sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Marcas do que se foi, sonho que vamos ter...

Obrigado.

A todos vocês que me acompanharam durante todo o ano de 2010, fica aqui o nosso mais sincero agradecimento e respeito por ter você como leitor desse blog.

Em 2011, vamos fazer dessa nossa relação uma grande construção conjunta!

Muito obrigado a todos e a todas!

Teófilo Júnior

Recomeçar - Carlos Drummond de Andrade

Ímpeto, coragem, ousadia, vôos cada vez mais altos. Estes são os nossos sinceros votos para 2011!

Foto: Jurgen Kolbe
A fotógrafa Sandy Skoglund em seus trabalhos não realiza nenhuma edição prévia ou manipulação de imagens. Ela constrói detalhadamente e de forma real os seus cenários recorrendo a sua imaginação e sensibilidade.

Veja algumas de suas fotografias:


Publicada por jflor
TRANSCRITO INTEGRALMENTE do blog ARTE FACTO

Chico Buarque, feijoada completa

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Desenhos com palavras e letras


Pescado da net sem identificação da autoria

Humor

O Congresso brasileiro é o mais caro do mundo
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo; diferença radical entre este livro e o Pentateuco.

Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios. Acresce que chovia — peneirava — uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa idéia no discurso que proferiu à beira de minha cova: — "Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que tem honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado."

Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei. E foi assim que cheguei à cláusula dos meus dias; foi assim que me encaminhei para o undiscovered country de Hamlet, sem as ânsias nem as dúvidas do moço príncipe, mas pausado e trôpego, como quem se retira tarde do espetáculo.


Machado de Assis
Memórias Póstumas de Brás Cubas

Anatel quer fracionar cobrança de ligação da telefonia fixa

A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) pretende unificar a cobrança das contas de telefonia fixa.

Hoje, o consumidor que não está incluído no plano básico paga o minuto cheio mesmo que não fale durante os 60 segundos.

Isso significa, por exemplo, que, em uma conversa de um minuto e dez segundos ao telefone, são cobrados dois minutos.

A agência reguladora quer que os planos que hoje são tarifados em minutos passem a ser fracionados.

Cada minuto será dividido em dez partes de seis segundos, e o consumidor passaria, portanto, a pagar de seis em seis segundos.

Isso beneficiará principalmente quem liga várias vezes, mas fala pouco em cada ligação. No plano básico já existe essa determinação de fracionamento.


Folha.com
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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Jura secreta

Só uma coisa me entristece
O beijo de amor que não roubei
A jura secreta que não fiz
A briga de amor que não causei
Nada do que posso me alucina
Tanto quanto o que não fiz
Nada do que eu quero me suprime
De que por não saber ainda não quis
Só uma palavra me devora
Aquela que meu coração não diz
Só o que me cega, o que me faz infeliz
É o brilho do olhar que não sofri


Simone
O assunto mais importante do mundo pode ser simplificado até ao ponto em que todos possam apreciá-lo e compreendê-lo. Isso é - ou deveria ser - a mais elevada forma de arte.


Charles Chaplin

Rio - Prefeitura apela aos espíritos para evitar chuva

Paes teria pedido à médium um 'centro' de orações na Avenida Atlântica. Médium vai fazer ação, mesmo com contrato suspenso com a prefeitura.

No que depender das forças do além, a chuva não vai atrapalhar a queima de fogos no réveillon da praia de Copacabana, na Zona Sul do Rio. A médium Adelaide Scritori, presidente da Fundação Cacique Cobra Coral, promete recorrer aos espíritos para garantir o tempo bom na noite do dia 31.

Segundo a assessoria de imprensa da fundação, mesmo com o contrato suspenso com a Prefeitura do Rio, o prefeito Eduardo Paes pediu a médium que ela montasse um "quartel general" na Avenida Atlântica para concentrar os trabalhos e as orações para São Pedro. A entidade afirma que o espírito do Cacique Cobra Coral já teria sido de Galileu Galilei e Abraham Lincoln.


Tássia Thum, G1
Acesse www.g1.com.br e leia mais

Encontro de mensagens Inhotim. Participe !

Criança

O pai telefona para casa:

— Alô?
— ...
Reconhece o silêncio da tipinha. Você liga? Quem fala é você.
— Alô, fofinha.
Nem um som. Criança não é, para ser chamada fofinha. Cinco anos, já viu.
— Oi, filha. Sabe que eu te amo?
— Eu também.
"Puxa, ela nunca disse que me amava".
— Também o quê?
— Eu também amo eu.


Dalton Trevisan

Texto extraídos do livreto "Crianças (seleção)", editado pelo próprio autor em Curitiba (PR), 2001, pág. 15.

Sobre a arte de escrever

Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes.

Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota.

Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."

Graciliano Ramos

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Tive com a sorte, até bem pouco tempo, um relacionamento difícil de estranheza e antipatia, por parte dela, claro. Sempre fiz um esforçozinho para ver se ela me sorria, mas nada. Nem um aceno ela me dava.

Pois não é que agora, finalzinho de ano ela resolveu me estender a mão? Logo ela, que nunca postou os olhos em minha direção!

Eu que nunca ganhara sequer um rifa entre amigos, fui contemplado num bingo e num sorteio de brindes da rede Chevrolet. O que ganhei no bingo cuidei de perder nele mesmo. Já o brinde, acabei de receber em minha casa. Trata-se de uma cafeteira elétrica "dolce gusto". Ou seja: Um troço de fazer café expresso com todas as engrenagens possíveis de se imaginar. Faz oito tipos de café, todos batizados na língua do Tio Sam. Ela me fez entender que hoje, no mundo globalizado, você não pode ser apenas um bom degustador de café, tem que ser um poliglota também.

Esse troço me consumiu algumas horas para montá-lo acertadamente e outras horas de leitura do seu manual de instruções, todo em inglês.

Sabe de uma coisa ? Melhor é fazer um cafezinho rápido na minha velha e simples chaleira de zinco quase aposentada compulsoriamente.

