões que haviam ficado sem resolver na primeira metade da nossa vida.

Quantos anos tenho?

Tenho a idade em que as coisas são vistas com mais calma, mas com o interesse de seguir crescendo.
Tenho os anos em que os sonhos começam a acariciar com os dedos e as ilusões se convertem em esperança.

Tenho os anos em que o amor, às vezes, é uma chama intensa, ansiosa por consumir-se no fogo de uma paixão desejada. 

E outras vezes é uma ressaca de paz, como o entardecer em uma praia.

Quantos anos tenho? 

 Não preciso de um número para marcar, pois meus anseios alcançados, as lágrimas que derramei pelo caminho ao ver minhas ilusões despedaçadas…

Valem muito mais que isso

O que importa se faço vinte, quarenta ou sessenta?!

O que importa é a idade que sinto.

Tenho os anos que necessito para viver livre e sem medos.

Para seguir sem temor pela trilha, pois levo comigo a experiência adquirida e a força de meus anseios.

Quantos anos tenho? Isso a quem importa?

Tenho os anos necessários para perder o medo e fazer o que quero e o que sinto.

José Saramago

Perversidade

Alguém me disse, com a voz embargada, que agora, sim,
estava convencido da existência de Deus, porque os
trabalhos psicografados de Humberto de Campos
eram evidentemente dele mesmo.
- Mas isto não prova a existência de Deus...
Prova apenas a existência de Humberto de Campos.

Mário Quintana 

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Miauu...


A seleção ainda não está pronta e pode melhorar



Escrevi, em outra coluna, que a tecnologia e o árbitro de vídeo só deveriam entrar em campo em pouquíssimas situações especiais, decisivas, como para saber se a bola entrou ou não no gol, em uma agressão fora do lance, que não foi vista pelo árbitro e pelos auxiliares, em um gol feito, intencionalmente, com a mão, como o do Peru, que eliminou o Brasil na última Copa América.

Se o gol do Peru tivesse sido anulado pelo árbitro de vídeo, o Brasil continuaria na competição, poderia melhorar e até ser campeão. Dunga continuaria, e a seleção não teria Tite, um técnico muito superior. O acaso, o "quase", o "se" são frequentes e mudam a história de um jogo, de um campeonato e das nossas vidas. Os pragmáticos, utilitaristas, gostam de dizer que o "se" não joga, mas ele é importante para lembrar de nossas incertezas e inseguranças. Quase tudo é relativo.

As seis boas atuações e vitórias seguidas da seleção com Tite devem ser elogiadas e vistas com otimismo, mas sem oba-oba e sem perder o senso crítico. Zagallo, Parreira e Felipão foram campeões do mundo e, depois, bastante criticados. Antes da derrota para a Holanda, na Copa de 2010, Dunga tinha 80% de aprovação popular. Um descuido, um erro, uma expulsão mudam toda a história.

As seis vitórias não significam, necessariamente, que os titulares atuais são os melhores de suas posições. Provavelmente, Thiago Silva e Douglas Costa ainda serão titulares da seleção. O que está bom pode ficar ainda melhor. Douglas pode entrar no lugar do ótimo Philippe Coutinho ou, se mudar o desenho tático, o que não é hoje necessário, formar, com Coutinho e Neymar, um trio de meias atacantes. Sairia Paulinho.

Outra alternativa, estranha para quase todos, seria colocar Marcelo no meio-campo, mais pela esquerda, passando Renato Augusto para a direita, no lugar de Paulinho. Marcelo, acostumado a marcar, possui um bom passe e, quando avança, é decisivo e excepcional. Além disso, o Brasil possui outro excelente lateral, Filipe Luís.

Paulinho é um bom marcador e um bom atacante, quando entra na área. Como armador, é discretíssimo. Apesar das boas atuações, o time depende demais das estocadas em velocidade dos atacantes. Há pouco domínio da bola e do jogo. Isso pode ser uma dificuldade mais à frente, contra as melhores seleções europeias (Alemanha, França e Espanha), que se destacam pela troca de passes e pelo domínio do jogo, já que possuem os melhores meio-campistas do mundo.

Após as seis vitórias, quase todos falaram que o problema da seleção não era individual, e sim de técnico. Há discussões. O Brasil nunca teve uma geração ruim, como muitos afirmavam, nem passou a ser excepcional. É uma boa geração. Na última lista dos 23 melhores do mundo da Fifa, Neymar continua sendo o único brasileiro. Por posição, os maiores destaques do Brasil, além de Neymar, estão na zaga (Thiago Silva) e nas laterais (Marcelo e Daniel Alves).

A geração melhorou com Tite, pois os jogadores atuam melhor quando se forma um bom conjunto e porque vários deles já tinham evoluído em seus clubes, antes de atuarem sob o comando do novo treinador, como Philippe Coutinho, Douglas Costas, Fernandinho, Casemiro e Marcelo. Antes, não havia também Gabriel Jesus. O Brasil voltou a ser um dos candidatos ao título mundial. Temos de sonhar, mas com os pés no chão.

Tostão