sábado, 28 de fevereiro de 2009

Comissão de juristas poderá propor que jurados troquem ideias antes da sentença

A comissão responsável pela elaboração de anteprojeto do novo Código de Processo Penal (CPP) estuda propor pelo menos duas mudanças nas normas relativas ao funcionamento do júri popular: uma é permitir que os jurados façam consultas entre si antes de depositarem seu voto acerca da culpa ou inocência do acusado e a outra é tornar mais simples as perguntas dirigidas pelo juiz aos integrantes do júri.

De acordo com o consultor legislativo do Senado Fabiano Silveira, membro da comissão, a proibição de os jurados conversarem é "surreal", porque não serve para qualificar a convicção de cada um deles. Ao contrário, impede que, no debate, dúvidas e equívocos de interpretação sejam sanados.

- Muitos julgamentos têm sido anulados por causa dessa regra - observa Silveira, que participou das reuniões da comissão realizadas nesta quinta (26) e nesta sexta-feira (27).

A experiência de países onde os jurados podem se falar antes da sentença está sendo levada em consideração pelos juristas que integram a comissão. Nos Estados Unidos, por exemplo, os jurados devem chegar a um consenso sobre as circunstâncias do crime. Silveira esclareceu que o anteprojeto a ser oferecido para consulta popular, possivelmente em abril, manterá o voto individual e secreto de cada jurado, permitindo, no entanto, as consultas no grupo.

Com relação ao questionário de perguntas entregue pelo juiz ao corpo de jurados, a ideia é dar maior objetividade às apreciações do júri, evitando que se perca na complexidade do caso.

Outro tema considerado "sensível e polêmico" pelo consultor do Senado é o da "exposição aviltante, indigna ou abusiva" de presos e investigados à imprensa. A proposta em análise na comissão é proibir que isso aconteça.

- Indivíduos que nem foram condenados não podem ser exibidos como um troféu à mídia - opinou Silveira, que mencionou ainda os limites de atuação do chamado "juiz das garantias". Diferentemente do juiz do processo, o juiz das garantias atuará somente na fase da investigação criminal e apenas quando o caso exigir medidas suscetíveis de ferir direitos do investigado, como no caso de escutas telefônicas ou da prisão provisória.

A comissão também debateu nesses últimos dois dias uma definição mais nítida das competências das Justiças federal e estadual. No julgamento de crimes cometidos por funcionários públicos, por exemplo, a indefinição pode gerar recursos que atrasam o processo, em prejuízo do erário.

Discutiu-se, ainda, o melhor modelo para a reparação civil dentro de um processo penal. Atualmente, um condenado em ação penal não tem como contestar, na vara cível, o valor da indenização decidida pelo juiz do processo penal.

A comissão tem prazo previsto até julho para concluir seus trabalhos. A sociedade pode contribuir com sugestões pelo site http://www.senado.gov.br/novocpp e pelo e-mail novocpp@senado.gov.br.



Fonte: Agência Senado

Meio ambiente sustentável urgente: Em defesa do Poço Feio


Marcado por estrutura geológica que remonta à era cretácea, o território dix-septiense possui privilegiadas formações espeleológica de origem calcária, sobressaindo-se a do Poço Feio, localizado na comunidade rural do sítio Bonito, imemorialmente ponto de turismo predatório que vem impactando consideravelmente todo entorno da caverna.

Água farta brota das entranhas da terra, a qual, sulcando o interior, tem provável gênese no emaranhado e complexo subsolo da região, formando intricado sistema do qual o arenito assú e o calcário jandaíra participam plenamente marcando a proeminência das características edáficas da bacia potiguar.

O Poço Feio precisa com urgência ser mapeado, pois nem nos registros da sociedade brasileira de espeleologia a cavernas e encontra catalogada. Ainda são incógnitas as ligações que o Poço Feio possui com o lençol freático e com a confusa profusão de túneis que marcam terrenos geológicos como o que está assentada a área geográfica do município de Governador Dix-sept RosadoRN.

Impossível pensar a dicotomia geográfica nos dias de hoje, razão pela qual intercalar o físico com o humano é imprescindível para que tenhamos respostas significativas sobre hipóteses levantadas.

Para gerações dix-septienses o Poço Feio vem se constituindo em lugar, contrário do que se verifica com a maioria que procura a caverna calcária para fins de lazer. Preocupações efetivas com a preservação e sustentabilidade irrisória, ambiental em sua essência, majoritárias no âmbito do pleno sentimento telúrico coma natureza, vem sendo exibida pela população local, sobretudo da comunidade rural do sítio Bonito.

A gestão pública deve se manifestar para que medidas urgentes sejam tomadas no sentido de buscar a harmonia entre respeito à natureza com geração de emprego e renda, tendo em vista que a base econômica de diversas comunidades espalhadas ao longo do percurso do rio Apodi Mossoró, em Governador Dix-sept Rosado/RN, há tempos passados perderam o principal sustento, através da desestruturação dos plantios de alho e cebola, graças ao advento do mal-de-sete-voltas, ainda na década de oitenta do século passado.

Transformar a área do Poço Feio em pólo turístico sustentável é uma forma de garantir melhoria da qualidade de vida da população com racional intervenção antrópica no meio ambiente natural, extremamente impactado devido à retirada de rochas caclárias e outras originadas pelo tempo geológico, o qual vem transformando carapaças de animais marinhos em marga, gipsita, calcário e outros produtos fartamente utilizados na construção civil.

Impossível não se apaixonar pelo Poço Feio, a poesia que emana das águas, as lendas acalentadas e o curioso fenômeno hídrico que brota das entranhas da terra, caracterizado pela água em tonalidade azulada. Empiricamente, Luiz di Souza, do departamento de química da UERN, companheiro de viagens de reconhecimento e estudos à caverna calcária localizada em Governador Dix-sept Rosado/RN, acha grande a probabilidade da proeminência de cobalto, além de outros componentes químicos ainda não alisados. O cientista notificou ainda que uma dúvida provavelmente havia sido respondida, com relação ao projeto encampado pela PETROBRAS, sobre análise das condições ambientais apresentadas pelo rio Apodi-Mossoró. Conforme Luiz di Souza, há grande chance da diferença obtida em água analisada no perímetro urbano de Governador Dix-sept Rosado/RN ser devido à influência do vagalhão hídrico que brota da caverna calcária inundada, despejadas no curso da bacia à altura da comunidade rural do sítio Bonito.

Sujeiras, infelizmente, vem se acumulando ininterruptamente, dentro e fora do Poço Feio, completadas com a prática local de criar porcos de forma ultra-extensiva. Atentando contra o meio ambiente e contra a saúde pública, patrocinam desgastes ambientais em razão que os animais esperam melhores oportunidades para praticarem verdadeiros redemoinhos de lixo. As pessoas que vem de fora costumam deixar materiais orgânicos e inorgânicos em sacolas, logo rasgadas, sobretudo pelos suínos.

Necessário destacar ainda que o turismo predatório é de alto risco, pois sem a mínima infra-estrutura para comportar o fluxo de pessoas que acorrem ao Poço Feio, principalmente em finais de semana, despreza-se a possibilidade de rompimento de estalictites existentes na parte externa do afloramento calcário.

Pensando de forma sustentável a área correspondente ao Poço Feio, buscando aproveitar o potencial turístico do lugar, necessita-se urgentemente que haja correção ambientalmente legal dos perigos proporcionados pelos espeleotemas existentes na caverna calcária do Poço Feio. As fissuras são vistas de imediato, não apenas na área compreendida pela proeminência das estalactites, externamente, mas ainda em vários locais, com muitas pedras calcárias soltas, as quais podem provocar graves acidentes.

A natureza impactada de forma extrema não pode e nem consegue mais esperar. A maioria das pessoas que habita o planeta não acordou ainda para a hipótese de que sucumbiremos em dejetos se nada for feito para reverter o quadro dramático nunca antes vivenciado pela espécie humana. Séria e racional gestão ambiental é a única saída a fim de permitir melhor aproveitamento do Poço Feio.

Desafio do milênio, o desenvolvimento sustentável deve ser encarado como a única saída viável para a continuidade de existência da vida no planeta terra e buscar soluções para problemas locais, primando sempre pela ênfase ao meio ambiente equilibrado, traduz a única forma de legarmos às gerações futuras belezas que a natureza nos disponibiliza e que precisam ser preservadas urgentemente, garantindo ainda a melhoria da qualidade de vida da população através de ações que venham benéficiá-la de forma legítima e duradoura.



(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor da UERN. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Remorso


Às vezes, uma dor me desespera...
Nestas ânsias e dúvidas em que ando.
Cismo e padeço, neste outono, quando
Calculo o que perdi na primavera.
Versos e amores sufoquei calando,
Sem os gozar numa explosão sincera...
Ah! Mais cem vidas! com que ardor quisera
Mais viver, mais penar e amar cantando!
Sinto o que desperdicei na juventude;
Choro, neste começo de velhice,
Mártir da hipocrisia ou da virtude,
Os beijos que não tive por tolice,
Por timidez o que sofrer não pude,
E por pudor os versos que não disse!


Olavo Bilac

Italiano fará operação para virar mulher e se tornar freira

Um italiano homossexual fará uma operação para trocar de sexo e entrar para um convento como freira, apesar de não ter o apoio da Igreja, informou a imprensa local.

Este é o sonho de "Marco", de 45 anos e que pensou muito antes de tomar a decisão, para a qual contará com a ajuda da Casapound Itália, uma associação de promoção da justiça social.

"Marco" vive perto de Roma e planeja realizar seu "sonho" em maio, mas terá de entrar em um convento de um país do Norte da Europa.

"Falei com o sacerdote da minha paróquia, mas me deparei com um muro de borracha. Com o bispo foi pior, mas recebi ajuda posteriormente", comentou, em referência à associação.

O porta-voz da Casapound Itália, Massimo Carletti, está disposto a tornar realidade o sonho de Marco.

"Todos os homens e mulheres deveriam ser iguais e ter as mesmas chances. Ele conta com nossa simpatia e a única culpa é a de ter uma ambição. 'Marco' tem muitas virtudes e um forte ideal cristão, justamente o que a Igreja quer lhe negar", afirma Carletti.


