quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O gênio

Você está numa casa de campo, chove, você pega um livro, o primeiro que encontra e se põe a ler esse livro como leria o diário oficial ou a cópia de uma folha de avisos, assim, pensando em outra coisa, distraído, bocejando. Pouco a pouco você se surpreende atento, seu pensamento já não lhe pertence, sua distração se dissipa, uma espécie de absorção, quase uma sujeição, a substitui, e você já não é dono de si mesmo, já não é capaz de decidir 'vou me levantar e fazer outra coisa'.
 
Um livro é alguém. Preste atenção.
 
Um livro é uma engrenagem. Tome cuidado com essas linhas negras num papel branco; são forças que se atraem, se completam, se compõem, se decompõem, penetram umas nas outras, giram em torno de si mesmas, se desenrolam, se embolam, se acasalam, trabalham. Uma linha morde, outra aperta e comprime, outra domina, e outra seduz. As ideias são como o trilho de uma cremalheira.
Você vai se sentir puxado pelo livro. E ele não o largará enquanto não estive seguro de ter mexido com seu espírito. Há livros do qual os leitores saem inteiramente transformados. Homero e a Bíblia operam esse tipo de milagre. Os espíritos mais altivos, os mais finos, os mais delicados, assim como os mais simples e os mais elevados, sofrem esse encantamento.
 
Shakespeare ficou embevecido com Belleforest. La Fontaine ia a toda parte perguntando: você leu Baruch? Corneille, maior que Lucan, ficou fascinado com seus poemas. Dante deslumbrou-se com Virgílio, menor que ele.
 
Nem todos os grandes livros são fatalmente irresistíveis. Podemos não nos deixar moldar por eles, podemos ler o Alcorão sem nos tornar muçulmanos, ler os Vedas sem passar a viver como um faquir, ler Zadig sem seguir Voltaire, mas não podemos deixar de admirá-los. Aí está sua força. 'Eu te saúdo ou eu te combato, porque tu és rei', dizia um grego a Xerxes.
 
(...) O que digo é tão verdadeiro que é impossível admirar uma obra-prima sem ficar ao mesmo tempo satisfeito consigo mesmo. É uma boa sensação ter compreendido. A compreensão aproxima. Há na admiração algo que dignifica e fortalece a inteligência. O entusiasmo é como um cordial.
Abrir um belo livro, mergulhar nele, se perder em suas páginas, se envolver, que festa! Temos todas as surpresas do inesperado ali, quase que ao vivo. As revelações do ideal são golpes que se sucedem.
Mas o que, afinal, é o belo?
 
Não o defina, não esmiuce, não lute contra, não crie dificuldades, não seja seu próprio inimigo à força de tantas hesitações, inquietações, enrijecimentos. Há alguma coisa mais tola que um pedante? Fique diante de si mesmo e admita: Deus é inesgotável, a arte é ilimitada, a poesia não cabe em nenhuma escola literária assim como o mar não cabe em nenhum vaso, ânfora ou jarra; seja simplesmente um homem sincero e tenha a grandeza de aceitar que se encantou, deixe-se prender pelo poeta, não conteste o efeito do que sentiu, aceite, sinta, compreenda, veja, viva, cresça!
 
O brilho da grandeza, aquela 'alguma' coisa que resplandece e que é sublime, eis o gênio. Algumas asas que se batem ao longe. Você está com o livro nas mãos, sob seus olhos, de repente parece que uma página se rasga de alto a baixo, como se fosse o véu do tempo. Por esse buraco, o infinito é visto. Uma estrofe é suficiente, um verso é suficiente, uma palavra é suficiente. O cume foi alcançado. Tudo foi dito.
 
Aquiles insultando Agamenon, Prometeu acorrentado, os Sete Chefes diante de Tebas, Hamlet no cemitério, Jó em seu martírio. Agora feche o livro. Pense. Você viu as estrelas.
 
 
Trecho de "O Gênio" de Victor-Marie Hugo (Besançon, 26 de fevereiro de 1802 — Paris, 22 de maio de 1885) foi um romancista, poeta, dramaturgo, ensaísta, artista, estadista e ativista pelos direitos humanos francês de grande atuação política em seu país. É autor de Les Misérables e de Notre-Dame de Paris, entre diversas outras obras. Está enterrado no Panthéon, em Paris.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

 
 
Janis Joplim

Sobre um ex-chefe de Estado convencido de que o Brasil nasceu com ele, cercado de um imenso cordão de puxa-sacos. Quem será?

Esta é a história de um ex-chefe de Estado, convencido de que o Brasil nasceu com ele e que, antes, nem chegava a ser país. Tratava-se de uma reles colônia.

Um governante hábil, cercado de um imenso cordão de puxa-sacos, que beijava suas mãos e se ajoelhava diante dele. De certa forma, tolerava a imprensa, mas gostava de imiscuir-se na orientação dos jornais e de brigar com os jornalistas que não aceitavam suas imposições. Ai deles! Os inúmeros (e bem recompensados) adeptos do guia supremo os perseguiam e agrediam nas ruas.

