sábado, 30 de setembro de 2017

Um diário é um amigo? Uma companhia? Também. Mas é sobretudo a duplicação da gente mesmo, espelho que não se apaga quando o rosto se retrai ou muda, álbum de retratos que conserva muito mais que um belo sorriso e a paisagem de fundo. Quieto, compreensivo, calmo, o diário está ali, aberto e limpo. Oferecendo seu espaço, no qual você vai desenhar a sua vida e ele apenas... receber. Ele não tem recriminações a fazer, ele não diz que a culpa é sua, ele não encosta dedos na ferida. Como uma cama, como um mar, ele recebe. Você escreve muito se a emoção é forte, vai e volta e repete e repisa o mesmo assunto. Ninguém conta seu tempo, ninguém conta suas páginas. Você pode escrever até a mão cansar, até a alma aliviar. Você pode escrever e escrever e escrever. Ele aceita. E quando não quiser escrever mais, é só fechar e guardar o diário que ele mais nada exigirá. Não me diga que não tem o que contar. Você é o centro do seu universo, nada é mais importante do que aquilo que lhe diz respeito. Isso é que faz o encanto do diário. Se fosse usado apenas para registrar a queda do governo ou a evolução dos projetos orbitais, seria desnecessário, porque para isso já existe a imprensa, os arquivos, os registros da memória nacional. O diário serve justamente para conservar o pequeno acidente humano e individual, sua discussão com um amigo, o namoro lancinante, a dúvida sobre a roupa para usar naquela festa... O diário serve para conservar você.
 
Marina Colasanti
Eu decidi que é melhor gritar. O silêncio é o verdadeiro crime contra a humanidade.

Nadezhda Mandelstam

O Tempo

Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.


Industrializou a esperança,
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.


Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar
e entregar os pontos.


Aí entra o milagre da renovação
e tudo começa outra vez, com outro número
e outra vontade de acreditar
que daqui para diante tudo vai ser diferente.


Roberto Pompeu de Toledo

Vozes de um túmulo


Morri! E a Terra — a mãe comum — o brilho
Destes meus olhos apagou!... Assim
Tântalo, aos reais convivas, num festim,
Serviu as carnes do seu próprio filho!
Por que para este cemitério vim?!
Por quê?!Antes da vida o angusto trilho
Palmilhasse, do que este que palmilho
E que me assombra, porque não tem fim! 
No ardor do sonho que o fronema exalta
Construí de orgulho ênea pirâmide alta...
Hoje, porém, que se desmoronou 
A pirâmide real do meu orgulho,
Hoje que apenas sou matéria e entulho
Tenho consciência de que nada sou!

  
Augusto dos Anjos 


Um diagnóstico sensato

Os tempos de crise colocam obstáculos à reflexão objetiva dos assuntos. Tudo parece ficar distorcido. Nesse ambiente, ganham especial importância as vozes que conseguem jogar luzes sobre os reais problemas nacionais. Sem um diagnóstico claro é difícil construir soluções efetivas. Nesse sentido, merece atenção a análise do Judiciário e de suas instituições que vem sendo feita pelo desembargador federal Fábio Prieto, ex-presidente do Tribunal Regional Federal (TRF) da 3.ª Região e, desde o mês passado, juiz efetivo do Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
Em recente participação no programa Roda Viva, da TV Cultura, Fábio Prieto abordou um tema que é considerado tabu na Justiça – as deficiências da reforma do Poder Judiciário. Entre outros efeitos daninhos, a reforma de 2004 gerou um sistema de Justiça com quatro conselhos – Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Conselho da Justiça Federal (CJF), Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT) e Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Essa estrutura é cara e, ainda por cima, disfuncional. “O teto salarial foi fixado, mas até hoje não foi respeitado”, lembrou o desembargador. Além disso, o próprio sistema de controle é pouco transparente. O relatório Justiça em Números, do CNJ, cujo objetivo é justamente apresentar à população a realidade do Judiciário, não divulga os gastos do CNJ e dos outros conselhos.
Fábio Prieto não ameniza o diagnóstico: a reforma de 2004 instalou um modelo corporativo-sindical no Poder Judiciário e no Ministério Público. A seu ver, uma prova dessa desordem são as regras de composição dos quatro conselhos. Seus membros não representam o povo brasileiro, e sim os juízes, os promotores, os advogados. E essa disfuncionalidade do modelo ainda dá margem para novos e mais graves desvios, como ficou patente na tentativa de uma associação de procuradores de impor ao presidente da República a obrigação de indicar o procurador-geral da República a partir de uma lista por ela elaborada. “Precisamos recompor a integridade e a autoridade do Poder Judiciário e do Ministério Público”, disse Fábio Prieto.
O alerta é importante. Há um equívoco, cada vez mais frequente, de confundir associação de juízes ou de procuradores com a própria instituição pública. O Ministério Público não é composto pela reunião das diversas associações de procuradores. Tal confusão, reduzindo as instituições a meras corporações, é uma grave perversão do Estado, que deixa de atender a população e ao interesse público para cuidar tão somente de alguns interesses privados.
Para preservar e resgatar as instituições, o desembargador lembra uma realidade fundamental: muito se avançará se cada agente do Estado cumprir seu respectivo dever constitucional. No caso dos juízes, seu trabalho é proferir sentenças. Mas até o momento parece que se percorre o caminho inverso, com muitos juízes fora de suas funções originais. O CNJ indica que, em 2016, havia 1.187 juízes afastados para outras funções. O mesmo problema afeta o Ministério Público.
Ao final do programa, o desembargador Prieto fez uma recomendação pouco ouvida nos dias de hoje. “Nós precisamos banir do nosso vocabulário a expressão ‘os políticos’, senão nós não teremos cidadania”. O hábito de igualar todos os políticos conduz à irresponsabilidade, tanto dos representantes como dos representados. Faz falta justamente o oposto – que cada um cuide muito bem do que lhe compete. No caso do cidadão, escolher bem quem terá o seu voto. No caso das autoridades, zelar pelo interesse público.
Se alguém tem dúvidas sobre o diagnóstico de Fábio Prieto, basta ler recente texto do desembargador Paulo Dimas, que assegura que os juízes paulistas não recebem penduricalhos, mas tão somente quatro categorias de rendimentos: a remuneração paradigma, as vantagens eventuais, as vantagens pessoais e “gratificações e indenizações”. O presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, imerso em considerações corporativas, não parou para pensar no absurdo que é um juiz ter quatro “categorias de rendimentos”.
 
 Editorial O Estado de S. Paulo

Convite triste

Meu amigo, vamos sofrer,
vamos beber, vamos ler jornal,
vamos dizer que a vida é ruim,
meu amigo, vamos sofrer.

Vamos fazer um poema
ou qualquer outra besteira.
Fitar por exemplo uma estrela
por muito tempo, muito tempo
e dar um suspiro fundo
ou qualquer outra besteira.

Vamos beber uísque, vamos
beber cerveja preta e barata,
beber, gritar e morrer,
ou, quem sabe? beber apenas.