Fonte: Agência EFE

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Campanha da Fraternidade de 2009 será lançada na Quarta-Feira de Cinzas e discutirá segurança pública


Para a Igreja Católica, a Quarta-feira de Cinzas (25) marcará o início da reflexão e dos debates sobre a segurança pública no país. Nesta data será lançada, pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Campanha da Fraternidade de 2009 com o tema Fraternidade e Segurança Pública

A proposta é estimular o debate sobre as causas da violência, contribuir para a promoção da cultura da paz na sociedade e a construção da justiça social. O lema da campanha, que estará estampado nos cartazes, será "A Paz é Fruto da Justiça".

Tema que costuma causar polêmica, a maioridade penal está entre os assuntos a serem discutidos. Serão também abordados os diversos aspectos da violência como o racismo, a violência no trânsito, contra os povos indígenas, no meio familiar, a praticada por policiais e contra os policiais.

As discussões não deixarão de fora o lado político. Um dos objetivos específicos da campanha é denunciar a gravidade dos crimes contra a ética, a economia e as gestões públicas, assim como a injustiça presente nos institutos de prisão especial, de foro privilegiado e de imunidade parlamentar para crimes comuns.

A última campanha teve como tema Fraternidade e Defesa da Vida, se posicionando contra o aborto e a eutanásia, entre outros pontos. A campanha é feita desde os anos 60 e a cada edição aborda um tema diferente.


Fonte: Yara Aquino
Da Agência Brasil
Em Brasília

Os vencedores do Oscar 2009


Melhor filme:
- “Quem quer ser um milionário?” (vencedor)

- “Frost/Nixon”

- “O curioso caso de Benjamin Button”

- “Milk - A voz da liberdade”

- “O leitor”



Melhor ator:
- Mickey Rourke - “O lutador”

- Sean Penn - “Milk - A voz da liberdade” (vencedor)

- Frank Langella – “Frost/Nixon”

- Brad Pitt - "O curioso caso de Benjamin Button"

- Richard Jenkins - "The visitor”



Melhor atriz:
- Meryl Streep – “Dúvida”

- Kate Winslet – “O leitor” (vencedora)

- Anne Hathaway – “O casamento de Rachel”

- Angelina Jolie – “A troca”

- Melissa Leo - "Rio congelado"



Melhor diretor:
- Danny Boyle - “Quem quer ser um milionário?” (vencedor)

- Ron Howard - “Frost/Nixon”

- David Fincher - “O curioso caso de Benjamin Button”

- Gus Van Sant - “Milk - A voz da liberdade”

- Stephen Daldry - "O leitor" (filme, atriz, roteiro adaptado, fotografia)



Melhor filme em língua estrangeira:
- "Revanche", de Gotz Spielmann (Áustria)

- "The class", de Laurent Cantet (França)

- "The Baader Meinhof Complex", de Uli Edel (Alemanha)

- "Waltz with Bashir", de Ari Folman (Israel)

- "Departures", de Yojiro Takita (Japão) (vencedor)



Melhor canção original:
- “Down to Earth”, de Peter Gabriel and Thomas Newman - “Wall.E”

- “Jai Ho” de A.R. Rahman – “Quem quer ser um milionário?” (vencedor)

- “O Saya”, de A.R. Rahman e Maya Arulpragasam – “Quem quer ser um milionário?”



Melhor trilha sonora original:
- Alexandre Desplat - “O curioso caso de Benjamin Button”

- James Newton Howard – “Defiance”

- Danny Elfman – “Milk – A voz da liberdade”

- Thomas Newman – “Wall.E”

- A.R. Rahman – “Quem quer ser um milionário?” (vencedor)



Melhor edição:
- “O curioso caso de Benjamin Button”

- “Batman – O cavaleiro das trevas”

- “Frost/Nixon”

- “Milk – A voz da liberdade”

- “Quem quer ser um milionário?” (vencedor)



Melhor mixagem de som:
- “O curioso caso de Benjamin Button”

- “Batman – O cavaleiro das trevas”

- “Quem quer ser um milionário?” (vencedor)

- “Wall.E”

- “Procurado”



Melhor edição de som:
- “Batman – O cavaleiro das trevas” (vencedor)

- “Homem de Ferro”

- “Wall.E”

- “Procurado”

- “Quem quer ser um milionário?”



Melhores efeitos especiais:
- “Batman - O cavaleiro das trevas”

- “Homem de Ferro”

- “O curioso caso de Benjamin Button” (vencedor)



Melhor documentário de curta-metragem:
- “The conscience of Nhem En”

- “The final inch”

- “Smile Pinki” (vencedor)

- “The witness - From the balcony of room 306”



Melhor documentário de longa-metragem:
- “The betrayal”

- “Encounters at the end of the world”

- “The garden”

- “Man on wire” (vencedor)

- “Trouble the water”



Melhor ator coadjuvante:
- Heath Ledger - “Batman – O cavaleiro das trevas” (vencedor)

- Josh Brolin - "Milk - A voz da liberdade"

- Robert Downey Jr. - "Trovão tropical"

- Philip Seymour Hoffman - "Dúvida"

- Michael Shannon - "Foi apenas um sonho"



Melhor curta-metragem:
- “Auf der strecke (On the Line)”

- “Manon on the asphalt”

- “New Boy”

- “The Pig”

- “Spielzeugland (Toyland)” (vencedor)



Melhor fotografia:
- “A troca”

- “O curioso caso de Benjamin Button”

- “O leitor”

- “Batman – O cavaleiro das trevas”

- “Quem quer ser um milionário?” (vencedor)



Melhor maquiagem:

- "O curioso caso de Benjamin Button" (vencedor)

- "Batman – O cavaleiro das trevas"

- "Hellboy II – O exército dourado”



Melhor figurino:
- “Austrália”

- “O curioso caso de Benjamin Button”

- “A duquesa” (vencedor)

- “Milk – A voz da liberdade”

- “Foi apenas um sonho”



Melhor direção de arte:
- “A troca”

- “O curioso caso de Benjamin Button” (vencedor)

- “Batman – O cavaleiro das trevas”

- “A duquesa”

- “Foi apenas um sonho”



Melhor animação de curta-metragem:
- “La maison en petits cubes” (vencedor)

- “Lavatory - Lovestory”

- “Oktapodi”

- “Presto”

- “This Way Up”



Melhor longa de animação:
- “Wall.E” (vencedor)

- “Kung Fu Panda”

- “Bolt – Supercão”



Melhor roteiro adaptado:
- “O caso curioso de Benjamin Button”

- “Dúvida”

- “Frost/Nixon”

- “O leitor”

- “Quem quer ser um milionário?” (vencedor)



Melhor roteiro original:
- “Rio congelado”

- “Na mira do chefe”

- “Wall.E” (longa de animação, mixagem de som, edição de som, trilha sonora original, canção original)

- “Milk – A voz da liberdade” (vencedor)

- “Happy-go-lucky”



Melhor atriz coadjuvante:
- Amy Adams - "Dúvida"

- Penélope Cruz - "Vicky Cristina Barcelona" (vencedora)

- Viola Davis - "Dúvida"

- Taraji P. Henson - "O curioso caso de Benjamin Button"

- Marisa Tomei - "O lutador"



Fonte: G1.com.br

Desabafo de um bom marido


Minha esposa e eu sempre andamos de mãos dadas. Se eu soltar, ela vai
às compras.

Ela tem um liquidificador elétrico, uma torradeira elétrica, e uma
máquina de fazer pão elétrica. Então ela disse: 'Nós temos muitos
aparelhos, mas não temos lugar pra sentar'. Daí comprei pra ela uma
cadeira elétrica.

Eu me casei com a 'Sra. Certa'. Só não sabia que o primeiro nome dela
era 'Sempre'.

Já faz 18 meses que não falo com minha esposa. É que não gosto de interrompê-la.
Mas tenho que admitir, a nossa última briga foi culpa minha. Ela
perguntou: 'O que tem na TV?' E eu disse 'Poeira'.

No começo Deus criou o mundo e descansou. Então, Ele criou o homem e
descansou. Depois, criou a mulher. Desde então, nem Deus, nem o homem,
nem o Mundo tiveram mais descanso.

Quando o nosso cortador de grama quebrou, minha mulher ficava sempre
me dando a entender que eu deveria consertá-lo. Mas eu sempre acabava
tendo outra coisa para cuidar antes, o caminhão, o carro, a pesca,
sempre alguma coisa mais importante para mim. Finalmente ela pensou
num jeito esperto de me convencer. Certo dia, ao chegar em casa,
encontrei-a sentada na grama alta, ocupada em podá-la com uma
tesourinha de costura. Eu olhei em silêncio por um tempo, me emocionei
bastante e depois entrei em casa. Em alguns minutos eu voltei com uma
escova de dentes e lhe entreguei. '- Quando você terminar de cortar a
grama, ' eu disse, 'você pode também varrer a calçada.
Depois disso não me lembro de mais nada. Os médicos dizem que eu
voltarei a andar, mas mancarei pelo resto da vida.

O casamento é uma relação entre duas pessoas na qual uma está sempre
certa e a outra é o marido.

Luís Fernando Veríssimo

domingo, 22 de fevereiro de 2009

À noite, ronda a maldição de Moudros

Um amigo me escreve dizendo que durante uma noite de insônia, em um hospital de Paris onde havia sido operado, escreveu mentalmente dois capítulos de um romance que há muitos anos cortejava em vão. Na noite seguinte, nova insônia, e mais dois capítulos. Ao sair de lá, levava dez capítulos do romance debaixo do braço, pois de manhã, ao acordar (se assim se pode dizer de alguém que praticamente não dormiu), pegava papel e lápis e anotava tudo aquilo que a insônia lhe havia ditado. Embora cubano, meu amigo Joel Rosell estava sendo vítima da distante maldição de Moudros.

Moudros é uma aldeia da ilha grega de Limnos, o que nos autoriza a imaginá-la branca como são brancas as aldeias gregas agarradas nas pedras e franjadas do mar. Igualmente brancas, porém, eram até poucos anos atrás as noites dos seus habitantes. Ali ninguém dormia ou deveria dormir. Uma antiga maldição encarregava-se de espantar o sono dos pobres aldeões.