Mesmo gostando de aparecer, passou muito, muito tempo sem dar entrevistas.

Era chefe de Estado, mas tinha profunda afinidade com os costumes do povo.

Viúvo, casou-se de novo; mas sua esposa não tinha o direito de se manifestar em público.

Quem mandava mesmo era a amante paulista, que nomeava e demitia, que beneficiava a família e seus protegidos, não tendo a menor preocupação com o escândalo que provocava. Era a namorada do chefe; quem não a apreciasse tinha todo o direito de obedecê-la, favorecê-la e calar-se.

A-do-ra-va dar palpite na política de outros países. Trouxe para o Brasil, regiamente pagos, aventureiros internacionais para auxiliá-lo nas tarefas a que se propôs – jamais se incomodou que fossem estrangeiros.

Fez seu sucessor, pessoa de boa-vontade, mas pouco eficiente – foi quem, por exemplo, prometeu gastar o que fosse preciso para levar água aos nordestinos.
 
Esta é a história, claro, de D. Pedro I, que acaba de ser exumado.
 
 
Carlos Brickmann
 
Fonte:
A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono.
 
Operação capaz de mudar o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza; exercício espiritual, é um método de libertação interior. A poesia revela este mundo; cria outro. Pão dos escolhidos; alimento maldito. Isola; une. Convite à viagem; retorno à terra natal. Inspiração, respiração, exercício muscular.
 
(Excertos do livro “O arco e a lira”, Octavio Paz, escritor mexicano, citado na revista Metáfora, ano 2, nº 16, fev./2013, seção “Frases”, p. 6.)
 
Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade. (Rubem Braga citado pela revista Metáfora, ano 2, nº 16, fev./2013, seção “Frases”, p. 6.)
 
 
*Contribuição do amigo e internauta Adauto Neto

Pintura

Tumblr

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Versículos do dia

E ele me disse: O SENHOR, em cuja presença tenho andado, enviará o seu anjo contigo, e prosperará o teu caminho, para que tomes mulher para meu filho da minha família e da casa de meu pai; (Gênesis 24:40)
 
E disse-lhe o anjo: Cinge-te, e ata as tuas alparcas. E ele assim o fez. Disse-lhe mais: Lança às costas a tua capa, e segue-me. (Atos 12:8)

Crônica para mulher do nariz grande

A mulher de nariz grande chega bem antes em qualquer ambiente.
 
É a que chega primeiro também na vida de um homem.
 
Sai, quase sempre, sem bater a porta. Prefere uma bela vingança.
 
A mulher de nariz grande fareja, degusta, vê, ouve e tateia na velocidade da luz. Como se o nariz grande se intrometesse nos outros sentidos.
 
Para o bem e para o mal. A mulher de nariz grande chega bem antes.
 
Chega primeiro para matar a sua curiosa fome de viver. Chega primeiro porque odeia ter saudade e não poder matá-la imediatamente.
 
Para o bem ou para o mal, a mulher de nariz grande chega do nada. Inclusive para aplicar um flagrante delito no canalha.
 
Ela fareja de longe a desgraça.
 
Até no altar a mulher de nariz grande deve chegar primeiro do que o noivo, desmentindo todo o folclore.
 
A mulher de nariz grande é a que, entre todas as suas semelhantes, tem menos inveja do pênis.
 
A porção mulher que até então se resguardara, amigo, aflora, freudianamente, diante da presença dela.
 
A mulher de nariz grande me lembra o melhor conto que já li na vida: “O Nariz”, de Nikolai Gogol, evidentemente.
 
A mulher de nariz grande puxa oxigênio e aroma dos jardins para a cama até em uma manhã de segunda.
 
Na horizontal, o nariz grande vira uma ponte para a margem esquerda do nirvana.
Em um colchão d´água de motel barato, é ponte sobre o Danúbio.
 
Ao contrário de Pinóquio, quando mente, digo, quando ilude, a mulher do nariz grande cresce as orelhas, Deus castiga.
 
Graças a tal temor, a mulher de nariz grande é a que menos utiliza o dom de iludir os tontos como este que vos digita.
 
A mulher de nariz grande emite as mais lindas e barulhentas onomatopeias quando goza ou até mesmo quando se aproxima do solene momento. Ela sente antes o incêndio das horas.
 
Mesmo em uma distância transatlântica, amigo, saiba: é a mulher do nariz grande que estará mais perto do que qualquer outra.
 
 
Xico Sá
 
 
*Da folha de S. Paulo

A imagem perdida

Como essas coisas que não valem nada
E parecem guardadas sem motivo
(Alguma folha seca... uma taça quebrada)
Eu só tenho um valor estimativo...
 
Nos olhos que me querem é que eu vivo
Essa existência efêmera e encantada...
Um dia hão de extinguir-se e, então, mais nada
Refletirá meu vulto vago e esquivo...
 