Vamos xingar a mulher,
que está envenenando a vida
com seus olhos e suas mãos
e o corpo que tem dois seios
e tem um umbigo também.
Meu amigo, vamos xingar
o corpo e tudo que é dele
e que nunca será alma.

Meu amigo, vamos cantar,
vamos chorar de mansinho
e ouvir muita vitrola,
depois embriagados vamos
beber mais outros sequestros
(o olhar obsceno e a mão idiota)
depois vomitar e cair
e dormir.

(Em: Brejo das Almas)  


Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Faz-de-conta

Não respondo teus e-mails, e quando respondo sou ríspido, distante, mantenho-me alheio: faz-de-conta que eu te odeio.
Te encho de palavras carinhosas, não economizo elogios, me surpreendo de tanto afeto que consigo inventar, sou uma atriz, sou do ramo: faz-de-conta que te amo.

Estou sempre olhando pro relógio, sempre enaltecendo os planos que eu tinha e que os outros boicotaram, sempre reclamando que os outros fazem tudo errado: faz-de-conta que dou conta do recado.

Debocho de festas e de roupas glamurosas, não entendo como é que alguém consegue dormir tarde todas as noites, convidados permanentes para baladas na área vip do inferno: faz-de-conta que não quero.

Choro ao assistir o telejornal, lamento a dor dos outros e passo noites em claro tentando entender corrupções, descasos, tudo o que demonstra o quanto foi desperdiçado meu voto: faz-de-conto que me importo.

Jogo uma perna pro alto, a outra pro lado, faço cara de gostosa, os cabelos escorridos na rosto, me retorço, gemo, sussurro, grito e poso: faz-de-conta que eu gozo.

Digo que perdôo, ofereço cafezinho, lembro dos bons momentos, digo que os ruins ficaram no passado, que já não lembro de nada, pessoas maduras sabem que toda mágoa é peso morto: faz-de-conta que não sofro.

Cito Aristóteles e Platão, aplaudo ferros retorcidos em galerias de arte, leio poesia concreta, compro telas abstratas, fico fascinada com um arranjo techno para uma música clássica e assisto sem legenda o mais recente filme romeno: faz-de-conta que eu entendo.

Tenho todos os ingredientes para um sanduíche inesquecível, a porta da geladeira está lotada de imãs de tele-entrega, mantenho um bar razoavelmente abastecido, um pouco de sal e pimenta na despensa e o fogão tem oito anos mas parece zerinho: faz-de-conta que eu cozinho.

Bem-vindo à Disney, o mundo da fantasia, qual é o seu papel? Você pode ser um fantasma que atravessa paredes, ser anão ou ser gigante, um menino prodígio que decorou bem o texto, a criança ingênua que confiou na bruxa, uma sex symbol a espera do seu cowboy: faz-de-conta que não dói. 

Martha Medeiros

SOU VAQUEIRO PREPARADO
MONTO EM CAVALO LIGEIRO
E A FILHA DO FAZENDEIRO
SÓ QUER VIVER DO MEU LADO
FAÇO VERSO IMPROVISADO
MESMO SEM SER CANTADOR
E TRAGO COM MUITO AMOR
O MEU SONHO DE MENINO
SOU VAQUEIRO NORDESTINO
POETA E NAMORADOR
.



SER POETA, SER VAQUEIRO É TER DO CAMPO A IMAGEM SER O ESPÍRITO SELVAGEM QUE PERCORRE O TABOLEIRO MINHA ROUPA TRAZ O CHEIRO DA CLOROFILA E DA FLOR FAÇO SEXO POR AMOR COM A DONA DO MEU DESTINO SOU VAQUEIRO NORDESTINO POETA E NAMORADOR.


NAMORO AS FLORES DO MATO, A FACE DA LUA PÁLIDA, CAMPEIO NA TARDE CÁLIDA, NAS VEREDAS DO REGATO VEJO DE DEUS O RETRATO NA HORA DO SOL SE POR, SOU DO REBANHO O PASTOR SOM DE VIOLA É MEU HINO SOU VAQUEIRO NORDESTINO POETA E NAMORADOR.
 
SOU DA MULHER GUARDIÃO DA VIOLA UM FÃ ETERNO SOU UM BOÊMIO MODERNO DO SONETO E DA CANÇÃO SOU A PURA INSPIRAÇÃO PRA O MAIS DOCE CANTADOR CANTANDO EU SOU SONHADOR PRA GADO SOU TANGERINO SOU VAQUEIRO NORDESTINO POETA E NAMORADOR.

Poeta – Onildo barbosa
Que melhor demonstração de que não há nem houve nem nunca haverá "países felizes"? A felicidade não é coletiva, mas individual e privada — o que faz feliz uma pessoa pode fazer infelizes muitas outras, e vice-versa — e a história recente está infestada de exemplos que demonstram que todas as tentativas de criar sociedades felizes — trazendo o paraíso à Terra — criaram verdadeiros infernos. Os Governos devem estabelecer como objetivo assegurar a liberdade e a justiça, a educação e a saúde, criar igualdade de oportunidades, mobilidade social, reduzir ao mínimo a corrupção, mas não se imiscuir em temas como a felicidade, a vocação, o amor, a salvação e as crenças, que pertencem à esfera privada e nos quais se manifesta a feliz diversidade humana. Esta deve ser respeitada, porque toda tentativa de regulamentá-la sempre foi fonte de infortúnio e frustração.

Mário Vargas Llosa

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Quando as lágrimas flutuantes
Afogam meus aperreios
Subindo demais o nível,
Deixando meus olhos cheios,
É a ressaca das ondas
Dos sofrimentos alheios. 


Sextilha de José Adalberto

Receita para uma crônica

Claro que escrever não é um ato de tricotar, ou preparar um bolo, onde se possa seguir uma receita. No entanto depois de 1700 crônicas diárias aprendi alguma coisa. Não vamos falar de estilo ou fórmula. Não se trata de ensinar a fazer clichês. O objetivo é orientar aqueles que tem gosto pelo ato de escrever. A escolha de um bom tema é importante. Quanto mais banal maior a possibilidade de agradar um número maior de leitores. A escolha do título também é relevante. Muito leitor não passa dele. Depois do tema, é a forma como vai trata-lo que fará o sucesso do texto. Quanto mais direto, simples, e coloquial, melhor. Evite mostrar erudição. Nada de citações e outras chatices. Escreva da forma que você fala ou conversa com um amigo. Na crônica, é dessa maneira que o leitor vai encarar seu texto. Diga tudo sempre da forma que ele gostaria de ouvir. E quando o tema não é tão banal, comece, modestamente, mostrando sua ignorância sobre o assunto. Depois vá contando como aprendeu uma série de detalhes que gostaria de dividir com o leitor. Eles adoram saber que sabem mais do que você. Recentemente escrevi sobre a folhagem aspidistra, da qual o escritor inglês George Orwell ( autor de 1984) escreveu como sendo a "flor da Inglaterra". Aspidistra não é exatamente um tema comum, banal, mas dependendo como se expõe, mostrando ignorância e modéstia, pode-se envolver, pela curiosidade,  o leitor. E para concluir, a crônica deve ser curta. Nas plataformas digitais as pessoas não tem tempo nem disposição para textos longos. Este, por exemplo, já passou da conta.  