A história tem origem no século XIX, em plena guerra greco-turca, quando os habitantes de Moudros mataram uns tantos turcos e atiraram os cadáveres num poço de propriedade de um mosteiro do monte Athos. Foi um erro. Os turcos encontraram os cadáveres e, pensando que os monges tivessem sido os assassinos, retribuíram matando todos eles e incendiando suas construções. Todos, não, dois escaparam, refugiaram-se em outro mosteiro, e de lá emitiram sua maldição: doravante, para remoer sua culpa, nenhum habitante de Moudros haveria de dormir.

A partir de então, durante mais de cem anos, todo dia 23 de agosto, os cerca de três mil monges da comunidade religiosa do monte Athos repetiram a maldição em forma de canto litúrgico.

Nos quartos escuros das brancas casas de Moudros certamente houve aldeões que passaram noites sem dormir. Que belos romances, que elegias, que concertos teriam produzido se, em vez de pensar nos frades, tivessem ouvido seu ditado interior.

Penso no meu amigo em seu leito de hospital. Na primeira noite, quando em meio ao desconforto e à dor o sono não veio, ele deve ter começado a escrever sem empenho, à toa, só para atravessar o tempo que o separava da manhã. Mas na segunda noite, quando já tinha dois capítulos e a urgência de chegar aos seguintes, desejou que o sono não viesse, para permitir-lhe avançar no silêncio.

Na insônia, tanto faz abrir os olhos ou mantê-los fechados, tudo é escuridão. E na escuridão uma palavra, uma palavra que inevitavelmente trará outras atrás de si, bate como um aríete na consciência exigindo atenção, exigindo portas abertas. O insone sabe que se a aceitar perderá a possibilidade de adormecer. E ainda assim ouve sua voz como um canto de sereia. Se ceder à palavra, à infindável família das palavras, terá que dobrar-se às suas exigências, será posto a ferros como o remador de uma galé. E remará a noite toda levando adiante a nau que, palavra a palavra, se constrói. À noite, não basta submeter-se às palavras, há que memorizá-las, repeti-las à medida que se fazem à frente e são escolhidas, gravá-las no basalto da memória para que não se esfumem com o dia.

Sim, é claro, pode o insone levantar-se, acender uma luz na escuridão da casa, ligar o computador. Mas sabe que se o fizer estará perdendo a condição quase fetal da insônia, em que as palavras não são bem palavras mas vozes, ecos vindos de um distante flutuar, que trazem discursos alheios a nós mesmos. Então ele rema e rema na escuridão, para alcançar um capítulo, um poema ou apenas uma frase.

(COLASANTI, Marina. À noite, ronda a maldição de Moudros. In: ─ . Os últimos lírios no estojo de seda. Belo Horizonte: Editora Leitura, 2007, pp. 12-4, “Crônicas Ilustradas”, vol. 1.)

Site dos EUA oferece namoro para casados


Na TV, um casal celebra o aniversário de casamento. Estão em um restaurante à luz de velas, mas a noite não é nada romântica. Na metade do tempo, o marido fala de negócios ao telefone; na outra metade, lança olhares lascivos para a garçonete, usa a faca como espelho para limpar os dentes e sugere que a parceira vai engordar se comer sobremesa.

O que ela deve fazer? Partir para o adultério, sugere abertamente o site AshleyMadison.com, responsável pelo comercial acima. A empresa é uma agência de namoro na internet voltada para homens e mulheres comprometidos que buscam "affairs" - e seu sucesso nos EUA já é tão grande quanto a comoção causada entre defensores da fidelidade.

A peça foi banida neste mês pela rede de TV NBC e pela Liga Nacional de Futebol Americano, que se recusaram a transmiti-la nacionalmente no Superbowl (final do campeonato de futebol americano, evento mais assistido da TV nos EUA). Na CNN, o criador da agência, Noel Biderman, foi acusado de estar "rasgando em pedaços a instituição do casamento" e de oferecer um serviço "nojento".

Mas Biderman, 37, diz que não é problema de ninguém o que adultos decidem fazer consensualmente entre quatro paredes. "Quem acha que o status quo dos casamentos atuais funciona está delirando", disse à Folha. "O site apenas serve a um comportamento humano já existente. Um comercial de 30 segundos jamais vai convencer alguém a ter um caso."

Os 3,38 milhões de membros que o AshleyMadison diz ter indicam não precisar mesmo de estímulo. Um perfil básico e sem foto criado pela reportagem recebeu nas primeiras 24 horas 39 e-mails de homens comprometidos interessados em um encontro.

Em um dos e-mails, o pretendente pede que sejam especificadas preferências sexuais. Em outro, um marido insatisfeito diz que está em busca de "uma namorada divertida para jantares, drinks e etc".
"Notei seu perfil", escreveu ele. "Adoraria conversar se você tiver um tempo. Talvez possamos ser amigos. Como é sua vida? Qual sua cor preferida?"

E não há hipocrisia: em algumas das fotos publicadas, acessíveis apenas a quem o participante envia uma chave, a parceira oficial também aparece.


Fonte: folha de s.paulo
De Andrea Murta:

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Batman - O Cavaleiro das Trevas bate a marca de US$ 1 bilhão


Relançado nos cinemas norte-americanos em janeiro (e no Brasil em 13 de fevereiro), Batman - O Cavaleiro das Trevas bateu a marca de US$ 1 bilhão arrecadado nas bilheterias mundiais, tornando-se um dos quatro filmes que conseguiram a façanha na história do cinema. De acordo com a produtora e distribuidora Warner Bros., o longa faturou mundialmente US$ 1.001.082.160,00 até sexta-feira (20/2) - US$ 533 milhões nos EUA e US$ 567 milhões nos outros países.

Até seu relançamento, faltavam US$ 4 milhões para Batman - O Cavaleiro das Trevas atingir a festejada marca; sua volta às salas, impulsionada pelas oito indicações ao Oscar, cuja entrega ocorre neste domingo (22/2), foi essencial para que a aventura quebrasse o recorde.

Além de Batman - O Cavaleiro das Trevas, somente os longas Titanic, O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei e Piratas do Caribe 2 - O Baú da Morte faturaram mais de US$ 1 bilhão nos cinemas. A mais nova aventura do Homem-Morcego também é o segundo maior faturamento da história nos cinemas norte-americanos, perdendo somente para Titanic, que acumulou US$ 1,8 bilhões nos cinemas ao redor do mundo.


Fonte: Da Redação www.cineclick.com.br

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Trecho da morte.


Ocorreu nesta manhã do dia 17 de fevereiro, pelas 09:32hs, nesta cidade de Pombal, mais um acidente na BR 230,trecho urbano que faz a bifurcação das BRs 230 e 427. Desta feita envolvendo um motoqueiro e um veículo tipo van.

O sinistro poderia ter sido apenas um imprevisto entre dois veículos se não fosse o grande número de acidentes, inclusive, com registro de mortes no trecho da morte.

Apenas no ano de 2007, no mesmo local, foram registrados pelo blog 12 acidentes, em 2009 já são 04 entre veículos e pedestres. Mas o pior não é número crescente dos acidentados e das mortes, o lamentável é que as autoridades competentes (Polícia Rodoviária Federal, Polícia Militar e DTTRANS) nada fazem para tentar, ao menos, minimizar a possibilidade de ocorrência de mais tragédias, sinalizando adequadamente o trecho das BRs 230 com a 427, na altura da pracinha da Nova Vida.

Além da ausência de semáforo, a sinalização horizontal, no sentido Patos/Sousa, acreditem, foi realizada erroneamente de modo a facilitar mais ainda o registro de acidentes tendo em vista que quem segue pela BR 230 em direção ao hotel Rio Verde é induzido (no trecho da morte) a se manter na pista, porém não mais na BR 230 e sim em direção a 427, o que representa um agravante para a ocorrência de problemas.

O trecho da morte é uma BR federal que corta a área urbana da cidade de Pombal.

As estatísticas estão aí gritando por socorro enquanto as autoridades competentes parecem estar deitadas em berço esplendido, ou será que não conhecem o problema? Acho que já passou da hora de se fazer alguma coisa, antes que uma autoridade se acidente ali, quem sabe assim, sentindo na pele, as coisas mudem e o povo pare de sofrer.

Apontamento

A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.

Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.

Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.

Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.
O que era eu um vaso vazio?

Olham os cacos absurdamente conscientes,
Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles.

Olham e sorriem.
Sorriem tolerantes à criada involuntária.

Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas.
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
Um caco.
E os deuses olham-no especialmente, pois não sabem por que ficou ali.


Álvaro de Campos, 1929

Homens vêem mulher seminua como objeto, diz estudo


O chavão de "mulher-objeto", que se remete a mulheres inclinadas à conduta pouco recatada com relação ao comportamento sexual, mereceria uma correção, se dependesse de cientistas americanos. O termo 'objeto' poderia ser interpretado, na verdade, como os homens olham para as mulheres desnudas. É o que aponta uma pesquisa feita nos Estados Unidos sobre como o sexo masculino observa o feminino.

Digitalizando as imagens do cérebro dos homens após exibir a eles a fotografia de uma mulher vestindo biquíni, cientistas descobriram que considerável parte cerebral deles reagiu da mesma maneira como se estivesse olhando para um objeto.

Aplicado também em homens com tendência a um comportamento mais sexualizado, os estudiosos verificaram que uma parte do cérebro que normalmente é acionada durante a interação social foi ativada quando viram a foto. A diferença entre os reflexos apresentados pelos homens com tendências não-sexualizadas e os sexualizados foi o que chamou a atenção.

Segundo Susan Fiske, professora da Universidade Princeton, nos Estados Unidos, os resultados mostram que alguns homens não-sexualizados podem ver as mulheres como um "humano", apenas. "O cérebro mostrou que eles estão reagindo a esta fotografia como as pessoas reagem a objetos. Eles sabem que se trata de uma pessoa, mas seu reflexo é o mesmo que têm diante de um objeto", disse a pesquisadora à reunião anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência.