Cadeira: Saul Steinberg

Charge - Amarildo

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Consciência pesada com a ceia de natal? Comeu além do previsto? Calma, esse é um mal necessário que agrada a muitos. Sabe como resolver? Um bom prato de salada verde, repolho roxo, manga e molho de gorgonzola. Não tem consciência que resista!

Clarice, para mulheres.


Livro é sempre um bom presente pra se dar e receber. "Só para mulheres", de Clarice Lispector é uma ótima opção para leitura e para sugestão a uma amiga.

No livro, Clarice, demonstra a sua alma de pessoa comum e observadora dos movimentos que a cercam ao escrever para colunas femininas de jornais como Comício, Correio da Manhã e Diário da Noite. Textos curtos, sobre beleza, dicas domésticas, boas maneiras, receitas. Mas isso, claro, sob a assinatura inteligente e luxuosa da autora.

Concerto para uma voz

domingo, 26 de dezembro de 2010

John Farrah

Rimas

Foto de Ilya Rashap
Ontem – quando, soberba, escarnecias
Dessa minha paixão – louca – suprema
E no teu lábio, essa rósea algema,
A minha vida – gélida – prendias…


Eu meditava em loucas utopias,
Tentava resolver grave problema…
Como engastar tua alma num poema?
E eu não chorava quando tu te rias…


Hoje, que vivo desse amor ansioso
E és minha – és minha, extraordinária sorte,
Hoje eu sou triste sendo tão ditoso!


E tremo e choro – pressentindo – forte,
Vibrar, dentro em meu peito, fervoroso,
Esse excesso de vida – que é a morte…


Euclides da Cunha

"...Doce ou atroz, manso ou feroz, eu caçador de mim..."

Placa de salão de beleza. Ou seria de açougue?

Roberto e Paula Fernandes

Intolerância. Escola de samba é ameaçada por homenagear nordestinos

De acordo com a matéria publicada no jornal Diário de S.Paulo deste domingo (26), a escola de samba Acadêmicos do Tucuruvi, de São Paulo, tem recebido constantes ameaças por e-mails pelo fato de ter definido como samba-enredo de 2011 uma homenagem aos imigrantes nordestinos: Oxente, o que seria da gente sem essa gente? São Paulo, a capital do Nordeste é o título da música que a agremiação levará para a avenida no próximo ano.

No entanto, o fato não agradou algumas pessoas, que passaram a enviar mensagens agressivas por e-mails. "Vocês deveriam ser proibidos de desfilar numa avenida da minha cidade um enredo nojento e racista desses", dizia uma das mensagens. "São Paulo não é a capital do NE p... nenhuma. Nós paulistas e paulistanos iremos mobilizar e vocês vão desfilar com essa b... de samba-enredo que desrespeita o Estado que carrega esse lixo de País nas costas", diz outro e-mail. Segundo a reportagem, a escola abriu um Boletim de Ocorrência na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) e a polícia abriu um inquérito. Além disso, será pedida a quebra de sigilo de dados telemáticos, para que seja identificado o IP dos computadores que enviaram as mensagens à agremiação.


Do Terra

Exposição mostra a história e a evolução dos eletrodomésticos

Para contar a história dos eletrodomésticos, está aberta a exposição "Na Tomada – Revolução, Conforto e Evolução", no Centro Cultural CEEE Erico Verissimo (CCCEV), localizado em Porto Alegre (RS). A mostra, com entrada gratuita, reúne mais de 50 aparelhos das décadas de 1950, 1960 e 1970.

A exposição foi organizada com doações do acervo da arquiteta Enilda Ribeiro, falecida em abril de 2010, além de peças pertencentes ao Museu da Eletricidade do Rio Grande do Sul (MERGS) -que também funciona no prédio- e, também, objetos cedidos por pessoas que frequentam o CCCEV.

Para a mostra, o desenhista Sandro Ka criou cenários decorados, instalados no hall de entrada do prédio e nas salas do segundo andar. Quem for à mostra poderá ver peças como televisor, ventilador, liquidificador, chuveiro e outros. Verá, também, painéis que descrevem o surgimento dos aparelhos e uma galeria com 20 anúncios desse tipo de produto publicados na época.


Uol casa e imóveis
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sábado, 25 de dezembro de 2010

Tocando em frente

Sobre a Escrita...

Meu Deus do céu, não tenho nada a dizer. O som de minha máquina é macio.

Que é que eu posso escrever? Como recomeçar a anotar frases? A palavra é o meu meio de comunicação. Eu só poderia amá-la. Eu jogo com elas como se lançam dados: acaso e fatalidade. A palavra é tão forte que atravessa a barreira do som. Cada palavra é uma idéia. Cada palavra materializa o espírito. Quanto mais palavras eu conheço, mais sou capaz de pensar o meu sentimento.

Devemos modelar nossas palavras até se tornarem o mais fino invólucro dos nossos pensamentos. Sempre achei que o traço de um escultor é identificável por um extrema simplicidade de linhas. Todas as palavras que digo - é por esconderem outras palavras.

Qual é mesmo a palavra secreta? Não sei é porque a ouso? Não sei porque não ouso dizê-la? Sinto que existe uma palavra, talvez unicamente uma, que não pode e não deve ser pronunciada. Parece-me que todo o resto não é proibido. Mas acontece que eu quero é exatamente me unir a essa palavra proibida. Ou será? Se eu encontrar essa palavra, só a direi em boca fechada, para mim mesma, senão corro o risco de virar alma perdida por toda a eternidade. Os que inventaram o Velho Testamento sabiam que existia uma fruta proibida. As palavras é que me impedem de dizer a verdade.

Simplesmente não há palavras.

O que não sei dizer é mais importante do que o que eu digo. Acho que o som da música é imprescindível para o ser humano e que o uso da palavra falada e escrita são como a música, duas coisas das mais altas que nos elevam do reino dos macacos, do reino animal, e mineral e vegetal também. Sim, mas é a sorte às vezes.