Eduardo P. Lunadelli

Palavra que desnudo

Entre a asa e o voo nos trocámos como a doçura e o fruto nos unimos num mesmo corpo de cinza nos consumimos e por isso quando te recordo percorro a imperceptível fronteira do meu corpo e sangro nos teus flancos doloridos Tu és o encoberto lado da palavra que desnudo.

Mia Couto

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

O amor romântico é como um traje, que, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e, em breve, sob a veste do ideal que formámos, que se esfacela, surge o corpo real da pessoa humana, em que o vestimos. O amor romântico, portanto, é um caminho de desilusão. Só o não é quando a desilusão, aceite desde o princípio, decide variar de ideal constantemente, tecer constantemente, nas oficinas da alma, novos trajes, com que constantemente se renove o aspecto da criatura, por eles vestida.

Fernando Pessoa
Foto Patrick Parenteau

Palavras do dicionário paraibano

Quando falamos em linguajar regional, geralmente pensamos em palavras específicas de uma parte do Brasil . “Oxente” é nordestino, “bah” é gaúcho, “porreta” é baiano, “uai” é mineiro e assim por diante.

Outro aspecto, também muito comum, é que uma mesma palavra, de uso geral, seja dita com um significado num lugar, e com outro significado numa região diferente.

VEXAME
 
Acho que já falei nesta coluna sobre a palavra “vexame”. No Sudeste, ela é usada como sinônimo de “constrangimento, vergonha”: “Passei o maior vexame no restaurante porque meu cartão apareceu como bloqueado”. No Nordeste, usamos com mais frequência como sinônimo de “pressa”: “Deixe de vexame porque ainda falta meia hora para o banco fechar, vai dar tempo”.

MALA
 
Outro termo que às vezes gera malentendidos: “mala”. No Rio, um sujeito mala é um chato-de-galochas, um cara insuportável, sentido reforçado na fórmula intensificada: “Fulano é um mala sem alça”. Em Campina Grande, pelo menos, “mala” é sinônimo de “malandro, esperto”, e muitas vezes é usado como elogio: “O atacante foi muito mala, bateu a falta depressa e pegou a defesa deles aberta”.

EMBALAGEM
 
Veja outro termo interessante: “embalagem”. Na Paraíba, pelo menos, não é apenas sinônimo de “papel de embrulho, invólucro”, e sim de “embalo, impulso, momentum (massa x velocidade)”.  “O motorista até tentou frear, mas o caminhão vinha numa embalagem muito grande e acabou virando por cima do muro da casa.”  Também se usa “aproveitar a embalagem” no sentido figurado, equivalente a “aproveitar que está com a mão na massa”:   “Já que você está lavando a cozinha, aproveita a embalagem e lava também o banheiro”. Nesse sentido, quem e de fora deve interpretar a palavra como se fosse “embalo”.

ENGUIÇAR 
 
No Brasil inteiro enguiçar é “dar defeito, pifar” – aplicado a máquinas e motores em geral. No Nordeste, enguiçar é passar andando por sobre o corpo ou as pernas estendidas de alguém que está sentado no chão.  Diz a superstição popular que quando isto acontece a pessoa que foi “enguiçada” não cresce mais. Acredita-se que para anular o efeito basta “desfazer” o ato, passar de trás para diante.  “--Ei!  Que história é essa de vir entrando e enguiçar a gente?  Pode voltar, e desenguiçar!” Também já vi ser atribuído ao ato de “enguiçar” o poder de cura contra mau-olhado.  “Esse menino só vive doente ultimamente!  Tá bom de alguém enguiçar ele, isso deve ser mau-olhado.”

E ali com um punhal
Para Adriano avançou
Mas Adriano ligeiro
Por cima dele saltou
Então quando o enguiçava
Mesmo no vão lhe cravou.
(Expedito Sebastião da Silva, folheto “Adriano e Joaninha”)


ARRUMAR 
 
Diz-se no sentido de “arranjar, conseguir”.  "Me arruma aí um dinheiro, que eu deixei a carteira em casa".  "Vou falar com meu tio para ver se ele me arruma um emprego na Prefeitura."  "Ele foi passar as férias no Rio e acabou arrumando uma noiva."

CAÇAR 
 
Parece ser um arcaísmo no sentido que descrevo aqui, o de “procurar”. É geralmente usado por gente iletrada ou gente bem do interior rural.  “Desde hoje que eu estou caçando meus óculos e não sei onde botei.”   “Fulano está caçando emprego desde o fim do ano passado.”   É linguagem bem característica de “gente do mato”. 

CARREGAR 
 
Não é apenas “dar carga” (“Preciso lembrar de carregar o celular antes de sair”). Usa-se mais como “levar embora”, no mesmo sentido em que se usa dizer “Vá para o diabo que o carregue”: “Quem foi que carregou meu guarda-chuva, que eu deixei aqui junto da porta?”  « Cuidado com esses meninos brincando soltos na rua, um dia aparece um tarado e carrega um! » 

DOIDINHO 
 
É o que chamam de “bobo” no Rio de Janeiro. No futebol, brincadeira em que um grupo de jogadores troca passes entre si, enquanto um deles, escolhido por sorteio, tenta apoderar-se da bola; quando o consegue, o “doidinho” passa a ser o jogador que perdeu a bola para ele.  Também se diz “zorra”.  Usa-se também como termo de comparação: “Eu não sei pra que escalaram Fulano como centroavante: a defesa dos caras passou o jogo todo fazendo doidinho com ele.”

RAZÃO 
 
Usa-se muito no Nordeste como sinônimo exato de "arrogância, prepotência": "Ei, que razão é essa?  Quem é você pra vir me dar ordens?"  "Fulano é muito engraçado: a gente faz o trabalho todo, resolve todos os problemas, aí quando é depois ele chega, com a maior razão do mundo, botando defeito em tudo."  É mais frequente na expressão "cheio de razão": "Estava tudo muito tranquilo, mas de repente chegou um cara todo cheio de razão, dizendo que era amigo do dono do bar e que aquela mesa era dele."  

BONDADE
 
Assim como “razão” é usado com viés negativo, o mesmo se dá com “bondade” em certos contextos. Quando se quer dizer que um indivíduo é humilde, pacato, não quer ser melhor do que ninguém, diz-se: “Fulano me surpreendeu, é uma pessoa sem bondade, conversa com todo mundo, trata todo mundo como igual”. O sentido subjacente é que o sujeito não pretende ser “mais bom” do que ninguém.
 
Bráulio Tavares
O mundo fantasmo 

Pombal já vive a sua Festa do Rosário


terça-feira, 26 de setembro de 2017

Humor

 Reações do álcool
 

Na aula de química o professor pergunta:

- Quais as principais reações do álcool?


O aluno responde:

- Chorar pela ex, achar que esta rico, ficar valente e pegar mulher feia ...


Professor: 

- Tirou 10!


Atitude

Na fazenda, chegou um novo funcionário chamado Zé; ele recebeu uma simples e velha casa para morar enquanto trabalhava na fazenda.

