segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Nacional de Pombal perde a invencibilidade para o Cruzeiro de Itaporanga

"Quem não faz, leva!" Nunca essa assertiva esportiva esteve tão presente e verdadeira quanto na tarde do último domingo (30) no estádio de futebol "O Perpetão".  O Nacional de Pombal enfrentando o Cruzeiro de Itaporanga pela segundona na cidade de Cajazeiras dominou o adversário durante toda a partida, principalmente após a justa expulsão de um dos zagueiros da equipe de Itaporanga.

Inúmeros gols foram desperdiçados pelo Naça que não sentiu a falta do seu lateral Jaime e do volante de contenção Fernando que não participaram do jogo por cumprir suspensão. 

O Camaleão do Sertão foi sempre superior durante todos os 90 minutos mas não foi competente o suficiente para colocar a bola no gol. Nem mesmo com a entrada do centroavante Jessui, no final do segundo tempo, o alviverde modificou o placar. 

No finalzinho do jogo, num lance despretencioso, o Cruzeiro marcou o seu gol terminando por vencer o Nacional por 1 x 0. 

Na próxima quarta (02) o Camaleão verde volta a campo para enfrentar a forte equipe do Paraíba de Cajazeiras no estádio "O Pereirão", pelas 15h15min. 

Teófilo Júnior

Marina Elali

Humor: Pixuleco operado com sucesso

Leitores informam que, cansado de esperar na fila do SUS, o Pixuleco pediu para ser transferido para o Hospital Sírio-Libanês, onde sofreu uma cirurgia de emergência.
"Coisa de Primeiro Mundo", declarou o Pixuleco após a intervenção.
Um médico fez a foto.

O Antagonista

Agrônomo declara que Sousa só tem água para mais 15 dias, afirma que volume do Boqueirão acaba este ano e dispara: Inverno só em 2025

Segundo o engenheiro, a situação de Boqueirão é crítica e o racionamento em Cajazeiras deveria ter sido iniciado há dois anos. Vídeo!
O engenheiro agrônomo, Adalberto Nogueira criticou a visita realizada esta semana ao Açude de Engenheiro Ávidos(Boqueirão) e disse que a ANA (Agência Nacional das Águas), Aesa (Agência Executiva de Gestão das Águas da Paraíba) e outros órgão responsáveis pela água esperaram o manancial chegar quase ao nível morto para tomar alguma providência para Cajazeiras.

Segundo Adalberto, a situação agora é crítica e o racionamento deveria ter sido iniciado há dois anos. 

O engenheiro alertou que o açude de São Gonçalo só tem água para abastecer Sousa por mais 15 dias e disse que o manancial de Boqueirão deve chegar ao seu volume morto no mês de dezembro deste ano. 

Para piorar a situação, Adalberto informou que só deve haver inverno no ano de 2025. “Para Boqueirão sangrar precisa haver um inverno excepcional”, disse ele.

Com relação a obra da Transposição do Rio São Francisco, considerada por muitos como a salvação dos nordestinos, Adalberto declarou que ás aguas não poderão descer nos rios da região sem que haja o saneamento certo nas cidades.


São os pequenos brilhos que encantam, os holofotes cegam

Clarice Lispector

Frase

Temos de lutar por partidos republicanos, onde ninguém é mais que ninguém e os dirigentes aprendem a viver como a maioria do país, e não como a minoria. Há gente que gosta muito de dinheiro, então que vá para o comércio, para a indústria, que multiplique a riqueza e que pague impostos

JOSÉ MUJICA, EX-PRESIDENTE DO URUGUAI

domingo, 30 de agosto de 2015

Hora do lanche

Rapa de queijo com doce de gergelim (espécie)

O dia da abolição

Em 1888, dias antes da assinatura da Lei Áurea, o pai de Lima Barreto, que era funcionário público, chegou em casa e disse ao filho: “A lei da Abolição vai passar no dia dos teus anos.”  O que de fato aconteceu (Lima nascera em 13 de maio de 1881). O escritor estava na multidão diante do Paço Imperial, que aos seus olhos tinha a altura de um “sky-scraper” (ainda não tínhamos inventado o termo “arranha-céu”). Viu falar um homem, muito aplaudido, mas não tem certeza se era José do Patrocínio.

Diz ele: “Havia uma imensa multidão ansiosa, com o olhar preso às janelas do velho casarão. Afinal a lei foi assinada e, num segundo, todos aqueles milhares de pessoas o souberam. A princesa veio à janela. Foi uma ovação: palmas, acenos com o lenço, vivas... Fazia sol e o dia estava claro. Jamais, na minha vida, vi tanta alegria. Era geral, era total; e os dias que se seguiram, dias de folganças e satisfação”.

Ele lembra também a missa campal celebrada no Campo de São Cristóvão, quando então viu a princesa imperial mais de perto. Ela lhe pareceu “loura, muito loura, maternal, com um olhar doce e apiedado”.  Recentemente circulou nas redes sociais uma foto dessa comemoração em São Cristóvão, onde a princesa aparece cercada de autoridades, e muita gente viu num dos homens à sua volta o rosto de Machado de Assis.

