quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Nelson Rodrigues


Não precisa ir muito longe para se descobrir que o titulo do blog "o mundo como ele é" é inspirado (ou copiado, como queiram) no titulo da grande obra de Nelson Rodrigues "a vida como ela é".


A propósito da obra de Nelson, foi publicada uma nova edição. Uma coletânea de contos, publicada anteriormente em 1961 que deu origem a imensa produção cultural que incluiu peças de teatro, filmes e até uma série de televisão.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Zé do Amendoim, cidadão brasileiro


Esses dias resolveram definitivamente especular com a minha idade. Não que eu tenha algum problema em declará-la, mas é que quando a mulher resolver vasculhar nossa cabeleira, ou o que sobrou dela, desbravando os teimosos fios brancos, é sinal que os anos já andam com o pincel soltando tintas em nossa direção há algum tempo.

Os dias entortam o nosso corpo, escrevem em nossas rugas, tingem nossos cabelos, mas a alma continua irretocada, guardada, novinha em folha.

E tem ainda aqueles parentes, geralmente as tias, que costumam encomendar-me uma tintura a caju, coisa fina e na moda, segunda elas, claro! Não tem conversa. Na moda somente se for na cabeça delas. Deixem em paz os meus novos cabelos brancos.

Porém, insatisfeito, surge o meu compadre, cioso em suas observações, aconselhando-me substituir a sunga pela decantada cueca samba canção, mais confortável e melhor adaptada à nossa idade, arrematou ele.

Sabe de uma coisa? Estou me sentindo um dinossauro.

Inevitável ir contra os anos, sobraram-me, ao menos, as minhas reminiscências, coisinhas que os próprios anos cuidaram de colorir mais cedo na nossa vida, na nossa infância e foi assim, tocado, ora pelos parentes, ora pelos compadres, ora pelos anos, que resolvi apresentar ao meu pequeno Yan, de um ano e meio de vida, o velho Zé do Amendoim. Personagem que povoou, mesmo sem saber, meus primeiros anos de vida. Ele, vendendo doces e balinhas em frente ao Cine Lux. Eu, consumidor contumaz de suas guloseimas espalhadas em sua carrocinha de mão.

Passei a minha infância sendo seu freguês, tivesse ou não uns trocados no bolso, e geralmente não os tinha.

Passados os idos, acudiu-me agora o juízo do velho e bom vendedor de ilusões.

Pois bem, seu Zé do Amendoim continua há 38 anos trabalhando no mesmo ofício, vendendo balinhas. Tem nome e sobrenome: José Camilo de Araújo, é natural de Pombal, casado com a senhora Severina Maria de Sousa, quatro filhos e, como já dito, empresário do ramo dos confeitos vendidos em carrocinha de madeira surrada que se ergue e locomove sob o eixo de uma bicicleta caloi.

Apesar de seus 77 anos, percorre todos os dias as ruas da cidade de Pombal empurrando a sua carrocinha, fazendo ponto de parada o oitão da igreja matriz e a coluna da hora. A freguesia diminuiu, mas ainda vende pipoca, amendoim, balinhas, drops, pirulitos e chicletes. Gaba-se de ser hoje o mais antigo empresário do ramo ainda em plena atividade.

Dos quatro filhos, três foram criados com o auxílio do rendimento financeiro da carrocinha de doces. Nunca sonegou imposto. Paga a sua conta de água e luz sempre em dia. Jamais recebeu reconhecimento algum das autoridades pelo longo exercício de sua atividade e ao trabalho prestado aos munícipes, nunca foi escolhido como melhor vendedor ambulante do ano, ou melhor, sequer sua categoria funcional existe na lista de escolha dos melhores. Nenhuma entidade se preocupou com isso. É o senhor José Camilo de Araújo apenas e tão somente o Zé do Amendoim, nada mais. Um elemento na paisagem árida desta cidade, muito pouco notado, segue a sua rotina de vender doces ilusões. Trôpego, cansado, vai passando pelas ruas com a mesma destinação por que passam os poetas: solitários, apaixonados e anônimos.

Um dia, assim como nós, caminhará por estas ruelas sem alardes, em silêncio.

Enquanto isso, meu filho, lhe apresento o velho Zé do Amendoim, cidadão brasileiro.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Almas Gêmeas


Mas afinal, você acredita em almas gêmeas? Essa romântica crença surgida na Nova Era tem por base a teoria filosófica de Platão. Já numa abordagem psicológica, a união das almas gêmeas encontra similitude no estudo do inconsciente coletivo do Dr. Jung em sua teoria do anima e do animus.

Mas, quem nunca buscou e desejou que sua(sua) parceiro(a) lhe completasse a alma assim, feito os dois lados cortados de uma mesma maça? É muito comum se ouvir que fulano é que é feliz, encontrou sua cara metade ou que beltrano é uma pessoa triste e que continua a espera, contemplando as estrelas, sonhando que o Divino lhe ponha, finalmente, diante de sua outra identidade espiritural.

De certo mesmo é que o tema é por demais alvissareiro e bastante comum na sociedade moderna, embora, como já dito, suas origens sejam por demais remotas.

Para nos explicar isso tudo, a teoria de Platão nos transporta a uma história mística que defende a idéia de que, muito tempo atrás a espécie humana era constituída por seres andrógenos, possuindo tanto o sexo masculino como o feminino. Ocorre, porém, que os deuses acharam por bem separar essas criaturas em duas partes, criando homens e mulheres. A crendice atesta que cada um de nós, em um estado de profunda subconsciência, percebe que algo está faltando dentro de nós e, assim, buscamos a nossa unificação. A unidade antes completa.

