terça-feira, 30 de setembro de 2014

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Do face da Vanessa Spinosa

Francisco lança campanha contra pedófilos na Igreja católica

No Vaticano, cada ação, e até mesmo cada gesto, por banal que possa parecer, inclui também uma mensagem, um aviso para navegantes mais ou menos subliminar. E a decisão sem precedentes do papa Francisco de ordenar a detenção – à luz do dia e expondo as graves acusações – do ex-arcebispo polonês Josef Wesolowsky, acusado de abusar sexualmente de menores enquanto foi núncio na República Dominicana, inclui duas sérias advertências aos setores mais retrógrados da Cúria, os mesmos que agora se entrincheiram para impedir qualquer abertura – a volta aos sacramentos dos divorciados casados de novo –, mas permaneceram cegos, surdos e mudos durante décadas de abusos.
 
A primeira advertência de Jorge Mario Bergoglio é que, agora sim, acabou a frouxidão – para não dizer a cumplicidade – com os crimes de pedófilos. A segunda é a garantia de que, ainda que se removam os alicerces de São Pedro, ninguém, por mais importante que seja, vai se salvar de ser julgado por fatos tão graves.
 
 
Pablo Ordaz, El País

Meus 25 irmãos

Meu nome é Paraíba, e tenho 25 irmãos. Sabemos quem é nossa mãe, mas não temos certeza sobre quem é o pai de cada um, porque somos legião. O mal da nossa mãe foi ser tão fecunda, bastava que lhe plantassem algo ali onde ela tudo dava. Seu destino era traçado a milhares da léguas da cama onde vivia sendo possuída. Mas tem uma velha oração, ou será uma canção antiga, que diz que não há tragédia que não produza uma nova forma de viver, e, se é uma nova forma de viver, é algo, em princípio, bom.


A terra dos nossos pais é grande e se estende por montes, campinas, matas e rios. Vivemos quase todos ao alcance da vista uns dos outros. Quem vive perto se observa, se vigia, se controla, se mantém a uma distância respeitosa, conserva os outros a uma distância confortável. Por uma questão meio de poder aquisitivo, meio de hábito tradicional, vivo cercado pelos meus irmãos mais próximos – Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará – cujas terras limitam com as minhas e com quem, metaforicamente, troco empréstimos de xícaras de açúcar, vagas na garagem, senhas de wi-fi.


Numa família de muitos irmãos, é normal que alguns não se conheçam, que outros inventem formas de convivência e apoio. Eu mesmo desde muito cedo saí da casa dos meus país e fui morar na casa do meu irmão Rio de Janeiro, que mora longe mas é super bem sucedido, ou pelo menos assim apregoa. Morei com São Paulo também, que não é o mais velho mas é sem dúvida o mais rico de todos os irmãos e acha que basta isso para lhe dar direito a uma primogenitura. Enfim, uma discussão que já é antiga.


Irmãos demais dá nisso. Uma bela noite a gente está de volta à cidade natal, vai a um bar com a antiga turma e de repente um cara de bigode se aproxima de uma mesa próxima. “Você é Paraíba?” “Sim, sou eu mesmo.” “Eu sou teu irmão, então. Me chamo Amazonas.” (Roraima, Amapá, Acre...) Bom, só me resta apertar sua mão e dizer: “Que legal, cara, somos irmãos, nossos pais já me falaram muito de você, não é lá que predomina a pesca do pirarucu?”. Meu amigo, é família que haja mapa.


Todos nos avaliamos a meia distância, como convém a quem concorre. Todos trocamos pequenas gentilezas, como acontece com quem sabe que um dia morre. Saber que somos irmãos nos dá a idéia de que jogamos do mesmo time, estamos botando a bola pro mesmo lado, mesmo que discordemos de todo o resto. Uns são mais histriônicos e necessitados de holofotes. Outros são mais carregadores de piano. Tem uns que sonham em viver no estrangeiro com os pais, tem outros que se orgulham da vida aqui na mãe. Enfim: igual ao que acontece com toda família, desde que o mundo é mundo.


Bráulio Tavares
(mundofantasmo)

Todo leitor é leitor de si mesmo

Na realidade, todo leitor é, quando lê, o leitor de si mesmo. A obra não passa de uma espécie de instrumento óptico oferecido ao leitor a fim de lhe ser possível discernir o que, sem ela, não teria certamente visto em si mesmo.

Marcel Proust, in "O Tempo Redescoberto"

domingo, 28 de setembro de 2014

Miss Brasil é a cearense Melissa Gurgel

Em uma disputa acirrada, o posto de Miss Brasil 2014 ficou com Melissa Gurgel, do estado do Ceará. A beldade derrotou a Miss São Paulo, Fernanda Leme, e foi coroada na cerimônia realizada na noite do último sábado (27), em Fortaleza, capital cearense.

Despedida

E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perda da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.

Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.

E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?

Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.

Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus.
 
A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.

 
Rubem Braga

Extraído do livro "A Traição das Elegantes", Editora Sabiá – Rio de Janeiro, 1967, pág. 83

Charge do Amarildo

sábado, 27 de setembro de 2014

Nacional de Pombal 1 X 0 Internacional de Teixeira-PB


Diga NÃO ao racismo!


Artesanato em barro

Barraca de artesanato (em barro) localizada às margens da BR 230 na cidade de Pombal-PB. É a festa do Rosário se aproximando.

Nacional rumo a 1ª divisão

O Nacional Futebol Clube de Pombal-PB estréia hoje contra a equipe do Internacional da cidade de Teixeira-PB visando uma vaga na 1º divisão do Campeonato Paraibano de Futebol de 2015.
 
A equipe nacionalina vem se preparando há meses sob o comando do treinador Reginaldo Sousa (ex-treinador do Atlético de Cajazeiras e Sousa Esporte Clube além de muitos outros clubes do nordeste.
O elenco conta com alguns jogadores revelados na cidade além de muitos outros atletas profissionais que atuaram em equipes da 1º divisão, a exemplo do Treze, Sousa e Campinense.
 