Sempre quis atingir através da palavra alguma coisa que fosse ao mesmo tempo sem moeda e que fosse e transmitisse tranqüilidade ou simplesmente a verdade mais profunda existente no ser humano e nas coisas. Cada vez mais eu escrevo com menos palavras. Meu livro melhor acontecerá quando eu de todo não escrever. Eu tenho uma falta de assunto essencial. Todo homem tem sina obscura de pensamento que pode ser o de um crepúsculo e pode ser uma aurora.

Simplesmente as palavras do homem.


Clarice Lispector

Texto extraído do site "Sobrado".

Timão de minha vida. Farol de minha direção!


Gineceu

Neste pequeno e poderoso livro escrito pela jovem portuguesa Cristina Nobres Soares ele escreve sobre o amor, a paixão a saudade e a dor, cada conto tem o nome de uma mulher...

O titulo do livro "Gineceu", significa o conjunto reprodutivo feminino de uma flôr....flôr frágil, de beleza efêmera, delicada mas que resiste à força de ventos e tempestades...e que fecunda, renasce. Nenhum título poderia expressar melhor o conjunto destes quinze contos de Cristina.
De certo, nem sempre podemos ter a ajuda dos ventos, mas certamente podemos ajustar sempre as nossas velas!
Imagem de Magnaldo Alastair



sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

A minha crônica de Natal

Escrever uma crônica de Natal é como compor um poema de amor, prazeroso e dificílimo. Prazeroso porque o tema nos remonta ao nosso sentimento mais nato: o amor. Dificílimo porque em matéria de amor a gente tem a inevitável certeza de que nada mais resta a dizer, os poetas consumiram todo o vernáculo, o que infelizmente nos torna apenas um cronista reincidente e repetitivo, nada mais.

Assim, uma crônica de Natal sempre parecerá que não é inédita! Sempre trará a desconfiança de que já foi escrita, reescrita, e que todas as suas variantes já foram escasseadas por tantos outros cronistas.
Neste particular, a tarefa se torna desafiadora. A minha intenção, creio eu, era iniciar me pautando por uma reflexão mais voltada ao social com passagens obrigatórias nas simbologias das coisas no contexto de um mundo ancorado em padrões estéticos e econômicos pré-definidos, onde a figura de Jesus menino aos poucos vai se perdendo no midiático colorido consumista do Papai Noel.
Mas, essa abordagem também não me parece inédita, o que torna a minha crônica de Natal tão somente mais uma crônica de natal. Reflexiva e previsível.
Entrementes, é preciso dizer alguma coisa no Natal. Escrever algumas linhas. Não nos convém não ter escrito a nossa crônica de Natal.
Resta-me tão somente as minhas reminiscências, iguaisinhas a tantas outras de outros tantos natais já escritos. Porém, nos natais da minha infância havia algo de ineditismo. Ele não era igual aos dos outros. Lembro, por exemplo, que em nossa casa sempre tivemos árvore de natal. Bolas coloridas de vidro enfeitavam-lhe os galhos e caixinhas de fósforos fingiam ser presentes espalhados em seu tronco firmado em um balde de areia para não cair. Era costume ajudar a minha mãe a montá-la cuidadosamente dentro daquele recipiente. Era um trabalho delicado, não se podia quebrar nenhuma bola de vidro. Não havia como repô-las.
A nossa ceia era sempre muito simples mas muito verdadeira. A família se reunia em volta da mesa. Jantávamos cedo da noite. Não havia peru, panetone nem bacalhau. Havia doces sobre a mesa e alguns refrigerantes. Acho que neste particular o nosso Natal alcançava algum ineditismo.
A minha mãe era muito religiosa, mas o nosso Natal não me parecia muito religioso. Não rezávamos antes da ceia. A única referência de fé que tínhamos naquela noite era a certeza de assistirmos, sonolentos, a missa do galo na velha Igreja Matriz da cidade de Pombal-PB.
Por outro lado, o Papai Noel só nos visitava após a celebração, penso eu, pois só nos encontrava dormindo e não tivemos a menor chance de encomendarmos previamente ao velhinho os nossos próprios presentes, a minha tão sonhada bicicleta monareta Monark azul. O meu sonho mais inalcançável.
Confesso que nesse aspecto o Papai Noel nos ajudou bastante. Não me deu a bicicleta, mas alimentou em mim uma imorredoura capacidade de continuar sonhando... esperando os meus presentes azuis.

Teófilo Júnior

Verdade científica

"Nos anos de 2001/2002, o mundo todo gastou CINCO vezes mais com implante de silicone e com viagra do que na investigação sobre o mal de Alzheimer.
O que se pode prever é que, daqui a 30 anos haverá um grande número de pessoas idosas com seios enormes e ereções extraordinárias, mas incapazes de lembrar para que ambos servem..."
E dará à luz um filho e chamarás o seu nome JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.
Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor, pelo profeta, que diz;
Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, E chamá-lo-ão pelo nome de EMANUEL, Que traduzido é: Deus conosco.
(Mateus 1: 21:23)

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Curiosidade: Motorista multado duas vezes pelo mesmo guarda… em cantos opostos do mundo

Um motorista foi multado duas vezes em cantos opostos do mundo pelo mesmo guarda. Multado por excesso de velocidade em Londres há dois anos atrás, o homem voltou a ser multado pela mesma razão e pelo mesmo guarda, mas agora na nova Zelândia.

Segundo o jornal «New Zealand Herald», quando o polícia Andy Flitton, que tinha emitido a primeira multa pouco antes de se mudar para a Nova Zelândia, pediu ao infractor a sua carta de condução, ele mostrou-lhe os documentos britânicos. O motorista disse-lhe que tinha acabado de se mudar para a Nova Zelândia.

O polícia afirma que não tinha reconhecido o motorista inicialmente, mas quando ele referiu o facto lembrou-se da situação: «Ele só desrespeitou a lei duas vezes e ambas as vezes eu fui a pessoa que o multou. Isso mostra como o mundo é pequeno».