A casa estava abandonada e com parte de suas economias comprou algumas latas de tinta, e, em suas horas vagas, lixou e pintou, limpou o jardim e plantou flores.

O capricho do Zé, chamou a atenção do dono da fazenda, que pensou: “Alguém que cuida com tanto cuidado a casa que emprestei, certamente cuidará assim da minha fazenda”.

Quando ele assumiu a posição de administrador da fazenda disse aos colegas: não espere ter a atitude de fazer acontecer somente depois que você for promovido, assim será muito dificil notarem que você tem essa capacidade.

Prof. Menegatti 

Rio de Janeiro - A boêmia resiste ao caos



O lado engraçado e poético de Alcides Carneiro


Foi, sem exagero nenhum, um dos maiores oradores do Brasil. Da Paraíba, com certeza, foi o maior. Nascido em Princesa, Alcides Vieira Carneiro conquistou o Brasil com o seu talento. Mas não teve sorte na política. Por isso dizia que “a Paraíba gosta de me ouvir, mas não gosta de votar em mim”.


Vingança no cinema

 
O ministro Alcides Carneiro foi assistir a um filme de suspense. Na saída, quase caiu com o esbarrão de um sujeito apressado para entrar no cinema. O ministro reagiu com bons modos:

- Não precisa pressa. A outra sessão ainda não começou.

- E daí? Não lhe perguntei. Não pedi desculpas, nem vou pedir.

Restou a Carneiro reagir à malcriação com a vingança suprema:

- Ah, é? Pois então fique sabendo, logo agora, que o criminoso do filme só aparece no último minuto. É o primo do mocinho.

Revelado o enigma do filme, o mal-educado deu meia-volta e foi embora.

Alcides e Princesa
 
O saudoso tribuno fazia questão de dizer que devia tudo a sua cidade natal Princesa Isabel. No seu autorretrato, foi bem claro ao declarar-se filho de Princesa. Disse: ¨Nasci em Princesa, na Paraíba, em 11 de junho de 1906. O advento custou 5 mil reis, pagos a parteira Bonifácia. Este foi o preço da minha entrada neste mundo, ao qual nos trazem sem consulta e do qual nos levam sem aviso.

Continua: ¨Meu padrinho de batismo foi José Pereira Lima – caudilho altaneiro e valente ---- chefe da sedição que desencadeou a Revolução de 30. Prevaleceu na minha índole, o sangue paterno, inclusive sobre as proteínas do leite e os eflúvios da benção¨. ¨Cursei a Escola Primária do bom Professor Adriano Feitosa, onde tomei contato com a temida palmatória. Mais tarde, quando soube das formas parcialmente exuberantes da Vênus Calipigia, lembrei-me dela. Aos 11 anos, viajei ao Ceará, terra onde vi o mar e conheci o automóvel e água encanada. Consignados dois tios que ali residiam, matriculei-me no Instituto São Luiz, do professor Menezes Pimentel, depois no Liceu Cearense, onde conclui o curso secundário. Cursei dois anos a Faculdade de Direito do Ceará e transferi-me para o Recife, onde me formei em 1926, com 20 anos de idade. Gosto muito do Ceará e do seu povo. Viajando pelo mundo, encontrei, nas pirâmides, um cearense alugando camelos. ¨

O político
 
Formou-se em Direito muito jovem e, incentivado pelos primos Ruy e Janduy Carneiro, resolveu aventurar-se na política, porem com pouco sucesso, não obstante ser um grande arrebatador de multidões.

Foi eleito apenas por uma legislatura. Costumava dizer: ¨o povo gosta de me escutar, mas, não gosta de votar em mim. ¨

O orador
 
Seus discursos sempre foram recheados de frases impactantes em perfeita harmonia com a lógica da oratória clássica.

Ao paraninfar os formandos de 1974, da Faculdade de Direito da UFPB, antecipou o epitáfio do seu túmulo nos seguintes termos: ¨Foi Juiz, se absolveu por compaixão, não condenou por fraqueza.”
Ao inaugurar um Sanatório na cidade de Petrópolis, que recebia o seu nome, falou e disse:

¨Deixai que sussurrem as brisas porque não posso ouvi-las, deixai que passem os perfumes, porque não posso senti-los; este é o castigo para quem tanto se extasiou com as belezas da natureza, para quem tanto amou os mistérios da vida¨.

Com Ernani
 
Ao discursar na posse de Ernani Sátyro no Tribunal Superior Militar, falou que tinha duas invejas do empossado:

A primeira porque nunca foi escritor e a segunda diz respeito ao ciúme que sentiu quando Ernani esposou a moça que tanto amou.

Referia-se ao estado da Paraiba, que o empossado governou por quatro anos.

Saudando o corpo de Epitácio
 
Por ocasião do traslado dos restos mortais de Epitácio Pessoa, em 1965, discursou:

¨Neste instante, volta ao seio materno o pródigo da glória. Entre um soluço e um silêncio __ o soluço do povo, o silêncio das grandes angústias¨. ¨Epitácio não morreu. Vive onde vive Jesus. Sua voz ressoa nos gorjeios que vêm dos bosques, nos alísios que vêm do mar, ruge nos vendavais que açoitam os cariris, reboa nos contrafortes das serras, quando o raio troveja ao lucilar dos lívidos relâmpagos. 
¨
PRINCIPAIS TRECHOS E FRASES SELECIONADAS DE DISCURSOS MEMORÁVEIS DO GRANDE ORADOR PARAIBANO ALCIDES CARNEIRO

“Paraíba, a terra que se fez tão pequenina para não parecer tão grande e se fez tão grande para se vingar de ser tão pequenina”

“que a justiça é o salário das consciências limpas e o direito é mesmo um apanágio do caráter”

“E podemos afirmar orgulhosamente que, graças a isso, não cometemos aqui os pecados capitais capazes de entregar os administradores à condenação irrecorrível da posteridade. Nem cometemos a displicência, nem a desonestidade, nem a injustiça. A displicência é o pecado dos inúteis, daqueles que não querendo ou não sabendo, agradar a Deus nem aos homens, acabam não agradando nem a si próprio. Não cometemos a desonestidade porque não é mais do que a ambição exacerbada até a loucura; para chegarmos até ela teremos, primeiro, de ser ambiciosos e, felizmente, já é tarde demais para isso. A injustiça é a filha dileta da inconsciência, a garra envenenada dos perversos

“Retire-se do mundo a liberdade e o mundo continuará vivendo com os seus grilhões. Varra-se da face da terra a luz do pensamento e a humanidade se acostumará à escuridão. Mas, desapareça da face do planeta a justiça e tudo afundará na voragem apocalíptica da destruição e da morte.”

“A justiça é a luz que ilumina mares e pântanos, palácios e favelas, torres e cloacas, frondes e relvas; faz tremer os tiranos e faz sorrir os mártires; exalta os santos e humilha os réprobos; castiga os opulentos e protege os pequeninos.

DISCURSO DE SAUDAÇÃO AO CANDIDATO ASSIS CHATEAUBRIAND

“Tu és um homem de temerárias iniciativas num país de contemplativos..”