Susan acredita que o constante bombardeio da sociedade sexualizada com imagens de mulheres jovens pode ser a culpa disso, fenômeno a que ela atribui "a diminuição do instinto de ver os outros como humanos". Ela disse que efeito semelhante ocorreu recentemente com relação à violência na televisão, em que estudos haviam demonstrado que as pessoas perdiam a sensibilidade diante dos efeitos de violência. "Acho que esse é o paralelo existente ao se ver mulheres sexy. Você se acostuma", afirmou a pesquisadora.

No estudo, a equipe de Fiske submeteu os homens a seções de ressonância magnética cerebral com scanners.


Fonte: Redação Terra

Menina indiana casa com cachorro para ser salva dos "maus espíritos"

Uma menina de 12 anos foi casada com um cachorro para protegê-la dos "maus espíritos" que a ameaçavam no estado indiano oriental de Jharkhand, informou nesta segunda-feira um clérigo tribal local.

O casamento, celebrado na localidade de Jamshedpur, aconteceu porque a menor tinha desenvolvido dentes adicionais, algo considerado como um mal augúrio pela população da região, explicou o sacerdote Naresh Manki, citado pela agência "Ians".

"Em uma sociedade tribal, que uma mulher desenvolva dentes complementares é considerado um mau presságio não só para ela, mas também para os membros de sua família e para toda a sociedade. Para salvá-la dos maus espíritos, a casamos com um cachorro", disse Manki.

A pequena Soni teve que enfrentar o atípico casamento por ser uma "manglik", uma pessoa astrologicamente maldita para o casamento, segundo a tradição hindu.

"As bodas são realizadas como um casamento normal, também se organiza um banquete para aqueles que participam da cerimônia", acrescentou o clérigo.

Não é a primeira vez que na Índia são realizados casamentos entre homens e animais ou inclusive árvores, já que alguns astrólogos acreditam que isso liberta a pessoa de certas maldições ou do azar que os astros lhe atribuíram.

Nem sequer as estrelas da poderosa indústria do cinema indiano, Bollywood, escapam ao influxo destes atavismos.

No final de 2006, a atriz e miss Mundo Aishwarya Rai, também uma "manglik", teve que se casar simbolicamente com a imagem do deus hindu Vishnu, como passo prévio para poder desposar-se com o também astro de cinema Abhishek Bachchan.


Fonte: EFE

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A nossa dor e a dor dos outros


Vivemos na atualidade o culto ao sofrimento. Tanto o que resulta de motivos concretos como o desamparo e a violência, quanto o que advém da experiência da angústia em relação à própria vida, uma espécie de convivência com o nada cada vez mais facilitada pela forma de vida em que nenhuma esfera nos dá garantia de sentido. Aprendemos, em nossa cultura, a viver com o sofrimento ao ponto de dar sentido a ele ou até mesmo gozar por meio dele. É um modo de se sobreviver ao nonsense. Muitos são felizes porque são infelizes. Eis um paradoxo nada difícil de compreender em nosso tempo.

A dor parece ser mais do que sintoma corpóreo, ela parece residir na alma, a instância abstrata que agrega sentimentos sempre de certo modo inacessíveis à nossa capacidade de compreender. No corpo ela aparece como incômodo e mal-estar. No nível do sentimento ela é o nome próprio do horror de ser quem se é, de não poder ser outra pessoa. Até parece ser a dor o que nos resgata do absurdo da vida e nos responde sobre quem somos.

Experimentada como algo íntimo, cada indivíduo em nossa cultura negligencia o que a dor possa significar para o outro. Imaginamos, pela força que a caracteriza como experiência pessoal, que ela é apenas nossa e não do outro. “Eu tenho a minha dor” diz a música enquanto o outro parece não ter nenhuma. É porque sentimos dor que cremos em nossa unidade. A dor, já foi o nome do “eu” no romantismo, corrente de pensamento e estilo de vida que desde o século XIX e pelo século XX afora criou seitas e adeptos nas artes, na literatura, mas também na vida. Novamente a dor retorna em amálgama com o eu à cultura definindo o eixo da depressão que, se para muitos é patologia e medicável, não podemos esquecer que é, acima de tudo, desajuste existencial. A este desacordo entre o “eu” e o mundo, a esta “dor de viver” marcadamente romântica, Schopenhauer, o filósofo que melhor entendeu o sofrimento como um aspecto inalienável da vida, erigiu sua visão de mundo. Um resumo de suas idéias define que “sofro porque desejo”, mas sofrer e desejar são dois reflexos da condição própria da vida.

Dor de viver

Entre nós a metáfora da dor de viver se faz corpo. Eu que sou um corpo que vive e experimenta a vida, já não sou mais “um eu” que pensa ou sente, mas alguém que sofre. Eis o que sobra do sujeito moderno e do pós-moderno, que se estilhaçou, se perdeu de vista e, a cada dia com mais veemência emite o conhecido juízo acerca de seu lugar no mundo: estou deprimido. Poderia traduzir sua frase pelo “não desejo nada”. Neste caso, não estaria a dizer que “desejo não desejar”, mas que cessou o desejo. O paradoxo que surge é que não desejar nada parece ser a solução para o sofrimento que vem do desejo, quem não desejasse estaria a salvo. Mas não desejar nada é que se mostra como sendo, na verdade, o sofrimento maior. Quem deprime sabe disso. Mas de onde tirar forças para reconstruir o desejo? A vontade sem sentido que nos liga à vida e nos faz dar sentido à vida? Muitas vezes a dor de viver apenas mascara a culpa que pomos no outro ao qual queremos responsabilizar por nosso próprio fracasso diante do mistério da vida. Por isso, a depressão é, muitas vezes, a máscara de um rosto chamado covardia.

O Espetáculo da dor

Há um verdadeiro contentamento com a dor em nossa cultura. Tal gosto pelo sofrimento é, todavia, escandalização da dor e, paradoxalmente, sua banalização. De tanto ser vivida se tornou banal. A dor é um elemento de uma democracia perversa, parece ser só o que realmente nos esmeramos por compartilhar. As imagens da morte de indivíduos ou grupos, das catástrofes históricas ou da violência em escala cotidiana alegram os olhos de quem aprendeu a viver no mundo do espetáculo, o grande território que na sociedade atual, mede a vida, os corpos, os desejos, com imagens prévias do que devemos ser. O que chamamos espetáculo é ele mesmo um olho que nos vê e forja o nosso próprio modo de olhar. Que futuro há para uma cultura que vive o voyerismo da catástrofe, que goza com o sofrimento alheio pensando estar a salvo dele?

Há solidariedade que possa nos salvar diante do apelo à morte do outro, ao ódio escancarado, a que nos convidam todos os dias as formas de vida – descaso e violência - que vivemos?


A compaixão

O que há de comum entre a nossa dor e a dor dos outros? O que poderia romper o ciclo perverso de gozo e satisfação com o espetáculo da dor pessoal – na depressão - e alheia – na catástrofe assistida? Schopenhauer falou no século XIX sobre a compaixão para basear a ética. Seus críticos logo acordaram dizendo que a justiça e não a compaixão seria um melhor fundamento da ética. A justiça entendida como medida, como regramento, como o que sustenta a lei é realmente algo que pode manter a sociedade em ordem, mas a idéia da compaixão guarda um aspecto que não deve ser esquecido. A compaixão é a capacidade de perceber o sofrimento alheio e saber que ele não é bom. O termo, do latim, compassio, significa mais do que sofrimento comum: é o sentir a dor do outro como se fosse a sua. Uma sociedade que aprendesse que todos estamos mergulhados no sofrimento teria chance de verificar que previamente já há um elo que nos une e que nossa tarefa é ultrapassar sua força de destruição.


Marcia Tiburi


Publicado em Vida Simples em 2008.

Crise mundial

Charge: Amarildo

Reeleição ilimitada

Foto: Reuters

Quem se habilita?


O passaporte ou a vida? O dilema de arriscar a morte nas montanhas do Afeganistão para ter um futuro garantido como cidadão americano vai ser oferecido a pelo menos 1.400 estrangeiros não residentes este ano. Ilegais não serão aceitos.

As Forcas Armadas americanas enfrentam o desgaste de duas guerras há 6 anos e Tio Sam quer atraír estrangeiros que tenham vivido no país por um período mínimo de 2 anos com visto temporário de trabalho. A notícia na primeira página do New York Timese anuncia que os alistados podem sair brandindo seu passaporte azul-marinho em 6 meses.

E torcer para não morrer por ele nas mãos dos talebãs, agora que o país vai intensificar a presença no Afeganistão.


Fonte: Do blog de Lúcia Guimarães

Memória “intuitiva”é mais precisa que a consciente


Às vezes agimos por intuição, sem saber explicar o que nos levou a tomar esta ou aquela decisão, e talvez por isso, valorizamos mais nossas escolhas conscientes, aquelas que estão baseadas em memórias explícitas. Mas, um estudo que acaba de ser publicado na revista Nature Neuroscience mostra que a memória implícita, aquela que usamos sem nos darmos conta (para dirigir um carro ou amarrar os sapatos, por exemplo) pode ser mais confiável.

Pesquisadores da Northwestern University em Evanston, no estado de Illinois, submeteram 12 pessoas a dois testes visuais e de evocação de memória. No primeiro, elas viam algumas imagens caleidoscópicas e eram instruídas a memorizá-las, para depois apontá-las numa segunda apresentação, em meio a outras imagens. No segundo teste, a tarefa era basicamente a mesma, exceto pelo fato de que, durante a exibição de cada imagem, os voluntários ouviam um número e eram orientados a prestar atenção nele, pois essa informação seria importante no teste subseqüente (o que, na verdade, não era). O objetivo era desviar a atenção para os números enquanto as imagens eram apresentadas.

Os resultados mostraram que, na segunda apresentação, o número de acertos no reconhecimento das imagens foi maior quando, na tarefa anterior, os indivíduos tiveram de fixar a atenção nos números. Além disso, os acertos foram ainda mais freqüentes nas pessoas que afirmaram que suas respostas eram simplesmente um “chute”. “Nosso estudo mostra que mesmo quando não prestamos atenção, nosso sistema visual está codificando informações, que depois podem ser evocadas, ainda que não percebamos isso”, diz Ken Paller, um dos autores.