E cerraram-se os olhos das amadas,
O meu nome fugiu de seus lábios vermelhos,
Nunca mais, de um amigo, o caloroso abraço...
E, no entretanto, em meio desta longa viagem,
Muitas vezes parei... e, nos espelhos,
Procuro, em vão, minha perdida imagem!
 
 
Mário Quintana
 
 
 
*Sugestão de postagem do amigo Adauto Neto
Reblogged from rui-alberto
 
A beleza que seduz poucas vezes coincide com a beleza que faz apaixonar.
 
 
José Ortega y Gasset

Joan Baez


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Hora do recreio: 3 minutos

O médico após consultar a paciente em seu ambulatório diz que ela tem apenas 3 minutos de vida
- Dr., o que o Senhor ainda pode fazer por mim? Perguntou a paciente.
- No máximo um miojo!
 

Fotografia

Ritmo. Estação de trem na Alemanha

O que diria Jesus?

A revista “Visão”, de Portugal, fez uma enquete junto a personalidades da cultura e da política portuguesas para especular sobre o que Jesus diria se aqui voltasse. Com bom humor cristão, o romancista António Lobo Antunes desqualificou o trabalho: “Como voltar, se de cá ele nunca saiu?”
Mas digamos que Ele tenha dado uma saidinha e que viria não ainda para julgar os vivos e os mortos, mas numa visita rápida para ver como estão as coisas. Não se trata de um exercício de adivinhação, e sim de hipóteses com base nos textos bíblicos, o que nos permite entrar no jogo também fazendo nossas simulações.
 
Por exemplo, Cristo com certeza ficaria feliz de constatar que, em tempos de Twitter, nenhum líder tem tantos seguidores quanto Ele: de 2 a 3 bilhões. Por outro lado, em termos de qualidade, não ia ficar nada satisfeito com o que veria à direita e à esquerda, fora e dentro da igreja. A primeira decepção seria constatar que a sua pregação de paz e amor foi substituída pela violência urbana e pelas guerras praticadas em nome do Pai.
 
E o que Ele diria da crise atual — econômica, financeira e moral — e da má distribuição da riqueza, contra a qual tanto pregou? Certamente se indignaria ao saber que o número de pessoas que vivem com menos de 1 dólar por dia nos 49 países mais pobres do mundo duplicou nos últimos 30 anos, chegando a 307 milhões.
 
E que, enquanto isso, as dez mais ricas têm mais dinheiro do que Suécia, Finlândia e cada um de outros 150 países. A concentração pode ter sido consequência de Sua parábola: “É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus.” Vai ver que, diante da anunciada dificuldade de entrar lá em cima, os ricos tenham preferido permanecer aqui no Reino da Terra, que é para eles um paraíso.
 
O maior desgosto do nosso Salvador, porém, seria descobrir o risco de descer conclamando inocentemente — “Deixai vir a mim as criancinhas” — e ser mal interpretado, tendo em vista a onda de escândalos de pedofilia que atinge o clero.
 
Imagina se a Sua chegada coincidisse com a divulgação esta semana do dossiê de 300 páginas elaborado a pedido do Papa por três cardeais e que é uma espécie de radiografia do Vaticano — uma antologia de escabrosos casos de corrupção, promiscuidade, desvio de dinheiro, escândalos sexuais, rede de prostituição homossexual. Chocado, Bento XVI teria desabafado afirmando que o seu sucessor deverá ser bastante “forte, santo e jovem para enfrentar o que o espera”.
 
Tomara que Jesus interfira na escolha, em vez de, desiludido, repetir a velha piada: “Pare o mundo que quero descer.”
 
 
Zuenir Ventura
 
O Globo

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Reblogged from wayangfotos
 
O amor é dos suspiros a fumaça;
puro, é fogo que os olhos ameaça;
revolto, um mar de lágrimas de amantes...
Que mais será?
Loucura temperada, fel ingrato, doçura refinada.
 
 
William Shakespeare

Nem o papa aguentou

No dia da renúncia do papa, uma amiga minha querida, portadora de uma personalidade difícil (acha quase todo mundo bobo), mandou-me uma mensagem assim: "Nem o papa aguentou!".
 
Afinal, o que ele não teria aguentado? Peço licença à minha amiga nojenta para tomar sua exclamação e fazer um pouco de filosofia selvagem a partir dela.
 
Antes, esclareço que não sofro do comum preconceito de pessoas inteligentinhas contra a Igreja Católica. Qual é esse preconceito? Hoje em dia, num mundo em que todo o mundo diz que não tem preconceito, o único preconceito aceito pelos inteligentinhos é contra a igreja: opressora, machista, medieval...
 
Estudei anos num colégio jesuíta. Graças aos padres aprendi a coragem intelectual, o gosto pelas letras, o valor da liberdade religiosa, o esforço de pensar de modo claro e distinto, o respeito pelas meninas, ao mesmo tempo em que crescíamos num ambiente no qual Eros nunca foi demonizado; enfim, só tenho coisas boas para dizer sobre meus anos de escola jesuíta.
 