Por sua vez, o filósofo alemão Schopenhauer traduz que a polaridade, ou a divisão de uma força em metades iguais e opostas é uma condição fundamental da natureza, “desde o cristão e o imã até o próprio homem”.

É importante frisar que há muitas outras teorias sobre a alma gêmea que divergem das teorias de Platão e de Schopenhauer.

Mas se acalme. Na atualidade, livros e mais livros são editados abordando o tema, destinados em especial, aos adolescentes, mas também lidos por faixa etárias mais amadurecidas. Em suma, o tema é extremamente comercial e vendável. Tornou-se um dos assuntos mais pesquisados junto a internet.

Mas não há motivo para desespero, principalmente, para a comunidade de vida alternativa. Manuais, livros, serviços e páginas na internet proclamam a toda hora terem a capacidade para ajudá-lo a encontrar sua alma gêmea gay ou lésbica, almas gêmeas para brancos e negros, ricos e e pobres, mesmo sendo a alma um elemento etéreo que transcende a raça, opção sexual e a classe social.

Na verdade, o que se oberva é que essa busca incessante pela alma gêmea, tem dificultado muito o relacionamento entre pessoas e vem se tornando mais um complicador para a realização da concretização de relacionamentos estáveis e duradouros.
E também tem enriquecido pessoas que lucram com a propagação editorial do assunto pelo mundo afora.
De certo, é sempre bom ter os olhos voltados para as estrelas mas sem se descuidar de tirar os pés do chão. O tombo pode ser feio!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Charles Chaplin

“Cada pessoa que passa em nossa vida, passa sozinha, é porque cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra. Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha, e não nos deixa só, porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós. Essa é a mais bela, responsabilidade da vida e a prova de que as pessoas não se encontram por acaso”.

Houve um tempo


Houve um tempo em que fui absurdo,
lunático, pirético...
Manicômico, ébrio e poético.
Agradeço aos que me visitaram
e naquele tempo enlouqueceram comigo.
Nós fomos maiores que eu,
tamanho irreparável e de propósito nenhum.
- Forma fácil de viver na imaginação.



Tempos depois, fui transferido a:
Rua da Realidade, 515, centro.
Lugar de homens sóbrios e vias largas,
e nunca mais fui absurdo, manicômico
e tampouco poeta.
- A 15 de maio, fui empalhado como derradeiro
de uma irrecuperável espécie!

Tapete Vermelho


Em um desses dias em que tudo parece proposidatamente não querer acontecer, resolvi abrir o baú de recordações e arrumar no pendulário da lembrança a trailaria espalhada pelo chão. Com vassoura, pá e outros utensílios mais pus-me à lide. Arrastei memórias antigas, guardei cartas inconfessáveis e por isso mesmo não escritas, limpei o pó dos planos refeitos, acomodei em caixas episódios recentes e outras quinquilharias mais que o passado cuidou de acomodar, até que em um canto, meio que esquecido e enpoeirado, disposto sob um desses neurônios de pouco uso cerebral, encontrei guardado em uma lata de alumínio onde se via inscrito “Mazzaropi e a banda das velhas virgens”, as reminiscências da fita cinematográfica do Carlitos brasileiro. Embora amarotada, velha e antiga, parecia ainda muito bem cuidada entre as conexões neurais da minha mente.

Abri o invólucro, foi uma viagem no tempo! Lembrei-me que assisti a película em tela grande numa época em que o cinema ainda não competia com a televisão e povoava as cidadezinhas no interior da Paraíba. Em quase todas as cidades havia, ao menos, um cinema, muitos deles mantidos pela igreja católica, como era o caso do de Cajazeiras-PB.

Na circunvizinhança, a sétima arte estava presente. Em Patos, tinha-se o Cine São Francisco (transformado hoje em loja de conveniência), em Sousa o imponente Cine Gadelha (onde hoje funciona a rádio jornal de Sousa), em Cajazeiras, como já dito, mantido pela Diocese, havia o conhecido Cine Apolo XI, além de outros mais e em Pombal, o velho Cine Lux fazia a nossa diversão. A propósito do Cine Lux, sempre achei estranho um cinema com nome de sabonete da Gessy Lever, mas era o único que tínhamos e àquela altura, o nome era o que menos importava.

Mas, a ligação entre Cine e sabonete para mim ia muito além do nome. Ao sabonete sempre tive acesso, ao Cine, nem sempre. Havia Galdino, uma pedra no meio do meu caminho.

Como todo moleque, despertando para as safadezas do mundo, vivia arrodeando o Cine Lux a procura de oportunidade, ou melhor, de coragem e de uma “brecha” para ver um desses filmes impróprios para os meus 15 anos de idade. O abstáculo, Galdino. O proprietário do cinema.

Galdino além de dono me parecia também ser fiscal de menores e lanterninha. Mas para mim mesmo era ele a incarnação do porteiro do céu, ou do inferno, conforme fosse a conveniência de quem estava do lado de cá. O danado parecia que conhecia a idade de todos os garotos de cor e salteado. Enfrentá-lo num filme censurado sem ser barrado era então uma aventura tal qual a de Odisseu em sua saga para retornar a ilha de Ítaca.

Mas, eu haveria de tentar essa façanha. Melhor ser barrado que a dúvida de não ter tentado. Tracei o estrategama e esperei o dia certo para dar o bote.

O prédio do Cine Lux era imponente. Construção antiga e sua arquitetura sempre me pareceu a de um mausoléu. Lateralmente, na parte superior, havia duas ou três janelinhas de onde a gente podia ver se o filme já havia iniciado ou curiar alguma cena mais ousada. A bilheteria também era uma pequena abertura lateral e seu acesso se dava por dois ou três degraus, circundados por um corrimão de ferro desbotado pelo tempo.