É interessante ver as impressões de um dos nossos primeiros grandes escritores negros sobre este dia. Lima as escreveu num artigo de 1911 (republicado em Um Longo Sonho do Futuro, Graphia, 1993), e diz, com certa candura: “Eu tinha então sete anos e o cativeiro não me impressionava. Não lhe imaginava o horror; não conhecia a sua injustiça. Eu me recordo, nunca conheci uma pessoa escrava. Criado no Rio de Janeiro, na cidade, onde já os escravos rareavam, faltava-me o conhecimento direto da vexatória instituição, para lhe sentir bem os aspectos hediondos”.

Ele lembra a alegria da criançada no colégio em que estudava, à Rua do Resende: “Com aquele feitio mental de criança, só uma coisa me ficou: livre! livre! Julgava que podíamos fazer tudo que quiséssemos; que dali em diante não havia mais limitação aos propósitos da nossa fantasia. Parece que essa convicção era geral na meninada, porquanto um colega meu, depois de um castigo, me disse: Vou dizer a papai que não quero mais voltar ao colégio. Não somos todos livres?”

As grandes agitações políticas têm esse poder de nos jogar na euforia, quando na verdade temos apenas a ideia mais superficial e enganosa sobre o que de fato está acontecendo. As ilusões passam, mas se a alegria foi grande, a lembrança dela é o que fica. Não se cancelam as alegrias retroativamente.

Bráulio Tavares 

A mulher que passa

Meu Deus, eu quero a mulher que passa.
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!

Oh! Como és linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!

Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pêlos são relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania.

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!

Como te adoro, mulher que passas
Que vens e passas, que me sacias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Por que me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me encontravas se te perdias?

Por que não voltas, mulher que passas?
Por que não enches a minha vida?
Por que não voltas, mulher querida
Sempre perdida, nunca encontrada?
Por que não voltas à minha vida
Para o que sofro não ser desgraça?

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Eu quero-a agora, sem mais demora
A minha amada mulher que passa!

No santo nome do teu martírio
Do teu martírio que nunca cessa
Meu Deus, eu quero, quero depressa
A minha amada mulher que passa!

Que fica e passa, que pacifica
Que é tanto pura como devassa
Que bóia leve como cortiça
E tem raízes como a fumaça.

Vinicius de Moraes

"Pracas"






Frase

É impressionante o clima de intolerância e ódio que a divergência política inoculou nas relações entre amigos, parentes e colegas de profissão. Na internet, os iracundos não rebatem uma opinião, preferem ofender o autor. E tudo a pretexto de resolver a crise e salvar o país.

ZUENIR VENTURA, JORNALISTA

sábado, 29 de agosto de 2015

Drumundana

e agora maria?

o amor acabou
a filha casou
o filho mudou
teu homem foi pra vida
que tudo cria
a fantasia
que você sonhou
apagou
à luz do dia

e agora maria?
vai com as outras
vai viver
com a hipocondria
Nota: Paródia do poema “José”, de Carlos Drummond de Andrade.

Alice Ruiz 

Charge



Carta de Washington: O risco mora ao lado

No Brasil, de forma geral, o crime vem daquele que assalta, estupra ou mata em troca de algo material. Já aqui nos Estados Unidos, enquanto esses crimes acontecem num número bem menor, o risco pode morar ao seu lado. A morte de uma repórter e de um cinegrafista de uma rede de TV americana por um ex-colega de trabalho deles reacendeu aqui nos Estados Unidos uma polêmica bastante recorrente: a facilidade para se ter arma no país.
Nos telejornais daqui não são raras as notícias de um fulano que entrou numa escola e matou a esmo meia dúzia de crianças; de beltrano que invadiu um prédio comercial e tirou a vida de vários ex-colegas de trabalho ou de um sicrano que sacou uma arma dentro do metrô, matando um punhado de passageiros.
Obviamente que por trás desse cenário existe uma complexa questão cultural da qual não tenho conhecimento suficiente para discutir. Mas há também um peso muito grande no fato de ser tão fácil ter uma arma nos Estados Unidos.
Essa facilidade não vem de hoje. A Segunda Emenda à Constituição dos Estados Unidos, de 1791, protege o direito do povo de manter e portar armas. Cada estado americano tem suas regras específicas, mas em muitos deles qualquer pessoa pode pedir e obter o direito de portar arma.
Aqui em Washignton, por exemplo, o Conselho Municipal aprovou, em setembro do ano passado, uma medida permitindo a posse e o porte de arma tanto por residentes quanto por visitantes. Ela derrubou uma regra antiga, de 1970, que proibia a posse de armas na capital americana.
Os números são estarrecedores. Dos 50 estados americanos, 30 permitem o porte de arma sem a necessidade de qualquer tipo de licença. Outros 14 estados permitem, mas somente perante uma licença e apenas em 6 deles o porte é proibido.
Outros dados comprovam como esse cenário armamentista é amplamente apoiado pela população. Hoje, estima-se que 43% das casas americanas têm pelo menos uma arma de fogo e que cerca de 90 milhões de cidadãos possuem algum tipo de arma de fogo. Uma pesquisa realizada o ano passado revelou também que apenas 26% dos americanos entrevistados defendiam a proibição do porte de armas no país, enquanto no início da década de 60, esse percentual chegou a ser de 60%.
As regras com relação ao uso de armas são tão surpreendentemente brandas que até as crianças podem manuseá-las. Eu vi um programa de TV esta semana que mostrava crianças entre 8 e 10 anos fazendo curso em diversos clubes de tiro.
Agora, eu me pergunto: faz algum sentido um americano poder beber apenas a partir dos 21 anos, enquanto uma criança com menos de 10 anos pode perfeitamente treinar sua pontaria com um revólver de verdade? Isso é no mínimo um contra-senso. No frigir dos ovos as leis americanas dizem que é muito mais perigoso para a sociedade um recém adulto tomar uma cerveja do que uma criança aprender a atirar.
A despeito de toda segurança que se tem morando nos Estados Unidos, confesso que é bastante esquisito você não saber de onde pode surgir o perigo. Sei que parece exagero, mas o grande risco da sua vida pode perfeitamente ser o seu vizinho de porta que, munido de sua arma doméstica, pode resolver te dar um tiro no elevador só porque teve um dia ruim de trabalho.
Daniele Camba