A pesquisa também avaliou a atividade cerebral dos voluntários durante as tarefas, por meio de uma técnica semelhante ao eletroencefalograma. E observaram que, dependendo do tipo de decisão – consciente ou inconsciente –, o padrão registrado era diferente. Quando a escolha dependia da memória explícita, um pico de atividade aparecia cerca de 400 milissegundos depois de apresentado o estímulo.

Nas escolhas intuitivas, isto é, baseadas na memória implícita, o mesmo pico aparecia antes, cerca de 200 milissegundos após a exibição da imagem. Neste caso, a atividade também pareceu mais concentrada em áreas como os lobos occipitais e o córtex pré-frontal esquerdo. Segundo os autores, esses dados são apenas preliminares e outras técnicas, como o neuroimageamento cerebral, detalharão melhor os mecanismos subjacentes a estes fenômenos.


Fonte: uol.com.br

domingo, 15 de fevereiro de 2009

A morte do vaqueiro


Numa tarde bem tristonha
Gado muge sem parar
Lamentando seu vaqueiro
Que não vem mais aboiar
Não vem mais aboiar
Tão dolente a cantar
Tengo, lengo, tengo, lengo,
tengo, lengo, tengo
Ei, gado, oi
Bom vaqueiro nordestino
Morre sem deixar tostão
O seu nome é esquecido
Nas quebradas do sertão
Nunca mais ouvirão
Seu cantar, meu irmão
Tengo, lengo, tengo, lengo,
tengo, lengo, tengo
Ei, gado, oi
Sacudido numa cova
Desprezado do Senhor
Só lembrado do cachorro
Que inda chora
Sua dor
É demais tanta dor
A chorar com amor
Tengo, lengo, tengo, lengo,
tengo, lengo, tengo
Tengo, lengo, tengo, lengo,
tengo, lengo, tengo
Ei, gado, oi
E... Ei...

Luiz Gonzaga
(Foto ilustrativa)

Escárnio perfumado

Quando no enleio
De receber umas notícias tuas,
Vou-me ao correio,
Que é lá no fim da mais cruel das ruas,

Vendo tão fartas,
D'uma fartura que ninguém colige,
As mãos dos outros, de jornais e cartas
E as minhas, nuas - isso dói, me aflige...

E em tom de mofa,
Julgo que tudo me escarnece, apoda,
Ri, me apostrofa,

Pois fico só e cabisbaixo, inerme,
A noite andar-me na cabeça, em roda,
Mais humilhado que um mendigo, um verme...

Cruz e Sousa


João da Cruz e Sousa, considerado o mestre do simbolismo brasileiro, nasceu em Desterro, hoje cidade de Florianópolis - SC, no dia 24 de novembro de 1861. Desde pequenino foi protegido pelo Marechal Guilherme Xavier de Sousa e sua esposa, que o acolheram como o filho que não conseguiram ter. O referido marechal havia alforriado os pais do escritor, negros escravos. Educado na melhor escola secundária da região, teve que abandonar os estudos e ir trabalhar, face ao falecimento de seus protetores. Vítima de perseguições raciais, foi duramente discriminado, inclusive quando foi proibido de assumir o cargo de promotor público em Laguna - SC. Em 1890 transferiu-se para o Rio de Janeiro, ocasião em que entrou em contato com a poesia simbolista francesa e seus admiradores cariocas. Vivia de suas colaborações em jornais e, mesmo já bastante conhecido após a publicação de "Missal" e "Broquéis" (1893), só conseguiu se empregar na Estrada de Ferro Central do Brasil, no cargo de praticante de arquivista. Casou-se com Gavita Gonçalves, também negra, em 09 de novembro de 1893. O poeta contraiu tuberculose e mudou-se para a cidade de Sítio - MG, a procura de bom clima para se tratar. Faleceu em 19 de março de 1898, aos 36 anos de idade, vítima da tuberculose, da pobreza e, principalmente, do racismo e da incompreensão. Sua obra só foi reconhecida anos depois de sua partida. Gavita, que ficou viúva, grávida, e com três filhos para criar. Após o a morte do escritor perdeu dois filhos, vitimados também pela tuberculose. Com problemas mentais, passou vários períodos em hospitais psiquiátricos, vindo a falecer. O terceiro filho, com a mesma doença, faleceu logo em seguida. O único filho que sobreviveu, que tinha o nome do pai, também faleceu vitima dessa doença aos dezessete anos de idade.

Livros publicados:

Poesia:

"Broquéis" (1893)
"Faróis" (1900)
"Últimos Sonetos" (1905)
"O livro Derradeiro" (1961).

Poemas em Prosa:

"Tropos e Fanfarras" (1885) - em conjunto com Virgílio Várzea
"Missal" (1893)
"Evocações" (1898)
"Outras Evocações" (1961)
"Dispersos" (1961)


Charge - Amarildo


Subprocurador afirma que “cadeia no Brasil é para preto, pobre e prostituta”


Quem nunca ouviu a expressão “cadeia no Brasil é para os três ‘p’: preto, pobre e prostituta”? Pois bem. O subprocurador-geral da República Wagner Gonçalves também concorda com o dito popular. Em entrevista ao Contas Abertas, ele afirma que, infelizmente, há uma grande lacuna entre os que podem pagar bons advogados e os mais desfavorecidos econômica e socialmente.

Para o subprocurador, os réus que dispõem apenas de assistência judiciária gratuita (defensores públicos) são prejudicados, pois, ainda que existam esses profissionais nas Comarcas, eles estão abarrotados de processos, seja por falta de estrutura ou pela reduzida quantidade de pessoal. Segundo ele, os defensores não conseguem acompanhar uma ação penal, em todas as instâncias, como os advogados regiamente pagos fazem. “Assim, eles não podem, nunca - e isso é óbvio - acompanhar uma ação penal da mesma forma”, acrescenta.

Enfim, não há trânsito em julgado para o HC. E, na prática, no habeas corpus hoje se discute tudo. Assim, entendo que se deve repensar os casos, principalmente quando o réu está solto e respondendo regularmente a ação penal, os limites à propositura da ação constitucional de habeas corpus. Se não se quer discutir tais ‘limites’, deve-se discutir sim as situações em que ele não será conhecido, em homenagem à celeridade da prestação jurisdicional – inclusive para a vítima e seus familiares; à segurança jurídica; em respeito ao duplo grau de jurisdição, e, principalmente, em respeito à coisa julgada. Enfim, em respeito à própria Justiça.

Quanto à segunda parte da pergunta, não creio que o STF afirmou que concederá HC a todos os acusados presos, cuja sentença ainda não tenha transitado em julgado, diante do novo entendimento firmado por maioria. Há as prisões cautelares, preventivas e temporárias, as quais, atendendo o artigo 312, do Código de Processo Penal, serão mantidas. E a Corte Suprema as apreciará, caso a caso, quando a questão lhe seja submetida via HC, se a questão não se resolver nas instâncias anteriores.

CA: A medida não poderá beneficiar réus que contratam bons advogados, o que aumenta ainda mais, por exemplo, o simbolismo de que cadeia no Brasil é lugar de pobre?

Wagner Gonçalves: Quando Charles Darwin passou pelo Brasil, no navio beagle, rumo as ilhas Galapagos, no Pacífico, em 1832, ele ficou uns quatro meses no Rio de Janeiro. A impressão dele sobre a Justiça no Brasil foi a seguinte (palavras textuais): ‘Se um crime, não importa quão grave seja, é cometido por um homem rico, ele logo estará em liberdade’. Assim, revendo a história, parece haver um anátema no Brasil, no que se refere à aplicação da lei penal aos poderosos ou aos mais aquinhoados. Eles dificilmente vão para a cadeia. Com a recente decisão do Supremo Tribunal Federal, prefiro acompanhar o entendimento dos respeitáveis votos vencidos. Confirma-se, mais uma vez, que a prisão no Brasil foi feita para os três ‘p’: ‘preto, pobre e protistuta’.

Os argumentos jurídicos dos ilustres ministros que defendem a execução da pena só depois do trânsito em julgado, apesar de juridicamente relevantes e bem fundamentados, estão longe da realidade do País, no que se refere ao andamento da ação penal e à utilização de todos os recursos e HCs, como mencionado. Cria-se, portanto, um espaço entre os que podem pagar bons advogados – e estes eternizaram as ações – e aqueles, os três ‘p’, que não podem, e, por isso, ficam com a assistência judiciária gratuita – defensores públicos, quando os há na Comarca, que também estão abarrotados de processos, seja por falta de estrutura e número, não podendo, nunca – e isso é óbvio – acompanhar uma ação penal, em todas as instâncias, como os advogados regiamente pagos fazem. Não me cabe aqui discutir o mérito da decisão do STF, no ponto, mas entendo que atendido o duplo grau de jurisdição (também princípio constitucional) poder-se-ia, como era antes, dar início à execução penal, em homenagem à segurança jurídica, à celeridade processual (também princípios constitucionais), numa interpretação sistêmica da Carta Maior.

Em vários países o Princípio da Presunção da Inocência também está nas suas Constituições e nem assim se espera a palavra final da Corte Constitucional para só após dar início a uma condenação. Creio que a decisão do STF é importante, por definir o entendimento sobre uma questão jurídica relevante, de há muito discutida e questionada, mas creio também que, no futuro, será restabelecida a interpretação que permitia a execução da pena após a confirmação da sentença pelo Tribunal Estadual ou Regional. Os erros nas decisões destes tribunais, para evitar a execução, poderão ser corrigidos mediante HCs ou medidas cautelares para dar efeito suspensivo, como vem sendo feito até hoje. Ou, então, por pressão popular, principalmente das vítimas e seus familiares, por pressão dos movimentos sociais ou ONGs, que combatem a impunidade, o Congresso Nacional será sensível para reformular a redação do inc. LVII, art. 5º da Constituição Federal.

Afinal, nenhum culpado, para ser reconhecido culpado, pode depender da palavra final da Corte Suprema Constitucional de um país. Tal situação, na prática, é um estímulo à prescrição, por óbvio. Como diz a Ministra Ellen Gracie, “em nenhum país do mundo, depois de observado o duplo grau de jurisdição, a execução de uma condenação fica suspensa, aguardando referendo da Corte Suprema”.