Sempre duvidei da “seriedade” daquela jovem bilhetista do cinema. Afinal, ela vendia os ingressos para os filmes infantis e os impróprios. “Deve assistir a todos” – matutava os meus 15 anos.

A única e principal entrada do cinema era protegida por um enorme portão de ferro pintado na cor branca onde postava-se Galdino, separando os anjos bons do anjos maus. Após o portal, forrando alguns degraus, via-se estendido um tapete vermelho que conduzia os espectadores à famosa sala de exibição, dando um certo ar de suntuosidade naquele ambiente. Ainda após o portão, distribuídos nas paredes laterais, via-se os cartazes dos próximos filmes a serem exibidos durante a semana, geralmente Tarzan, Os Trapalhões, Teixeirinha, Lúcio Flávio, o pasasageiro da agonia e, mais ao fundo, aqueles filmes! Aqueles para os maiores de 18 anos.

Na parte externa, postado ao pé do meio-fio da calçada do cinema, encontrava-se religiosamente a carrocinha do senhor Zé, repleta de drops, balas juquinha, amendoins torrados (embalado em papel de embrulho), pipoca, chicletes ploc e outras guloseimas mais. Seu Zé embora nunca tenha assistido aos filmes, conhecia os roteiros de quase todos, inclusive aqueles que, pela demanda, careciam de duas sessões, uma iniciando às 19 e a outra às 21 horas, como era o caso dos Trapalhões. Casa cheia.

No domingo, nas matinês do meio dia, lá estava a carrocinha do seu Zé e após a exibição dominical do Tarzan, íamos todos gastar os últimos centavos de cruzeiros nos doces.

Outra cena curiosa era ver o padre Andrade (sempre com dois picolés: um chupando e outro no bolso da batina) entrar para ver “garganta profunda”, o clássico do cinema pornô. Aquilo me deixava inquieto e fervilhava os meus neurônios. Ora, se o padre pode, eu também posso, dizia comigo mesmo.

Certo dia, o magrão (locutor encarregado de anunciar os filmes) do carro de som, além da aposição do cartaz na porta do mercado público, era pelas ruas que as películas eram anunciadas na conhecida Opala bege, com uma caixa de som e quatro difusora, anunciava em tom quase profético: “O Cine Lux, o palácio das grandes exibições cinematográficas tem a honra de apresentar para hoje: Aluga-se Moças! participação especial de Grethecen e Rita Cadillac. Não percam, exibição única.” E ao final sentenciava: “Proibido para menores de 18 anos”. Essa última parte era de morte. Aquela advertência entrava em meus ouvidos como lança afiada desmantelando todas as minhas esperanças de espectador adolescente.

Mas, não me contive. Não tem jeito. É hoje. Vou ver esse filme. Arrematei.

Senti naquele dia que estava prestes a incorrer na ilicitude da falsidade ideológica, mas afinal era por uma boa causa, ou melhor, minha única causa naquela ocasião. Iria enveredar pelo crime. O motivo era relevante e, depois, o tempo haveria de me absolver no futuro, fazendo as necessárias aparas e sopesando as minhas razões. Arguiria a legítima defesa do interesse pueril. Pronto, era absolvição na certa. Os jurados haveriam de me compreender.

Juntei os últimos centavos, calcei um sapato preto (o salto me deixaria mais alto), camisa de mangas compridas, pano passado (para dar um ar de maturidade), seiva de alfazema no cabelo, e despinguelei para o Cine Lux.

De minha casa para o cinema leva-se apenas 10 minutos, mas naquela noite foi o caminho mais longo que percorri. Tramava o que diria a Galdino caso fosse indagado da idade. Imaginava ser barrado na frente das pessoas, a vergonha que passaria. Quase desisti da empreitada. Mas, àquela altura não tinha mais volta. Sim, haveria de enfrentá-lo. Melhor ser barrado por Galdino que a dúvida de não ter tentado. Insistia eu como a querer me convencer e me dotar de coragem.

Lembrei-me do padre. Certamente estará lá. Vou esperá-lo furar a fila e entrar na frente dele, talvez isso sirva de pressão, ele foi quem me batizou, me conhece desde pequenininho, talvez pudesse interceder por mim naquele momento, caso fosse preciso. Ao menos tinha essa evocação sentimental e religiosa para apelar.

Vou procurar não olhar para Galdino - ouvi dizer que ele ler a idade pelos olhos - e se ele me indagar vou engrossar a voz. Vai dar certo! Não vou perder por nada esse filme. E se Pai souber? Que importa, o plano está traçado. Depois, é Gretchen e Rita Cadillac, pelo quilate das duas as coisas tinham que ser duras mesmo, literalmente. Ah, às favas! sou um homem de 15 anos e ponto final.

No caminho de minha casa ao Cine fui revisando o plano, fazendo conjecturas e procedendo os mais variavéis cálculos e trincheiras.

Pontualmente às dezoito horas e quarenta e cinco minutos estava eu em frente (ou melhor, ao lado) ao Cine Lux. Pedi a um amigo, maior de idade, para comprar o ingresso, postei-me meio às escondidas de Galdino e esperei o padre Andrade chegar.

Seu Zé acudiu-me com dois drops de ortelã e reservei um troco para o picolé de manga, igual ao do padre, afinal o segredo poderia estar no picolé. A sorveteria ao lado do cinema também era de propriedade de Galdino. Haveria de lhe dar um lucro dobrado comprando um ingresso e um picolé. Ele vai me deixar entrar.

Prestes a começar o filme e nada do padre. Um suor frio escorria-me a testa, as mãos transpiravam, a ansiedade me fazia andar de um canto para outro da rua, o coração veio a boca. Vou entrar!