Psicologia da mentira

Um relatório do Comitê de Inteligência do Senado americano, de dezembro de 2014, revelou que dois psicólogos ajudaram a desenvolver métodos de “interrogatório forçado” da CIA. Eles recorreram à teoria de desamparo aprendido, do psicólogo Martin Seligman, para embasar práticas controversas, como afogamento simulado e privação de sono – algo que o próprio Seligman repudiou.

Além de moralmente condenáveis, técnicas que usam força e intimidação não funcionam. “As táticas mais eficazes dependem da cooperação, que pode ser facilitada por princípios da influência social, o que sabemos ser bastante efetivo”, diz o psicólogo Christian Meissner, da Universidade do Estado de Iowa, que estuda técnicas de inquérito.

Se respeitarem determinadas condições, sendo a principal “não causar sofrimento”, psicólogos podem auxiliar num interrogatório, segundo a Associação Americana de Psicologia (APA). Como, então, extrair uma confissão sem violência?

Em 2009, o presidente Barack Obama criou uma equipe de elite formada por psicólogos cognitivos e sociais, linguistas e outros especialistas, o Grupo de Interrogatório de Detentos de Alto Valor (HIG, na sigla em inglês). Meissner, que é líder do projeto, divulgou os resultados de suas experiências numa edição especial da Applied Cognitive Psychology. Não só é possível conduzir inquéritos respeitando a dignidade como sua eficácia é comprovada.

A seguir, algumas das estratégias usadas para identificar narrativas falsas e induzir uma pessoa a se expressar de forma mais honesta.

1. Estimular a cooperação.
De acordo com os pesquisadores, um investigador que demonstra empatia tem mais chances de sucesso que um que se apresenta de forma fria e acusatória. Muitas técnicas descritas no artigo dependem de uma postura solidária – de fato, é o começo. “A primeira coisa a fazer é desenvolver a cooperação do suspeito”, argumenta Meissner. Só depois disso, a pergunta é: “Como obter as informações possíveis e necessárias?”.


2. Preencher lacunas.
Falar sobre algo que a pessoa fez – e induzi-la a acreditar que a verdade já foi descoberta – é mais eficaz que questionamentos diretos. De acordo com Meissner, o interrogado tende a corrigir alguns pontos e a fornecer detalhes enquanto ouve a narração. A técnica chamada por especialistas de Scharff, em referência ao interrogador alemão da Segunda Guerra Mundial, demonstrou ser mais efetiva para obter dados do que perguntas. Pessoas interrogadas com o método costumam subestimar a quantidade de informações que estão revelando.


3. Surpreender. A pessoa que está mentindo geralmente tende a antecipar as respostas. Além disso, a mentira demanda uma grande tensão cognitiva para sustentar a história de forma linear e manter o equilíbrio emocional. Uma pergunta totalmente inesperada pode, assim, confundir o interrogado e induzi-lo a entregar informações contraditórias.

4. Perguntar a história de trás para a frente.
Ao contrário do que muitos imaginam, quem fala a verdade é mais propenso a adicionar detalhes e rever os fatos ao longo do tempo, enquanto os que mentem tendem a manter a mesma narrativa. “A inconsistência é um aspecto fundamental da memória”, diz Meissner. Os interrogadores usam uma técnica chamada por especialistas de cronologia reversa (em que a pessoa é solicitada a contar os eventos de trás para a frente) para tirar proveito dessa peculiaridade. A estratégia tem um efeito duplo: os que falam a verdade costumam se recordar mais facilmente – em outro estudo feito pelo HIG, o método ajudou a obter duas vezes mais detalhes do que o discurso tradicional. Para os que mentiam, porém, a cronologia reversa dificultou a narrativa; estes mostraram maior tendência a simplificar a história.