André Felipe
http://oquedescubronanet.wordpress.com/2010/12/19/motorista-multado-duas-vezes-pelo-mesmo-guarda-em-cantos-opostos-do-mundo/

Cinema 2011

Dia 21 de janeiro próximo estréia no Brasil o mais novo western. Trata-se de uma releitura do clássico "Bravura Indômita", de Henry Hathaway, lançado em 1969 e responsável pelo único Oscar de melhor ator da carreira de John Wayne.

O filme promete!

O vazio da intimidade

Intimidade é a categoria inventada para dar conta do aspecto mais interior da experiência pessoal humana. Diz-se íntimo do que não pode ser exposto. Fala-se da intimidade para expressar aquilo que não cabe na exterioridade das existências. Íntimo é sempre relativo ao que se esconde, ao reservado, ao que se preserva do contato com a esfera da vida pública. É uma instância de segredo, por meio da qual seres humanos se sentem donos de si mesmos. Íntimo é, pois, o lugar onde cada um se sente descoberto em sua subjetividade apenas para si mesmo, em uma espécie de contraposição ou negação da objetividade. Como na solidão na qual, em vez de sofrimento, encontra-se a salvaguarda de si. Por meio da intimidade cada um se sente em uma ilha deserta para a qual viajou voluntariamente.

Íntimo é aquilo que não pode ser simplesmente comunicado. É o que se aparta da comunidade mesmo permanecendo dentro dela. Íntima é, da vida, a parte silenciosa, a que não pode ser publicada. Ocorre que a cultura humana é marcada pela exigência de comunicabilidade. Relacionamo-nos uns aos outros e nesta ação linguística está o cerne da experiência humana enquanto ela é política e ética. Certamente deturpamos o sentido da comunicabilidade quando a compreendemos como mera relação de troca em um mundo de mercadorias.

Na cultura contemporânea em que as tecnologias da imagem aliadas aos meios de comunicação de alta difusão determinam as formas de vida na sociedade do espetáculo, em que a era digital define um padrão estético e ético de ação, em que a compulsão à exposição de si vai das revistas de celebridades às redes sociais, não é difícil pensar que vivemos no tempo da banalização da intimidade. Tal banalização é, na verdade, um interessante paradoxo. Se banal é aquilo que pode ser usado por todos, enquanto íntimo é aquilo que pertence apenas a um indivíduo, como seria possível banalizar o íntimo sem eliminá-lo? Em outras palavras, se banalizamos o íntimo e assim o eliminamos, será mesmo do íntimo e da intimidade que ainda estamos tratando? Ora, a expressão da intimidade sempre fez parte dos esforços poéticos e literários na história humana. Mas se não foi simples para os poetas, por que devemos achar que é tão alcançável e comunicável pelos internautas e usuários das mídias contemporâneas em geral?

A intimidade banal não existe. Aquilo que podemos chamar de compulsão à exposição representa-se na extinção do íntimo. Se íntimo é o que não se expõe não podemos considerar que a publicização da vida tem simplesmente o poder de extirpá-lo. A exposição de “intimidades” – como as partes íntimas, as mais ocultas no corpo de uma pessoa – são bem conhecidas nas representações de obscenidades que compõem a pornografia. Há que se considerar, no entanto, que o órgão sexual exposto já não é íntimo, mas obscenamente recortado, ele é qualquer coisa que se dá a conhecer como objeto, como algo não mais experimentado subjetivamente, mas objetivamente percebido. Íntima é uma experiência de subjetividade que não é facilmente medida em termos objetivos. Ela é conhecida apenas negativamente.

A pergunta é, portanto, em que momento o íntimo deixa de existir? Por que precisamos pensar que os tempos de miséria da subjetividade vencem tão facilmente o elemento misterioso que compõe a experiência de si a que denominamos intimidade e sobre a qual podemos falar apenas de fora, justamente porque as palavras apenas a tocam como algo externo à medida que ela se refere a um “dentro”? Que lógica seria esta que desconsidera tão facilmente sua potência? Discursar sobre seu fim é alerta contra um perigo que paira sobre ela ou mera propaganda niilista que inventa tê-la encontrado?
A intimidade é mais uma forma de relação do que uma instância. Assim, não podemos dizer que o ciberespaço, que a internet como “lugar” substitui o lugar da intimidade, porque a intimidade não é simplesmente algo que se encontra no espaço, não é, portanto, um objeto. Ela é, muito mais, aquilo que, do espaço não se pode simplesmente acessar. Tampouco é um dentro que se põe para fora. A chave da intimidade pertence unicamente a seu portador. Assim é que a intimidade é um modo de relacionar-se com espaços e objetos que se configura e reconfigura nos processos sociais. Ela é uma experiência pessoal.

Logo, as redes sociais não eliminam a intimidade pela sua hiperexposição porque intimidade é o que, sendo exposto, já não está ali. O que as pessoas expõem é a angústia do vazio enquanto a intimidade é algo que permanece na esfera de segredo de cada um. Logo, a exposição da intimidade na internet ou é mentira ou é compulsão à exposição. A intimidade mesma é uma força de negação que não se reduz a demandas objetivas sem resistência.


Por Marcia Tiburi

Publicado no site da Cpfl Cultura

Oldrich Kulhánek




I Will Follow Him - Andre Rieu

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Carta aberta a Papai Noel


Prezado Noel,

É escusado dizer o quanto me custou antepor o adjetivo prezado ao seu nome. Como é do seu conhecimento, eu não o prezo, e a recíproca deve ser verdadeira. Quanto à minha carta aberta, não é, como pode parecer, indiscrição ou exibicionismo da minha parte. Quis apenas poupá-lo do trabalho de ter que localizá-la no meio da avalanche de cartas que, nessa época do ano, ameaça soterrá-lo. Nada além.