CA: O senhor defende que o Código de Processo Penal brasileiro deve ser reformulado urgentemente para que, entre outras medidas, se reduza a possibilidade de recursos por parte dos réus. Agora, diante da decisão do STF, o senhor acredita que o código ainda deverá ser reformulado ou a idéia foi ou será abandonada?

Wagner Gonçalves: É preciso diminuir o número de recursos ou a possibilidade dos mesmos. Além disso, deve-se discutir a necessidade de deferir defesa prévia antes do recebimento da denúncia, principalmente nas ações originárias nos tribunais, devido a foro privilegiado. A própria defesa prévia, para o crime de tráfico de entorpecente, por exemplo, deve ser revogada. Só atrasa a ação penal e, muitas vezes, gera nulidades. Se ela tem andamento em um tribunal, a situação do recebimento da denúncia se torna ainda mais complexa.

CA: Recentemente, tivemos o caso de uma mulher que foi presa por cerca de dois meses em outubro de 2008 por ter pichado as paredes de um salão da 28ª Bienal de Artes de São Paulo. O banqueiro Daniel Dantas, acusado de vários crimes considerados mais graves, foi solto duas vezes durante a mesma semana depois ter sido preso pela Polícia Federal. Como o senhor analisa essa aparente contradição da Justiça brasileira nos dois exemplos?

Wagner Gonçalves: Um é poderoso, tem recursos e pode pagar bons advogados. Se a moça tivesse o mesmo advogado ou outro, que ela pudesse pagar regiamente, também não ficaria tanto tempo presa ou estaria solta no dia seguinte. Além disso, havia muito mais fundamentos a justificar a prisão de Daniel Dantas, com base nos pressupostos do artigo 312 do CPP do que quanto à prisão da moça. Aliás, a favor dela havia todas as razões para relaxar o flagrante.

CA: O procurador da República Rodrigo De Grandis disse em entrevista que o número de grampos telefônicos autorizados pela Justiça brasileira não é exagerado. O presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, acredita que no Brasil há uma espécie de “grampolândia”. Como o senhor analisa a questão do grampo no país? É uma ferramenta essencial, quando autorizada pela Justiça, para o combate a crimes como o de colarinho branco?

Wagner Gonçalves: Se o crime a cada dia se organiza mais, inclusive com a sofisticação da Internet, por exemplo, pedofilia, furto de contas correntes, remessas ilegais em segundos para o exterior, lavagem de dinheiro, espionagem de todos os tipos, etc., o combate ao crime deve contar com ferramentas novas para a sua apuração. E uma delas, já definida em lei, de há muito, é a escuta telefônica. Comunicação – e a imprensa está aí para provar isso – é poder. E conhecer a comunicação entre os agentes de uma sofisticada organização criminosa é fundamental. Fala-se em ‘grampolândia’ e chegou-se a falar em mais de 400.000 escutas. Entretanto, o ilustre Corregedor-Geral do Conselho Nacional de Justiça, Ministro Gilson Gipp, após um levantamento, teria apurado 98.000. Há, creio, um sensacionalismo em tudo isso, que não ajuda em nada. O importante é que as escutas sejam autorizadas pelo juiz, comunicadas e acompanhadas pelo Ministério Público (MP). Inclusive, há um projeto para que, antes de deferir a escuta, o juiz colha o parecer do MP.


Fonte:
Contas Abertas

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Relações estéticas

O que esperamos quando vamos ao cinema? Que o filme seja bom, nos divirta, nos ensine, nos comova. Esperamos uma experiência estética, ou seja, um conjunto de sensações com significado. Queremos sentir, mas não basta, queremos também entender. O prazer com um filme é algo que surge desta combinação entre sensibilidade e entendimento. Sem este último não existe prazer. Após a projeção do filme usamos o veredicto espontâneo “gostei” ou “não gostei” para definir se o filme é bom ou não. Se vimos o filme acompanhados pode até surgir alguma discussão em torno das razões e emoções de tais juízos, mas em geral cada um se apega ao próprio prazer sentido para justificar seu julgamento. É claro que julgamentos, sejam de críticos ou de pessoas em geral não fazem de um filme melhor ou pior. Mas precisamos disso na tentativa de entender o que vimos. Mas a experiência estética é ainda mais que isso.

Além do julgamento que advém do prazer ou desprazer, a experiência estética é também o efeito que uma obra produz em nós. A diferença desta forma de experiência estética com as demais é que nos tornamos, por meio delas, mais atentos e sensíveis, ou mais desatentos e fechados ao mundo que habitamos. Olhando bem, a experiência estética faz parte de todos os aspectos da nossa vida.

É curioso como este nosso desejo de julgamento se aplica também às relações que temos com seres humanos. Raramente alguém deseja uma experiência que não seja prazerosa com uma pessoa, seja amigo, seja colega, seja um amor. Não temos relações éticas com as pessoas porque nos apegamos, sobretudo, a percepções estéticas. Queremos ser convencidos a todo momento de que aquela pessoa com quem vivemos ou partilhamos momentos é alguém que nos agrada. Deste saber bastante banal é que as pessoas tiraram a idéia de que é preciso agradar para serem queridas e desejadas. Se sentimos prazer com alguém somos imediatamente convencidos de seu significado, de sua importância. Assim também queremos ser vistos. O bom arranjo entre forma e conteúdo, entre aparência física e discurso, nos faz ver a pessoa como uma obra de arte, um filme bem feito, denso e curioso a passar diante de nossos olhos.

A cultura da superficialidade

Tanto num filme de terror ou numa comédia banal, quanto numa película mais elaborada intelectualmente, o que queremos é que algo nos dê prazer. Do mesmo modo, queremos uma pessoa que nos entretenha ou nos agrade. O que não ponderamos é que arte nem sempre agrada. Muitas vezes ela provoca, como nas obras de arte contemporânea, uma abertura ao insuportável. Por isso, tantas exigem de nós que nos tornemos intérpretes sérios, cuidadosos e atentos, sob pena de simplesmente fugirmos das experiências propostas. Do mesmo modo, as pessoas são bem mais complexas do que o que delas podemos saber. Por isso também muitos preferem fugir dos que conhecem, mas também dos que não conhecem. Porém, este tipo de atitude não nos deixa longe de contradições. Junto deste comportamento hoje em dia comum, cresce a queixa da solidão e da dificuldade de relacionamento.

Quem está disposto a realmente respeitar a novidade aberta pelo outro? Em geral as pessoas só querem das outras a superfície e, por outro lado, quando a cultura da superficialidade vira regra, queixam-se de que não exista nada mais sob a máscara. Mudar de percepção seria como aprender a assistir filmes intelectualmente mais complexos. Ou livros mais exigentes.

O prazer de não pensar

A idéia da beleza sempre dependeu deste ideal do prazer. Para muitos não há como ver sentido longe dele. Kant falava da beleza como aquilo que agrada sem que precisemos pensar por que agrada. Coisas sem significado não podem agradar. Ele mesmo percebeu que há muita coisa que não produz um prazer imediatamente agradável, mas mesmo assim funciona aos sentidos humanos. Kant, que não entendia de arte, pensava no belo da natureza. Belas eram as mulheres, as paisagens tranqüilas com riacho e flores. Pensava, porém, no encanto estranho que sentimos com as tempestades de raios ou a visão do imenso deserto, do mar aberto. Explicou isto pelo sentimento do sublime, pelo qual entendia uma mistura de prazer com desprazer em que o significado da coisa vista jamais era plenamente alcançado. O sentimento do sublime mais do que a sensação de algo agradável provocaria o respeito. Por isso justificava que a natureza dos homens era nobre, enquanto a das mulheres era bela. Aqueles deviam motivar o respeito, enquanto estas apenas o agrado.

Tudo isso no mostra o quão delicado é julgar e emitir juízos sobre as coisas e as pessoas. Infelizmente vivemos uma cultura da leviandade em relação às interpretações. E tudo isso porque não somos bons leitores do que vemos, do que ouvimos, do que nos dizem. Certamente somos também desatentos à nossas próprias opiniões. Contentamo-nos em gostar e desgostar como se isso fosse a base legítima de uma relação na ordem pública, onde se exigem argumentos tantos quando é o caso de colocar uma novela no ar, uma exposição de pinturas ou um filme em cartaz. Interpretamos a vida com base em nossos pré-conceitos, raramente questionando os reais motivos que nos impelem a dizer isto ou aquilo de algo ou de uma pessoa. Raramente temos atenção ao que realmente se dá à nossa volta. As obras de arte hoje em dia servem para nos ensinar a atenção à nossa própria interpretação. Neste sentido elas nos ensinam a cuidar de todo o campo de nossas relações. Elas exigem que nos tornemos atentos. Talvez quando formos atentos, possamos


Marcia Tiburi

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Publicado em Vida Simples em 2008.

Maconha: é hora de legalizar?

Por que um grupo cada vez maior de políticos e intelectuais – entre eles o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – defende a legalização do consumo pessoal de maconha
EXPERIÊNCIA. Os ex-presidentes Ernesto Zedillo, César Gaviria e Fernando Henrique (da esq. para a dir.), em encontro no Rio, na semana passada. Eles defenderam a revisão das leis contra as drogas e a descriminalização da posse de pequenas quantidades de maconha.

Fumar maconha em casa e na rua deveria ser legal? Legal no sentido de lícito e aceito socialmente, como álcool e tabaco? O debate sobre a legalização do uso pessoal da maconha não é novo. Mas mudaram seus defensores. Agora, não são hippies nem pop stars. São três ex-presidentes latino-americanos, de cabelos brancos e ex-professores universitários, que encabeçam uma comissão de 17 especialistas e personalidades: o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, do Brasil, de 77 anos, e os economistas César Gaviria, da Colômbia, de 61 anos, e Ernesto Zedillo, do México, de 57 anos. Eles propõem que a política mundial de drogas seja revista. Começando pela maconha. Fumada em cigarros, conhecidos como “baseados”, ou inalada com cachimbos ou narguilés, a maconha é um entorpecente produzido a partir das plantas da espécie Cannabis sativa, cuja substância psicoativa – aquela que, na gíria, “dá barato” – se chama cientificamente tetraidrocanabinol, ou THC.