O "Camaleão do Sertão" entrará em campo, "rumo a 1ª divisão, logo mais às 15h:30min no estádio municipal  "O Pereirão".

Charge

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Ler pouco

Jovem, eu sonhava ter uma grande biblioteca. E fui assim pela vida, comprando os livros que podia. Tive de desenvolver métodos para controlar minha voracidade, porque o dinheiro e o tempo eram poucos. Entrava na livraria, separava todos os livros que desejava comprar e, ao me aproximar do caixa, colocava-os sobre o balcão e me perguntava diante de cada um: “ Tenho necessidade imediata desse livro? Tenho outros, em casa, ainda não lidos? Posso esperar?” E assim ia pegando cada um deles e os devolvendo às prateleiras. A despeito desse método de controle cheguei a ter uma biblioteca significativa, mais do que suficiente para as minhas necessidades.
 
Notei, à medida em que envelhecia, uma mudança nas minhas preferências: passei a ter mais prazer na seção dos livros de arte nas livrarias. Os livros de ciência a gente lê uma vez, fica sabendo e não tem necessidade de ler de novo. Com os livros de arte acontece diferente. Cada vez que os abrimos é um encantamento novo! Creio que meu amor pelos livros de arte têm a ver com experiências infantis.
 
Talvez que os psicanalistas interpretem esse amor como uma manifestação neurótica de regressão. Não me incomodo. Pois, em oposição à psicanálise que considera a infância como um período de imaturidade que deve ser ultrapassado para que nos tornemos adultos, eu, inspirado por teólogos e poetas, considero a maturidade como uma doença a ser curada. Bem reza a Adélia Prado: “ Meu Deus, me dá cinco anos, me cura de ser grande…” E não pensem que isso é maluquice de poeta. Peter Berger, um sociólogo inteligente e com senso de humor, definiu “maturidade”, essa qualidade tão valorizada, como “ um estado de mente que se acomodou, ajustou-se ao status quo e abandonou os sonhos selvagens de aventura e realização…” Menino de cinco anos, eu passava horas vendo um livro da minha mãe, cheio de figuras. Lembro-me: uma delas era um prédio de dez andares com a seguinte explicação: “Nos Estados Unidos há casas de dez andares.” E havia a figura de um caçador de jacarés, e de crianças esquimós saudando a chegada do sol.
 
O fato é que comecei a mudar os meus gostos e chegou um momento em que, olhando para aquelas estantes cheias de livros, eu me perguntei: “Já sou velho. Terei tempo de ler todos esses livros? Eu quero ler todos esses livros?” Não, nem tenho tempo e nem quero. Então, por que guardá-los? Resolvi dar os livros que eu não amava. Compreendi, então, que não se pode falar em amor pelos livros, em geral. Um homem que diz amar todas as mulheres na verdade não ama nenhuma. Nunca se apaixonará. O mesmo vale para os livros. Assim, fui aos meus livros com a pergunta: “Você me ama?” (Acha que estou louco? É Roland Barthes que declara que o texto tem de dar provas de que me deseja. Há muitos livros que dão provas de que me odeiam. Outros me ignoram totalmente, nada querem de mim… ). “Vou querer ler você de novo?” Se as respostas eram negativas o livro era separado para ser dado.
 
Essa coisa de “amor universal aos livros” fez-me lembrar um texto de Nietzsche sobre o filósofo Tales de Mileto, em que ele recorda que “a palavra grega que designa o “sábio” se prende, etimologicamente, a sapio, eu saboreio, sapiens, o degustador, sisyphos, o homem de gosto mais apurado; um apurado degustar e distinguir, um significativo discernimento, constitui, pois, (…) a arte peculiar do filósofo. (…) A ciência, sem essa seleção, sem esse refinamento de gosto, precipita-se sobre tudo o que é possível saber, na cega avidez de querer conhecer a qualquer preço; enquanto o pensar filosófico está sempre no rastro das coisas dignas de serem sabidas…” E depois, no Zaratustra, ele comenta com ironia: “Mastigar e digerir tudo – essa é uma maneira suina.”
 
O fato é que muitos estudantes são obrigados a ler à maneira suina, mastigando e engolindo o que não desejam. Depois, é claro, vomitam tudo… Como eu já passei dessa fase, posso me entregar ao prazer de ler os livros à maneira canina. Nenhum cachorro abocanha a comida. Primeiro ele cheira. Se o nariz não disser “sim” ele não come. Faço o mesmo com os livros. Primeiro cheiro. O que procuro? O cheiro do escritor. Se não tem cheiro humano, não como. Nietzsche também cheirava primeiro. Dizia só amar os livros escritos com sangue.
 
Ler é um ritual antropofágico. Sabia disso Murilo Mendes quando escreveu: “No tempo em que eu não era antropófago, isto é, no tempo em que eu não devorava livros – e os livros não são homens, não contém a substância, o próprio sangue do homem?” A antropofagia não se fazia por razões alimentares. Fazia-se por razões mágicas. Quem come a carne do sacrificado se apropria das virtudes que moravam no seu corpo. Como na eucaristia cristã, que é um ritual antropofágico: “Esse pão é a minha carne, esse vinho é o meu sangue…” Cada livro é um sacramento. Cada leitura é um ritual mágico. Quem lê um livro escrito com sangue corre o risco de ficar parecido com o escritor. Já aconteceu comigo…
 
 
Rubem Alves

Adele


Foi um privilégio pertencer à Humanidade enquanto ela durou

Lembra do bug do milênio? Depois que o fim do mundo não aconteceu como previsto, no começo dos anos 2000, o Apocalipse ficou desmoralizado. Mas pode ter havido apenas um erro nas datas da sua chegada. Das 940 quadras das profecias de Nostradamus, em apenas nove ele dá datas especificas, e é compreensível que tenha se enganado em alguma.
 