Cresci numa escola na qual, durante a semana, discutíamos como um "mundo mau" pode ter sido criado por um Deus bom. No final de semana, íamos à praia todos juntos, dormíamos lá, meninos e meninas, em paz, namorando, e enchíamos a cara. Noutro final de semana, o mesmo grupo ia a favelas ajudar doentes.
 
Tive, numa pequena amostra, uma prova do enorme papel civilizador da igreja e do cristianismo como um todo no mundo.
 
Dizer que a igreja padece de males humanos e que compartilhou de violência de todos os tipos é óbvio demais para valer a pena um minuto de reflexão.
 
Em jargão teológico, essa "dupla personalidade de bem x mal" não é bipolaridade moral, mas uma dupla identidade: a igreja teria um corpo mundano (pecador como o de todo o mundo) e um corpo místico (voltado a Deus, à eternidade, inserido no mundo assim como Deus encarnou num homem, Jesus).
 
Portanto, não sou um desses ateuzinhos que, no fundo, não passam de "teenager" bravo porque o pai não existe. Parafraseando o grande Beckett, "God does not exist --that bastard!" (Deus não existe --aquele bastardo!).
 
Joseph Ratzinger (Bento 16) é um homem inteligente que quis levantar o nível do debate dentro da igreja e na sociedade como um todo. Um filósofo. Resistiu bravamente à contaminação por uma teologia populista e marqueteira, mas sucumbiu à ancestral vocação humana para a mentira e para a vida burocrática.
 
Hoje, quase tudo no mundo é populista e marqueteiro; lembremos da máxima da grande escritora portuguesa Agustina Bessa-Luís: hoje todo mundo quer agradar, até o metafísico.
Foi isso que o papa não aguentou: ele esbarrou no diagnóstico da contemporaneidade feito pela Agustina Bessa-Luís. Todo o mundo só quer agradar "seu eleitorado" e Bento 16 quis tratar seu eleitorado como gente grande.
 
Resultado: angariou inimigos em toda parte porque rompeu o jogo comum de "falar muito e dizer nada", típico da sensibilidade democrática em que vivemos e também da igreja na "sua base popular".
 
Num mundo de sensibilidade democrática, ninguém quer saber de nada a sério. A "afetação infantil" (Bessa-Luís, de novo) nos define. O "povo é sempre lindo e certo!".
 
Na democracia, a soberania do governo emana do povo; daí que achar que o "povo é sempre lindo" é um efeito colateral deste modo da soberania. Logo, todo o mundo só quer agradar, e Bento 16 não quis agradar, quis falar a sério.
 
Sucumbiu às intrigas palacianas, à inércia da estupidez do mundo de ruídos e baladas metafísicas.
 
As pessoas odeiam quem quer falar a sério. Não querem mais um papa, e sim um consultor de sucesso espiritual e Ratzinger não tem vocação para isso.
 
A maioria das pessoas quer apenas comprar, divertir-se, ter uma autoestima alta, gozar livremente, não sentir culpa alguma; enfim, ter uma vida moral de criança de dez anos de idade.
 
Luiz Felipe PondéNem o papa aguentou. Preferiu "fracassar como Sócrates" a vencer como um demagogo feliz. No início da quaresma (período em que devemos refletir sobre nossos demônios), denunciou com sua renúncia o mais velho demônio da igreja: a política.
 
 
 
Luiz Felipe Pondé, pernambucano, filósofo, escritor e ensaísta, doutor pela USP, pós-doutorado em epistemologia pela Universidade de Tel Aviv, professor da PUC-SP e da Faap, discute temas como comportamento contemporâneo, religião, niilismo, ciência. Autor de vários títulos, entre eles, "Contra um mundo melhor" (Ed. LeYa).



(www.folha.com.br/opinião/colunistas/luizfelipepondé/18-02-2013)
18/02/2013 - 03h03

Underwood


sábado, 23 de fevereiro de 2013

Oficina Vênus é pioneira em Pombal-PB na utilização de energia limpa renovável

Como se sabe, a Energia Solar é a designação dada a todo tipo de captação de energia luminosa, energia térmica (e suas combinações) proveniente do sol, e posterior transformação dessa energia captada em alguma forma utilizável pelo homem, seja diretamente para aquecimento de água ou ainda como energia elétrica ou enérgia términa.
 
A radiação solar, matéria prima em abundância no interior da Paraíba, juntamente com outros recursos secundários de alimentação, tal como a energia eólica, produzida no Ceará, e das ondas, hidroeletricidade e biomassa, são responsáveis por grande parte da energia renovável disponível na terra. Entretanto, apenas uma minúscula fracção da energia solar disponível é utilizada.
 