5. Revelar as evidências no último momento.
Pessoas que participaram de um estudo feito em março de 2015 se recusaram a falar quando confrontadas com provas potenciais de sua culpa logo no início da entrevista. Em geral, adotavam uma postura silenciosa e agressiva ou caíam no choro. Em vez de buscar desestruturar o suspeito, os pesquisadores recomendam o caminho do meio: aludir à prova sem fazer nenhuma acusação direta num primeiro momento (de forma a tentar angariar mais informações enquanto ele ainda não se sabe acusado) e revelar as evidências mais tarde.


Esta matéria foi originalmente publicada na edição de Agosto de Mente e Cérebro, disponível na Loja Segmentohttp://bit.ly/1ORuiNB

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Nacional de Pombal 2 x 1 Paraíba de Cajazeiras

O Nacional de Pombal continua invicto no Campeonato Paraibano da 2ª Divisão. Na noite da última quinta-fera (27) o Camaleão do Sertão venceu o Paraíba por 2 x 1 em pleno Estádio "O Perpetão" na cidade de Cajazeiras. Com o resultado, o alviverde pombalense assumiu a liderança isolada do grupo II do Sertão.

Jogando fora de casa, o Naça marcou os dois gols através de jogadas de bola parada, um em cada tempo de jogo. O primeiro, marcado pelo volante Fernando logo aos 14 minutos do tempo inicial da partida após uma cobrança de falta. Já o segundo gol, aos 15 minutos da etapa complementar, foi marcado pelo zagueiro Luciano Tandera aproveitando uma jogada ensaiada colocando a bola, de cabeça, para o fundo das redes adversária. Já o Paraíba de Cajazeiras marcou a um minuto do segundo tempo através do atacante George.

O Nacional, teve expulso ainda os atletas Fernando e Jaime que desfalcarão o alviverde no próximo domingo contra o Cruzeiro de Itaporanga fora de seus domínios. 

Teófilo Júnior 

Vinho branco

Aprendi a beber vinho branco com Rosana, domingos à tarde, quando a gente ficava namorando na sala, na casa dela. Agora não tenho bebido, que o preço anda terrível. Vinho branco e poesia. Tenho bebido a última, que também embriaga. E lembrado as músicas que ouvíamos nos longos domingos. Longos agora, naquele tempo voavam. Bebe em golinhos — ela dizia. O segredo das boas coisas está em senti-las devagar, degustando. O amor é assim também. Não ter pressa. Percorrer o corpo com paciência budista. Se tinha sexo? E não era sexo os olhares carregados de desejo? Não era sexo os beijos molha dos, de língua? Não era sexo o contato, o sentir o corpo sob as roupas? Não era sexo o tocar a face com a mão trêmula?

Queria ter agora, ao lado da máquina, um copo de vinho branco. Queria o corpo de Rosana, nu, sobre a cama. Não ia escrever, ou talvez escrevesse uma outra história, melhor, sem rodeios e lugares-comuns.

Não tenho vinho branco, e nem Rosana. Mas tenho a certeza de que a terei, não desisto assim tão fácil.

Devia descrever a cena ridícula em que o pai de Rosana mandou que me retirasse de sua casa etc. Não quero mexer em feridas. Foi há um ano, e não houve tragédia. Ele simplesmente exerceu o seu poder de pai, de proprietário da filha, de dono de seu destino. Meteu-a no carro e levou-a a Porto Alegre.

Fui pra casa e fiz aquela bobagem que já falei, aquela besteira de meter a gilete no pulso. Coisa de idiota. Puxa vida! Quem ia mesmo sair perdendo teria sido eu, que, morto, não ia nunca mais ver a Rosana. É que pensei apenas na minha dor, no meu sofrimento, fui um tremendo individualista, ela também estava sofrendo, aquilo não foi uma coisa justa da minha parte, mas não é bom ficar falando disso, por que o que passou é morto, acabou.


Charles Kiefer

Dá série "eu li o livro de história 3"

ONTEM, nos livros, o registro

Petistas - em 2002quando estavam, ainda, soltos ou sem ameaça de prisão - promoviam importante campanha na TV. Ali, ratos surgiam de um buraco em busca de destruir, roendo, a bandeira brasileira. Em áudio, a voz severa do locutor dizia: "ou a gente acaba com eles, ou eles acabam com o Brasil". Enquanto isto, os ratos furtavam a bandeira. Tempos memoráveis de esperança. Todos nos embalamos na mensagem certeira contra a corrupção. 