“Eu vi em Florença, a cidade que viu Dante nascer e vela o túmulo de Miguel Ângelo, eu vi a linda vila que adquiriste para hospedar jovens brasileiros que desejam se aperfeiçoar nas artes. E disse, depois, em conversa, uma frase da qual tanto gostou a embaixatriz dos Estados Unidos: "Assis Chateaubriand; é um homem que Deus protege e que o Diabo respeita".

CARTA A UM VENCIDO

“Mas sempre ouvi dizer que o amigo bom é que faz o outro chorar.”

“E tu eras o cordeirinho tenro, a pedir sepultura nas entranhas das feras.”

“Se cada um se deixar arrasar pela depressão e omitir-se, estará bem próximo o reino dos inconscientes, o paraíso dos aventureiros.

“Não perdestes, meu caro amigo. Apenas cedestes jardas de um terreno que cedo reconquistarás. 

Caminha. Os horizontes te convidam. Hás de responder que eu falo assim porque meu caso é diferente. Porque desconheço a extensão, na mesma região, com o mesmo requinte perverso. Mas reajo, fazendo das fraquezas forças.”

"Quando de mim só restar este monumento tão duro, tão diferente de minha alma, então ele dirá, no seu silêncio sem fim: deixai que caia sobre mim o luar que eu não posso contemplar; deixai que sussurrem as brisas porque eu não posso senti-las".

INAUGURANDO UM SANATÓRIO PARA TUBERCULOSOS:

"Esta é uma casa que por infelicidade se procura, mas por felicidade se encontra".

INAUGURANDO O HOSPITAL DOS SERVIDORES PÚBLICOS, NO RIO DE JANEIRO

"Este Hospital nasceu da bondade dos que sentem e viverá da confiança dos que sofrem".

"É uma volta que não espera por outras, e traz na alegria dos abraços a tristeza dos adeuses".

"Liberdade sobrevive porque é amada de Deus. Os homens só a desejam quando a perdem, e dela só lembram para tirá-la dos outros".

"Era a grandeza de um espírito, a mostrar, que se condenável é a amizade que desaparece à beira de um túmulo, mais condenável é o ressentimento que vai além da sepultura".

CARTA DE ALCIDES CARNEIRO AO PROF. OSCAR DE CASTRO

“...minha entrada neste mundo, ao qual nos trazem sem consulta e do qual nos levam sem aviso.”

“Incursionei na política, onde os homens me ensinaram os caminhos do inferno e o estilo do diabo. Aprendi depressa, mas depressa enjoei. Ela não é, senão para muito poucos, a arte humana de trabalhar pelos outros. De qualquer forma, para se vencer politicamente, é preciso enganar muito e mentir outro tanto. No começo, há engulhos. Depois o estômago aceita. A natureza é sábia e os homens, sabidos.”

“Se entender de exagerar, faça-o com moderação. O exagero é a mentira reduzida e a redução torna venial o pecado.”
SAUDAÇÃO AO MINISTRO ERNANI SÁTYRO NOSUPERIOR TRIBUNAL MILITAR

“Era para ser dito, de sertanejo para sertanejo, no alpendre de uma velha casa de fazenda, ao embalo da rede, visualizando, na cordilheira distante, o perfil das últimas palmeiras que ainda esperam a morte. 

Ouvindo, ao longe, o aboio dos vaqueiros e o gemido do carro de boi - um a mais sentimental de todas as cantigas, outro, o mais lamentoso de todos os lamentos.”

“Deixemos, agora, Sr. Ministro, nossa amada e estranha gleba, onde se chama o trovão de "pai da coalhada"; onde, quando o sol é uma bola de fogo queimando o manto do céu, dizemos que o tempo está feio, e dizemos que o tempo está bonito, quando os lívidos relâmpagos lançam fósforos acesos no carvão das nuvens.”

“Haverá momentos em que V. Ex.a. terá uma pontinha de inveja do caboclo incansável que se esfalfa no eito, de crepúsculo a crepúsculo, o lombo ao sol, bebendo a água da cacimba rasa, na concha da mão, da mão que os calos não deixam fechar-se e comendo, apenas, o manjar dos deserdados, a milagrosa rapadura - faisão dourado dos pobres.”

“...a velha esteira - a doce escrava branca das senzalas - submissa no chão do casebre, chão onde o caboclo dorme sobre os astros, como na canção famosa, sem notar que os machuca, pois o sono lhe vem antes da noite e a labuta começa antes da aurora.”

“Aqui, não pretenda ser o primeiro, porque iria desagradar a muitos. Nem queira ser o último, que o lugar já é meu.”

“Imutável, mesmo, só a consciência, intransigente, só ela, que tudo vê, tudo pesa, tudo sente e a tudo preside - carcereira inflexível dos instintos, espiã de Deus, alcoviteira do diabo. É aquele morcego dos versos de Augusto: "Por mais que se faça à noite, ele entra imperceptivelmente em nosso quarto".

“Esqueceu-se V. Ex.a., com perdão da franqueza, de por na balança a sensibilidade, que é mais que coração, mais que sentimento. A sensibilidade compara-se a uma mulher excessivamente caridosa, que se casa com um avarento. Ela sofrerá a crueza das recusas constantes; ele se mortificará com a ronda infindável das impertinências que enervam. “

RECEPÇÃO AOS RESTOS MORTAIS DE EPITÁCIO PESSOA

“Neste instante, volta ao seio materno o pródigo da glória. Entre um soluço e um silêncio: - o soluço do povo e o silêncio das grandes angústias.”

“Nem é preciso lhe desejar que a terra lhe seja leve, pois a terra em que se nasce é sempre tão leve que a trazemos a vida inteira sem que nos pese dentro do coração.”

“E é tão triste este instante que a própria imortalidade se debruça sobre a Paraíba para consolá-la, pois se há um consolo para uma mãe que vê o filho morto é ver esse filho imortalizado e ouvir os hinos exaltadores, os hosanas da consagração, ao rebento amado, ao lidador audaz que do ventre lhe saiu na predestinação do mais fecundo dos partos.”

“Saudoso de esvoaçar nos cimos das cordilheiras nativas, regressa o condor. A águia altívola, cansada dos mais altos remígios, pousa as asas triunfais nos píncaros da terra adorada.”

“Não! Epitácio não morreu. Vive onde vive Jesus. Sua voz ressoa nos gorjeios que vêm dos bosques, nos alísios que vêm do mar; ruge nos vendavais que açoitam os cariris; reboa nos contrafortes das serras, quando o raio troveja ao lucilar dos lívidos relâmpagos.”

“...da Paraíba que tanto amaste porque ela é pequena como teu corpo, grande como teu destino, imortal como tua glória;”

“...que viu a queda e a ascensão de tiranias sufocantes, uma geração que vem oscilando entre a mais elevada e exaltadora confiança e o amargo constrangimento das decepções; uma geração para a qual já são remotos os gemidos dos escravos, e ainda vê escravos que nem podem gemer; uma geração que ama, acima de tudo, a liberdade, a justiça social e a dignidade da pessoa humana e que anseia por homens de tua têmpera, dotados da fé dos apóstolos e da energia dos guerreiros; homens que se condenem ao trabalho forçado pela felicidade dos seus semelhantes; homens que tenham a coragem de traçar rumos e marchar para a frente com esses rumos, ajudando a humanidade e ajudando a Deus, porque Deus anda tão ocupado em guiar os que marcham que não lhe sobra tempo para assistir aos que se detêm.”