Na quadra 72 da décima centúria das profecias de Nostradamus está escrito que “no ano de 1999 e sete meses dos céus virá o grande rei do terror”. O costureiro Paco Rabanne, um estudioso da obra de Nostradamus, deduziu que o dia do grande terror, quando o mundo começaria a acabar, seria 28 de julho de 1999. Inclusive, dizem que ele fez o que seria seu último desfile no dia 27 e pagou todo mundo com cheques pré-datados. Segundo Paco, o fim se iniciaria com a explosão de uma estação espacial abandonada pelos russos sobre Paris. Feitos alguns ajustes nas datas, a previsão mantém-se perfeitamente plausível.
 
O que viria depois da explosão Nostradamus não esclareceu. Disse que o rei do terror faria ressuscitar uma grande potência do Oriente e dela viria um anticristo que reinaria no Ocidente. Exegetas das profecias interpretaram suas palavras como uma referência a hordas mongóis lideradas por um Gengis Khan redivivo. Hoje a interpretação pode ser outra: a grande potência que ressuscita é a Rússia, e a grande ameaça que vem do Oriente é Putin, provavelmente a cavalo e sem camisa.
 
Como se sabe, junto com os discos de vinil e a Wanderléa, a Guerra Fria voltou. E a Rússia tem novos foguetes de longo alcance com múltiplas ogivas nucleares, capazes de destruir 17 Hiroshimas ao mesmo tempo, só um pouco menos do que os foguetes americanos. Paco Rabanne se precipitou. O fim pode estar próximo agora.
 
Quero aproveitar a oportunidade para dizer que foi um privilégio pertencer à Humanidade enquanto ela durou. E sei que falo pelos bilhões e bilhões de pessoas que frequentaram este planeta desde que éramos pré-hominídeos que não sabiam nem fazer fogo nem sexo de frente quando digo que foi bom. Fizemos muita bobagem, é verdade — guerras, filhos demais, carros com rabos de peixe, Brasília —, mas também fizemos coisas admiráveis.
 
Dois exemplos: a Catedral de Chartres e a Patricia Pillar. E nos divertimos, é ou não é? Parabéns à Terra, que nos acolheu sem fazer perguntas, nos deu a água e o oxigênio de que precisávamos para viver e ainda nos proporcionou grandes crepúsculos, sem falar no cheiro de capim molhado e no pudim de laranja. Obrigado, velha. Que venha o Apocalipse. Viva o Internacional.
 
 
Luis Fernando Veríssimo

Uma vida simples e modesta só pode fazer bem

Uma vida exterior simples e modesta só pode fazer bem, tanto ao corpo como ao espírito. Não creio de modo algum na liberdade do ser humano, no sentido filosófico. Cada um age não só sob pressão exterior como também de acordo com a sua necessidade interior. O pensamento de Schopenhauer: «O homem pode, na verdade, fazer o que quiser, mas não pode querer o que quer», impressionou-me vivamente desde a juventude e tem sido para mim um consolo constante e uma fonte inesgotável de tolerância. Esse conhecimento suaviza benéficamente o sentimento de responsabilidade levemente inibitório e faz com que não tomemos demasiado a sério, para nós e para os outros, uma concepção de vida que justifica de modo especial a existência do humor.

Do ponto de vista objetivo, pareceu-me sempre desprovido de senso querer-se indagar sobre o sentido ou a finalidade da própria existência ou da existência da criação. E, no entanto, cada homem tem certos ideais, que o orientam nos seus esforços e juízos. Neste sentido o bem-estar e a felicidade nunca me pareceram um fim em si (chamo a esta base ética o ideal da vara de porcos). Os ideais que me iluminavam e me encheram incessantemente de alegre coragem de viver foram sempre a bondade, a beleza e a verdade. Sem o sentimento de harmonia com aqueles que têm as mesmas convicções, sem a indagação daquilo que é objetivo e eternamente inatingível no campo da arte e da investigação científica, a vida ter-me-ia parecido vazia. Os fins banais do esforço humano: propriedade, êxito exterior e luxo pareceram-me desprezíveis desde jovem.

Albert Einstein, in 'Como Vejo o Mundo'

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Quando o virtual não é real

Uma estudante holandesa recentemente resolveu fazer uma brincadeira: fingiu estar por cinco semanas viajando pelo Sudeste Asiático. Publicou, na sua página do Facebook, fotos tiradas em praias paradisíacas e em templos budistas. Tudo falso, claro, feito com a ajuda de um programa de manipulação de imagens. No entanto, conseguiu enganar família e amigos, que pensavam estar acompanhando virtualmente a sua aventura pela Ásia.
 
Em abril deste ano, um ativista decidiu criar uma página falsa no Facebook, em nome de um dos candidatos a presidente da Síria. Usou a página como palco a partir do qual lançar controvérsias e rumores, que terminaram sendo citados em vários meios de comunicação. Seu objetivo? Mostrar como é fácil manipular jornalistas que, em vez de fazer seriamente seu trabalho, baseiam-se em páginas de redes sociais virtuais que são facilmente manipuláveis.
 
Como saber quando a Internet está representando e não distorcendo a realidade?
 
Campanhas “Fake”?
 
Essa não é uma preocupação apenas dos usuários, mas também das empresas que oferecem serviços na Internet. Por exemplo, o próprio Facebook disponibiliza uma lista das “Dez maneiras para detectar uma conta falsa”. Além disso, tanto o Facebook como o Twitter criaram um “selo de autenticidade” para pessoas públicas, que atesta a origem de determinada página ou conta. Se não fosse por isso, como saber quais das dezenas de páginas que alegadamente representam os candidatos à Presidência no Brasil são as verdadeiras?
 
No entanto, essas iniciativas não resolvem todo o problema.
 
Podemos saber quais páginas ou contas são autênticas, mas não sabemos em que medida podemos confiar nos dados de uso da Internet. Comprar seguidores no Twitter é fácil, e criar páginas falsas para “curtir” outras no Facebook virou parte do cotidiano eleitoral. Assim, não dá para levar muito a sério dados que são alardeados pelas campanhas, como o número de seguidores ou o alcance das publicações do Facebook.
 
Outras iniciativas.
 