Preocupada com as vantagens do correto uso de energia limpa renovável e ainda com o seu papel frente ao meio ambiente, a Oficina Vênus, localizada em Pombal-PB, é o primeiro estabelecimento comercial a utilizar a Energia Solar em seu estabelecimento. O projeto, realizado em todas as suas etapas pelo jovem José Alves de Araújo Júnior, de 21 anos, natural de Pombal, aqui residente, e impulsionado pelo Sr. Paulo Roberto Benigno da Silva, um dos proprietários do estabelecimento pioneiro, consta com a reunião de três painéis solares com 108 células fotovoltaicas capazes de gerar, durante o dia, cerca de 3360w de energia, o correspondente a capacidade de alimentação de uma geladeira, ou 08 televisores ligados simultaneamentes ou ainda a 20 lâmpadas de 20w.
O custo final dessa primeira fase do projeto, que diga-se, genuinamente realizado em Pombal-PB, inclusive com a confecção dos painéis, ficou em torno de R$ 3.200,00 reais. O curioso é que o jovem José Alves, tem apenas o ensino médio e é calouro do curso de Agronomia na UFCG, Campus de Pombal-PB.
É importante que se frise que a energia solar não polui durante sua produção. A poluição decorrente da fabricação dos equipamentos necessários para a construção dos painéis solares é totalmente controlável utilizando as formas de controles existentes atualmente.
 
Indiscutivelmente a Oficina Vênus parte na frente com o seu compromisso com a produção de energia limpa e se beneficia imensamente de suas vantagens.
 
Além de diminuir o custo com a energia produzida pela concessionária ENERGISA, é importante registrar que os painéis solares necessitam de manutenção mínima.
 
Outros beneficios da produção desse tipo de energia é que os painéis solares são a cada dia mais potentes ao mesmo tempo que seu custo vem decaindo. Isso torna cada vez mais a energia solar uma solução economicamente viável.
 
A energia solar é excelente em lugares remotos ou de difícil acesso, pois sua instalação em pequena escala não obriga a enormes investimentos em linhas de transmissão.
 
Em países tropicais, como o Brasil e em regiões como o interior da Paraíba, a utilização da energia solar é viável em praticamente todo o território, e, em locais longe dos centros de produção energética, sua utilização ajuda a diminuir a demanda energética nestes e consequentemente a perda de energia que ocorreria na transmissão.
 
Nosso reconhecimento e parabéns a Oficina Vênus e a ousadia do jovem José Alves de Araújo Júnior em partir na frente na produção da energia solar em nossa cidade.
 

 
Teófilo Júnior

Fotografia



Humor


O Papa e o meteoro

Ao mesmo tempo em que em Roma o Papa Benedito XVI renunciava ao seu pontificado, na Sibéria caia um meteoro. A renúncia foi um destes fatos que nos surpreende com o passado. E a queda do meteoro desperta temor no futuro. São temores que nos fazem sonhar com notícias que nos surpreendam ao longo da vida futura.
 
Sonho em ler notícia de que a economia é orientada para a redução da pobreza e a construção da igualdade social, com respeito ao equilíbrio ecológico; que o consumo está subordinado ao bem estar, e este à felicidade das pessoas.
 
Sonho em ler a informação de que todas as crianças do mundo estão em escolas com a mesma alta qualidade, e nenhum pai ou mãe no analfabetismo; que a corrupção passou a ser tema limitado a estudo nos cursos de História; e que todos os políticos são comprometidos com utopias, propondo ações para todo o planeta e as próximas gerações.


Gostaria de ver que os principais recursos da Terra passaram a ser regidos por normas do interesse de toda a humanidade e que a água do mar pode ser dessalinizada a baixo custo energético e com a mesma qualidade da água potável.
 
Será muito bom saber que todos os políticos eleitos usam os mesmos serviços públicos de seus eleitores; ter a surpresa de ver os mapas-múndi sem fronteiras separando países, todos integrados em uma mesma comunidade de seres humanos, com os mesmos compartilhados sonhos, e saber da desativação da última arma e do último reator nuclear.
 
Será muito bom saber que os porta-aviões seriam usados apenas para fins turísticos e os bombardeiros para viagens de jovens pelo mundo.
 
Espero me surpreender ao saber da notícia da cura definitiva de todas as formas de câncer; da recuperação ou o atendimento daqueles que têm deficiências; da previsão e cura do mal de Alzheimer; e do envelhecimento sem a perda do vigor, nem da saúde, nem da memória do passado ou dos sonhos para o futuro.
 
Gostaria de ver publicidade de chocolate descafeínado, wisky sem álcool, massa que não engorda, sal que não eleva pressão arterial. No esporte, quero ver um jogador de futebol ainda melhor do que Pelé.


Sonho ver com deslumbrada surpresa a descida do primeiro homem ou mulher em Marte; quero que ainda em minha vida a ciência seja capaz de criar chips injetáveis no cérebro para fazer cada pessoa ler, entender e falar qualquer idioma; quero usar aeroportos sabendo que não há polícia de fronteira, nem revista ou demora na espera.
 
Sonho com acordo dos líderes mundiais para desativar o meteoro que explode dentro da civilização industrial, desigualando a sociedade e depredando a natureza.
 
