sexta-feira, 31 de julho de 2015

Regional Sul 1 divulga nota sobre ideologia de gênero nos planos de educação

Bispos do regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgaram nota, nesta quinta-feira, 11, ao final da 78ª Assembleia Episcopal Regional, sobre a inclusão da chamada ideologia de gênero, nos planos municipais de educação. O texto contêm esclarecimentos sobre tema em questão. "Diante dessa grave ameaça aos valores da família, esperamos dos governantes do Legislativo e Executivo uma tomada de posição que garanta para as novas gerações uma escola que promova a família, tal como a entendem a Constituição Federal (artigo 226) e a tradição cristã, que moldou a cultura brasileira", assinam os bispos.
Leiam o texto na íntegra:
 NOTA DO REGIONAL SUL 1/CNBB
SOBRE IDEOLOGIA DE GÊNERO NA EDUCAÇÃO

Aos Srs. Prefeitos, Presidentes e Vereadores dos Municípios,
educadores e pais no Estado de São Paulo;
Nós, Bispos católicos do Estado de São Paulo (Regional Sul 1 da CNBB), no exercício de nossa missão de Pastores, queremos manifestar nosso apreço ao empenho dos Conselhos Municipais de Educação na elaboração dos Planos Municipais de Educação para o próximo decênio, a serem votados nas Câmaras Municipais. Destacamos nesses projetos, além da universalização do ensino, o empenho em colocar, como eixo orientador da educação, a inclusão social, para que uma geração nova de homens e mulheres possa se tornar construtora de uma sociedade onde todas as pessoas, grupos sociais e etnias sejam respeitados e possam participar e se beneficiar da produção dos bens materiais e culturais, numa nação cada vez mais próspera e justa. Consideramos, entretanto, oportuno e necessário esclarecer o que segue, no que se refere à ideologia de gênero, nos Planos Municipais de Educação:
A discussão dos Planos Municipais de Educação, deveria ser orientada pelo Plano Nacional de Educação (PNE), votado no Congresso Nacional e sancionado em 2014 pela Presidente da República, do qual já foram retiradas as expressões da ideologia de gênero.
Os projetos enviados aos Legislativos Municipais incluíram novamente, em suas propostas, a ideologia de gênero, como norteadora da educação, tanto como matéria de ensino, como em outras práticas destinadas a relativizar a natural diferença sexual.
A ideologia de gênero, com que se procura justificar esta “revolução cultural”, pretende que a identidade sexual seja uma construção exclusivamente cultural e subjetiva e que, consequentemente, haja outras formas igualmente legítimas de manifestação da sexualidade, devendo todas integrar o processo educacional com o objetivo de combater a discriminação das pessoas em razão de sua orientação sexual.
A ideologia de gênero subverte o conceito de família, que tem seu fundamento na união estável entre homem e mulher, ensinando que a união homossexual é igualmente núcleo fundante da instituição familiar.
As consequências da introdução dessa ideologia na prática pedagógica das escolas contradiz frontalmente a configuração antropológica de família, transmitida há milênios em todas as culturas. Isso submeteria as crianças e jovens a um processo de esvaziamento de valores cultivados na família, fundamento insubstituível para a construção da sociedade.
Diante dessa grave ameaça aos valores da família, esperamos dos governantes do Legislativo e Executivo uma tomada de posição que garanta para as novas gerações uma escola que promova a família, tal como a entendem a Constituição Federal (artigo 226) e a tradição cristã, que moldou a cultura brasileira.
Pedimos ainda que seja cumprido o que dispôs o Conselho Nacional de Educação, através da Câmara de Educação Básica, que, dispõe que o ensino religioso integra a base nacional comum da Educação Básica (na resolução número 4, de 13/07/2010, em seu artigo 14, § 1, letra F).
Seja, pois, incluído nos Planos Municipais de Educação o ensino religioso, em sintonia com a confissão religiosa da família, que tem filhos na escola.
Queremos também solidarizar-nos com todos os que sofrem discriminação na sociedade. Que as escolas ofereçam uma educação que valorize a família e a prática das virtudes, acolhendo bem a todos, seja qual for a orientação sexual.
Deus abençoe a todos que trabalham na educação das crianças, adolescentes e jovens.