HOJE, para os livros do futuro

Petistas - presos ou, ainda, soltos, mas sob concreta ameaça de prisão - se enfronharam na própria corrupção e - enquanto foi possível imaginar que o povo brasileiro era completamente imbecil - tentaram transformar criminosos comuns (e condenados sob regime democrático) em "heróis do povo brasileiro"!

A História, certamente, exprimirá o escárnio petista à inteligência nacional. 


Fonte e créditos: http://blogsetecandeeiroscaja.blogspot.com.br/
Eu não sei 
qual é o motivo dessa supervalorização da racionalidade. 
Os pássaros só são livres porque podem voar. 
A liberdade é, justamente, 
a incapacidade de se perceber as limitações. 
Nós, humanos, 
aprisionamo-nos em caixas de ferro,
 casas de cimento e mil e uma desculpas. 
Tornamo-nos prisioneiros de nós mesmos
 porque podemos racionalizar os riscos,
 porque sabemos calcular velocidade média 
quando vamos atravessar as ruas,
 porque sabemos 
que se saltarmos de um precipício 
iremos encontrar a solidez do chão.

Frida Kalo

Alma errada

Há coisas que a minha alma, já mortificada não admite:
assistir novelas de TV
ouvir música Pop
um filme apenas de corridas de automóvel
uma corrida de automóvel num filme
um livro de páginas ligadas
porque, sendo bom, a gente abre sofregamente a dedo:
espátulas não há... e quem é que hoje faz questão de virgindades...
E quando minha alma estraçalhada a todo instante pelos telefones
fugir desesperada
me deixará aqui,
ouvindo o que todos ouvem, bebendo o que todos bebem,
comendo o que todos comem.
A estes, a falta de alma não incomoda. (Desconfio até
que minha pobre alma fora destinada ao habitante de outro mundo).
E ligarei o rádio a todo o volume,
gritarei como um possesso nas partidas de futebol,
seguirei, irresistivelmente, o desfilar das grandes paradas do Exército.
E apenas sentirei, uma vez que outra,

a vaga nostalgia de não sei que mundo perdido...

Mário Quintana

Fagner e Jorge de Altinho


Jorge de Altinho e Fagner - Icones do Nosso Nordeste eitxa Forrozão Pense!
Posted by Edilson O Imortal Do Forró on Sexta, 14 de novembro de 2014

Frase

Concordo que a Petrobras foi e é alvo de um megaesquema de corrupção, um enorme esquema de corrupção. Eu, com 31 anos de Ministério Público, jamais vi algo precedente. Esse esquema de corrupção chegou a roubar nosso orgulho. Por isso que a gente investiga a fundo

RODRIGO JANOT, PROCURADOR GERAL DA REPÚBLICA

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Versículo do dia

Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.
Mateus 7:21
- De que vale a oração se você não vive a sua fé?

A nossa vitória de cada dia

Olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceite o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. 


Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer a sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar a nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe. 



Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer «pelo menos não fui tolo» e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia. 

Clarice Lispector, in 'Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres'

"Não há nada impossível há só vontades mais ou menos enérgicas."

Júlio Verne 

Você sabia?

Além de saboroso e uma ótima alternativa para adoçar bebidas e alimentos, o mel também ajuda a melhorar o humor. Isso porque ele contém minerais como o potássio, que tem ação antidepressiva, e o cálcio, que ajuda a acalmar.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Natalia chega a si