Ver a notícia de que a tecnologia espacial já dispõe do poder de destruir asteróides a caminho da Terra, garantindo, assim, que a humanidade não terá o destino dos dinossauros e que terá milênios para continuar com boas surpresas, como a de um Papa com dignidade suficiente para abrir mão de seu cargo, nos provocando a lembrar as surpresas do passado e a desejar imaginar sonhos para o futuro.


 
Cristovam Buarque é professor da UnB e senador pelo PDT-DF.

Here it is - Luciana Souza


Pesquisa mostra que 10% dos brasileiros sofrem com suor excessivo

A maior parte das pessoas que sofrem com excesso de suor não sabe que se trata de uma doença.
 
Um levantamento indica que aproximadamente 10% da população rasileira sofre de hiperidrose, doença causada pelo suor excessivo que é agravada pelo estresse. O levantamento também mostra que 71% desse total nunca procurou o médico por isso, o que mostra que a doença não é reconhecida como tal.
 
A pesquisa, feita pelo Instituto Ipsos a pedido da farmacêutica Galderma, foi dividida em duas fases. Na primeira, foram feitas 1.000 entrevistas em 70 municípios das cinco regiões do país, com o objetivo de avaliar a prevalência do problema.
 
Do total de entrevistados, 43% citaram as axilas como áreas do corpo em que o suor está mais presente. E 44% nunca tentaram nenhum tratamento para amenizar o desconforto.
 
Na segunda fase da pesquisa, um levantamento qualitativo foi feito apenas com os indivíduos que sofrem de hiperidrose e suas mães, além de médicos especializados. O resultado é um raio-X do problema no país.
 
"Eu sentia raiva, muita raiva, não entendia como um ser humano podia suar tanto", afirmou um dos jovens ouvidos. As entrevistas mostram como a hiperidrose altera as relações sociais e a rotina das pessoas. Muitas levam roupas no carro ou na mochila para se trocar ao longo do dia.
 
O médico Alexander Filippo, da Sociedade Brasileira de Dermatologia, relata que o problema, de modo geral, tem início na adolescência. Mas a busca por algum tipo de tratamento ocorre mais tarde, entre 30 e 40 anos, quando o excesso de suor começa a afetar o indivíduo profissionalmente.
 
A hiperidrose pode ser causada por fatores genéticos, mas também pode ter relação com outros fatores, como hipertireoidismo e menopausa.
 
Tratamento
 
Um dos tratamentos indicados para hiperidrose é a aplicação de toxina botulínica, a mesma usada para amenizar rugas. A substância bloqueia as terminações nervosas responsáveis pela liberação de componentes que estimulam o suor.
 
A quantidade usada para combater a hiperidrose é maior que a de procedimentos estéticos (o que torna a técnica bem mais cara, também). A aplicação é feita com uso de anestésicos locais para evitar desconforto. A vantagem é que nem sempre é preciso repetir a sessão depois de alguns meses, como ocorre no tratamento de rugas.
 
"Cerca de 70% dos pacientes fazem só uma aplicação e quem repete percebe que o suor diminui de uma para outra", diz Filippo. Segundo o médico, o fato reforça o aspecto emocional envolvido na hiperidrose. "A partir do momento que a pessoa tem segurança que não vai suar tanto, ela realmente sua menos", comenta.
 
Os efeitos colaterais são raros e transitórios: "Se a aplicação for nas mãos, a pessoa pode sentir menos força durante uma ou duas semanas".
 
Em casos mais graves, a hiperidrose é tratada com uma cirurgia, para lesionar o nervo que estimula o suor. Nesse caso, segundo o dermatologista, pode acontecer de o paciente passar a suar mais em outras áreas do corpo.
 
Fonte: UOL

Vida, morte e tempo

Existem certos autores que não perdem a capacidade de falar aos pósteros de forma sempre atual, mesmo que se passem anos. Alguns textos de Machado de Assis e Eça de Queirós, por exemplo, guardam frescor e atualidade, embora tenham sido escritos há mais de um século.
 
Vejo outros escritores portugueses, como Miguel Sousa Tavares, escreverem com mais dependência a seu tempo do que Queirós ou José Saramago – outro que não deve perder o vigor de seus escritos com o passar do tempo.
 
Mais inusitado ainda é ler as cartas do filósofo romano Sêneca enviadas a seu amigo Lucílio durante o século inicial da era cristã. São textos que tratam de temas variados e devem ter sido redigidos entre 63 e 65 d.C. O título das cartas é “Aprendendo a viver” em uma edição da L&PM.
 
Filósofo Sêneca

Em seu manual sobre a vida, Sêneca nos dá grandes lições a respeito de questões essenciais. A primeira delas refere-se ao tempo, tema que muito me agrada. Para Sêneca, é lamentável perder tempo por negligência, já que o tempo que já passou pertence à morte.
 
Em sendo um bem escasso e que não é suficiente nem mesmo para as coisas necessárias, o tempo não deve ser gasto com coisas supérfluas. Para Sêneca, isso é um absurdo. Ele diz ainda que a velocidade do tempo é infinita, em especial quando olhamos para trás.
 