Aparecida, 11 de junho de 2015.

Cardeal Dom Odilo Pedro SchererPresidente do Conselho Episcopal Regional Sul 1 – CNBB

Dom Moacir SilvaVice-Presidente do Conselho Episcopal Regional Sul 1 – CNBB

Dom Tarcísio ScaramussaSecretário do Presidente do Conselho Episcopal Regional Sul 1 – CNBB

Fonte e créditos aqui

Já ouviu falar no instrumento chamado "Bandoneon"? Então assista a esse maravilhoso e emocionante tango argentino e conheça. Gosta de boa música? Compartilhe.
Posted by Marcos Pereira on Sábado, 16 de maio de 2015

Dentista que matou leão no Zimbábue é alvo de ira nas redes sociais

O dentista americano Walter Palmer, que matou o leão Cecil, no Zimbábue, está sendo alvo de ataques irados nas redes sociais.
O americano do Estado de Minnesota já havia participado de várias caçadas no passado e matou com uma besta o leão de 13 anos de idade, no Parque Nacional de Hwange, no Zimbábue.
Agora, ele está enfrentando a indignação de desde internautas obscuros até celebridades, como Sharon Osbourne (esposa do roqueiro Ozzy Osbourne) e a modelo e atriz Cara Delevigne, após sua identidade ter vindo à tona.
A página de seu consultório, River Bluff Dental, no site Yelp - que reúne resenhas de estabelecimentos comerciais feitas por internautas - sofreu uma série de ataques indignados e a página do estabelecimento no Facebook foi tirada do ar.

BBC Brasil

Uma pintura renascentista mostra que a melancia costumava ser bem diferente do que a conhecemos

Um quadro italiano à venda na galeria de arte Christie’s está levantando várias questões sobre a domesticação das frutas. Trata-se de uma obra de Giovanni Stanchi na qual estão retratadas diversas plantas e frutas, entre elas, pêssegos, peras e melancias –estas com um aspecto bem diferente do qual as conhecemos.

A estimativa é que o quadro tenha sido pintado entre 1645 e 1672, décadas após a popularização da fruta na Europa. A África é o continente de origem da melancia que, ao ser inserida no mercado, foi desenvolvendo determinados aspectos para sobreviver ao clima europeu.
Domesticar uma fruta também é cultivá-la em uma série de condições que faça com que ela tenha certas características desejáveis. A melancia, por exemplo, foi desenvolvida de forma a ser maior e ter um interior mais vermelho do que ela tinha originalmente.

De acordo com James Nienhuis, professor de horticultura da Universidade do Wisconsin, nos Estados Unidos, a melancia “das antigas” provavelmente era saborosa, mais doce do que a sua contemporânea.
O professor também acredita que a domesticação da fruta não parará por ai. “Atualmente estamos experimentando formas de nos livrar das sementes da melancia”, afirma.
Fonte: Revista Galileu

Seguirei meu caminho - Altemar Dutra

quinta-feira, 30 de julho de 2015


Uso do hífen

Compartilho com os amigos a sugestiva indagação do amigo Adauto Neto sobre o uso do hífen. A professora Maria Tereza, respondeu: 

Pergunta:
"Mulher Melão" não tem hífen. Posso deduzir que também não devem ter hífen: "Homem Macaco" (Tarzan), "Homem Aranha", "Homem Formiga", "Homem Morcego (Batman) e "Mulher Gato"?