Mas vamos ao que (me) interessa: a primeira vez que ouvi falar do seu nome, eu ainda morava nos cafundós do Caracol. Como qualquer moleque do meu tope, campeava nuvens, conversava com o vento e não me ardia o desespero de ser dono de nada, como diria o poeta. Eis que numa manhã qualquer de dezembro, minha mãe, que acabara de chegar da cidade, me entregou um balãozinho vermelho, desses que a meninada, hoje, se compraz em estourar com os pés nas festas de aniversário. Limitou-se a dizer: “Foi Papai Noel que mandou”. Ressabiado, mas curioso, aceitei o presente e tratei de inflá-lo para provocar inveja aos companheiros. E tamanho foi o meu entusiasmo que o balãozinho, depois de um pluf, fez-se tirinhas de borracha sem qualquer utilidade. Creio ter sido aquela a minha primeira decepção. Chorei tudo que tinha direito, prometi a mim mesmo que jamais choraria por algo perdido ou não conquistado, e assim tem sido. Em contrapartida, jurei odiá-lo para todo o sempre.

Mas tarde, já em São Raimundo Nonato, véspera de Natal, encontrei, num canteiro mal cuidado, uma pequena imagem de Nossa Senhora de Fátima. Coberta de poeira, abandonada e triste. Parecia ter sido jogada ali por alguém que perdera a fé. Encarei o fato como uma mensagem sua; uma tentativa de reconciliação. Prontamente, aceitei-a. Limpei a imagem na fralda da camisa e voltei correndo para casa. Dona Purcina, precisa como um tiro de lazarina, não se comoveu com a minha versão: “Quem acha o que não perdeu não é o dono”, limitou-se a dizer, e me obrigou a devolver a imagem ao lixo. Não podendo odiar minha mãe, por razões de ordem prática, descarreguei todo o meu ódio em você, Jurei que um dia ainda lhe arrancaria as barbas com um alicate

Na adolescência, perdidamente apaixonado por uma colega, resolvi cantá-la (sou do tempo em que se cantavam as mulheres). Com ensaiada timidez, ela me prometeu a resposta para a noite de Natal. Estávamos em outubro. Foram dois meses de expectativa, sonhos, pesadelos, febres, poluções noturnas e outras coisinhas impublicáveis. No dia aprazado – coração aos pulos – fui procurá-la. A moça tinha deixado a cidade com a família. Chorei, chorei, “até ficar com dó de mim”, como naquela música do Chico. Jurei que jamais choraria por mulher alguma, o que não cumpri.

Cresci, envelheci, e muitos natais se passaram sem maiores traumas. Para ser franco, o ódio arrefeceu, cheguei mesmo a ignorá-lo. Eis que, na semana passada, um outdoor da Arezzo mexeu comigo. Nele, vê-se uma perna linda, soberba, generosa, embrulhada, pronta para ser comida (com os olhos), se me permite a liberdade de expressão. Foi aí que me ocorreu a idéia de lhe fazer uma proposta. Já que é final de ano, por que não aproveitamos essa oportunidade ímpar para fazermos as pazes? É simples: você me manda a dona daquela perna (pode ser zarolha, dentuça ou corcunda), e eu esqueço todas as nossas divergências pretéritas. De quebra, ainda passarei a chamá-lo de Papai Noel como fazem todas as pessoas normais.

Sendo o que tenho para o momento, aguardo e confio.


P.S. Não é preciso embrulhá-la: eu cuido disso.


Cineas Santos

Hackers fazem empréstimo em nome de Lula

Polícia do RS tenta localizar estelionatários que invadiram sistema da Previdência e usaram dados do presidente.

A Polícia Civil gaúcha vai iniciar uma investigação para localizar estelionatários que contrataram um empréstimo consignado no banco PanAmericano em nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Dados pessoais do presidente teriam sido obtidos por hackers, a partir da invasão dos sistemas de informática da Previdência Social.

As informações roubadas dos sistemas do INSS permitiram a obtenção de dois financiamentos, somando cerca de R$ 5 mil, no município de Uruguaiana, na fronteira com a Argentina, em 2007. Os empréstimos seriam pagos por meio de desconto em folha no pagamento do benefício de aposentadoria do presidente.

Segundo Rodrigo de Oliveira Vieira, promotor de Justiça do Ministério Público do Rio Grande do Sul em Uruguaiana, os recursos foram sacados e as parcelas chegaram a ser descontadas por alguns meses. Depois, com a descoberta do golpe, o banco reembolsou o dinheiro a Lula.


João Guedes, O Globo.
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Corte no orçamento preocupa a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC)


É com imensa preocupação que a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) avaliam a proposta de corte de R$ 610 milhões, a título de reserva de contingenciamento, no orçamento do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) para 2011, conforme prevê o substitutivo ao Projeto de Lei Orçamentária que está sendo discutido pelo Congresso Nacional.

Esse valor representa a expressiva marca de quase 10% dos gastos com as atividades-fim (exceto pessoal e dívida) do MCT para o ano que vem, o que poderá causar danos, muitos deles irreparáveis, em vários e importantes projetos de pesquisa que estão sendo realizados em todo o País, nas mais diversas áreas do conhecimento.

Prejudicar o andamento de trabalhos de pesquisa é um grave problema. Mais grave ainda, porém – e aqui residem as maiores preocupações da SBPC e da ABC –, é que qualquer redução no investimento público em ciência e tecnologia (C&T) representará um passo atrás no desenvolvimento econômico e social do País.

Cada vez mais a ciência é fator de desenvolvimento das nações, e o Brasil vem caminhando nessa direção. Num espaço de apenas 20 anos, a participação da ciência brasileira na ciência mundial passou de 0,62% para 2,4%, o que coloca o Brasil em 13º lugar no ranking do setor.

A qualidade dos trabalhos publicados por nossos cientistas tem experimentado avanço semelhante, conforme atestam fontes internacionais independentes. Nos últimos anos houve um crescimento de cerca de 20% na média de citações de artigos de pesquisadores brasileiros em relação à média mundial, que se concentra nos países cientificamente mais desenvolvidos.

Essa evolução da ciência brasileira decorreu de uma política de Estado que fez investimentos continuados e crescentes por várias décadas – e em especial nos últimos anos – na formação de recursos humanos para o ensino superior e para a pesquisa e na produção de conhecimento.

