Estamos hoje na cidade de Patos-PB, no Fórum Miguel Sátiro, realizando o lançamento/exposição de nossa obra "Entre Farol, Poesia e Vagalumes".
quarta-feira, 31 de outubro de 2018
terça-feira, 30 de outubro de 2018
A arte de escrever limpo
Um autor francês publicou há poucos anos um livro onde
ensinava o leitor a conversar com firmeza sobre um livro qualquer, mesmo sem o
ter lido. Entrando no clima, não comprei nem li o livro, que aliás é excelente.
E me veio a idéia de fazer um livrinho fino listando (este é o século das
listas; o próximo será o das mãos espalmadas na parede da caverna) Os 100 Clássicos da Literatura Universal Que
Muito Provavelmente Você Morrerá Sem Ler.
O tratamento um tanto brusco do título não se dirige ao
leitor, mas a mim mesmo: “Imbecil, tu passa um mês relendo um livro véi de
Ellery Queen que já leu três vezes, enquanto nunca leste Homero, Dante,
Stendhal, Gjerellup, Pontopiddan...”
E me veio à mente Camilo Castelo Branco, famosíssimo
autor português de quem nunca li uma linha sequer. Camilo é tido como um autor melodramático,
prolífico de enredos e visceral de sentimentos, com uma linguagem por vezes
desabrida, mas sempre com a voz e a narrativa sob controle. Uma mistura de
Balzac e Dumas, com traços de Nelson Rodrigues? Difícil saber sem ter lido.
Quem lia Camilo e gostava, de modo divertido e
aparentemente sincero, era Monteiro Lobato, que em 1917 escrevia a seu amigo, o
escritor e tradutor Godofredo Rangel:
Sabes o que estou lendo com
enorme agrado? Macaulay, o incomparável, e Dickens. As memórias de Pickwick são
um modelo de arte. Diz-se lá num capítulo o que os cacetissimos psicólogos de
hoje dizem em todo um livro. Acho arqui-preciosa a leitura dos ingleses:
livra-nos de absorver a infecção luética dos franceses: galiqueira mental que
vai dessorando as nossas letras e fazendo-as um luar da francesa. E, fora dos
ingleses, leio Camilo; não passo um dia sem umas páginas.
As cartas de Lobato para Rangel foram coletadas nos dois
volumes de A Barca de Gleyre (1944),
livro tido como inspirador por muitos autores. Lobato e Rangel tinham uma
amizade sólida e bem humorada, compartilhavam muitas opiniões literárias, e na
juventude tinham feito parte de grupos literários paulistanos. As cartas de
Rangel não foram recuperadas, mas o livro traz o lado lobatiano da
correspondência, onde ele fala sobre livros, família, fazenda, correção de
estilo, carpintaria literária.
Lobato de novo, em outra carta de 1917, durante a leitura
de A Mulher Fatal (1870):
Li ou estou lendo a Mulher Fatal – conheces? Que ótimo está
ali o Camilo. Que desprezo de todas as regras da composição francesa! Quando se
lhe depara lance de morder num adversário, larga da cena romântica com que está
maçando o leitor e desanca. Na Mulher
Fatal há isto: “Aí apareceu certa vez um arqui-tolo com grandes foros para
maior graduação, etc.” E embaixo da página a nota: “O senhor doutor Joaquim
Teófilo Braga, na Visão dos Tempos,
1ª. série.” Imagine Flaubert fazendo
isso em Salambô!
Não lhe perdoavam nada a
Camilo, mas com que furor revidava os assaltos! Há dele não sei qual romance
que em certo ponto está lamecha demais e “pau”; parece que Camilo mesmo percebe
isso e, de repente, sem mais nem menos, larga a história e dá uma surra
tremenda nessa mesmo Teófilo Braga. Depois continua a história, como se não
tivesse havido coisa nenhuma.
O fato de Lobato se deleitar com isto não quer dizer que
seja uma qualidade, mas não há como negar que ele se diverte sinceramente com o
que o autor apronta, o que não é estranho, porque eu também me divirto com
isso. Mesmo quando Glauber Rocha, no Riverão
Sussuarana (1978) deixa vazar para dentro do romance o debate acalorado
sobre fatos da sua vida pessoal durante a escritura do livro.