Resposta:
Acho que foi a você que já expliquei que não se usa hífen em mulher melão (ou mulher mamão) porque ela não é ao mesmo tempo mulher e melão, ou mulher e mamão, mas simplesmente tem partes do corpo que lembram essas frutas. Já nos demais usa-se hífen, pois a pessoa parece toda ou agente como o segundo substantivo: Homem-Aranha, Homem-Formiga, Homem-Morcego etc. 

Atenciosamente,

Profa. Maria Tereza Q. Piacentini (site Língua Brasil)

Vai de táxi ou de Uber?

Uber X Taxi (Arquivo Google)
O secretário Rafael Picciani partiu para o ataque e prometeu logo “repressão”, sem disfarçar ser parte interessada na questão

Não estou entre os cinco cariocas que, segundo levantamento, se queixam diariamente à Secretaria de Transportes dos táxis da cidade, mesmo porque não utilizo o serviço todo dia. Se tivesse que reclamar, seria por algum gesto de descortesia ou antipatia, mas nenhuma falta grave. Até fiz amizade com alguns taxistas e fiquei sabendo que, em grande parte, são explorados, porque não são donos do seu carro — trabalham para uma cooperativa ou pagam aluguel ao proprietário de uma frota (segundo me contaram, há vários poderosos).
É a eles que recorro para meus eventuais deslocamentos, ou, mais recentemente, também ao Easy Táxi. Por isso ou por sorte, o fato é que poderia me colocar ao lado deles nessa briga com o Uber. Porém, pelo que leio no noticiário e ouço de conhecidos, é provável que o meu exemplo seja exceção. Já em relação ao aplicativo, que usei apenas uma vez, como acompanhante, só tenho ouvido elogios à qualidade do atendimento.
A alegação é que o chamado sistema de “carona paga” praticaria uma concorrência desleal por não se submeter às mesmas obrigações fiscais, ou seja, por não pagar os mesmos impostos, o que é discutível. Mas se é isso, por que não equipará-los em direitos e deveres?
Em termos de imagem, a dos táxis piorou depois da carreata de protesto. Enquanto a atitude deles prejudicava o trânsito e deixava na mão os seus passageiros, a dos concorrentes conquistava simpatia. Eles telefonavam aos clientes oferecendo corridas grátis. Injustificável foi o gesto de autoridades municipais engajando-se no movimento, como se estivessem em campanha eleitoral — como se estivessem?
Sabe-se o quanto o apoio político da categoria é decisivo para candidatos a cargos eletivos. O secretário de Transportes chegou a discursar num carro de som como porta-voz dos manifestantes, vestindo a camisa de militante onde só faltou estar escrito “Eu sou taxista”. O Uber, no entanto, foi tratado como pirata, “um caso de polícia”, como ele disse, indispondo a população contra uma novidade tecnológica bem aceita e sem culpa formada.
Ao contrário de cidades como Nova York, que antes de uma decisão, está avaliando os efeitos do aplicativo — se melhora ou não o trânsito, se é vantajoso para o usuário — o secretário Rafael Picciani partiu para o ataque e prometeu logo “repressão”, sem disfarçar ser parte interessada na questão.
Mais sensato foi o presidente do Conselho Estadual dos Taxistas, José Marcos Bezerra. Diante das críticas que recrudesceram após os protestos de sexta-feira passada, informou que os motoristas passarão por cursos de reciclagem a partir de dezembro. Ele quer que nas Olimpíadas de 2016 os 54 mil taxistas não façam feio. Tem que vencer assim, pela competição, não pela reserva de mercado.
Zuenir Ventura
Do Blog do Noblat

Frase

Não vamos colocar meta. Vamos deixar a meta aberta mas, quando atingirmos a meta, vamos dobrar a meta

DILMA, SOBRE O FUTURO DO PRONATEC

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Amando sobre os jornais

Amando noite afora
Fazendo a cama sobre os jornais
Um pouco jogados fora
Um pouco sábios demais
Esparramados no mundo
Molhamos o mundo com delícias
As nossas peles retintas
De notícias