“Não se inquietes porque será, decerto o flabelar das palmeiras junto com os suspiros do mar cantando em surdina para embalar-te, uma canção de acalanto na serenata do adeus. Ou será o vento dos cariris que veio gemendo, sacudindo cascalhos, destrançando cipós, abanar o menino que ele viu nascer.”

EPITÁCIO PESSOA E SUA BRAVURA PESSOAL

“Disse um filósofo que Deus, antes de tudo, fez o medo. E, dizemos nós, como um Deus descansado é um Deus pródigo, coube a muitos o defeito. E o medo avassalou o mundo, deprimindo espíritos, esmagando consciências. Medo da vida, medo da morte, medo de tudo. O infeliz sentimento, generalizado, gerou e cevou monstros de audácia e iniqüidade, vândalos da cobiça e da espoliação, frios estranguladores da liberdade; alimentou tiranias afrontosas, imposturas hediondas, nefastos balcões de enganos a preço do sangue. Tudo se escravizou, em nome do medo, por causa do medo, à custa do medo. Continuando Sua obra, depois de fazer o Universo uma vastidão de sóis, Deus fez do humano coração um universo de sombras. Mas, criou a fé - escudo das almas; criou a esperança - tesoureira dos sonhos; criou a caridade - Santo Viático das moradas eternas. Ao fim de tantos prodígios, cansou. E um Deus cansado é um Deus somítico. Na lassidão da divina estafa, ao cabo de tudo, Deus fez a coragem. E coube a poucos a virtude. Mas esses poucos, por desígnio da Providência, tornaram-se arnês, elmo a lança da humanidade, os Davids do gênero humano, cavaleiros andantes da justiça social, da ordem, da paz, do entendimento entre os povos, da defesa da dignidade da pessoa humana, da comunhão universal”

“Pois a prudência excessiva é a parenta mais próxima de todas as formas de acomodações que desmoralizam os homens públicos, sem falar na timidez congênita que tem sido a perdição de tantos valores humanos.”
“Aquilo que do berço se traz, só ao túmulo se devolve”

“...numa Cripta no Palácio da Justiça, que foi o ideal da sua vida e a majestade da sua morte”
“porque gastou na pompa das suas auroras o ouro da sua riqueza.”

“...lembrado sem ódio, que este é efêmero; lembrado com amor, que este é eterno. E um famoso condutor de homens já afirmou: "A multidão é feminina, ama os fortes".

DISCURSO SOBRE O MAHATMA GHANDI

“Um - fez da violência a sua fé; outro - da não-violência o seu credo. Um - incendiou o mundo, com a força; outro - iluminou-o, com a razão.” (Napoleão Bonaparte e Ghandi)

“É que, se Bonaparte foi um gênio, faminto de poder, Ghandi foi um apóstolo, sedento de humanidade.”

“Balzac definia a teimosia como a persistência dos tolos. Ghandi provou que a persistência é a teimosia dos sábios.”

SOBRE O SESQUICENTENÁRIO DAINDEPENDÊNCIA DO BRASIL
“ É o vale-quem-tem erigido em norma de viver. É o ladrão encarcerado porque roubou pouco, e o barão improvisado porque roubou muito.”

COMO PARANINFO DA TURMA DE BACHARÉIS DE 1974

“Admiração (pelo Governador Ernani Sátyro) tão profunda e tão real que a intimidade não conseguiu diminuir. Tenho entretanto dois motivos: um de elevada inveja, outro de baixo ciúme. Inveja de sua glória literária conquistada com livros admiráveis e ciúme por ter visto V. Ex.a. governar a Paraíba, que é o mesmo que ter casado com minha noiva.”

“...estou vivo, porque duas vezes morri e duas ressuscitei. A morte, vendo que não me intimidava, largou-me. Hoje, fingimos que não nos conhecemos.

“ foi juiz, se absolveu por compaixão, não condenou por fraqueza.”

“Desanimar um jovem é enterrar um vivo. E se não há ressurreição para aquele que o desânimo matou, não há perdão para quem matou enganos e desflorou ilusões.”

“ Os monstros não sabem que são monstros e os santos sabem que se erguem e caminham sobre ombros de pecadores, as vezes, nem são tão pecadores os que carregam nem tão inocentes os carregados.”

“Já foi dito que as rosas morrem se desfolhando, e nós vivemos como as rosas morrem. Assim, estou vivendo estes instantes revendo minha terra, as suas cores, a policromia feiticeira que encantou os meus olhos e doirou a minha vida. Sentindo o seu cheiro de mulher, de mãe. Cheiro de terra que o mar não conhece, cheiro de terra que só conhece o mar. E a rosa, que já foi rosa, batida por todos os ventos, castigada, por tantos sóis, embranquecida por tantos luares, volta aos jardins nativos para deixar cair suas últimas pétalas. É uma volta que não espera por outras, e traz na alegria dos abraços a tristeza dos adeuses.”

UM SANATÓRIO COM O SEU NOME EM PETRÓPOLIS

“Saudação tão sincera, tão cheia de belos e lisonjeiros conceitos, que o vento não levará, porque eu já os guardei dentro do coração.”

“Então, quando de mim só restar este bronze tão duro, tão diferente de minha alma, então ele dirá, no seu silêncio sem fim: deixai que caia sobre mim o luar que eu não posso contemplar; Deixai que sussurrem as brisas por que eu não posso ouvi-las; Deixai que passem os perfumes porque eu não posso senti-los; este é o castigo para quem tanto se extasiou com as belezas da natureza, para quem tanto amou os mistérios da vida.”

EM HOMENAGEM AO PARLAMENTAR AGAMENON SÉRGIO DE GODÓI MAGALHÃES

“E por que havia de ser esse, exatamente esse, o escolhido da fatalidade? É que o jequitibá, por ser mais alto que todos, atrai o raio que o fulmina! O fogo do céu despreza os arbustos; só atinge as frondes que do céu se avistam!”

À MEMÓRIA DO ESCRITOR JOSÉ LINS DO REGO

“...com os carinhos de jardineiro maníaco e a força telúrica de um temperamento exuberante.”

“Sua glória, veio com ele dentro dele, como se estivesse a sua espera. Ela, a glória, às vezes aparece assim, furtivamente, lá pela várzea do Paraíba, decerto atraída pela beleza triste dos canaviais. Um dia surgiu no "Engenho Pau d‘arco", beijou a fronte de um poeta, um poeta que se chamou Augusto dos Anjos, beijou-o e largou-o no mundo. Depois, ressurgiu no "Engenho Corredor" e repetiu o ritual. Assim, em poucos anos, coube à abençoada terra paraibana um privilégio que outras não conseguem em séculos

“... relembrarão, chorando, o labor ruidoso das moagens, o cheiro doce da bagaceira, o ranger das moendas, e dirão aos anjos que é melhor viver cá em baixo, brincando na beira do rio, do que viver lá em cima, "na luz dos astros imortais, abraçado com todas as estrelas.”