Assim, esta política precisa ser consolidada e ampliada, em vez de sofrer reveses. Somente a produção de conhecimento, o seu uso na geração de riqueza, a consolidação da cultura da inovação e a solução dos desequilíbrios sociais e regionais possibilitarão que o Brasil seja incluído entre os países desenvolvidos na próxima década.

21 de dezembro de 2010


Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
Marco Antonio Raupp, presidente.

Academia Brasileira de Ciências
Jacob Palis Junior, presidente

Houve uma época em que as princesas eram virgens e os príncipes eram errantes cavaleiros destemidos, generosos e sempre venciam o monstro. O monstro sempre era o mal e sempre perdia no final.

Hoje o monstro cresceu na mídia e pode ser uma boa pedida, às vezes ele até ganha no final do filme. Tudo depende do momento. Os bonzinhos são iguais aos mauzinhos!

Os vilões de agora podem ter qualidades que tentam e atentam as antes doces e ingênuas princesas.

E você, vai ser protagonista ou mero figurante na história da sua vida?

terça-feira, 21 de dezembro de 2010


Chapeuzinho Vermelho


Era uma vez (admitindo-se aqui o tempo como uma realidade palpável, estranho, portanto, à fantasia da história) uma menina, linda e um pouco tola, que se chamava Chapeuzinho Vermelho. (Esses nomes que se usam em substituição do nome próprio chamam-se alcunha ou vulgo). Chapeuzinho Vermelho costumava passear no bosque, colhendo Sinantias, monstruosidade botânica que consiste na soldadura anômala de duas flores vizinhas pelos invólucros ou pelos pecíolos, Mucambés ou Muçambas, planta medicinal da família das Caparidáceas, e brincando aqui e ali com uma Jurueba, da família dos Psitacídeos, que vivem em regiões justafluviais, ou seja, à margem dos rios. Chapeuzinho Vermelho andava, pois, na Floresta, quando lhe aparece um lobo, animal selvagem carnívoro do gênero cão e... (Um parêntesis para os nossos pequenos leitores — o lobo era, presumivelmente, uma figura inexistente criada pelo cérebro superexcitado de Chapeuzinho Vermelho. Tendo que andar na floresta sozinha, - natural seria que, volta e meia, sentindo-se indefesa, tivesse alucinações semelhantes.).

Chapeuzinho Vermelho foi detida pelo lobo que lhe disse: (Outro parêntesis; os animais jamais falaram. Fica explicado aqui que isso é um recurso de fantasia do autor e que o Lobo encarna os sentimentos cruéis do Homem. Esse princípio animista é ascentralíssimo e está em todo o folclore universal.) Disse o Lobo: "Onde vais, linda menina?" Respondeu Chapeuzinho Vermelho: "Vou levar estes doces à minha avozinha que está doente. Atravessarei dunas, montes, cabos, istmos e outros acidentes geográficos e deverei chegar lá às treze e trinta e cinco, ou seja, a uma hora e trinta e cinco minutos da tarde".

Ouvindo isso o Lobo saiu correndo, estimulado por desejos reprimidos (Freud: "Psychopathology Of Everiday Life", The Modern Library Inc. N.Y.). Chegando na casa da avozinha ele engoliu-a de uma vez — o que, segundo o conceito materialista de Marx indica uma intenção crítica do autor, estando oculta aí a idéia do capitalismo devorando o proletariado — e ficou esperando, deitado na cama, fantasiado com a roupa da avó.

Passaram-se quinze minutos (diagrama explicando o funcionamento do relógio e seu processo evolutivo através da História). Chapeuzinho Vermelho chegou e não percebeu que o lobo não era sua avó, porque sofria de astigmatismo convergente, que é uma perturbação visual oriunda da curvatura da córnea. Nem percebeu que a voz não era a da avó, porque sofria de Otite, inflamação do ouvido, nem reconheceu nas suas palavras, palavras cheias de má-fé masculina, porque afinal, eis o que ela era mesmo: esquizofrênica, débil mental e paranóica pequenas doenças que dão no cérebro, parte-súpero-anterior do encéfalo. (A tentativa muito comum da mulher ignorar a transformação do Homem é profusamente estudada por Kinsey em "Sexual Behavior in the Human Female". W. B. Saunders Company, Publishers.) Mas, para salvação de Chapeuzinho Vermelho, apareceram os lenhadores, mataram cuidadosamente o Lobo, depois de verificar a localização da avó através da Roentgenfotografia. E Chapeuzinho Vermelho viveu tranqüila 57 anos, que é a média da vida humana segundo Maltus, Thomas Robert, economista inglês nascido em 1766, em Rookew, pequena propriedade de seu pai, que foi grande amigo de Rousseau.


Millôr Fernandes


Extraído do livro "Lições de Um Ignorante", José Álvaro Editor - Rio de Janeiro, 1967, pág. 31

Nem tudo é o que parece


Consumismo selvagem


segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O culpado e a porta


Um réu estava sendo julgado por um assassinato na Inglaterra. Havia fortes evidências sobre a sua culpa, mas o cadáver não aparecera. Quase no final da sua sustentação oral, o advogado - temeroso de que seu cliente fosse condenado - recorreu a um truque:
- Senhoras e senhores do júri, eu tenho uma surpresa para todos vocês - disse, olhando para o relógio. - Dentro de um minuto, a pessoa presumivelmente assassinada, neste caso, vai entrar neste tribunal.
E olhou para a porta. Os jurados, surpresos, também olharam.
Um minuto passou. Nada aconteceu. O advogado, então, completou:
- Realmente, eu falei e todos vocês olharam com expectativa. Portanto, ficou claro que vocês têm dúvida, neste caso, se alguém realmente foi morto, por isso insisto para que vocês considerem o meu cliente inocente.
Os jurados, visivelmente surpresos, retiraram-se para a decisão final.
Alguns minutos depois, o júri voltou e pronunciou o veredito:
- Culpado!
- Mas, como? - perguntou o advogado. - Vocês estavam em dúvida, eu vi todos vocês olharem fixamente para a porta!
E o juiz esclareceu:
- Sim, todos nós olhamos para a porta, mas o seu cliente, não.