Na Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Democracia, reunida na semana passada no Rio de Janeiro, ninguém exalta as virtudes da erva, a não ser suas propriedades terapêuticas para uso medicinal. Os danos à saúde são reconhecidos. As conclusões da comissão seguem a lógica fria dos números e do mercado. Gastam-se bilhões de dólares por ano, mata-se, prende-se, mas o tráfico se sofistica, cria poderes paralelos e se infiltra na polícia e na política. O consumo aumenta em todas as classes sociais. Desde 1998, quando a ONU levantou sua bandeira de “um mundo livre de drogas” – hoje considerada ingenuidade ou equívoco –, mais que triplicou o consumo de maconha e cocaína na América Latina.

Em março, uma reunião ministerial na Áustria discutirá a política de combate às drogas na última década. Espera-se que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, modifique a posição conservadora histórica dos Estados Unidos. A questão racial pode influir, já que, na população carcerária americana, há seis vezes mais negros que brancos. Os EUA gastam US$ 35 bilhões por ano na repressão e, em pouco mais de 30 anos, o número de presos por envolvimento com drogas decuplicou: de 50 mil, passou a meio milhão. A cada quatro prisões no país, uma tem relação com drogas. No site da Casa Branca, Obama se dispõe a apoiar a distribuição gratuita de seringas para proteger os viciados de contaminação por aids. Alguns países já adotam essa política de “redução de danos”, mas, para os EUA, o cumprimento dessa promessa da campanha eleitoral representa uma mudança significativa.

A Colômbia, sede de cartéis do narcotráfico, foi nos últimos anos um laboratório da política de repressão. O ex-presidente Gaviria afirmou, no Rio, que seu país fez de tudo, tentou tudo, até violou direitos humanos na busca de acabar com o tráfico. Mesmo com a extradição ou o extermínio de poderosos chefões, mesmo com o investimento de US$ 6 bilhões dos Estados Unidos no Plano Colômbia, a área de cultivo de coca na região andina permanece com 200 mil hectares. “Não houve efeito no tráfico para os EUA”, diz Gaviria.

Há 200 milhões de usuários regulares de drogas no mundo. Desses, 160 milhões fumam maconha. A erva é antiga – seus registros na China datam de 2723 a.C. –, mas apenas em 1960 a ONU recomendou sua proibição em todo o mundo. O mercado global de drogas ilegais é estimado em US$ 322 bilhões. Está nas mãos de cartéis ou de quadrilhas de bandidos. Outras drogas, como o tabaco e o álcool, matam bem mais que a maconha, mas são lícitas. Seus fabricantes pagam impostos altíssimos. O comércio é regulado e controla-se a qualidade. Crescem entre estudiosos duas convicções. Primeira: fracassou a política de proibição e repressão policial às drogas. Segunda: somente a autorregulação, com base em prevenção e campanhas de saúde pública, pode reduzir o consumo de substâncias que alteram a consciência. Liderada pelos ex-presidentes, a comissão defende a descriminalização do uso pessoal da maconha em todos os países. “Temos de começar por algum lugar”, diz FHC. “A maconha, além de ser a droga menos danosa ao organismo, é a mais consumida. Seria leviano incluir drogas mais pesadas, como a cocaína, nessa proposta”.

O que pode parecer a conservadores uma tremenda ousadia não passa, na verdade, de um gesto simbólico do continente produtor de drogas, a América Latina. Um gesto com os olhos voltados para o Norte, o hemisfério consumidor por excelência. Nos Estados Unidos, ainda se encarceram usuários na maioria dos Estados, e a Europa faz vista grossa ao consumo, mas não muda sua legislação. A comissão latino-americana acha “imperativo retificar a estratégia de guerra às drogas dos últimos 30 anos”. Nosso continente continua sendo o maior exportador mundial de cocaína e maconha, mas produz cada vez mais ópio e heroína e debuta na produção de drogas sintéticas. Um maior realismo no combate às drogas, sem preconceito ou visões ideológicas, ajudaria a reduzir danos às pessoas, sociedades e instituições.

Há quem discorde dessa visão, com base em argumentos também poderosos. Com a liberação do consumo da maconha, mais gente experimentaria a droga. Isso aumentaria o número de dependentes e mais gente sofreria de psicoses, esquizofrenia e dos males associados a ela. Mais gente morreria vítima desses males. “Como a maconha faz mal para os pulmões, acarreta problemas de memória e, em alguns casos, leva à dependência, não deve ser legalizada”, afirma Elisaldo Carlini, médico psicofarmacologista que trabalha no Centro Brasileiro de Informação sobre Drogas (Cebrid). “Legalizá-la significaria torná-la disponível e sujeita a campanhas de publicidade que estimulariam seu consumo”.



Fonte: íntegra da revista Época
Ruth de Aquino. Com Martha Mendonça, Nelito Fernandes, Wálter Nunes e Rafael Pereira

Foto premiada

A fotografia acima foi tirada por Luiz Vasconcelos, do jornal "A Crítica", de Manaus, com ela o fotógrafo foi o vencedor na categoria "Notícias Gerais" do World Press Photo of the Year, tido como o mais importante prêmio de fotografia de todo o mundo.

A imagem da foto foi publicada no ano passado e retrata uma mulher indígena enfrentando um batalhão da polícia em uma disputa de terras.


Fonte: uol.com.br

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Charge - Amarildo


Sexta-feira 13. O medo desta data chama-se paraskavedekatriaphobia

Uma das principais versões sobre a origem da superstição pode ter tido origem no dia 13 de Outubro de 1307, uma sexta-feira. Nesse dia, a Ordem dos Templários, uma das mais poderosas da Cristandade na época, foi declarada ilegal e acusada de heresia pelo rei Filipe IV de França. Seus integrantes foram presos simultaneamente em todo o país e alguns torturados e, mais tarde, executados por heresia.

Uma segunda versão para esta crença, está na hipótese de que Jesus Cristo tenha sido crucificado numa sexta-feira treze, uma vez que a Páscoa judaica é celebrada no dia 14 do mês de Nissan, no calendário hebraico.

Reforça esta crença, o fato de que na Santa Ceia sentaram-se à mesa treze pessoas, sendo que duas delas, Jesus e Judas Iscariotes, morreram em seguida, por mortes trágicas, Jesus por execução na cruz e Judas provavelmente por suicídio.

No Judaísmo, Eva ofereceu a maçã a Adão na sexta-feira, e o dilúvio começou no mesmo dia.

Da mitologia nórdica também existem versões sobre a data: conta-se que houve um banquete e 12 deuses foram convidados. Loki, espírito do mal e da discórdia, apareceu sem ser chamado e armou uma briga que terminou com a morte de Balder, o favorito dos deuses. Daí veio a crendice de que convidar 13 pessoas para um jantar era desgraça na certa.

A segunda lenda nórdica trata da deusa da beleza, Friga (seu nome deu origem à friadgr e friday, sexta-feira em escandinavo e em inglês). Quando os cristãos converteram os nórdicos, a deusa foi endemonizada e, segundo a lenda, toda sexta-feira se reunia com 11 feiticeiras e o demônio, totalizando 13 pessoas.

Paraskavedekatriaphobia, expressão grega que deriva da reunião das palavras fobia, sexta-feira e treze, designa o medo da data, sentimento que parece diminuído nos dias de hoje. No site de relacionamentos Orkut grande parte das comunidades dedicadas à sexta-feira 13 reúne adoradores da data, ou simplesmente pessoas que se dizem felizes por terem nascido nela.

O cubano Fidel Castro nasceu numa sexta-feira 13 em agosto de 1926 e a britânica Margareth Tatcher também, em outubro de 1925. Em algumas culturas populares, ter um irmão gêmeo, tendo nascido nessa data, é considerado diabólico: esse é exatamente o caso das irmãs atrizes Mary Kate e Ashley Olsen, nascidas em junho de 1986, numa sexta-feira 13. Já o rapper Tupac Shakur foi assassinado na sexta-feira 13 de setembro 1996.

A banda de heavy metal Black Sabbath (nome de um ritual de magia negra) lançou seu primeiro álbum homônimo no dia 13 de fevereiro de 1970. Apegado à data, o ex-vocalista da banda escolheu uma sexta-feira 13 para lançar o primeiro single de seu novo trabalho, a faixa 'I Don't Want to Stop'.

Os produtores do filme 'Harry Potter e a Ordem da Fênix' também escolheram a data para seu lançamento em julho de 2007.

Gente famosa que nasceu numa sexta-feira, 13:

Samuel Beckett
Fidel Castro
Julia Louis-Dreyfus
Thomas Jefferson
Georges Simenon
Fonte: uol.com.br

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Por engano.


Foi por engano, que um canal de TV da África do Sul transmitiu, na segunda-feira passada, uma notícia que afirmava a morte do ex-presidente dos Estados Unidos George W. Bush.

Durante cerca de, aproximadamente, três segundos, um letreiro de um dos telejornais do canal ETV News mostrou uma mensagem com os dizeres "Morre George Bush".


Fonte: TV da África do Sul

TJ-PB prepara portaria isentando cidadãos de pagar taxas por certidões no Judiciário

O desembargador Luiz Silvio Ramalho, presidente do Tribunal de Justiça do Estado, determinou nesta terça-feira sua assessoria a produzir no menor espaço de tempo possível Portaria a ser assinada por ele isentando qualquer cidadão paraibano de pagar taxas para obter certidões no Judiciário.

O presidente mandou estudar ainda formas da Certidão ser fornecida através da Internet, mas com validade em qualquer parte do Estado.

Um juiz revelou ao Portal WSCOM Online, que a medida esta já tomada como definitiva e será assinada, através de portaria, possivelmente ainda esta semana.

O argumento é de que há artigo na Constituição abrigando essa decisão, além do mais a mesa diretora do TJ entende que pessoas desempregadas não têm condições de pagar a taxa de R$ 100,00 ainda cobrada.