Sempre ouvimos os mais velhos falarem que as coisas acontecem rápido demais e que parece que foi ontem que um filho adulto nasceu ou algo assim. Ao refletir sobre isso, lembro-me que Chico Xavier afirmou que o maior arrependimento dos espíritos no Além é pelo tempo perdido, gasto de forma não relevante.
 
Considerando Sêneca e Chico Xavier, depreendo que o tempo gasto de forma consequente contribui para uma vida melhor após a morte, e que o tempo gasto de forma inconsequente será um peso mais adiante.
 
Enfim, Sêneca considera que o único bem que o indivíduo tem é o seu tempo, que é fugaz e escorregadio. Escorre pelas mãos, como disse Lulu Santos. A solução para lidar com bem tão perecível é lançar-se ao presente e ser menos dependente do amanhã.
 
Penso que lançar-se ao hoje com intensidade e energia é a melhor maneira de fugir da morte. Até mesmo considerando o dia uma pequena vida que deve ser planejada, com seu começo, meio e fim.
 
A questão posta por Sêneca não deve ser considerada uma ode aos workaholics e sim um alerta sobre como devemos usar nosso tempo, hoje. Nem que seja no ócio, ou em leituras, em viagens, no trabalho e nos estudos.
 
Finalizando, com Sêneca: vive quem é útil a si e ao próximo. Aqueles que se entorpecem, ainda que vivos, vivem em casa como se estivessem em sepulturas.
 
Murillo de Aragão é cientista político
 
 
*Do blog do Noblat
Torna-te aquilo que és.
 
 
Friedrich Nietzsche

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Foto Nicolas Henri
 
"... a saudade da vida não é exatamente um sentimento, é uma experiência da alma e do corpo ao mesmo tempo, não pode ser reproduzida a pedido."
 
 
(Paulo Varela Gomes)

Torne-se Oceano

                      Diz-se que, mesmo antes de um rio cair no oceano, ele treme de medo. Olha para trás, para toda a jornada: os cumes, as montanhas, o longo caminho sinuoso através das florestas, através dos povoados, e vê a sua frente um oceano tão vasto que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre.
                      Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar. Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na existência. Você pode apenas ir em frente. O rio precisa se arriscar e entrar no oceano. E somente quando ele entra no oceano é que o medo desaparece, porque apenas então o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano. Mas tornar-se oceano.
                      Por um lado é desaparecimento e por outro lado é renascimento. Assim somos nós. Só podemos ir em frente e arriscar. Coragem !! Avance firme e torne-se Oceano!!!
 
 
 
                      *Autor Anônimo

"Praca"


Sem óleo e sem culpa

Sem chapa, óleo, grelha ou fritura, hamburgueria usa vapor para fazer até petit gateau em São Paulo. Depois de assistirem programa de culinária na TV à cabo, sócios investiram R$ 1 milhão inspirados em lanchonete dos EUA.

 
Sabor sem culpa. Este hambúrguer tem maionese de cerveja, queijo, tomate e cebola. Só que ele não é frito. É cozido no vapor. Nova lanchonete em SP aboliu a fritura e montou um cardápio com dez opções de lanches, além de batatas. Tudo no vapor!
 
Quem sabe não abro uma franquia por aqui.
 

 

 
Reblogged from chimera-silente
Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar.
 
 

Eleições unificadas

Quase todo líder político tem em mente sua reforma política ideal. O mesmo vale para a imprensa, a academia, os partidos e as organizações representativas. Em cada pauta dentro desse tema, um emaranhado de sugestões se soma.
 
Muitas polêmicas se abrem. Há teses para todos os lados — em grande parte, plausíveis. Porém, essa vastidão de ideias e meandros que o assunto desperta é um dos muitos motivos pelos quais a dita reforma não avança.
 
Trata-se de um jogo de interesses e opiniões que, de tanto ir e vir, acaba gerando imobilismo. Há unanimidade nas intenções globais, mas uma completa divergência no plano das ações. Muito se fala, pouco se faz. Muito se diagnostica, pouco se cura ou remedia. Cada um puxa para um lado. E tudo fica como está.
 
A experiência no cotidiano do Congresso Nacional mostra que, ao menos no curto prazo, não há sinal para que esse quadro mude. Não é perceptível uma mobilização consistente para mexer estruturalmente nas regras do jogo político, o que é lamentável. Todavia, em vez de esmorecer, precisamos ser realistas e fazer tudo o que é possível diante das condições postas.

Do relatório apresentado pelo deputado Henrique Fontana, uma proposta tem margem para acolhimento praticamente unânime: a unificação das eleições.
 
Claro que essa mudança não vai transformar a realidade política brasileira por inteiro, mas ela tende a impulsionar um ciclo de outras boas transformações — especialmente em relação ao quadro partidário.
 
Quem viveu as eleições municipais sabe do que estou falando. Todas as siglas, sem exceção, precisaram adaptar seus discursos para cada quilômetro percorrido.
 
