sábado, 23 de setembro de 2017

A casa

Confesso:
Quando a olhei
eu apenas queria,
em sua boca,
a água onde começa a vida.


E fui num murmúrio:
preciso do teu fogo
para não morrer.
Ela, então,
sussurrou o convite:
vem a minha casa.


No caminho,
porém,
recusou meu braço,
esfriou o meu alento.
E corrigiu-me assim o intento:
não te quero corpo,
nem quero o fogo do leito,
nem o frio do adeus.


Suave murmurou:
levo-te,
homem,
a minha casa
para aprenderes a ser mulher.
Que nenhum outro fim
a casa tem.


Mia Couto

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