Nego Dinda e Zé de Otávio que também tentaram entrar, foram barrados de primeira. Aquilo me pareceu um mau presságio. Um aviso do além: Não vou! pensei em toda a trama, na vergonha, na corretiva que levaria de meu pai, da mangoça dos colegas do colégio. Era o fim. Aquilo tudo pesava em meus ombros.

Quando pensei em desistir, eis que, de repente, lá vem o padre. Batina e chapéu de massa pretos, bota tipo coturno, tropego de uma das pernas, um picolé na boca outro no bolso, e vem descendo rumo ao Cine Lux. Toma seu lugar na fila e se prepara para entrar.

Espreitei o padre. Esperei-o chegar perto do portão, prendi a respiração, furei a fila bem à sua frente, baixei os olhos, levantei-me na ponta dos pés (pra dar a impressão de uma maior estatura), entreguei o ingressso apressadamente a Galdino e deslizei-me feito quiabo em direção ao tapete vermelho.

Mas ai ouvi um incisivo “opá!”. Pronto, lasquei-me em bandas! Pensei. Tentei virar-me para contra-argumentar mas o corpo não odebecia, a boca seca não balbuciava palavra alguma, os ombros pareceiam suportar as dores e o sofrimento do mundo, pensei na mangoça dos colegas da escola, da surra que levaria de meu pai no dia seguinte, da vergonha contida e agora prestes a escorrer publicamente. O mundo desabou naquele “opá!”. Para dizer a verdade as cores fugiram dos meus olhos, o mundo escureceu. Já não via os cartazes de outrora, o tapete vermelho já não tinha cor. Tudo era escuridão ao meu redor.

De repente, um foco de lanterna se fez no ambiente e somente aí pude perceber que a escuridão ao meu redor não tratava-se de nenhum blecaute emocional, mas que verdadeiramente havia faltado enérgia eletrica em toda a cidade e estavamos às escuras.

De pronto, a sessão foi cancelada, os ingressos restituídos. No dia seguinte, meu pai descobriu a trama. Tomei uns cocorotes e um puxão de orelha e só pude ver o “Aluga-se Moças” três anos mais tarde. Já com meus 18 anos.

Agora, Inês é morta


Hoje, quando queremos dizer que uma situação é irreversível referimo-nos ao triste destino de Inês. Sua história é a de um amor impossível, como o de Romeu e Julieta, mas a diferença é que Inês existiu de verdade: ela e Pedro viveram no século 14. Oitavo rei de Portugal, Pedro reinou de 1357 a 1367. Quando era príncipe, em 1340, ele se casou com Constança, princesa de Castela, num acordo político comum na época. Porém, Pedro e Inês, dama de companhia de Constança, mantiveram um romance por anos e chegaram a ter quatro filhos.

O romance, no entanto, nunca contou com o apoio do pai de Pedro, Afonso IV, e do clero, os fiadores do acordo entre Castela e Portugal. Após a morte de dona Constança, no entanto, a ligação entre o casal se tornou mais estreita e a nobreza passou a temer que um dos filhos de Inês reivindicasse o trono.

Em 1355, essa tensão alcançou o ponto máximo e, aproveitando que Pedro estava caçando, o rei Afonso ordenou a morte de Inês. Pero Coelho, Àlvaro Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco executaram a sentença, cortando-lhe a garganta. Quando recebeu a noticia, Pedro avançou em direção à cidade do Porto, pretendendo enfrentar o próprio pai. Porém, foi demovido da idéia pela mãe, dona Beatriz, e pelo seu primo, o bispo de Braga. Resignado, teria dito: “Agora, Inês é morta.

Assim que se tornou rei, no entanto, Pedro mandou prender os assassinos. Pacheco escapou para a França, mas Coelho e Gonçalves forma capturados em Castela e depois torturados (ambos tiveram o coração arrancado) na presença do rei. A segunda providência foi ainda mais macabra. Alegando ter se casado com Inês às escondidas, Pedro fez com que ela fosse coroada rainha. Seu corpo foi desenterrado e colocado no trono. Durante a cerimônia, Pedro teria ordenado que toda a nobreza e membros do clero presentes ajoelhassem diante do cadáver e beijassem os ossos da mão de Inês.



Fonte: Aventuras na história

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Morreu de enfarte o João. Comentário geral: um ótimo coração.

Na música do nordeste o que tem progredido ultimamente é o atraso

Mesmo de férias, fiz alguns planos razoáveis para começar bem a semana. Logo de manhã, sonolento e ainda na cama, percorri os dedos buscando a sintonia do rádio e parei numa estação local onde o locutor, em êxtase, anunciava o grande sucesso das paradas: "vamos "simbora" pra um bar, beber, cair, levantar".
Desliguei o rádio, apaguei os planos, puxei o lençol e continuei dormindo.
- Quem sabe amanhã decido acordar de novo.