Vivemos um tempo de narrativas forçadas. Relatos artificiais, escritos para cumprir fórmulas, para conquistar vantagens ou para responder às expectativas alheias. São projetos que só levam ao fracasso e mais a lugar algum. Lentamente, maldosamente, eles debilitam a literatura. Por isso me reconforta muito ler “O meu ofício”, o mais inspirado capítulo de "As pequenas virtudes", coletânea de onze textos breves da italiana Natalia Ginzburg (Cosac Naify, tradução de Maurício Santana Dias).
Natalia (1916-1991) não nos oferece fórmulas mágicas. Tampouco esboça qualquer caminho de salvação. O comovente em “O meu ofício” é que tudo o que ela escreve é muito simples. Mas é justamente por isso que espanta e surpreende. Sabe Natalia que um escritor deve se preocupar apenas consigo mesmo. Fugir de modelos, de ideais, de aprovação. “Quando escrevo, nunca penso que talvez haja um modo correto do qual os outros escritores se servem”, ela diz. “Não me importa nada o modo como os escritores fazem”.
Centrada só nas coisas que tem a dizer, é assim que Natalia nos diz grandes coisas. Recorda que, em um período no qual tentou escrever ensaios de crítica ou artigos de encomenda “a coisa saía bem ruim”. Não é que a escrita se assemelhe à navegação em um barco desgovernado. Não é isso. Acontece que só o escritor pode descobrir sua direção e seu destino. Só ele deve inventá-los — e mais ninguém. Às vezes parece tolice. Outras vezes, simples demais. Nada disso importa. Importa que seja escrito com verdade. Importa que um escritor não traia a si mesmo, nem se desvie daquilo que ele é.
Antes de inventar, um escritor deve aceitar. Durante um tempo, Natalia cismou de escrever poesia. Ainda não entendera que errara de ofício — que seu destino era a prosa, e não o verso. Escrever poemas lhe parecia fácil. Mas “quando os mostrava a meus irmãos, eles davam risinhos e me diziam que seria melhor se eu estudasse grego”. Ainda assim, se agarrava à poesia. Na escola, em vez de estudar grego, ou latim, ou matemática, passava os dias escrevendo versos, “sofrendo muito e me sentindo uma exilada”. Custou a entender que, escrevendo poesia, estava exilada de si mesma.
Quando escreveu o primeiro conto, teve o sentimento de que experimentava um milagre. “As palavras e frases de que me servira foram pescadas assim, ao acaso: era como se eu tivesse um saco e fosse tirando dele ora uma barba, ora uma cozinheira negra, ou outra coisa que se pudesse usar”. Agora a escrita deixava de ser um jogo para se transformar em um destino.
Aos poucos, contudo, Natalia se encontrou com o oposto dessa alegria: defrontou-se com a solidão do escritor. Nas horas em que ele escreve, “tudo se distancia e some e ele está só com a sua página, nenhuma felicidade ou infelicidade pode subsistir nele se não estiver estritamente ligada a essa página”. Sustentar a própria voz exige uma imensa solidão. Naqueles momentos, é como se o resto do mundo desaparecesse e restasse só aquela folha de papel. O escritor precisa suportar o sentimento de que “não possui outra coisa nem pertence a ninguém e, se não for assim, então é sinal de que sua página não vale nada”.
Durante um tempo, lutando para se poupar da dor da escrita, Natalia passou a andar com caderninhos em que anotava as ideias que lhe surgiam. Aos poucos compreendeu que os cadernos se tornavam só “uma espécie de museu de frases”, já que nada daquilo era usado depois. “Compreendi que não existe poupança neste meu ofício”, ela diz. O escritor deve ter a coragem de escrever com as mãos vazias. Só com as mãos vazias ele pode, enfim, ceder espaço à fantasia. “Se alguém escreve um conto, deve por dentro dele o melhor que possui”.
Ensina Natalia que um escritor deve fugir do excesso de caracterizações — dos “fantoches” — para chegar a construir personagens verdadeiros. “Na época eu não entendia que não se tratava mais de personagens, mas de fantoches, muito bem pintados e semelhantes a homens de verdade, mas fantoches”. Foi muito difícil para ela se livrar dos clichês, das representações falsas, dos simulacros. Com eles, a escrita parecia avançar, quando na verdade retrocedia. Foi difícil descobrir que, com esses excessos, fazia uma ficção morta. “Levava cá dentro um fardo de coisas embalsamadas, faces mudas e palavras de cinza”, descreve.
Precisou, então, de um período de desconfiança, quando se tornou mãe e passou a dar mais importância aos filhos do que à escrita. “As crianças me pareciam algo muito importante para que eu me desviasse atrás de estúpidas histórias”, relata. Apesar disso, secretamente, a literatura resistia dentro dela — e resistia porque não era uma afetação, ou uma pose, mas era verdadeira. Nessas horas, “sentia uma feroz nostalgia e às vezes, à noite, quase chorava ao lembrar como meu ofício era belo”. A lembrança da beleza limpou seu horizonte dos exageros e das ênfases. Antes de voltar a escrever, precisou também livrar-se do desejo de “escrever como homem”. Precisava partir de si mesma, ou não escreveria nada que prestasse.
Também entendeu que é difícil escrever com alegria. A literatura sempre dói. O que falta aos escritores quando eles são felizes é “uma relação íntima e terna com nossos personagens, com os lugares e as coisas que contamos. O que nos falta é caridade”. Isto é: compaixão. Aprendeu ainda a considerar os efeitos do real sobre a escrita. Como é real nunca é simples, como ele é confuso e complexo, resulta que “a beleza poética é uma mistura de crueldade, de soberba, de ironia, de ternura carnal, de fantasia e de memória”. Só impregnado dessa mistura que caracteriza a realidade um escritor está pronto para começar.
A última coisa com que um escritor deve se importar, nos diz Natalia ainda, é com o valor do que escreve. Não existem promessas, não existem garantias. As medições e pesagens são inúteis. Um escritor, ela diz, deve aceitar seu tamanho e não se deixar afetar por isso. Confessa: “Há um cantinho de minha alma onde sempre sei muito bem o que sou, isto é, uma pequena, pequena escritora. Juro que sei. Mas não me importa muito”.
José Castello

Textos apócrifos na internet. Uma brincadeira de mau gosto com Clarice Lispector

Outro dia publiquei aqui no blog um poema (Não te amo mais) cuja autoria é atribuída a Clarice Lispector. A nossa cuidadosa amiga Marisa Bello, atenta à questão, suscitou o artigo da Betty Vidigal em que traz dúvida sobre a suposta autoria desse poema.