Como sempre enfatizamos nesta coluna, as iniciativas dos próprios internautas muitas vezes dão boas pistas sobre como promover a cidadania na Internet. Por exemplo, nesta sexta-feira o Instituto BETA para Internet e Democracia promoverá a Wikitona Eleições 2014, uma maratona de edição e criação de verbetes no Wikipédia, relacionados, como diz o título do evento, às eleições deste ano. A ideia é criar uma fonte viva, coletiva, e, claro, confiável, sobre variados aspectos do processo eleitoral. A conferir.
 
 
Marisa Von Bülow
Doutora em ciência política e professora do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília. Estuda as relações entre Internet e ativismo político e movimentos sociais nas Américas.
 
Do blog do Noblat

O reverso do mérito

A meritocracia está por toda parte. Ou, pelo menos, o que parece ser um desejo dela. A palavra pipoca nas conversas, nas discussões políticas, na imprensa. Em geral, aparece como ausência: é algo que faz falta, que não existe. “E a meritocracia, como fica?” É a pergunta que se ouve, em tom de crítica e cobrança.
 
Alguma coisa parecia soar falso nessa quase unanimidade. Até que um pedaço de conversa entreouvido na rua fez a ficha cair. Vivemos um paradoxo: a assim chamada meritocracia deveria encarnar o reconhecimento do mérito como um princípio para guiar a vida pública.
 
No entanto, em boa parte das vezes em que é invocada entre nós, a palavra serve para que alguém tente justificar exatamente o reverso desse conceito: a perpetuação de privilégios. Os muitos privilégios — de nascimento, classe social, cor da pele e tantos outros —, de tal forma entranhados na vida brasileira que parecem “normais”, imutáveis.
 
Um artigo do economista Eduardo Giannetti — atual assessor da candidata Marina Silva — publicado há alguns dias na Folha de S. Paulo ajuda a explicar o paradoxo. Ele distinguia entre dois tipos de desigualdade: aquela que reflete talentos, valores e esforços diferenciados dos indivíduos, e aquela que resulta de um “jogo viciado na origem — de uma profunda falta de equidade nas condições iniciais de vida, da privação de direitos elementares e/ou da discriminação racial, sexual ou religiosa”.
 
A distinção, em si, vale um debate. Mas basta registar aqui que o paradoxo da “meritocracia” usada para justificar os privilégios resulta exatamente da falta de reconhecimento desse “jogo viciado na origem” apontado por Giannetti, ao qual ele atribui a responsabilidade pela péssima distribuição de renda brasileira.
 
Se nossas crianças e jovens começam a vida com brutais disparidades de condições e oportunidades, como falar em avaliação do mérito na hora em que vão disputar um lugar na universidade ou um cargo no serviço público? No entanto, é exatamente isso que cobram, muitas vezes, aqueles que reclamam mais “meritocracia”: que esqueçamos essa disparidade de condições iniciais — o jogo viciado na origem — para considerar simplesmente o resultado pontual de um exame. Como se todos os concorrentes chegassem a esse momento em igualdade de condições.
 
Não deveria ser difícil entender que, sem um nivelamento mínimo das oportunidades iniciais, não há como avaliar e reconhecer méritos individuais. E a palavra “meritocracia”, nessas condições, se torna oca — uma caricatura do significado que supostamente deveria carregar.
 
 
Armando Mendes é jornalista

Tudo é engano

Tudo é engano: buscar o mínimo de ilusão, permanecer no nível usual, ou buscar o máximo. No primeiro caso, engana-se o bem, na medida em que se deseja tornar fácil demais a sua conquista; e o mal, na medida em que é colocado em condições de luta excessivamente desfavoráveis. No segundo caso, o bem é enganado na medida em que não se luta para alcançá-lo, nem mesmo naquilo que é terreno. No terceiro caso, engana-se o bem na medida em que a esperança é torná-lo impotente na sua máxima intensidade. Seria preferível, nisto tudo, o segundo caso, pois ainda assim engana-se o bem e não o mal; neste caso, pelo menos em aparência.

Franz Kafka, in 'Os Aforismos de Zurau ou Reflexões no Pecado, Sofrimento, e o Caminho da Verdade'.


quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Batata yacon: insulina natural para diabéticos

Apelidada popularmente de “insulina natural”, a batata yacon ganhou destaque depois que pesquisadores da Universidade de Fukushima, no Japão, encontraram nela uma substância semelhante à insulina, capaz de reduzir as taxas de glicose no sangue. Esses estudos concluíram que o tubérculo, originário dos Andes, pode contribuir no tratamento de diabetes. O efeito benéfico decorre de uma interessante combinação de nutrientes. O carboidrato presente ali, a inulina, é um tipo de açúcar de baixa caloria, que não promove picos de glicemia, embora garanta o aporte de energia necessário às atividades diárias. Além disso, fornece fibras alimentares, que estimulam a flora bacteriana intestinal — por isso ela também é indicada em casos de prisão de ventre e colesterol elevado. E ainda traz porções de potássio, um mineral que auxilia no controle da pressão arterial.

Alimento poderoso
 
Já ouviu falar em amido resistente? O nome é dado ao amido que resiste às enzimas digestivas. Ele estimula a atividade intestinal e desacelera o esvaziamento gástrico. Devido a estas características, reduz a quantidade de insulina em circulação e contribui para maior sensação de saciedade. Pesquisas revelam que o amido resistente pode colaborar na prevenção e tratamento do diabetes tipo 2. Suas fontes são tubérculos como batata e mandioca, leguminosas como feijão e grão-de- bico, além de cereais integrais. A batata yacon não fornece amido, mas outro componente que não fica nada a dever, a inulina. Por chegar íntegra ao intestino grosso, ela também evita as perigosas altas nas taxas de açúcar.
 

Como consumir

Para se obter os melhores resultados, a batata yacon deve ser consumida crua como uma fruta, não frita ou cozida. Com aparência de batata-doce, ela tem a textura porosa e o sabor semelhante ao da pera. Coma de três a quatro fatias por dia. Ou faça um chá com suas folhas e tome duas vezes ao dia.
 