sábado, 19 de janeiro de 2008

A evolução humana ainda é uma grande icognita, ao menos para mim. Tenho dúvidas se já atingimos aquele estágio tido como domínio completo do pensamento, afinal de contas temos feito muita besteira ultimamente, a começar pela nossa relação com o planeta e com o nosso próximo, não sei por que mas sempre achei que o nosso próximo não está tão próximo assim.
Mas como eu dizia, o homem não está somente destruindo a sua casa, os rios, lagos e poluindo o ar. O homem está destruindo a sua própria alma, seus amigos, suas relações interpessoais, familiar e até religiosa. Os interesses corporativos, a diária competição desenfreada no ambiente de trabalho e a luta pelo poder ( a todo preço) têm ultrapassado, há muito, o limite entre o bom senso e o respeito por mais básico que seja, da liberdade do outro, liberdade de agir, de discordar, de contradizer, de se opor.
É algo quase como: ou se está com Deus ou com o Diabo. Nem purgatório tem, viu!? O cara desembarca de vez, ou melhor, desemboca de vez no céu ou inferno!
É certo que numa sociedade sempre haverá conflitos. No trabalho e na escola há também aqueles apostos a chegar na linha final primeiro, mesmo queimando a largada. O que nos parece desproporcional e desmedido é que essas ações estejam associadadas a amizades desfeitas, iras incontidas, relações comunitárias perdidas e que a "guerrilha" mude da trincheira dos debates, dos argumentos e passe para o campo minado da discussão de pessoas.
O mais alarmante é identificar que esse fenômeno não está restrito a classe social ou nível de escolaridade. Ao que parece, quanto mais "graduado", mais intenso é a ocorrência da "desertificação social" e do abandono das relações muito antes construída, em alguns casos, na intimidade do seio familiar.
O constante conflito do homem com o meio ambiente e com o próprio homem em busca de sustentação, status, posição e poder, seus meios e seus caminhos para alcançá-los, demonstram claramente que pouco, muito pouco evoluiu o pensamento humano.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008


E um dia hei de morrer eu também... Totalmente.
Não como andei morrendo até hoje, sozinho,
por minha própria conta como um Rilke mesquinho
com sua rosa seca, um fantasma, um demente,
Alexandria, o temporão sobrevivente.
Do olho branco do sol vai surgindo um espinho
que descobre os cactos todos do caminho,
e a vida inteira eu fui assim: cacto insolente
a situar-se onde o deserto empalidece.
Hei de espernear a última gota do rude
dom do cacto orgulhoso ante a decrepitude,
e hei de morrer contando os graus; a minha prece
há de ser geométrica porque afinal não pude
embalsamar a luz cadente, o sol que desce.


Bruno Tolentino

Poeta e escritor

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

A Travessia do Albatroz


Quem leu "O Caçador de Pipas" com certeza se sentirá seduzido a também ler "A Travessia do Albatroz".

O livro "A Travessia do Albatroz - Amor e Fuga no Irã dos Aiatolás" (Geração Editorial, 294 págs., R$ 39,90), é construído a partir do relato de um refugiado iraniano que vive no Brasil, narra a história de Kurosh Majidi, um jovem na época da Revolução (1979), e de seu amigo Behruz, que é seduzido pelo discurso radical xiita. Enquanto Kurosh evita alistar-se no Exército, Behruz parte para a luta na sangrenta guerra Irã-Iraque, nos anos 1980.

O albatroz do título é uma referência à ave migratória - a fuga de Kurosh torna-se a questão central do livro quando a situação política torna-se insustentável para um rapaz que gostava dos Beatles e de estrelas pops iranianas.

A edição do livro não esconde o desejo de fazer dessa história um best seller. Belas fotos e mapas procuram tornar o livro, ao mesmo tempo, mais "gordo" (em volume) e mais "leve" (como leitura). O texto é claro e procura ser didático quando a autora julga isso necessário, apresentando detalhadamente alguns aspectos culturais do Irã menos conhecidos do público.

Mas, mais que isso, a editora procura abertamente seduzir os leitores de "O Caçador de Pipas" (Nova Fronteira), de Khaled Hosseini. A apresentação do livro, no site da editora, faz uma comparação direta: "Como no bestseller 'O Caçador de Pipas', temos (...) um enredo de contornos grandiosos, com as memórias de um jovem iraniano e seu melhor amigo".

Segundo Marcia Camargos, o romance não surgiu com tal intenção explícita: "Ele não é fruto de uma idéia do tipo 'agora vou escrever um best seller, e de preferência sobre um assunto ligado ao Oriente, já que está na crista da onda', pelo contrário. O livro nasceu de um acaso, de um encontro que tive com o personagem obrigado a fugir do Irã em circunstâncias extremas."

Como historiadora, Marcia Camargos escreveu "Villa Kyrial" (Senac), "Semana de 22" (Boitempo) e "Furacão na Botocúndia" (Senac), sobre Monteiro Lobato, este com Vladimir Saccheta e Carmen Lucia Azevedo. Como ficcionista, publicou "Micróbios da Cruz" (Companhia das Letras).

Segundo ela, a história do verdadeiro Kurosh a seduziu rapidamente, assim que tomou conhecimento de parte dela. "Foi uma espécie de amor à primeira vista, para usar um clichê. Todos duvidavam, pois eu jamais tinha enfrentado algo do gênero."

Antes que elas cresçam

Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.

É que as crianças crescem. Independentes de nós, como árvores, tagarelas e pássaros estabanados, elas crescem sem pedir licença. Crescem como a inflação, independente do governo e da vontade popular. Entre os estupros dos preços, os disparos dos discursos e o assalto das estações, elas crescem com uma estridência alegre e, às vezes, com alardeada arrogância.

Mas não crescem todos os dias, de igual maneira; crescem, de repente.

Um dia se assentam perto de você no terraço e dizem uma frase de tal maturidade que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura.

Onde e como andou crescendo aquela danadinha que você não percebeu? Cadê aquele cheirinho de leite sobre a pele? Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços, amiguinhos e o primeiro uniforme do maternal?

Ela está crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil. E você está agora ali, na porta da discoteca, esperando que ela não apenas cresça, mas apareça. Ali estão muitos pais, ao volante, esperando que saiam esfuziantes sobre patins, cabelos soltos sobre as ancas. Essas são as nossas filhas, em pleno cio, lindas potrancas.

Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas, lá estão elas, com o uniforme de sua geração: incômodas mochilas da moda nos ombros ou, então com a suéter amarrada na cintura. Está quente, a gente diz que vão estragar a suéter, mas não tem jeito, é o emblema da geração.