Abaixo, a íntegra do artigo: 

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Trata-se de uma brincadeira engenhosa, embora mal redigida: um “poema” – assim o chamam os remetentes – cujo sentido se altera drasticamente quando lido de baixo para cima. 

A rigor, não se pode dizer que seja um poema. É apenas um texto dividido em algumas linhas. Mas, por assim estar dividido e por falar sobre amor, acreditam alguns que se trate de um “poema”. 

Se esse fosse o único equívoco, seria até divertido. Apesar dos erros de sintaxe, o texto tem o mérito de ser surpreendente. Quem o envia, no entanto, não se contenta com surpreender. A piadinha chega acompanhada de comentários sobre sua “alta qualidade literária” . E pior: garantem, hoje, que foi Clarice Lispector quem a perpetrou.

Essa de atribui-la a Clarice é novidade. Na primeira vez em que recebi esse e-mail, há uns quatro anos, a autoria vinha imputada a “autor desconhecido”. Como achei engraçado e original, consertei as frases, deixando-as mais corretas e mais coloquiais, e passei o brinquedo adiante. 

Ao longo dos anos seguintes, ele voltou a aparecer algumas vezes em minha caixa de entrada – sem as correções que fiz, o que mostra que essas alterações não “pegaram”. E, de dois anos para cá, tem circulado, sabe-se lá por que, como sendo de autoria de Clarice. 

Agora os enviadores de e-mails não falam mais das características histriônicas daqueles “versos”. Em vez disso, tecem elogios ao talento literário de quem os escreveu e à beleza da língua portuguesa, que permite tais malabarismos – como se eles não fossem possíveis em qualquer língua. 

Aí vai o poemeto objeto destes comentários. Não separo aqui os versos por barras, porque a brincadeira consiste em lê- los do fim para o começo, depois que se chega ao fim. 

Não te amo mais. 
Estarei mentindo dizendo que 
Ainda te quero como sempre quis.
Tenho certeza que Nada foi em vão. 
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada. 
Não poderia dizer jamais que 
Alimento um grande amor. 
Sinto cada vez mais que 
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
EU TE AMO!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais... 

Pronto. Leram? Agora leiam os “versos” em ordem inversa, de baixo para cima. O sentido das frases se altera; o que soava como uma “declaração de desamor” torna-se uma confissão de amor eterno. Divertido, mas se Clarice fosse brincar disto não teria repetido, deselegante e desnecessariamente, a palavra “jamais”. Nem juntaria aqueles dois gerúndios, “mentindo dizendo”. Há muitas formas de contornar isso.

1 Escarafunchei a internet com a profundidade que permitem os mecanismos de busca. Há treze sites com versões deste texto em espanhol. Em inglês, apenas quatro, sendo que dois deles apresentam também o “original” em português. Lamento dizer que nesses dois sites (da UCLA2 ), Clarice Lispector era citada como a autora. Em português, há 444 referências, a maior parte delas em endereços no Brasil. Apenas 163 não o atribuem a Clarice. (No site http://geocities.yahoo.com.br/ marjori_rj/outros_poetas.html , por exemplo, quem aparece como autor é Carlos & # Betty Vidigal “Drummont” de Andrade.) 

Na última vez em que o recebi – no dia 16 de abril deste ano – o título do e-mail era “poema genial”. À guisa de apresentação, o remetente dizia: “De facto, a língua de Camões é única. Leia até o fim.” A grafia da palavra “facto” atesta a origem portuguesa dessa remessa. Mas, como portugueses não usam os gerúndios da forma como nós usamos, e dados os gerúndios presentes no texto, certamente o português que o enviou recebeu-o de algum(a) brasileiro(a). 

Apesar do pequeno número de “sítios” em espanhol, inclino-me a acreditar que o texto deve ter sido escrito originalmente nessa língua. Todos esses sites apresentam-no como “un chiste”3 – que de fato é – e nenhum dá crédito de autoria a ninguém. Pena: o verdadeiro autor do “chiste”, ainda que não se trate de alta literatura, merece reconhecimento por sua inventividade. Em espanhol, as frases soam coloquiais, não parecem retorcidas, como em português. São coisas que se poderia dizer com naturalidade. 

O título passa a ser a frase inicial “No te amo más”.4 Prossegue com “Mentiría diciendo que / todavía te quiero como siempre te quise.”. (Ah! Viram? Aqueles dois gerúndios seguidos desaparecem, em espanhol...!) E a penúltima frase é “Lo siento, pero debo decir la verdad”. Esta expressão, “Lo siento, pero”, em espanhol, é muito razoável. Em português, dizemos “desculpe, mas..” ou “sinto muito, mas...”. Em questões sérias, talvez digamos “perdoeme”. Este “sinto”, assim, sozinho, desacompanhado do “muito”, tem cara de ser tradução do espanhol.