Na verdade, ficamos sabendo mais sobre Lobato quando
vemos o que ele elogia nos seus mestres e nos seus contemporâneos:
Ontem li Histórias Sem Data, de Machado, e ainda estou sob a impressão. Não
pode haver língua mais pura, água mais bem filtrada, nem melhor cristalino a
defluir em fio da fonte. E ninguém maneja melhor tudo quanto é cambiante. A
gama inteira dos semi-tons da alma humana. É grande, é imenso, o Machado. É o
pico solitário das nossas letras. Os demais nem lhe dão pela cintura. (1915)
Uma das razões para isso é essa elegância que ele
encontra em Machado, onde o enxugamento não se faz às custas da expressividade.
Lobato admirava Coelho Neto, mas dizia que nele “há 200 mil adjetivos a mais”.
E, em carta de 1915: “Estou convencido de que o vocábulo fora de moda, fóssil
ou raro, é ‘pedra’ de banana-maçã”.
Em muitas dessas cartas Lobato manifesta uma certa expectativa
em descobrir autores de estilo limpo, direto, espontâneo, forte. Sem a
adiposidade dos beletristas da época. Daí sua impressão sobre Lima Barreto após
as primeiras leituras, dirigindo-se a Rangel, em 1916:
Conheces Lima Barreto? Li
dele, na Águia, dois contos, e pelos
jornais soube do triunfo do Policarpo
Quaresma, cuja segunda edição já lá se foi. A ajuizar pelo que li, este
sujeito me é romancista de deitar sombras em todos os seus colegas coevos e
coelhos, inclusive o Neto. Facílimo na língua, engenhoso, fino, dá impressão de
escrever sem torturamento – ao modo das torneiras que fluem uniformemente a sua
corda dágua. Vou ver se encontro um Policarpo
e aí o terás. Bacoreja-me que temos pela proa o romancista brasileiro que
faltava.
As opiniões de Lobato estão certas ou erradas? O estilo
que ele defende é superior ou inferior aos demais estilos? Nada disso importa.
Lobato era um indivíduo vigoroso, energético, homem de ação. Páginas e páginas
das cartas são dedicadas à descrição de sua rotina na fazenda, consertando
telhados, reforçando cercas, cuidando das criações, dirigindo plantios e colheitas,
quebrando a cabeça com as burocracias cartoriais da época.
E não é apenas o despojamento que Lobato admira em
Camilo, é a mão segura para ousar fazer tudo que ousa:
O mérito de Camilo está em que
nos ensina todas as acrobacias da língua, e nos mostra todas as “bravuras” e
ainda nos diverte. Quando se põe a troçar é enorme! Quando vira palhaço e vai
descambando para o reles, sai-se com um disparate de gênio e salva tudo... Em
matéria de diálogos de gente do povo, não sei de nada igual. (1916)
A Barca de Gleyre
foi um dos títulos citados por Guimarães Rosa num questionário, quando lhe
pediram uma lista de títulos de autores brasileiros que o haviam influenciado. Essa
exuberância devoradora de leitor, esse gosto em se deixar arrebatar por um
autor que entusiasma, parecem ter passado para Guimarães Rosa. Mesmo que os
respectivos gostos fossem diferentes, a atitude para com a literatura era
parecida.
Não muito diferente da de Ariano Suassuna, que dizia:
“É melhor estudar um só livro, qualquer que seja ele, com ‘raça’,
alegria e entusiasmo, do que estudar todos os livros do mundo friamente. Porque em tais casos um livro, mesmo menor,
examinado e reexaminado em todas as suas implicações, aplaudido aqui e
ferozmente negado ali, pode ser, para o jovem que o leia, o que foi, para mim,
o ‘Assim Falou Zaratustra’ de Nietzsche, na adolescência: a descoberta da
ardente e duradoura alegria do conhecimento”.
(Ariano Suassuna, Iniciação à
Estética, pag. 13)
Bráulio Tavares
Mundo Fantasmo
Versículos do dia
Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranqüilas.
Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome.
Não pergunteis, pois, que haveis de comer, ou que haveis de beber, e não andeis inquietos.
Porque as nações do mundo buscam todas essas coisas; mas vosso Pai sabe que precisais delas.
segunda-feira, 29 de outubro de 2018
Tragédia no lar
(...)
“Eu sou como a garça triste
“Que mora à beira do rio,
“As orvalhadas da noite
“Me fazem tremer de frio.
“Me fazem tremer de frio
“Como os juncos da lagoa;"
(...)