Pois ali estamos, depois do primeiro e do segundo casamento, com essa barba de jovem executivo ou intelectual em ascensão, as mães, às vezes, já com a primeira plástica e o casamento recomposto. Essas são as filhas que conseguimos gerar e amar, apesar dos golpes dos ventos, das colheitas, das notícias e da ditadura das horas. E elas crescem meio amestradas, vendo como redigimos nossas teses e nos doutoramos nos nossos erros.

Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.

Longe já vai o momento em que o primeiro mênstruo foi recebido como um impacto de rosas vermelhas. Não mais as colheremos nas portas das discotecas e festas, quando surgiam entre gírias e canções. Passou o tempo do balé, da cultura francesa e inglesa. Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas próprias vidas. Só nos resta dizer “bonne route, bonne route”, como naquela canção francesa narrando a emoção do pai quando a filha oferece o primeiro jantar no apartamento dela.

Deveríamos ter ido mais vezes à cama delas ao anoitecer para ouvir sua alma respirando conversas e confidências entre os lençóis da infância, e os adolescentes cobertores daquele quarto cheio de colagens, posteres e agendas coloridas de pilô. Não, não as levamos suficientemente ao maldito “drive-in”, ao Tablado para ver “Pluft”, não lhes demos suficientes hambúrgueres e cocas, não lhes compramos todos os sorvetes e roupas merecidas.

Elas cresceram sem que esgotássemos nelas todo o nosso afeto.

No princípio subiam a serra ou iam à casa de praia entre embrulhos, comidas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscinas e amiguinhas. Sim, havia as brigas dentro do carro, a disputa pela janela, os pedidos de sorvetes e sanduíches infantis. Depois chegou a idade em que subir para a casa de campo com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível deixar a turma aqui na praia e os primeiros namorados. Esse exílio dos pais, esse divórcio dos filhos, vai durar sete anos bíblicos. Agora é hora de os pais na montanha terem a solidão que queriam, mas, de repente, exalarem contagiosa saudade daquelas pestes.

O jeito é esperar. Qualquer hora podem nos dar netos. O neto é a hora do carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer conosco. Por isso, os avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável afeição. Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto.

Por isso, é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que elas cresçam.


Affonso Romano de Sant'Anna

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

São Miguel do gostoso, litoral do Rio Grande do Norte


Eitá, isso sim é que é vida boa!!!
- E eles ainda reclamam, vê se pode?

Speed Racer


Tive uma infância muito comum às crianças nordestinas: pobre e feliz. Pobre porque criança nunca pode comprar o que verdadeiramente deseja, feliz porque todo pobre é alegre, assim como todo garoto do meu naipe; sem brinquedos sofisticados e diversão quase nenhuma, afora as cantigas de roda, bate-bate e outros delitos mais como roubar siriguelas da casa do velho Afonso, o que me rendeu memoráveis sermões e até puxões de orelha.

A saída para incrementar a distração passava obrigatoriamente pela tarefa de fazer amizade com algum menino mais abastado. Em suma: uma amizade por puro interesse. Interesse nos brinquedos e na televisão dele, claro!

E foi assim que conheci o Zé de Creuza, peladeiro de primeira hora. Parecia que aquele peste tinha nascido com uma bola amarada nos pés, um craque com a bola e um problema na escola. No campinho de terra batida não sobrou ninguém na rua do fogo (atualmente rua Capitão Lindolfo) que houvesse resistido a um de seus dribles. Jogava pelo prazer, ou melhor, pelo prazer de humilhar os adversários. Mais para mim, a grande virtude do Zé era ter brinquedo novo, a pilha, e uma enorme televisão na sala.

Depois da pelada, todos as tardes, íamos todos ver televisão e eu ficava fascinado com o desenho do Speed Racer. Era demais! Me via guiando aquele carro fantástico, o Mach 5, fazendo piruetas ao volante, saltando obstáculos e vencendo as mais difíceis corridas. Speed era um piloto incrível, pilotava o seu Mach 5 tão bem quanto os dribles de Zé de Creuza.

Ao final do episódio, voltava para casa pensando como seria bom possuir aquela máquina voadora. E viajava nos meus sonhos, o pilotava na minha tenra imaginação de criança pobre. Fazia do meu cavalo de pau corisco o meu Mach 5 e me entusiasmava quando tinha de pular algum obstáculo, no meu caso, um esgoto que corria lateralmente a minha casa.

Na impossibilidade de possuir aquele fenômeno das pistas, aprendi com muita facilidade a traçar todos os detalhes do carro, a frente em formato de “M”, a cor branca, o volante, os pneus especiais e o compartimento onde, vez por outra, o seu macaquinho e Zequinha se enfiavam às escondidas. Até o corredor X, irmão desconhecido do Speed, eu estava rabiscando em meus cadernos. Era o meu sonho de consumo de criança pobre e uma forma de tê-lo comigo. Não queria nada além, bastava-me o Mach 5.

Os anos passaram-se, a TV Tupi foi extinta e levou com ela as tardes do Speed. Nunca mais pude guiar aquela máquina.

Pois não é que agora estão lançando o meu carro de novo no cinema? Uma maravilha! Pude vê-lo pela rede mundial de computadores e acredite, ele está mais lindo e poderoso.

Soube também que o Mach 5 foi exposto a venda no salão do automóvel em Tóquio. O problema é que continuo pobre e já não tenho o cavalo corisco. Mas, como nessa vida para todo caminho há um atalho, o amigo Adauto cuidou de encurtar a minha saudade e presenteou-me com uma miniatura do meu Mach 5. Uma maravilha! Igualzinho ao de Tóquio, exceto pelo tamanho.

Quanto a dirigi-lo aí são outros quinhentos.