 
Fonte aqui

Trem das onze


Envelhecer dói

Enquanto pudermos curtir os Stones em carne e osso, não estamos velhos. A afirmativa está no livro The Rolling Stones, de Cristopher Sandford, sobre a banda, que tem subtítulo pretencioso -“A biografia definitiva”. Definitivo mesmo só a morte e os filhos. Os dois não têm volta. Não há ex-filho, muito menos – e lamentavelmente - ex-morte.
 
Mas a frase, além de boa, é um alento. No mínimo, ainda haverá uma próxima super turnê internacional dos roqueiros setentões, com suas roupas coladas e seu sonzão que, desde os anos 60, embala e delicia quem gosta do rock.
 
Sonzão e embala me entregam, né? Tenho mais de 50. Estou entre os mais doídos, porque ainda por cima sou mulher. Envelhecer dói mais ainda nas mulheres. (Preciso mesmo explicar por quê?) E nem me venha com o eufemismo de “melhor idade”. Melhor pra quem, cara pálida?
 
Melhor mesmo é ter 20 anos. Tudo em cima. Inocência e alegria de ainda botar muita fé na vida, na política, etc. Estou mais sábia? Tenho mais conhecimento, mais vivência, diria. Estou mais saudável? Mais bonita? Claro que não. Mais divertida, menos ansiosa? Sei não. Mais interessante? Também não.
 
Isso de ser “mais interessante” é outro dos eufemismos/delicadeza que arranjaram pra aliviar a dor de ser “mais” de 50. Conheci uma mulher muito interessante... Pode ter certeza. Ela tem bem mais do que 40.
 
Enfim, um festival de não, não, não respondem a questão posta: melhor idade pra quem?
 
Vão dizer, mas hoje em dia, com tantos recursos da cosmética, medicina & saúde, uma mulher de 70 está em plena forma. Ummm... Digamos, está mesmo muito melhor do que estiveram mamãe e vovó na mesma idade. Mas em “plena forma” é só mais um dos reforços positivos de amenizar a dor do inexorável envelhecimento, com tudo contido nesse pacote indigesto.
 
Cirurgias plásticas são maravilhosas – e defendo todas, para todas as idades. Botox e afins idem. Mas têm os limites do bem ou mal feito, do quanto e até quando? Popularizados, vão nos mantendo, mas, infelizmente, também deixando rastros e fazendo monstros.
 
Quem, ao encontrar alguém somando muitas cirurgias e/ou botox, não pensou: Eita! Exagerou na dose. Ou seja, a figura está parecendo travesti de si mesma, peça inflável, caricaturada de jovem.
Você, então, dói por ele/a. Teme também perder o limite do limite para continuar na tal do em plena forma. Não tem jeito. O tempo passa. O tempo estraga.
 
E a alternativa ao estrago é a morte. Aquela dita cuja de quem a maioria foge feito a Dilma tem fugido da Marina (ou vice-versa). Assim, enquanto a definitiva não chega, melhor mesmo é contar com a próxima turnê dos Rolling Stones para, mais uma vez, ouvir Satisfaction ao vivo, como se fosse ontem e nem houvesse amanhã.
 
PS.: O livro é ótimo, inclusive, para quem tem menos de 60.
 
 
Tânia Fusco
(Do blog do Noblat)

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Chegou a primavera!

A primavera
 
A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.

Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.

Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.

Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.

Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.

Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.

Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.

Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.

Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.
 
 
Cecília Meireles


Texto extraído do livro "Cecília Meireles - Obra em Prosa - Volume 1", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1998, pág. 366.

A quem interessar possa

Abriu a janela no exato momento em que a garrafa com a mensagem passava, levada pelo vento. Pegou-a pelo gargalo e, sem tirar a rolha, examinou-a cuidadosamente. Não tinha endereço, não tinha remetente. Certamente, pensou, não era para ele. Então, com toda delicadeza, devolveu-a ao vento.
 
Marina Colasanti

Tempos interessantes

Livraria em Londres durante a II Guerra
 
Os chineses têm uma expressão para rogar praga a alguém: “Tomara que você viva em tempos interessantes”. É o contrário de desejar a alguém paz e tranquilidade, não é mesmo? Doris Lessing dizia que os bombardeios nazistas sobre Londres trouxeram morte e terror para muita gente, mas também trouxeram um pouco de animação para suas vidas. Uma senhora londrina bem idosa lhe disse uma vez: “It was a nice change.” (“Foi uma mudança agradável”). Pode ter sido. Para pessoas que levavam uma vida tediosa, reprimida, asfixiante, a guerra pode ter representado uma liberação, uma instabilidade onde era possível meter os pés, arregaçar as mangas, tomar decisões, viver intensamente, em suma. Tempos interessantes.



Algo parecido é dito por Colin Wilson em vários livros: que durante os bombardeios da II Guerra Mundial os londrinos se divertiam a valer nos bares instalados nos porões. O chão tremia, as bombas caíam a algumas dezenas de metros, mas a música não parava, a bebida rolava solta, todo mundo namorava e dançava pra valer. A proximidade e a possibilidade da morte (bem como a impossibilidade de fazer algo a respeito) pareciam tornar cada minuto mais carregado de significado.



F. Scott Fitzgerald (“Echoes of the Jazz Age”, 1931) dizia que a palavra jazz estava associada “a um estado de estimulação nervosa não muito diferente daquele das grandes cidades logo aquém do front de batalha. Para muitos ingleses, a guerra ainda continua, porque todas as forças que os ameaçavam ainda estão em atividade. Portanto, vamos comer, vamos beber e nos divertir, porque amanhã a gente morre.” Note-se o quanto Fitzgerald tinha razão: a guerra a que ele se refere era a Primeira, e os ingleses tinham uma percepção muito sensata do que lhes vinha pela frente.


Quem gosta de tempos interessantes são as pessoas que gostam de desafios, de aventuras, as que não temem a incerteza, que sabem conviver permanentemente com os próprios medos. Pessoas pacatas são sabem conviver com o medo. Quando estão numa situação mediana e satisfatória de estabilidade, querem que tudo permaneça assim. Têm moradia, comida, trabalho, o básico da vida; e a última coisa que desejam é que essa estabilidade precária seja ameaçada. Diante do novo e do desconhecido, esperneiam e vociferam. São capazes de tudo para manter as coisas do jeito que estão. Entre a aventura de querer melhorar e a segurança de se agarrar ao que já têm, preferirão sempre esta última. Temem as próprias limitações, acham sempre “que não vai dar”, agarram com desespero o pássaro-na-mão que o destino lhes concedeu até agora. Não querem viver em tempos interessantes.