“Beleza que depende de explicação deixa de ser beleza.”

“...e os retirantes, na tragédia da fuga, espectros a imitar os vivos, uns se arrastando, outros ficando, um dedo de poeira como sepultura, e o sol - velho assassino - com punhais em brasa a varar esqueletos; Nordeste da labuta estrepitosa do eito, miseráveis a fabricar riquezas, a cair de inanição sobre a fartura, vendo com os olhos, comendo com a testa; eles de foice em cima da cana e a morte de foice em cima deles; pés descalços pisando rodilhas de cascavéis e a misericórdia divina se mostrando na saliva do curandeiro; bichos, bichos que descansam às vezes, homens que não descansam nunca; bagaço guardado, que serve para queimar, inválidos expulsos, que pra nada servem.”

“O vento do cariri, quando sopra, impetuoso, na lombada do nordeste, copas e raízes estremecem de espanto, e as próprias cigarras silenciam, assustadas. As árvores mais altivas inclinam-se como se as frondes procurassem confundir-se com as relvas para fugir ao açoite e à destruição. E há um trançar e destrançar de cipós, um rolar de seixos, um estalar de ramos partidos, tão fragoroso que faz pensar em ninhos de metralhadoras ocultos nas touceiras dos cardos e dos mandacarus, espalhando pânico e morte por matas e tabuleiros. Viçoso só fica o que era realmente viçoso, verde o que era realmente verde. De pé, impassíveis em face do massacre, e satisfeitas de mostrar a pujança dos troncos e a rijeza dos galhos, só as aroeiras e as baraúnas. O entusiasmo paraibano é como o vento do cariri, violento, estrepitoso, arrasador.”

“Meus senhores, meus conterrâneos. Não recordemos mais. Recordar não é viver, porque recordar é viver de lembrança, e viver de lembrança é morrer de saudade”

A POSSE NO SUPREMO TRIBUNAL MILITAR

“Presente de mãe pobre é sacrifício; e se todo presente comove, todo sacrifício enternece”

“Ontem era a luta sem tréguas para conquistar e manter posições. Era o delírio da ascensão, gerado pela vaidade e alimentado por todos os caprichos. Porque assim é a vida pública, assim é a política, que, se muitas vezes sabe ser a arte humana de trabalhar pelos outros, também sabe - e como! - soltar o diabo no coração dos homens.”

“Com ele aprendemos que só é verdadeiramente forte quem tem razão. Aprendemos que nenhum Poder prevalece contra as nobres causas. Aprendemos que nenhuma terra é pequena quando os seus filhos são grandes. Graças ao seu sacrifício aprendemos que, quando um povo se levanta nas ruas e alucinado derruba torres e pedestais, é que esse povo traz no peito uma grande revolta e uma grande esperança.”

“E a única maneira de sufocar essa revolta é realizar essa esperança.”

“Se o mau coração exclui a benevolência, o bom coração não exclui o rigor.”

SOBRE O POETA GUILHERME DE ALMEIDA

“Recebeu Guilherme de Almeida, em vida, a consagração dos seus méritos, e recebeu, das mãos da morte, num funeral exaltado, o último dividendo da sua glória.”

SAUDAÇÃO AOS AGRACIADOS DA ORDEM DOMÉRITO JUDICIÁRIO-MILITAR

“Justiça, aquela que é o último refúgio dos inocentes, a derradeira esperança dos oprimidos, a barreira extrema contra a iniquidade; aquela que é porta do céu aberta pela mão imaculada dos justos...”

“...deste vão e dramático mundo, ao qual nos trazem sem consulta e do qual nos levam sem aviso.”

“E o reconhecimento é mais importante que o perdão. Perdão é clemência, reconhecimento é justiça.”

HOMENAGEM A TEIXEIRA DE FREITAS

“Como todos os homens tocados pela centelha da genialidade, acompanharam Teixeira de Freitas as irmãs inseparáveis dos seres superiores: a miséria, a glória, a amargura, a insânia. Muita razão tinha Balzac quando dizia que a miséria é a parteira do gênio.”

“A égide das consciências puras, o látego das consciências pervertidas. É a "poesia do caráter, a ordem legal da vida, a Santa Conceição dos oprimidos, o evangelho espontâneo das religiões do futuro"(Sobre o Direito).

“Se nossas decisões às vezes penderem para um lado, será para o lado bom da humanidade, para o lado onde mansamente se espraia o mais tranqüilo de todos os mares: o mar de leite da bondade humana.”

COMEMORAÇÕES DO CENTENÁRIO DE NASCIMENTODO POETA RODRIGUES DE CARVALHO

“Assim batizou-se e crismou-se na igrejinha, "feita de leite e de sonhos ao luar", de Tauá, sua adorada aldeia natal, que ele depois cobriria de versos para enfeitá-la, e o artista, com ternuras de filho, sobre ela derramaria o oiro fino da rima, para tornar rica a pobre e formosa rainha cabocla, mãe de um príncipe, mãe de um poeta, de um mago das estrofes, que a arrancou de uma choupana à beira-rio e levou-a vestida de chita e pé no chão, ao castelo real da fantasia.”

“Pobre guilheta que pulsas dentro em meu peito, como poderei eu te iludir, se, quando busco a avidez do bom-senso pela bússola das coisas práticas, tu, como pesada âncora de chumbo, ferras a galera branca de minh‘alma no lago docemente ignoto da saudade?”

“No caniço frágil do deserto encontrareis, ó racional inconsciente, que viveis do pão e da matéria, um resto da crisálida onde a borboleta irisou-se; num crivo de espinhos, na árvore seca dos nossos sertões, descortináveis trapos de um ninho que o vento desfibrou; não sabeis que a borboleta vive pela saudade da clausura quase extinta e que a rola brava geme a nostalgia eterna de seu berço.”

“...é que nunca é demais na vida o canto dos poetas, como nunca é demais o canto dos pássaros na mata.”
“Pareceu-me absorto, o semblante parado e triste de boi manso, cara de meninão sensível, brejeiro evoluído, que nunca se conformou em ver, na labuta do eito e na bagaceira dos engenhos, homens morrendo de inanição sobre a fartura alheia.”

“Os amores fúteis são os que dão à vida doçura, leveza e graça. O chamado "único amor" dá mais preocupação e angústia do que filho único. Quanto aos amores violentos, dos desenlaces fatais, só servem para transformar a existência num palco de tragédia e levar os obsessos à floresta enfeitiçada da perdição, da perdição pela cegueira...”

“...um bicho do mato, com um raio de sol na cabeça e um clarão de luar dentro do peito.”

“Bastava-lhe ser o poeta do seu meio, embora restrito, da sua gente, ainda que modesta, do seu torrão amado - e isto com um desinteresse absoluto pela literatura de alto coturno, que fez quando quis, só para mostrar que sabia fazer, pois aquilo de que gostava mesmo era de misturar orquídeas e alecrins, rosas e manjericões.”