Clarice nunca publicou poemas. O site do Jornal de Poesia, do Soares Feitosa, traz uma justificativa para os que circulam pela net. Com o título de “Poemas que (não) são de Clarice”, vem a explicação do Feitosa: “Os poemas desta página são resultado do arranjo em versos, feito pelo padre Antônio Damázio ..., de textos em prosa da extraordinária escritora Clarice Lispector. Nesta saudável mania de todo-mundocopiar-todo-mundo-sem-citar-a-fonte, tem umas “pages” por aí publicando estes textos sem lhes indicar a parceria do padre e como se fossem poesia originariamente feita por Clarice. É bom que se diga que Clarice, apesar de escrever de forma não versificada, era poeta verdadeira, pois como diz Benedicto Ferri de Barros não basta ao texto estar quebrado em linhas para ser poesia. Clarice fazia poesia sem quebrar as linhas; esta é a homenagem que lhe presta o Jornal de Poesia, quando incentivei o padre Damázio a levar o projeto Clarice adiante. Uma pena que o padre sumiu, não sei onde lhe andam as alpercatas, porque seria muito válido pedir a ele que indicasse a origem dos textos que arranjou de forma tão feliz.”

5 Pessoalmente, sou contra. Qualquer pessoa pode dividir em versos a prosa poética de Clarice: os versos estão implícitos no ritmo do texto. Um exemplo: “O relógio acordou em tin-dlem sem poeira. O silêncio arrastou-se zzzzzz. O guarda-roupa dizia o que? roupa-roupa-roupa. Não não.”6 Ou este outro trecho do mesmo romance: “– Palavras muito puras, gotas de cristal. Sinto a forma brilhante e úmida debatendo-se dentro de mim. Mas onde está o que quero dizer, onde está o que devo dizer? Inspirai-me, eu tenho quase tudo; eu tenho o contorno à espera da essência; é isso?”

7 Claro que este tipo de conteúdo não interessa ao enviador-padrão de e-mails. Esse quer “lições de vida” ou algo que faça rir.

 Sim: circula também na web uma “lição de vida” com a assinatura de Clarice. “Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar esta pessoa de nossos sonhos e abraçá- la. Sonhe com aquilo que você quiser. Vá para onde que ir. Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só temos uma chance de fazer aquilo que queremos. Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. Dificuldades para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E esperança suficiente para fazê-la feliz. As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas. Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos. A felicidade aparece para aqueles que se machucam. Para aqueles que buscam e tentam sempre. E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas. O futuro mais brilhante é baseado num passado intensamente vivido. Você só terá sucesso na vida quando perdoar os erros e as decepções do passado. A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar, duram uma eternidade. A vida não é de se brincar porque um belo dia se morre.” 

Encontram-se estas frases, separadamente, em alguns sites de “pensamentos”. Todas juntas, aparecem em 1620 sites, associadas ao nome de Clarice. 

Mas – sempre a mesma questão: como provar que alguém não escreveu algo? No caso de autores mortos, somente a intimidade com seu estilo pode levar à percepção de que algo está sendo impingido ao público, conspurcando a obra do escritor. Toda vez que recebo isso, faço questão de avisar ao remetente que esse amontoado de sabedoria popular não pode ser de Clarice, não tem nada a ver com o que ela escrevia. 

Numa dessas vezes, o amigo que me mandou o e-mail resolveu pôr minhas ressalvas à prova. Mandou o texto, acompanhado de meu e-mail, ao Assis Brasil, que é seu primo. Eis a resposta que recebeu: “Olha, primo: se este texto é de Clarice, então eu sou o imperador da China. Jamais a Clarice iria escrever essa sucessão de bobagens, trivialidades e lugares-comuns. Ela era uma grande escritora.”

Pois é. Quem conhece, sabe que não pode ser dela. 

O difícil é – continua sendo – convencer os outros. 

Não duvido que a frase final seja de Clarice Lispector. Talvez seja. Talvez o final seja uma citação e, como soe acontecer, o pobre autor citado torna-se uma vítima do texto inteiro. “A vida não é de se brincar porque um belo dia se morre” tem um tom lispectoriano. O resto, não.  

BETTY VIDIGAL é poeta e internauta inveterada. 

1 Sugiro uma; há dezenas de possibilidades: “ Não te amo mais. / Eu estaria mentindo se dissesse que / Ainda te quero como sempre quis. / Tenho certeza de que / Nada foi em vão. / Hoje sei que / Você nada significa para mim. / Não poderia dizer que / Ainda sinto aquele imenso amor. / Já te esqueci! / E jamais direi que / Eu te amo! / Sinto muito, mas tenho que dizer-te a verdade: / É tarde demais...”. Funciona da mesma forma: se os versos são lidos em ordem inversa, o sentido também se inverte. 2 Universidade da Califórnia – Los Angeles. 3 Uma piada. 4 Em português, o título tornou-se, com o passar dos anos, “Poema Genial”. 5 http://www.secrel.com.br/jpoesia/cli.html. 6 Perto do Coração Selvagem, Clarice Lispector, pg.9. Editora A Noite , Rio de Janeiro, 1942. 7 Idem, pg. 72.