Bráulio Tavares
(mundofantasmo)

Confiança

O Senhor é a minha luz e a minha salvação; a quem temerei? O Senhor é a força da minha vida; de quem me recearei? Quando os malvados, meus adversários e meus inimigos, se chegaram contra mim, para comerem as minhas carnes, tropeçaram e caíram. Ainda que um exército me cercasse, o meu coração não temeria; ainda que a guerra se levantasse contra mim, nisto confiaria.

Salmos 27:1-3

Homem de palavra

Voz destemida, que enfrentava o coronelismo alagoano, Mendonça Neto certa vez, em campanha, foi a Flexeiras, reduto do temido Paulo Calheiros, dono da vida e da morte na região e amigo de Divaldo Suruagy, então governador. Calheiros foi ao encontro de Mendonça:
 
- O que o sr. pretende ganhar com esse comício, deputado?
 
- Votos, Paulo. Vivo disso. É a minha reeleição.
 
- Mas o sr. vai esculhambar o Divaldo e isso não fica bem…
 
- Preciso sair daqui com uns 150 votos por aqui – arriscou Mendonça.
 
- Deputado, se o problema é esse, dou 300 votos para o sr. não fazer esse comício – propôs o dono dos votos de cabresto.
 
Acordo fechado, Calheiros cumpriu o trato: Mendonça, que não contava ser votado na cidade, naquela eleição teve 305 votos em Flexeiras.

 
Diário do Poder

Tony Bennett e Amy Winehouse


Velhas árvores

Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...

O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.

Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:

Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!


Olavo Bilac, in "Poesias"


segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Mammy Blue - Rick Shayne


Humor

Qual a diferença entre um político e um cachorro atropelados? antes do cachorro, há marcas de freada...

Sobre casamento

É bom atentar para o que o papa diz. Porta-voz de Deus na Terra, ele só pensa pensamentos divinos. Nós, homens tolos, gastamos o tempo pensando sobre coisas sem importância tais como o efeito estufa e a possibilidade do fim do mundo. O papa vai direto ao que é essencial: “O segundo casamento é uma praga!”

Está certo. O casamento não pertence à ordem abençoada do paraíso.
 
No paraíso não havia casamento. Na Bíblia não há indicação de que as relações amorosas entre Adão e Eva tenham sido precedidas pelo cerimonial a que hoje se dá o nome de casamento: o Criador, celebrante, Adão e Eva nus, de pé, diante de uma assembléia de animais, tudo terminando com as palavras sacramentais: “E eu, Jeová, vos declaro marido e mulher. Aquilo que eu ajuntei os homens não podem separar…”
 
Os casamentos, o primeiro, o segundo, o terceiro, pertencem à ordem maldita, caída, praguejada, pós-paraíso. Nessa ordem não se pode confiar no amor. Por isso se inventou o casamento, esse contrato de prestação de serviços entre marido e mulher, testemunhado por padrinhos, cuja função é, no caso de algum dos cônjuges não cumprir o contrato, obrigá-lo a cumpri-lo.
 
Foi um padre que me ensinou isso. Ele celebrava o casamento. E foi isso que ele disse aos noivos: “O que vos une não é o amor. O que vos une é o contrato”. Aprendi então que o casamento não é uma celebração do amor. É o estabelecimento de direitos e deveres. Até as relações sexuais são obrigações a ser cumpridas.

Agora imaginem um homem e uma mulher que muito se amam: são ternos, amigos, fazem amor, geram filhos.
 
Mas, segundo a igreja, estão em estado de pecado: falta ao relacionamento o selo eclesiástico legitimador. Ele, divorciado da antiga esposa, não pode se casar de novo porque a igreja proíbe a praga do segundo casamento. Aí os dois, já no fim da vida, são obrigados a se separar para participar da eucaristia: cada um para um lado, adeus aos gestos de ternura… Agora está tudo nos conformes. Porque Deus não enxerga o amor. Ele só vê o selo eclesial.
 
O papa está certo. O segundo casamento é uma praga. Eu, como já disse, acho que todos são uma praga, por não ser da ordem paradisíaca, mas da maldição. O símbolo dessa maldição está na palavra “conjugal”: do latim, “com”= junto e “jugus”= canga. Canga, aquela peça pesada de madeira que une dois bois. Eles não querem estar juntos. Mas a canga os obriga, sob pena do ferrão…
 
Por que o segundo casamento é uma praga? Porque, para havê-lo, é preciso que o primeiro seja anulado pelo divórcio. Mas, se a igreja admitir a anulação do primeiro casamento, terá de admitir também que o sacramento que o realizou não é aquilo que ela afirma ser: um ato realizado pelo próprio Deus. Permitir o divórcio equivale a dizer: o sacramento é uma balela. Donde, a igreja é uma balela… Com o divórcio ela seria rebaixada do seu lugar infalível e passaria a ser apenas uma instituição falível entre outras. A igreja não admite o divórcio não é por amor à família. É para manter-se divina…
 
A igreja, sábia, tratou de livrar seus funcionários da maldição do amor. Proibiu-os de se casarem. Livres da maldição do casamento, os sacerdotes têm a suprema felicidade de noites de solidão, sem conversas, sem abraços e nem beijos. Estão livres da praga…”
 
 
Rubem Alves
Publicado originalmente na Folha de S. Paulo

Dói-me a vida aos poucos

Estou num daqueles dias em que nunca tive futuro. Há só um presente imóvel com um muro de angústia em torno. A margem de lá do rio nunca, enquanto é a de lá, é a de cá, e é esta a razão intima de todo o meu sofrimento. Há barcos para muitos portos, mas nenhum para a vida não doer, nem há desembarque onde se esqueça. Tudo isto aconteceu há muito tempo, mas a minha mágoa é mais antiga.