- - - - - -

Não basta ter um bom advogado, tem que ser inocente...

Rústica

Foto Vitaly Tron

Ser a moça mais linda do povoado.
Pisar, sempre contente, o mesmo trilho,
Ver descer sobre o ninho aconchegado
A bênção do Senhor em cada filho.

Um vestido de chita bem lavado,
Cheirando a alfazema e a tomilho...
- Com o luar matar a sede ao gado,
Dar às pombas o sol num grão de milho...

Ser pura como a água da cisterna,
Ter confiança numa vida eterna
Quando descer à "terra da verdade"...

Deus, dai-me esta calma, esta pobreza!
Dou por elas meu trono de Princesa,
E todos os meus Reinos de Ansiedade.


Florbela Espanca

Memory - Cats Musical

Hora do recreio

Argentino no deserto, desesperado por um pouco d’água, vê algo ao longe, parecendo um oásis.
Arrasta-se até lá e encontra um camelô brasileiro vendendo gravatas.
O argentino implora:
- Por favor, estoy muerto de séd, puedes dar-me un poquito de água?
O brasileiro responde:
- Eu não tenho água, mas por que vc não compra uma gravata? Tenho uma aqui que combina muito bem com sua roupa!
O argentino furioso:?
- Yo no quiero gravatas, idiota! Quiero água! ÁÁÁGUAAAA…!
Então, o brasileiro diz:
- Tá certo. Vou te dizer onde tem água: depois daquela colina ali, a cerca de 10 quilômetros adiante, existe um restaurante.
O argentino vai (sem agradecer, obviamente) em direção à colina e desaparece.
Cinco horas depois, volta arrastando-se quase morto até o brasileiro, que pergunta:
- Eu disse 10 quilômetros depois da colina. Você não encontrou?
E o argentino:
- Encontré! Solo que no es permitido entrar sin gravata, brasileño hijo de puta!

sábado, 18 de dezembro de 2010

Moto próprio

Tinha 27 anos e uma motocicleta. Não tinha mais nada nem precisava. Possuía o mundo e todas as pompas do universo porque sentia a moto entre as pernas. Amava a moto e, de moto próprio, só amou a própria moto.

Vivia trepado na moto, correndo pelas estradas, sentindo o trepidar dos 57 cavalos do motor. Era um deus, dono do mundo, dono do próprio destino. Não saía da moto nem para comer nem para beber. Tampouco dormia.

A moto o possuía e ele possuía a moto.

Andava sem itinerário, nunca ia a parte alguma porque se considerava em todas as partes. Adquiriu a onipresença - própria dos deuses - de ser e estar em todos os lugares e modos.

O rapaz virou Deus.

Não se preocupava com o Bem e o Mal. O único mal seria a moto enguiçar ou a gasolina acabar. Mas a moto era eterna, a gasolina jamais acabava. A força das coxas que espremiam a moto entre as pernas era tanta e tamanha que os 57 cavalos não precisavam de outra energia.

O rapaz era a moto e a moto era o rapaz.

O sol ou a chuva em nada afetavam o rapaz ou a moto. De dia ou de noite, a marcha era a mesma, e mesmo o trepidar. As pessoas que, ao longe, viam passar a moto e o rapaz pensavam que era um anjo, ou o próprio Deus descido à Terra.

O rapaz não ligava para a admiração que causava, admiração que se transformou em adoração. Os camponeses, quando viam ou ouviam a moto, ajoelhavam-se à beira das estradas e rezavam, pedindo proteção para as colheitas. Uma lenda logo se formou: por onde o rapaz e a moto passassem, o chão se abriria, fecundo, em frutos e flores.

À noite, as jovens sonhavam que o rapaz e a máquina chegavam. Elas acordavam em orgasmo, o rapaz e a máquina entravam pela carne das virgens.

Foram criados exorcismos específicos, a fim de impedir que as púberes caíssem em sonhos tais. Numa certa região dos Lagos Gelados, após um sonho com o rapaz e a moto, uma virgem pariu uma pequenina motocicleta, de 15 cavalos apenas.

Depois de algum tempo, o rapaz e a moto começaram a preocupar as autoridades. Também os deuses se ocuparam do rapaz e da moto, sentiam que alguma coisa de anormal ocorria no mundo.

Os deuses se reuniram com as autoridades e deliberaram dar um fim ao rapaz e à moto. Era impossível acabar com os dois, ao mesmo tempo. A moto era indestrutível. Nem o fogo nem a água podiam contra ela. E o rapaz, enquanto estivesse em cima da moto, seria indestrutível. Nem o fogo nem a água podiam contra ele.

Então, o mais velho dos deuses sugeriu um acidente que poderia acabar com o rapaz e a própria moto, mas de moto próprio.

Num cair de tarde, o rapaz vacilou diante do sol que se punha no horizonte, à sua frente. Não viu a árvore que tinha galhos para dentro da estrada. A velocidade era grande e o seu corpo foi projetado para a frente e para o alto. Ficou preso nos galhos da árvore. Pelo muitos anos em que vivera trepado na moto, o rapaz continuou de pernas abertas, como se entre elas tivesse, ainda, a sua moto.

Após ter expelido o dono, a moto prosseguiu a marcha desgovernada, para cima e para a frente, de tal modo que, de moto próprio, encravou-se entre as pernas do rapaz. Tamanho o desejo de voltar a ser possuída pelo dono, que penetrou-o sem dor.

De longe, os deuses viram que a moto fora tragada pelo rapaz. E muito se rejubilaram: o rapaz desintegrou-se, desintegrando a moto.

Os deuses providenciaram para que o corpo desaparecesse - única forma de fazer desaparecer, também, a indestrutível moto, que nem o fogo e a água podiam contra ela. Aproveitaram o cair da noite e sepultaram os escombros do rapaz e da moto no túmulo do vento.

As autoridades bateram palmas.

Quando o dia raiou, nada mais havia do rapaz e da moto. O mundo continuou com suas estradas assassinas e suas árvores criminosas.