Castro Alves
“Eu sou como a garça triste
“Que mora à beira do rio,
“As orvalhadas da noite
“Me fazem tremer de frio.
“Me fazem tremer de frio
“Como os juncos da lagoa;"
(...)
Castro Alves
Eu canto porque o instante existe
E a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
Sou poeta.
E a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
Sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
Não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noite e dias
No vento.
Se desmorono ou se edifico,
Se permaneço ou me desfaço,
- Não sei, não sei. Não sei se fico
Ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.
Cecília Meireles
Não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noite e dias
No vento.
Se desmorono ou se edifico,
Se permaneço ou me desfaço,
- Não sei, não sei. Não sei se fico
Ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.
Cecília Meireles
domingo, 28 de outubro de 2018
Cientista político destaca importância do voto como instrumento de mudança política e social
Principal instrumento de manifestação da vontade popular, o voto
tem papel de destaque na Constituição de 1988. A Carta Magna é
explícita ao afirmar que a soberania popular será exercida pelo direito
de voto direto e secreto, com valor igual para todos. Tão importante
quanto exercer esse direito é a busca do chamado "voto consciente". O
cientista político Vítor Oliveira explica a importância de o eleitor
pesquisar a fundo o candidato que receberá seu voto e, principalmente, o
conteúdo programático do partido a que esse candidato pertence.
"O que é importante é o eleitor ver quais são os problemas de política pública que afetam a vida dele, o lugar, as pessoas que estão próximas dele e aquilo que ele acredita ser importante para o país. E, a partir daí, identificar quais os candidatos e, especialmente, quais os partidos. O voto - especialmente, o voto proporcional, o voto na eleição para deputado federal - leva em consideração o partido ou a coligação. Então, é fundamental o eleitor ver não apenas quem é o candidato, mas o partido para o qual ele está dando o voto".
Para Vítor Oliveira, a democracia brasileira ainda mantém um "déficit de participação popular" após a eleição. Segundo o cientista político, o eleitor consciente sabe que o voto tem consequências expressivas.
"Tem consequência no tanto de dinheiro que vai para pagar salário de professor, no tanto de dinheiro que vai ser destinado para investimento em segurança, saúde pública e infraestrutura. Mas ele tem mais consequência quando ele passa a ser instrumento da participação política da sociedade, quando a sociedade entende que está escolhendo representantes que vão continuar a ouvi-la. Não só aqueles que vão ouvi-la no momento da eleição".
Oliveira ressalta ainda que o voto é ato de cidadania e instrumento de mudança política e social.
Reportagem - José Carlos Oliveira
Rádio Agência
"O que é importante é o eleitor ver quais são os problemas de política pública que afetam a vida dele, o lugar, as pessoas que estão próximas dele e aquilo que ele acredita ser importante para o país. E, a partir daí, identificar quais os candidatos e, especialmente, quais os partidos. O voto - especialmente, o voto proporcional, o voto na eleição para deputado federal - leva em consideração o partido ou a coligação. Então, é fundamental o eleitor ver não apenas quem é o candidato, mas o partido para o qual ele está dando o voto".
Para Vítor Oliveira, a democracia brasileira ainda mantém um "déficit de participação popular" após a eleição. Segundo o cientista político, o eleitor consciente sabe que o voto tem consequências expressivas.
"Tem consequência no tanto de dinheiro que vai para pagar salário de professor, no tanto de dinheiro que vai ser destinado para investimento em segurança, saúde pública e infraestrutura. Mas ele tem mais consequência quando ele passa a ser instrumento da participação política da sociedade, quando a sociedade entende que está escolhendo representantes que vão continuar a ouvi-la. Não só aqueles que vão ouvi-la no momento da eleição".
Oliveira ressalta ainda que o voto é ato de cidadania e instrumento de mudança política e social.
Reportagem - José Carlos Oliveira
Rádio Agência
sábado, 27 de outubro de 2018
"Nós não corremos em direção à morte, nós
fugimos da catástrofe do nascimento, sobreviventes lutando para esquecer isso.
O medo da morte é somente a projeção no futuro de um medo que vem do primeiro
momento da vida. Relutamos, é claro, em tratar o nascimento como uma
calamidade: não fomos ensinados que era o bem supremo – não nos foi dito que o
pior vinha no final, não no princípio das nossas vidas? E na verdade, o mal, o
verdadeiro mal, está atrás, não na nossa frente."
Emile Cioran - Do inconveniente de ter nascido
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