Em dias da alma como hoje eu sinto bem, em toda a consciência do meu corpo, que sou a criança triste em quem a vida bateu. Puseram-me a um canto de onde se ouve brincar. Sinto nas mãos o brinquedo partido que me deram por uma ironia de lata. Hoje, dia catorze de Março, às nove horas e dez da noite, a minha vida sabe a valer isto.



No jardim que entrevejo pelas janelas caladas do meu sequestro, atiraram com todos os balouços para cima dos ramos de onde pendem; estão enrolados muito alto, e assim nem a ideia de mim fugido pode, na minha imaginação, ter balouços para esquecer a hora.

Pouco mais ou menos isto, mas sem estilo, é o meu estado de alma neste momento. Como à veladora do «Marinheiro» ardem-me os olhos, de ter pensado em chorar. Dói-me a vida aos poucos, a goles, por interstícios. Tudo isto está impresso em tipo muito pequeno num livro com a brochura a descoser-se.



Se eu não estivesse escrevendo a você, teria que lhe jurar que esta carta é sincera, e que as cousas de nexo histérico que aí vão saíram espontâneas do que sinto. Mas você sentirá bem que esta tragédia irrepresentável é de uma realidade de cabide ou de chávena — cheia de aqui e de agora, e passando-se na minha alma como o verde nas folhas.

Foi por isto que o Príncipe não reinou. Esta frase é inteiramente absurda. Mas neste momento sinto que as frases absurdas dão uma grande vontade de chorar. Pode ser que se não deitar hoje esta carta no correio amanhã, relendo-a, me demore a copiá-la à máquina, para inserir frases e esgares dela no «Livro do Desassossego». Mas isso nada roubará à sinceridade com que a escrevo, nem à dolorosa inevitabilidade com que a sinto.

Fernando Pessoa, in 'Carta a Mário de Sá-Carneiro (1915) '

domingo, 21 de setembro de 2014

A Fortaleza

Hoje pela manhã fui surpreendido com essa edificação em meu quintal. Segundo Yan (meu filho de 08 anos), trata-se de uma "FORTALEZA" contra navios piratas! Bom, que seja...

Lançamento

O livro: “AFONSO COELHO MOUTA – Homenagem de Uma Filha”, de Maria Clemilde, naturalmente nos remete as lembranças do Cine Luz, um mundo mágico de luz, som, imagens em movimentos que vivemos em Pombal. O livro são fragmentos autobiográficos... Reminiscências deixadas no passado, um poema de saudade ao seu pai, Seu Afonso, que consolidou a cinematografia pombalense.


A apresentação do livro será no Pombal Ideal Clube, durante o Encontro dos Filhos e Amigos de Pombal, no sábado, dia 11 de outubro, a partir das 13h00min. Com certeza, junto estarei com Maria Clemilde para compartilhar o lançamento do seu livro.

Verneck Abrantes



A dor que dói mais

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.

Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Doem essas saudades todas.

Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.
 
 

O receio do sofrimento

Todos os sofrimentos que nos cercam, é-nos necessário sofrê-los igualmente. Todos nós, não temos um corpo, mas um crescimento, e esse conduz-nos através de todas as dores, seja sob que forma for. Do mesmo modo que a criança, através de todos os estádios da vida, se desenvolve até à velhice e até à morte (e cada estádio parece no fundo inacessível ao precedente, quer seja desejado ou receado), do mesmo modo nos desenvolvemos (não menos solidários da humanidade do que de nós próprios) através de todos os sofrimentos deste mundo. Para a justiça não há, nesta ordem de coisas, lugar algum, não mais do que para o receio dos sofrimentos ou para a interpretação do sofrimento como um mérito.

Franz Kafka, in "Os Aforismos de Zurau ou Reflexões no Pecado, Esperança, Sofrimento, e o Caminho da Verdade


sábado, 20 de setembro de 2014

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.



Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"


sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Pe. Antônio Maria fará show em Pombal

Abertura do FESTA DO ROSÁRIO em Pombal
Data: 0210/2014 (quinta-feira)
Local: Centro Histórico de Pombal
Hora: 21h

Separatismos

Foto: Alliance / DPA
Não sei se os escoceses votarão por sair de baixo das saias da rainha Elizabeth hoje, ou não, mas o fato de o ímpeto separatista ter chegado a este ponto (as últimas pesquisas davam um empate técnico entre o “sim” e o “não”) num país do Reino Unido — aquela aconchegante matriz da Commonwealth, que os britânicos inventaram para fingir que ainda têm um império — mostra como nem as presumíveis zonas de conforto do mundo estão livres dos contrassensos da História.
A secessão escocesa seria uma bonita vitória de ideais abstratos, mas respeitáveis, como independência e identidade nacionais, porém seria, ou será, um contrassenso. Isso se você concordar que o senso da História deveria ser para a integração cada vez maior de nacionalidades, em vez de um retorno ao tribalismo.
 
E todos os ímpetos separatistas, por mais nobres e justos que sejam, são movidos por uma saudade da tribo. Ou, no caso da Escócia, do clã.
 
Não há analogia possível entre a secessão escocesa e outros movimentos separatistas no mundo — mesmo porque não há analogia possível entre a relação da Inglaterra com o resto do Reino Unido e a relação de qualquer outro governo do mundo com suas províncias —, mas todos têm em comum esse caráter regressivo, essa nostalgia tribal.
 
Você pode simpatizar com a rebeldia de uma Catalunha ou de um País Basco, ligados ao governo central em Madri apenas por frágeis formalidades, ou com o País de Gales, que talvez seja o próximo pedaço da Grã-Bretanha a pedir seu boné. Mas cada reivindicação de autonomia de um desses países autodefinidos por uma cultura e uma língua próprias é um passo na direção errada. Acho eu.
 
Mas é difícil resistir aos apelos do separatismo. Uma vez alguém me mostrou num mapa o que, na sua opinião, era o país perfeito. Começava na Toscana, incluía o Piemonte, pegava um naco da Cote d’Azur e toda a Provence.
 