“...ante o menino infeliz que não vai à Escola porque precisa trabalhar, porque tem em casa o pai doente ou a mãe viúva, e capina e capina, de sol a sol, e é do sol o único calor afetivo que recebe.”

DELEGADO DA ACADEMIA PARAIBANA DE LETRAS NA FEDERAÇÃO DAS ACADEMIAS NACIONAIS

“só conheço duas coisas mais doces que a voz de um bom amigo: a voz da mãe desvelada murmurando: "Deus te abençoe", e a risada do neto traquinas zombando do avô...”

“Bendita seja a amizade, que rivaliza com a fé, no assombro dos prodígios!.

“Depois, depois me veio - ó infortúnio! a mais pérfida das tentadoras: aquela que tem muito de hiena, de sereia de mulher fatal; aquela a quem entregamos pelo menos metade da alma; a que traz sedução nos traços e traz a morte no seio - a política.”

“Mas, quantas vezes, observando o entrevero das competições ferozes a feira tumultuária das vaidades; o balcão cigano da trapaça; os sinuosos roteiros florentinos da perfídia “

“Hoje estou capacitado a transmitir o que uma dura experiência me ensinou. Afirmo que Deus não se preocupa com a nossa política, tão difícil é ela de entender e suportar. Deus tolera-a simplesmente, como certas autoridades toleram o jogo. Deixa-a existir, como deixa que existam pântanos e precipícios, raposas, ursos e tamanduás. E então a política, desaçaimada, livre de vigilância, soberana, solta o diabo no coração do homem. E solta-o através da ambição, sua filha primogênita.”

“daquela fecunda solidão, eu que tanto a amo, por ser ela o salário solenemente triste das almas que nasceram para a liberdade.”

DISCURSO DE ALCIDES CARNEIRO NA INAUGURAÇÃO DO EDIFÍCIO-SEDE DO IPASE, NO RIO DE JANEIRO

“Mas, na verdade, sempre ansiei, sempre sonhei sentar-me entre vós, em doce comunhão intelectual, na qual a inteligência serve, pródiga e fraternalmente, seus frutos de ouro, em sublime eucaristia do espírito.”
“E é por cálculo, e não por modéstia, que chamo a mim mesmo velho. Dito por mim dói menos e tira aos outros o gosto cruel de dizê-lo.”

Citando seu discurso de posse na Federação das Academias de Letras do Brasil
"Sim, são eles os donos da graça. Quando um poeta se alegra, surge uma aurora; quando um poeta entristece, baixa um crepúsculo; quando a ternura envolve um poeta, enlaçam-se a alma os afagos macios de um plenilúnio...”

“Sei que estou aqui porque me considerais orador. E o vosso julgamento sobremodo me desvanece, tanto mais quanto orador outra coisa não é senão poeta destemperado, poeta que se desquitou da métrica e da rima. Há uma diferença maior: as palavras do orador, leva-as o vento; mas o vento não leva as miríficas estrofes que os bardos cantam. E quando as leva é para murmurá-las, soluçando; é para declamá-las, gemendo.”

“Arquitetos do imponderável tem eles a sua perspectiva que nos sufoca em vertigens mortais. Eles têm o dom de subjugar os gemidos ao número, de subordinar à medida as dores incomensuráveis, de infiltrar a mocidade ou a velhice humana na primavera ou no inverno do mundo, e fazer assim coincidir a dor própria com a dor universal.”

“...a glória - irmã gêmea da fama, filha dileta da luz, mãe fecunda da imortalidade”

SAUDAÇÃO NA CÂMARA FEDERAL A UM PARLAMENTAR CHILENO

“...luta como se lutasse por um tesouro, pelo pão de cada dia e pelo sossego de cada noite, e se contenta com o pouco que tem porque só ama em excesso a liberdade. Povo que se acostumou a ver grandeza sem invejar, mas não se acostumou a sofrer opressões sem reagir.”

“... entre chilenos e brasileiros há uma união, uma amizade velha como os Andes. Há um vínculo que não vem de longe nem vem de perto porque domina de eternidade a eternidade. É obra do Criador, porque foi Deus quem fez que os gênios daquelas montanhas nos mandassem de presente, para a nossa sempiterna gratidão, um oceano que caminha - o Amazonas - que outro não é senão o Maranõn que desce de lã a gorgolejar, e celebra núpcias com a terra virgem no abraço vertiginoso do Solimões, e espraia-se e contém-se, e estende-se e adelgaça-se, e corre e arrasta-se até desafogar no único seio mais vasto que o dele - a lembrança e a nostalgia da cordilheira natal.”

“...o conceito de que a democracia é como a honra, que cada um tem que defender por ser um bem pessoal e todos têm que resguardar, por ser um bem de todos. Ela é intocável. Égide perfeita até dos transviados, ninguém cuida em dirigi-la nem mesmo quando refervem as mais desaçaimadas paixões, pois paixões existem onde quer que existam homens. E se as ambições se exasperam, então acontece o que acontece com as águas quando extravasam: procuram as depressões, invadem os declives, cavam sulcos onde sulcos não haja; enrodilham-se nos pântanos, mas respeitam os píncaros; destroem as relvas, mas respeitam as frondes.”

SOBRE A TORTURAÇÃO SERTANEJA SOB O FLAGELO DAS SECAS

“Cadáveres sem conta pontilham já as estradas empoeiradas e mostram os dentes ao sol num derradeiro protesto; e não lhes dão sequer uma cova por piedade, pois os que morrem de fome e de sede pouco têm o que enterrar, mesmo porque o coveiro piedoso é menos apressado do que o corvo voraz.”

“Podeis crer, Srs. Deputados, como se estivésseis ouvindo os gemidos dos moribundos e os gritos dos desesperados. Crede que desgraçadamente nesta hora se está extinguindo, na pior das mortes, o cerne da nacionalidade”

FALANDO DE PEDRO AMÉRICO

“ Ele nasceu aqui bem perto, numa diminuta cidade, Areia, suspensa no alto da serra, mimosa e branca, como uma hóstia de luar, do lendário luar paraibano, o mais lindo de todos os luares. Pedro Américo era um predestinado. Um galo pintado na parede abriu ao favorito da fama as portas da imortalidade. E o mundo inteiro conheceu aquele paraibano fabuloso, que viu tudo, que sofreu tudo e até a fome sofreu, para que não se desmentisse aquele conceito de Balzac de que a miséria é a parteira do gênio.”

SOBRE CAMPINA GRANDE

“Um dia afirmei, em fervorosa exaltação, que Deus fez a Paraíba com o braço e Campina Grande com o coração.”

EM DISCURSO, NOS ANOS 50, EM CRUZ DAS ARMAS

“Recebo essas palmas como uma benção dos homens e esta chuva como uma benção dos céus” (Início de discurso, após cair uma chuva torrencial e Alcides perceber a empolgação dos participantes).

¨Determinado e incansável Pastor que sozinho construiu um Templo tão belo que mais um presente do Céu para agradar a terra, que um presente da terra para agradar o Céu.¨ O Pastor o qual se referia era o Frei Anastácio, guardião do Templo construído.

Tião Lucena 
(Com pesquisa de Inácio Tavares)