Todas as tardes, depois da pelada, fecho os olhos para rever aquele carro, belo, único, inconfundível. E ele sempre vem, tão claro, tão nítido, tão lindo, como só as coisas que não existem.

domingo, 13 de janeiro de 2008

A ética do dia-a-dia


Mais e mais me convenço que a questão central de mudança do modo de pensar dessa nação passa, obrigatoriamente, pela implementação cultural dessa gente. É somente pela educação (familiar e escolar) que poderemos despertar e introduzir no modo de viver desse povo práticas diárias e conceitos como "consciência moral, consciência social, juízo de valor e ética.

A imagem acima e aqui exposta retrata a exata dimensão conceitual da dimensão da importância que adotamos frente a nossa própria (in)consciência em sociedade. Serve ainda de questionamento sobre que escola e que família nós temos hoje. Será que a escola e a família estão fazendo o seu papel enquanto veículos de transformação e compromisso social ?

A resposta nos parece temerária. O que vemos não é e não serve de exemplo para as gerações futuras. O nosso cotidiano está repleto de ações não condizentes com as aspirações de um país em vias de se tornar economicamente grande mundialmente.

Quer conhecer o potencial de um país? Conheça seu povo, seus costumes, suas tradições! os atos e fatos no nosso dia-a-dia funcionam como termômetro de nossas próprias consciências e comprometimento com a sociedade, com o outro e com o meio.

Você já parou para pensar o que nós leva a parar no trânsito diante do sinal vermelho? será que é o respeito as normas visuais ou o medo de ser colhido por um veículo em sentido contrário?

Ora, a falta de critérios e o desrespeito cotidiano não são menos grave que os escândalos e a corrupção institucionalizada. O que é mais condenável: desviar dinheiro público ou corromper um guarda de trânsito? Ou seria menos grave furar a fila de um banco? Sonegar o imposto de renda ou comprar um CD pirata? Derramar toneladas de petróleo no mar ou colocar lixo num terreno baldio?

Todas estas práticas são igualmente graves o que as diferenciam é apenas a oportunidade.

A sociedade se reconhece em suas ações, em suas escolhas políticas, econômicas, sociais e ambientais mas somente pela educação se reconhece um grande povo, uma nação de verdade.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Espirulina no alto-sertão das espinharas


Não há dúvida, o nordeste é um grande gigante. Um celeiro adormecido num sono profundo que precisa ser despertado o quanto antes.

Ainda de férias, resolvi visitar a fazenda Tamanduá (distante de Pombal 90 km) de propriedade do francês Pieere e me encantei com o que vi ali, na caatinga, no meio do nada, no meio do mundo...

A fazenda Tamanduá está situada no município de Santa Terezinha-PB distante 20 km de Patos rumo ao vale do Piancó. Com uma flora típica da região do semi-árido, lá se encontra jurema preta, jurema branca, catingueira, angico, marmeleiro, juazeiro, mufumbo, mangueiras e oiticicas.

Pois bem, até aqui nenhuma novidade. Toda (ou quase toda) propriedade da região tem angico e juazeiro. O diferencial é que a fazenda Tamanduá é hoje um referencial na produção de alimentos orgânicos praticando exportação em alta escala para a Europa, enviando nada mais nada menos do que 55.000 caixas de manga (nas variedades Tommy Atkins e Keitt).

Por outro lado, toda a sua produção de leite e aproveitada na própria fazenda na fabricação de quatro tipos de queijos. Três de origem européia (o saint paulin, o reblochon e a ricota) além do nosso tradicional queijo de coalho.

A propriedade, de 2.500 hectares, produz ainda leite de cabra pasteurizado e mel de abelha de jandaíra, tudo com certificado do Instituto Biodinâmico (IBD), inspeções periódicas da vigilância sanitária e registro do Ministério da Agricultura.

Tudo na fazenda gira em torno do conceito da produção orgânica, ou seja, sem nenhuma utilização de agrotóxicos.

Mas, a Tamanduá não é apenas um centro de produção orgânica, a fazenda tem se revelado um centro avançado de pesquisa nas mais diversas áreas agrícolas a exemplo do que ora se desenvolve com a espirulina, tipo de alga que congrega em suas propriedade nada mais nada menos do que 75% de proteínas, rica em vitamina A, ferro, cálcio, magnésio, fósforo e em micro minerais extremamentes importantes para a nutrição, atua ainda como complemento dietético protéico e pode ser usada como coadjuvante no tratamento da obesidade e hipertensão.
A espirulina é uma alga unicelular formada por células grandes que cresce em águas alcalinas, e como já dito, ricas em minerais. Contém clorofila A, carotenóides e pigmentos azuis (ficocianinas) razão pela qual pertencem ao grupo das algas verde azuladas ou cianobactérias. Possui alto índice de digestibilidade com uma absorção de 85%.
A espirulina já era utilizada pelos astecas que a preparavam como um caldo, adicionando a tudo o que comiam. Pesquisada por vários anos no Japão, França e EUA, é saudada como uma das maiores descobertas no campo da alimentação naturalista deste século. E está sendo cultivada no alto-sertão da Paraiba, bem pertinho de nós.

Urge registrar que os vizinhos da propriedade Tamanduá não cultivam em suas terras sequer um pé de coentro.

Enfim, voltei da visita mais convencido ainda de que a pobreza do nordeste não é só um caso (ou descaso) político, mas é sobretudo um caso de polícia. É preciso fazer algo urgentemente.


segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Saiba morrer o que viver não soube


Meu ser evaporei na lida insana
do tropel de paixões que me arrastava.
Ah! Cego eu cria, ah! mísero eu sonhava
em mim quase imortal a essência humana.
De que inúmeros sóis a mente ufana
existência falaz me não dourava!
Mas eis sucumbe natureza escrava
ao mal, que a vida em sua origem dana.
Prazeres, sócios meus e meus tiranos!
Esta alma, que sedenta e si não coube,
no abismo vos sumiu dos desenganos.
Deus, ó Deus!... Quando a morte à luz me roube
ganhe um momento o que perderam anos
saiba morrer o que viver não soube.