Amando noites a fio
Tramando coisas sobre os jornais
Fazendo entornar um rio
E arder os canaviais
Das páginas flageladas
Sorrimos mãos dadas e, inocentes
Lavamos os nossos sexos
Nas enchentes

Amando noites a fundo
Tendo jornais como cobertor
Podendo abalar
o mundo
No embalo do nosso amor
No ardor de tantos abraços
Caíram palácios
Ruiu um império
Os nosso olhos vidrados
De mistério


Chico Buarque 

“Há um imperativo de ser feliz, em todos os lugares, o tempo todo”

Roger-Pol Droit é um filósofo atípico que renega os intelectuais, um pouco de brincadeira, um pouco a sério. Faz tempo que chegou à conclusão de que devemos confiar menos na cabeça e mais no coração. Que refletir é muito bom, mas que o importante é sentir.
É um pensador importante, autor de vasta obra que inclui ambiciosos ensaios; austeros trabalhos de pesquisa sobre as tradições filosóficas chinesas, indianas e tibetanas, além de obras de divulgação que em muitas ocasiões confinam com o literário. Em sua tentativa de romper a distância do pensador em relação à plebe,aposta em experimentos como propor ao leitor uma série de exercícios insólitos que o desconcertem e o conduzam a uma reflexão.

Correr em um cemitério. Telefonar a nós mesmos. Beber e urinar ao mesmo tempo. Estes são alguns dos experimentos que propõe ao leitor para despertar um questionamento do estabelecido. Foi o que fez em 101 Experiências de Filosofia Cotidiana[publicado no Brasil em 2002], livro de fitness filosófico –coisas domarketing editorial– que vendeu 100.000 exemplares na França e que está sendo reeditado agora na Espanha (pela Blackie Books). E em sua nova obra, Se só me Restasse uma Hora de Vida,[publicada no Brasil pela Bertrand Brasil], submete-se a um de seus experimentos: imaginar o que faria se tivesse apenas uma hora de vida para descobrir, assim, o que é o essencial. A vocação experimental não o abandonou e ele realizou uma obra com inclinação poética a meio caminho entre o ensaio, a filosofia e uma literatura que denomina jazzy, ou seja, na qual improvisa e se deixa levar.O assombro, defende com afinco, conduz à filosofia.