Fonte: wscom

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Edmar & Edmea


Desde que ergueu seu Castelo Monalisa, tema mais comentado da nova legislatura do Congresso, o deputado Edmar Moreira (DEM-MG), corregedor da Câmara, é isento de pagar IPTU sobre os 192 hectares que abrigam as torres e a megaestrutura do palacete no município de São João Nepomuceno (MG).

O motivo é que o empreendimento foi construído em uma área rural, livre do tributo urbano. Pela alíquota, a cidade embolsaria R$ 150 mil por ano se Edmar pagasse o IPTU referente aos R$ 25 milhões que valeria o castelo. Vereadores já tentaram, sempre sem sucesso, alterar o zoneamento na Câmara. Quem administra a cidade de 25 mil habitantes, desde 2005, é Edmea Moreira (PSDB), irmã do deputado.


Fonte: folha de s.paulo
Da coluna Painel

Desempregado é acusado de furtar R$ 1,25


Foi preso, na tarde do último domingo, o Sr. Luciano do Nascimento Santos. Desempregado, Luciano é acusado da prática de crime de furto e dano ao patrimônio por subtrair R$ 1,25 (um real e vinte e cinco centavos) em moedas depositadas em uma gruta em sinal de agradecimento à Nossa Senhora Aparecida, que fica no Jardim Botânico de Santos.


Amazônia secará, mas sobreviverá a equecimento.


A Amazônia pode estar menos vulnerável ao aquecimento global do que se temia, porque a maioria das projeções subestima o volume das chuvas, segundo um novo estudo divulgado ontem por cientistas da Grã-Bretanha.

De acordo com eles, o Brasil e outros países da região têm de se empenhar para evitar um ressecamento irreversível do leste da Amazônia, a região mais ameaçada pela mudança climática, o desmatamento e as queimadas.

"O regime de chuvas no leste da Amazônia deve mudar durante o século 21 numa direção que favoreça mais florestas sazonais em vez de cerrados", escreveram os cientistas na edição desta semana da revista Proceedings, da Academia Nacional de Ciências dos EUA.


Fonte: íntegra do site do Ricardo Noblat

Nota zero


Cerca de 1.500 professores que tiraram zero em uma prova de seleção do próprio governo estadual de São Paulo poderão lecionar neste ano na rede.

O exame foi promovido pela Secretaria da Educação do governo José Serra (PSDB) com a intenção de selecionar 100 mil docentes temporários. 214 mil pessoas se candidataram.

Os 1.500 professores "nota zero" vão poder dar aulas porque uma decisão liminar (provisória) da 13ª Vara da Fazenda Pública suspendeu os resultados do exame, de 25 testes, realizado em dezembro passado.

A liminar atendeu ao pedido da Apeoesp (sindicato dos professores), que alegou que os docentes temporários que já trabalham na rede há muitos anos não podem ser descartados com base numa "provinha". Considera que o correto seria realizar um concurso público.

Com receio de atrasar ainda mais o início das aulas (que deveria começar amanhã, mas foi adiado para segunda por conta do impasse judicial), a secretaria desistiu de tentar reverter a liminar e optou por manter o critério para selecionar os temporários -titulação e, principalmente, tempo de serviço.



Fonte: folha de s.paulo

Charge - Amarildo




Índios são acusados de canibalizar jovem no Amazonas

Indios da etnia Kulina são suspeitos de esquartejar e comer os restos de um jovem em um ritual de canibalismo na cidade de Envira (AM), próxima à fronteira com o Peru. Em entrevista à rede de TV CNN, o policial Maronilton da Silva Clementino afirmou que ao menos cinco índios estão foragidos.

A vítima foi identificada como Océlio Alves de Carvalho, 19, morto na semana passada. De acordo com a CNN, os quatro índios fugiram após passarem algumas horas detidos. Pela lei, a polícia não pode entrar na tribo para investigar o caso.

Clementino afirmou que a vítima, que conhecia a tribo, havia sido convidado para visitar a aldeia indígena na sexta-feira (6) passada. "Eles [o jovem e os índios] se conheciam e às vezes eles se ajudavam. Os índios o convidaram para a reserva na sexta-feira e ele [Océlio Carvalho] não foi mais visto."

"A família decidiu entrar na reserva para procurar o jovem e encontrou o corpo dele esquartejado e a cabeça pendurada em uma árvore", contou o policial.

Ritual

A polícia informou que membros da tribo afirmaram que os envolvidos na morte do jovem se gabavam de ter comido órgãos humanos.

Os moradores de Envira responsabilizaram a Funai (Fundação Nacional do Índio) por permitir que esse tipo de crime ocorresse. De acordo com Clementino, a família se disse "frustrada com a lei no Brasil, que protege os índios, mas não ajudam a proteger" quem vive perto de aldeias.

Três dias após o desaparecimento do jovem, membros da Funai ainda não chegaram à cidade. A jornais locais, a fundação declarou que ainda não chegou a Envira devido ao difícil acesso à cidade, só permitido por barco ou helicóptero.

A etnia Kulina é um grupo isolado que vive nas margens dos rios Juruá e Purus, no Acre. Estima-se que ao menos 2.500 membros da etnia vivam na região.


Fonte: Folha Online

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O que é bonito para mim?

Em nossos dias o sentimento do belo foi reduzido à mera apreciação de mercadorias. Ninguém se preocupa com o que é “belo” para si mesmo, ou com o que “parece belo”. Dizemos que algo é bonito sem muita reflexão. Sem grandes investigações internas e pessoais sobre o modo como “eu mesmo” sou capaz de formular este juízo sobre alguma coisa ou mesmo uma pessoa. Como posso julgar a beleza de algo? E como posso dizer que alguém é ou não belo, ou “bonito”? Esta questão nascida com a cultura até hoje não foi resolvida.

Terceirizamos a beleza há muito tempo. Por um lado porque nunca foi fácil tê-la. Por outro lado, não foi simples dizer o que ela era e definir seu rumo. Até hoje padecemos da confusão em relação a um parâmetro. Cada época inventou o seu. E sempre evitamos uma apreciação original que parta da sensibilidade própria a cada um. Por isso, tantos de nós pedem desculpas quando, em exposições ou diante de um filme mais complexo, percebem que “não entendem de arte”. Mas tentaram entender?

Decidir sobre a beleza ou usá-la é algo que não fazemos sem o aval de especialistas. Chamamos os filósofos, os críticos, e até os artistas que nem sempre conhecem as teorias da arte. É claro que ninguém precisa conhecê-las. O público leigo também não tem esta obrigação. Porém, enquanto isso, os especialistas comandam o gosto coletivo e individual, definem o que é o bom e o mau gosto. Aquele que determina o gosto é dono de um poder importantíssimo. Ele administra o reino da aparência e, com ele, do desejo das pessoas pelas coisas. Mas se alguém administra meu desejo estou perdendo de fazer algo importante na vida.

Os gregos representavam Afrodite, a deusa da beleza, como uma bela jovem. Junto dela aparecia Eros, o deus do amor, na forma de um querubim a portar uma flecha e de olhos vendados sempre pronto a ferir aquele que, encantado pela beleza, mirava-a perplexo. A beleza sempre esteve junto do amor e foi a sua maior isca. Até hoje, ela desperta paixões naturais ou, bem administrada é capaz de produzi-las.

Querer a beleza, decidir sobre ela.

Todos querem a beleza. Até hoje, quem consulta o galerista para saber que obra de arte acompanhará a decoração das paredes, até quem segue as dicas de um cabeleireiro, passando por quem se veste de acordo com a moda e faz a ginástica indicada, todos somos reféns de padrões estéticos que não elegemos, mas pelos quais pagamos o preço. No pacote vem o direito de não precisar decidir. E não se trata de uma obrigação da qual nos desincumbimos. Mas de um direito que não desejamos. E, mais do que um gosto que perdemos, é porque perdemos justamente “o gosto”, a capacidade da apreciação estética que sustenta a sensibilidade e evita a anestesia geral para o prazer e também para o sofrimento em relação a si mesmo e o outro.

De um lado temos, em nossa vida cotidiana, que decidir sobre a beleza das coisas. É difícil pensar que algo seja belo independente de seu valor de mercado, seja o mercado dos bens materiais, dos objetos de decoração, das roupas, da arquitetura, dos carros. Se todos querem as coisas belas pagam pelo belo e o obtém. Hesíodo, o poeta grego, conta que as musas diziam que “o que é belo é caro, o que não é belo não é caro”. Talvez o valor neste caso não fosse o da riqueza material apenas, mas também espiritual. Neste ponto, o único sofrimento em relação ao alcance do belo é o do poder de compra de cada um. Mas isso não reduz o sentido do que é realmente “belo” para cada um de nós?

A beleza de nossos corpos.

De outro lado, além de julgar a beleza das coisas, há um julgamento sobre a beleza que se dirige ao corpo de cada um. Acostumamos a pensar a beleza de nossos corpos também dentro de um mercado que, tanto quanto a medida e a forma dos objetos em geral, também estabelece a forma dos corpos. Mas o corpo humano não pode ser pensado como uma coisa. Isto seria reduzi-lo a objeto que podemos manipular, trocar e vender: a conseqüência seria a legitimação da prostituição, da escravidão e até da tortura.

As obras de arte nos ajudam a recriar sentimentos.

A padronização do gosto atual sobre nossos corpos é proporcional à desvalorização de nosso sentimento para o belo. É o próprio valor do belo e, antes dele, o valor do sentimento que ruiu em nossa sociedade. É claro que, diante disso, o corpo de cada um é esquecido por ele mesmo.

A desvalorização do sentimento do belo em favor de sua aplicação à mera qualidade das coisas que podem ser vendidas ou compradas mostra o declínio da subjetividade nos dias de hoje. As obras de arte ainda nos ensinam o gosto. Quem tem paciência para a contemplação ou coragem para o desafio que elas implicam poderá descobrir a sutileza da experiência estética. A experiência com o olhar ou a audição, e também com a gustação, o olfato e o tato, podem nos ajudar a chegar mais perto das coisas e descobrir nelas a “beleza”, ou seja, aquilo que nelas nos toca e tem a chance de colocar poesia em nossa vida e nos salvar das meras mercadorias.

Marcia Tiburi


Publicado em Vida Simples em 2008.