Bocage

domingo, 6 de janeiro de 2008

Pedra do Tendó


De viagem para Triunfo-PE pude perceber pelo caminho como é bonita a Paraiba. Muitas vezes fazemos planos e mais planos para conhecer o mundo e esquecemos de olhar para a beleza de nossa própria terrinha.


Pois é... ao resolver visitar Pernambuco descobri que bonito mesmo é o meu estado.


Sem dever nada a outro ponto turistico, a pedra do tendó (no município de Teixeira) é uma das mais belas imagens ambientais do nordeste e fica apenas a 85 km de Pombal.
Quanto a Triunfo-PE, bem, deixa prá lá... me encantei mesmo foi com o nosso sertão paraibano.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008


Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!

Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!

Os dias são Outonos: choram... choram...
Há crisântemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...

Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!...



Florbela Espanca

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

A imagem vale mais que todas as palavras!


Direito X Ciência


Comecei o ano ouvindo uma defesa apaixonada da "ciência do direito" por concluinte da UFCG. Em uma dessas conversinhas triviais, o acadêmico se empolgou com o tema e sempre tratava o direito como ciência, afinal de contas há poucos dias concluiria o "curso de ciências jurídicas e sociais".

Mas afinal, direito é uma ciência? Até onde podemos relacionar regras sociais e comportamentos normativos e humanos com o cietificismo?

Ao longo dos acontecimentos e da história, três têm sido as principais concepções de ciência: a racionalidade (moldada no modelo da matemática); a empirista (que se investe do modelo da objetividade da medicina grega e da história natural do século XVII) e a construtivista (cuja forma de objetividade advém da idéia de razão como conhecimento aproximado).

A concepção racionalista defende o princípio pelo qual a ciência é um conhecimento racional, dedutivo e demonstrativo, capaz de provar a verdade necessária e universal de seus resultados e enunciados, sem deixar nenhuma dúvida.

Por sua vez, a concepção empirista afirma que a ciência é uma interpretação dos fatos baseada em observações e experimentos que permitem estabelecer induções e que ao serem completadas, oferecem a definição do objeto, suas propriedades e suas leis de funcionamento.

Em suma, a teoria racionalista era hipotético-dedutiva enquanto que a empirista era hipotético-indutiva.

Já a concepção construtivista considera a ciência uma construção de modelos explicativos para a realidade e não uma representação da própria realidade. O cientista combina dois procedimentos, um vindo do racionalismo, outro vindo do empirismo e a eles acrescentou um terceiro, vindo da idéia de conhecimento aproximativo e corrigývel.

A teoria construtivista tem por sustentáculos três exigências de seu ideal de cientificidade: a) que haja coerência entre os princípios que orientam a teoria; b) que os modelos dos objetos sejam construídos com base na observação e na experimentação; c) que os resultados obtidos possam não só alterar os modelos construídos, mas também alterar os próprios princípios da teoria, corrigindo-a.

No que pertine a questão da possibilidade das ciências humanas (onde se situa o direito) é importante dizer que a expressão “ciências humanas” refere-se àquelas ciências que têm o próprio ser humano como objeto e a situação dessas ciências é muito particular sob a ótica de alguns aspectos. Em primeiro lugar porque o objeto de seu estudo é o homem, projeto científico surgido apenas no século XIX. Em segundo lugar, porque surgiram depois que as ciências matemáticas e naturais estavam constituídas e já haviam definido a idéia de cientificidade, de métodos e conhecimentos científicos, de modo que as ciências humanas foram, naturalmente, levadas a imitar e copiar o que aquelas ciências já haviam estabelecido. Em terceiro lugar, as ciências humanas acabaram trabalhando por analogia com as ciências naturais e seus resultados tornaram-se muito contestáveis e pouco científicos.

Frente a isso, muitos cientistas e filósofos passaram a duvidar de ciências que tivessem o homem como objeto, apresentando, inclusive, contraponto e suscitando algumas objeções, quais sejam:

*A ciência lida com fatos observáveis, com seres e acontecimentos que, nas condições especiais de laboratório, são objetos de experimentação. Como observar-experimentar, por exemplo, a consciência humana, a formação de regras sociais, a feitura das leis, o litígio, o embate?

*A ciência busca as leis objetivas gerais, universais e necessárias aos fatos. Como estabelecer leis objetivas para o que é essencialmente subjetivo? Como estabelecer leis universais para algo que é particular, como é o caso da sociedade humana, objeto do direito!

*A ciência lida com fatos regidos pela necessidade causal ou pelo princípio do determinismo universal. O direito lida com o homem. O homem é dotado de razão, vontade e liberdade, é capaz de criar fins e valores, de escolher entre várias opções possýveis. Como dar uma explicação cientifica necessária àquilo que, por essência, é contingente, pois é livre e age por liberdade?

*A ciência lida ainda com fatos objetivos. Ora, o homem (objeto do direito) é justamente subjetivo, sensível, afetivo, valorativo. Como transformá-lo em objetividade sem destruir sua principal característica, a subjetividade?

A tese de que o direito não é uma ciência pode até não ser a temática dominante, mas, sem maiores delongas, ao menos é a minha singela opinião. Filio-me inteiramente a corrente filosófica que não abaliza o direito como verdadeiramente uma ciência em sua expressão conceitual e constitutiva.

- Que saudade dos bancos escolares!