As coligações foram as mais variadas possíveis ao longo do território nacional. A configuração atual respeita a autonomia local para decidir, o que é compreensível, mas não ajuda a criar uma identidade nacional para os nossos partidos.
 
Essa tendência conduz à redução do papel das agremiações partidárias, que ficam submetidos tão-somente à abordagem de assuntos de pequeno alcance, localistas.
 
Claro que nossos partidos precisam e devem ter essa organicidade municipal, mas também precisam ter identidade e potência nacional. Precisam ser um organismo em que pessoas se unem em torno de ideias e programas.
 
A eleição unificada num só dia — de vereador a presidente da República — tende a exigir esse aprimoramento da coerência partidária, indo ao encontro de um dos anseios da sociedade em relação aos políticos e às agremiações. Reduz os gastos fantasticamente e permite continuidade e sintonia administrativa por um prazo maior.
 
Não creio que vá desmerecer o pleito municipal. Pelo contrário: o debate tende a elevar as pautas municipalistas, bem como ampliar a importância dos gestores e parlamentares locais. Tudo isso se agrega a um conjunto de partidos mais fortes e com maior participação da sociedade.
 
É, portanto, uma mudança plausível, possível e viável. Para agora.
 
Beto Albuquerque é deputado federal (RS) e líder do PSB na Câmara.
 
 
O Globo

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Utilidade pública

Pescado do sete candeeiros cajá

Violência nos EUA cria mercado de materiais escolares blindados

Mochilas estampadas com imagem de princesas ou de super-heróis fazem parte da rotina de qualquer escola, seja aqui no Brasil ou em qualquer outro país. Mas, nos Estados Unidos, onde sucessivos massacres com armas de fogo em instituições de ensino deixam pais, professores e alunos cada dia mais acuados, modelos semelhantes têm agora um diferencial assustador: a blindagem.
 
De olho no filão surgido com o aumento da violência, pelo menos meia dúzia de empresas americanas estão produzindo materiais escolares à prova de balas. Uma delas, a Amendment II, anunciou que as vendas triplicaram após a tragédia ocorrida em dezembro de 2012, na cidade de Connecticut, quando um jovem de 20 anos matou 26 pessoas dentro de uma escola primária.
 
O Globo

E Yoani enfim chegou

Hoje ela é notícia de primeira página, mas há quatro anos, quando perguntei num artigo, “Vocês conhecem Yoani?”, pouca gente aqui sabia que ela já era uma das 100 personalidades mais influentes do mundo, segundo a revista “Time”. Que seu blog “Geração Y” ganhara prêmio no exterior como um espaço em defesa da livre expressão. E que por isso, e porque tinha quatro milhões de acessos por mês, era perseguido pelo governo de Fidel Castro.
 
A ironia é que o nome era uma herança da influência soviética na Ilha. Segundo a blogueira, a URSS deixara muito pouco, além de carros caindo aos pedaços e de nomes como o dela, começados por ípslon: Yaslis, Yanisleidi, Yoandri, Yusimí, Yuniesky. Eram jovens nascidos em Cuba nos anos 70 e 80, marcados “pela emigração ilegal e frustração”. Foi com essa tribo “cética e descrente do regime” que ela passou a dialogar.
 
No começo, “Geração Y” era um exorcismo pessoal para expulsar os “demônios da apatia, da dor moral, do medo”. Só que esses demônios habitavam milhares de outros espíritos e, aos poucos, o espaço se transformou numa “praça pública virtual onde há de tudo, gritos, insultos, discussões”. Yoani usa o verso de uma banda de rock local para se definir: “Eu não gosto de política, mas ela gosta de mim.”
 
Já que em Cuba “até respirar é um ato político”, o seu blog acabou tendo essa função de desabafo, de versão não oficial do cotidiano e suas mazelas, tais como racionamento, baixo padrão de vida, controle de comportamento, corrupção, mercado negro. Acusada por uns de ser agente da CIA e por outros de, no fundo, favorecer o governo mostrando que em Cuba os dissidentes podem se manifestar, Yoani Sánchez pagou caro por sua insubordinação intelectual: foi difamada, perseguida, presa e proibida de viajar.
 
“Durante seis longos anos tentei 20 vezes sair do meu país de forma temporária e recebi sempre a mesma resposta: a senhora não está autorizada a viajar”, declarou, já no Brasil, onde iniciou uma viagem por vários países da Europa e da América.
 
Não foi um começo fácil. Além da denúncia de “Veja”, de que há uma “conspiração cubano-petista” para “desmascarar” a blogueira, ela foi alvo em Pernambuco e Bahia de um pequeno grupo de militantes de esquerda, que a recebeu com xingamentos de “traidora” e violência (chegaram a puxar-lhe os cabelos).
 
Em vez de reclamar dos furiosos protestos que a impediram até de falar, ela deu uma lição de tolerância democrática, preferindo ver no episódio, que em Cuba só é possível quando a favor do governo, uma manifestação de liberdade de expressão a ser comemorada e desejada: “Quero essa democracia no meu país.”
 
Zuenir Ventura é jornalista
 
 
O Globo