“A propósito da Fulana de Drummond, que
você lembrou aqui, minha curiosidade é sobre a origem dessa palavra tão usada
no dia a dia, fulano. E também seus primos beltrano e sicrano. De onde vieram
esses caras?” (César Augusto Lima)
Dos três substantivos
citados por César, e que significam “indivíduo indeterminado,
desconhecido ou
anônimo”, o que tem a história mais cristalina é “fulano”. Nenhum estudioso tem
dúvida de que essa palavra – registrada em nossa língua desde o século XIII –
nos chegou do árabe fulán, que significa justamente “alguém, indivíduo
indeterminado”.
O caso de “beltrano” é
mais controverso. Há quem o derive do espanhol Beltrano, sobrenome equivalente
ao português Beltrão. Outros preferem acreditar numa modificação do próprio
Beltrão português, com a terminação em ano entrando
aqui apenas para garantir a rima com “fulano”.
De qualquer modo, como e por que caminhos terá acontecido de um
respeitável nome de família como Beltrão – ou Beltrano – ganhar a honra duvidosa
de nomear uma sombra? Segundo o filólogo João Ribeiro, “é um desses nomes de
romances de cavalaria usados como pessoas indefinidas – Valdevinos,
Sacripante”.
“Sicrano” é o mais
complicado dos três. Costuma ser dado como vocábulo de “origem obscura”, fórmula
que os etimologistas usam quando se veem sem pistas, ou pelo menos controversa,
com a tese da origem na interjeição espanhola cit (algo
como o nosso “psit”) incapaz de granjear consenso entre os especialistas.
Curiosamente, “sicrano” costuma ocupar hoje o fim da fila numa enumeração –
“fulano, beltrano e sicrano” –, mas é um vocábulo registrado desde o século
XVI, enquanto “beltrano” só veio a aparecer no XIX.
Seja como for, a ordem varia. Fulano é sempre o primeiro. Para o
Houaiss, beltrano é o segundo, mas Antônio Geraldo da Cunha é categórico ao
definir “sicrano” como “a segunda de duas ou três pessoas mencionadas
indeterminadamente”.
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Sérgio Rodrigues
(www.veja.abril..com.br/blog/sobrepalavras;
acesso em: 17 ago. 2015.)
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