Os deuses se sentiram recompensados. E as autoridades, depois de muito bater palmas, foram bater as populações vizinhas, cobrando impostos, taxas e demais posturas a que tinham direito pela lei.


Carlos Heitor Cony

Texto extraído do suplemento "Primeiras histórias do ano 2000", publicado pelo jornal Folha de São Paulo em 01/01/2000, pág. 04.

Assombros

Às vezes, pequenos grandes terremotos
ocorrem do lado esquerdo do meu peito.

Fora, não se dão conta os desatentos.

Entre a aorta e a omoplata rolam
alquebrados sentimentos.

Entre as vértebras e as costelas
há vários esmagamentos.

Os mais íntimos
já me viram remexendo escombros.
Em mim há algo imóvel e soterrado
em permanente assombro.


Affonso Romano de Sant'Anna


Poesia extraída do livro "Lado Esquerdo do Meu Peito", Ed. Rocco - Rio de Janeiro, 1992.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

História de um Nome

No capítulo dos nomes difíceis têm acontecido coisas das mais pitorescas. Ou é um camarada chamado Mimoso, que tem físico de mastodonte, ou é um sujeito fraquinho e insignificante chamado Hércules. Os nomes difíceis, principalmente os nomes tirados de adjetivos condizentes com seus portadores, são raríssimos, e é por isso que minha avó a paterna - dizia:

— Gente honesta, se for homem deve ser José, se for mulher, deve ser Maria!

É verdade que Vovó não tinha nada contra os joões, paulos, mários, odetes e — vá lá — fidélis. A sua implicância era, sobretudo, com nomes inventados, comemorativos de um acontecimento qualquer, como era o caso, muito citado por ela, de uma tal Dona Holofotina, batizada no dia em que inauguraram a luz elétrica na rua em que a família morava.

Acrescente-se também que Vovó não mantinha relações com pessoas de nomes tirados metade da mãe e metade do pai. Jamais perdoou a um velho amigo seu — o "Seu" Wagner — porque se casara com uma senhora chamada Emília, muito respeitável, aliás, mas que tivera o mau-gosto de convencer o marido de batizar o primeiro filho com o nome leguminoso de Wagem — "wag" de Wagner e "em" de Emília. É verdade que a vagem comum, crua ou ensopada, será sempre com "v", enquanto o filho de "Seu" Wagner herdara o "w" do pai. Mas isso não tinha nenhuma importância: a consoante não era um detalhe bastante forte para impedir o risinho gozador de todos aqueles que eram apresentados ao menino Wagem.

Mas deixemos de lado as birras de minha avó — velhinha que Deus tenha, em Sua santa glória — e passemos ao estranho caso da família Veiga, que morava pertinho de nossa casa, em tempos idos.

"Seu" Veiga, amante de boa leitura e cuja cachaça era colecionar livros, embora colecionasse também filhos, talvez com a mesma paixão, levou sua mania ao extremo de batizar os rebentos com nomes que tivessem relação com livros. Assim, o mais velho chamou-se Prefácio da Veiga; o segundo, Prólogo; o terceiro, Índice e, sucessivamente, foram nascendo o Tomo, o Capítulo e, por fim, Epílogo da Veiga, caçula do casal.

Lembro-me bem dos filhos de "Seu" Veiga, todos excelentes rapazes, principalmente o Capítulo, sujeito prendado na confecção de balões e papagaios. Até hoje (é verdade que não me tenho dedicado muito na busca) não encontrei ninguém que fizesse um papagaio tão bem quanto Capítulo. Nem balões. Tomo era um bom extrema-direita e Prefácio pegou o vício do pai - vivia comprando livros. Era, aliás, o filho querido de "Seu" Veiga, pai extremoso, que não admitia piadas. Não tinha o menor senso de humor. Certa vez ficou mesmo de relações estremecidas com meu pai, por causa de uma brincadeira. "Seu" Veiga ia passando pela nossa porta, levando a família para o banho de mar. Iam todos armados de barracas de praia, toalhas etc. Papai estava na janela e, ao saudá-lo, fez a graça:

— Vai levar a biblioteca para o banho? "Seu" Veiga ficou queimado durante muito tempo.

Dona Odete — por alcunha "A Estante" — mãe dos meninos, sofria o desgosto de ter tantos filhos homens e não ter uma menina "para me fazer companhia" - como costumava dizer. Acreditava, inclusive, que aquilo era castigo de Deus, por causa da idéia do marido de botar aqueles nomes nos garotos. Por isso, fez uma promessa: se ainda tivesse uma menina, havia de chamá-la Maria.

As esperanças já estavam quase perdidas. Epílogozinho já tinha oito anos, quando a vontade de Dona Odete tornou-se uma bela realidade, pesando cinco quilos e mamando uma enormidade. Os vizinhos comentaram que "Seu" Veiga não gostou, ainda que se conformasse, com a vinda de mais um herdeiro, só porque já lhe faltavam palavras relacionadas a livros para denominar a criança.

Só meses depois, na hora do batizado, o pai foi informado da antiga promessa. Ficou furioso com a mulher, esbravejou, bufou, mas — bom católico — acabou concordando em parte. E assim, em vez de receber somente o nome suave de Maria, a garotinha foi registrada, no livro da paróquia, após a cerimônia batismal, como Errata Maria da Veiga.

Estava cumprida a promessa de Dona Odete, estava de pé a mania de "Seu" Veiga.



Stanislaw Ponte Preta


Texto extraído do livro "A Casa Demolida", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1963, pág. 175.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Mulheres em arte

Matisse e algumas releituras...

Henri Matisse, “La Dance”, 1909. The Museum of Modern Art (MoMA), Nova Iorque, EUA

Lucy Unwin (Inglaterra), “The Dance, after Matisse 1910”

Judith Bernstein (EUA), “The Dance, after Matisse”, 1993

Gleb Netch (Japão), “Dance Matisse”

Gérard Rancinan (França), “La Danse”, fotografia, 2009. Métamorphoses, fotografia, Palais de Tokyo, Paris