Era um país em que não faltaria nada, nem em paisagens nem em gastronomia nem em qualidade de vida (e que vinhos!), e que só precisaria eliminar uma fronteira nacional e criar outra para existir.
 
Tem gente que defende a sério uma secessão gaúcha, mas volta e meia surgem especulações menos sérias sobre como seria um país desejável do Sul. Ele talvez incluísse o Paraná, mas há controvérsias.

 
Santa Catarina não poderia ficar de fora, se por mais não fosse, pelas suas praias. E anexaríamos o Uruguai, certamente. Tudo puro delírio, claro. Se bem que... Não, não. Puro delírio.
 
Há quem diga que já houve uma secessão no Brasil. São Paulo separou-se do resto e há anos é a sua própria União independente. Não sei.
 
 
Luis Fernando Veríssimo é escritor

Pudesse eu contar as vezes

Pudesse eu contar as vezes que ferrei os cantos da boca imaginando que eram teus os dentes que assim me amavam; que eram os teus lábios aqueles que, nessas ocasiões, eu mordia. Lembras-te de uma frase que costumavas citar, por tê-la escutado em qualquer parte, ou lido, já não sei bem? Aquela que dizia
- A minha anatomia enlouqueceu; sou toda corarão.
Pois é como me tenho sentido, mais ou menos assim, com a anatomia enlouquecida, sem saber já quais são os meus dentes ou qual a minha boca; como se cada pedaço meu não fosse mais do que saudade de ti: o desejo de te voltar a ver, de te cobrir outra vez de beijos - olhos, boca, rosto, o corpo todo de beijos -, de te abraçar e sentir o teu cheiro, de tomar nas mãos o ramo crespo dos teus cabelos e inalar a fragrância do teu pescoço. Possuo agora, em mim apenas, nos limites da minha topografia, toda a exaltação dos nossos corpos e sinto que não chego para tanto porque a soma de nós dois excedeu sempre a existência física dos nossos corpos. É como se rebentasse por dentro e tivesse de esticar a alma - ou lá o que é - para me ser possível reter ao menos um pouco do que daí sobrou.

Manuel Jorge Marmelo, in 'O Amor É para os Parvos'

quinta-feira, 18 de setembro de 2014


Frase

"Em países ainda em fase de consolidação institucional, ou que tenham instituições débeis, a reeleição funciona como o carro-chefe, a mãe de todas as corrupções de toda a espécie.
 
 
Joaquim Barbosa, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal.

Crucificada

Amiga... noiva... irmã... o que quiseres!
Por ti, todos os céus terão estrelas,
Por teu amor, mendiga, hei-de merecê-las,
Ao beijar a esmola que me deres.

Podes amar até outras mulheres!
- Hei de compor, sonhar palavras belas,
Lindos versos de dor só para elas,
Para em lânguidas noites lhes dizeres!

Crucificada em mim, sobre os meus braços,
Hei de poisar a boca nos teus passos
Pra não serem pisados por ninguém.

E depois... Ah! depois de dores tamanhas,
Nascerás outra vez de outras entranhas,
Nascerás outra vez de uma outra Mãe!

Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"


Supere-se


quarta-feira, 17 de setembro de 2014


Versículos do dia

Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus.
Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.
Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita;

Sabedoria é não entender

Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.

Clarice Lispector, in 'A Descoberta do Mundo'

Quando Deus não olha

Quando se fala em literatura jovem, em prosa de ficção escrita por jovens (autores com menos de 30 anos), parece haver (já vi isso ser dito entre editores, críticos, autores) um pressuposto de que serão livros falando em sexo, drogas e rock-and-roll. Eu nada tenho contra estes importantes fatores, mas, vamos e venhamos, nada disso é privilégio jovem. Esqueçam o clichê. Cada jovem tem seus problemas e seus horizontes, no que diz respeito à literatura. Literatura não é ilustração de uma tese sociológica. Literatura é seiva da vida espremida até se tinturar de sangue.

O maior problema do jovem, diria eu, é tornar-se adulto: jogar o jogo adulto. O romance de Débora Ferraz, Enquanto Deus não está olhando (Record, 2014, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura) é a história de uma moça de vinte e poucos anos e seu difícil ajuste de contas com a vida: com a perda do pai, com a possível perda do namorado, com um trabalho onde se sente enjaulada e encolhida, com a opção de ser artista plástica (coisa que a família estranha e não assimila) e assim por diante. É um livro de ação constante, de idas e voltas, procuras, derrotas, desencontros, aquela agitação que todos conhecemos: no fim do dia se tem a sensação de que vinte coisas foram resolvidas e não se avançou um passo.

O livro transcorre numa João Pessoa jamais nomeada, e só reconhecível por sabermos que é lá que a autora mora. Cenas como a do reveillon na praia, por mais que a reconheçamos, não devem ser muito diferentes em outras cidades. Não há nomes de ruas, de praças, mas é uma João Pessoa palpável e familiar, tal como a Campina Grande que José Nêumanne descreve, também sem nomear, no seu O Silêncio do Delator.

Não sou grande leitor de livros longos, mas o fato é que tracei sem cansaço ou esforço as 366 páginas do livro. São jovens que tomam cerveja, conversam sobre o futuro, queixam-se dos pais. A ausência de nomes próprios (seja de bares, de canções, de marcas, de lojas, de pessoas da cultura pop e da TV) dá ao livro um aspecto curiosamente realista, numa literatura que, anêmica de sentido, torna-se cada vez mais referencial, atulhada de marcas, nomes e citações. A realidade onde os personagens circulam em suas espirais intermináveis, que nunca avançam, é uma realidade feita de ações, pessoas, sentimentos; aquilo poderia ser o Irã ou a Bélgica. Apesar disso, e na verdade por causa disso, é um livro essencialmente paraibano (sem regionalismo, mas é a Paraíba por onde caminho hoje em dia) e provavelmente brasileiro. Nessa cidade transparente e neutra, os personagens são só eles mesmos, e é só com isto que podem contar.
 
Bráulio Tavares
(mundo fantasmo)