“É um jogo sério, uma experiência de pensamento”, afirma em uma sala do Instituto Francês de Madri. É terça-feira à tarde e no céu se desenham nuvens que anunciam chuva. Faltam poucas horas para que Droit (nascido em Paris, em 1949), que foi conselheiro de atividades filosóficas na Unesco entre 1993 e 1999, apresente uma de suas performances de filosofia, mais uma tentativa de aproximar o pensamento do público.
Pergunta. O senhor é um filósofo que recorre ao humor e ao insólito. Não é preciso ser sério para construir argumentos de peso?
Incorremos no engano de confundir o sério com o aborrecido. Podemos dizer coisas importantes com um tom leve”
Resposta. Um dos enganos em que incorremos é confundir o sério com o aborrecido. Podemos dizer coisas importantes com um tom leve, inclusive divertido. Na história do pensamento há exemplos estranhos, mas facilmente traçáveis: Demócrito, entre os gregos, por suas histórias engraçadas; Luciano de Samósata, Voltaire, Diderot, Rabelais, inclusive Wittgenstein, que muitas vezes é muito divertido. Acredito que no insólito há um valor filosófico ao deslocar o olhar. O assombro é o ponto de partida da filosofia; Platão, Aristóteles, muitos filósofos o disseram. Se nos assombrarmos, começamos a ver as coisas de outro modo. Falta-nos assombro.
P. Em Se só me Restasse uma Hora de Vida o senhor escolhe o momento final para falar sobre o que é importante na vida.
R. Escolhi essa aproximação para tentar chegar a um momento de verdade. Imaginemos que temos 3.600 segundos pela frente. É uma ficção que nos coloca diante do que não queremos ver: o caráter finito da nossa existência. Se nos resta uma hora, o que decidimos fazer de essencial? Uso esse dispositivo para expor o que me parece mais importante do que compreendi da vida.
P. E o que compreendeu da vida?
R. Em primeiro lugar, que temos de escolhê-la. Não podemos vê-la de fora, estamos imersos nela. Não sabemos exatamente do que se trata, mas o que podemos dizer é o que nos ensinam nossas sensações. O que me ensinou a vida? A dúvida, a ignorância e a confiança nas sensações físicas.
potência técnica cresce enquanto a potência moral não se move”
P. Parece que as pessoas procuram cada vez mais respostas nos filósofos em uma espécie de busca da felicidade ou de um sentido da existência.
R. Há uma espécie de imperativo de ser feliz, em todos os lugares, o tempo todo. Aconselham-nos isso da manhã à noite. É algo suspeito: quando lhe repetem isso tantas vezes é que algo não funciona. Sempre me surpreendeu essa maneira dos norte-americanos de dizerenjoy. Por que, se eu já faço isso sozinho? Não necessito que me digam que aproveite minha comida, está tudo bem! Na obsessão atual pela felicidade há um sintoma do desejo de eliminar o negativo. Mas não há vida sem aspectos negativos e positivos. A ideia de uma felicidade sustentada, perfeita, sem estresse, sem preocupações, sem angústias, não me parece muito humana, nem interessante. É algo com o que se sonha em uma época que é, efetivamente, angustiada, fragmentada. É preciso ser feliz em casa, com a companheira, no trabalho, na cama, nas férias... Esse imperativo permanente me parece um imperativo de controle social.
Roger-Pol Droit apoia o braço na mesa; segura o rosto com três dedos. Manifesta que a tecnologia não é a salvação, como preconizam alguns, mas tampouco uma antecipação do apocalipse. Considera que o ser humano é ignorante, incrédulo e que tem algo de demente. “O que quero dizer é que a potência técnica cresce enquanto a potência moral não se move. Há muitas guerras e catástrofes que são desencadeadas por formas de injustiça, de loucura”. Sustenta que na França muitas coisas mudaram depois doatentado contra o semanário satírico Charlie Hebdo. “Há uma tomada de consciência de que há uma guerra em andamento que não é entre Estados; não é entre militares e exércitos.” E lança flechas contra seus colegas filósofos, critica a apatia deles. “Quando tinha 20 anos era um grande admirador dos grandes pensadores; ao longo dos anos conheci muitos deles, os vi de perto e não pensei exatamente o mesmo. Penso que há uma espécie de necessidade de admirar; na vida intelectual em geral, mas também na vida social.”
P. Em 101 Experiências de Filosofia Cotidiana o senhor recorre a pontos de partida insólitos para desencadear experiências filosóficas. Isso é uma extravagância?
R. Por que extravagante? Não, não acho. É algo inspirado nos exercícios espirituais da antiguidade na linha de Hellzapoppin' [filme de comédia norte-americano em tom burlesco dos anos quarenta, intitulado Pandemônio no Brasil]. Tento suscitar assombro, provocar um clique.
P. Há uma vontade de provocação?
R. Às vezes sim, às vezes não. Não obrigatoriamente. Teve uma que suscitou muitos comentários, aquela de beber e urinar ao mesmo tempo. Isso é filosofia? É claro que não, não estou louco. Se forem apresentadas perguntas abstratas e teóricas, todo mundo vai abrir a caixa de aspirinas e vai dizer: é uma aula de filosofia, não me interessa. Mas se propusermos coisas assombrosas, insólitas, que fazem com que alguém reflita sobre uma questão, não é filosofia propriamente dita, mas é o início de um caminho rumo à filosofia.

Clarice e o presente

Em geral considerada uma escritora mística e avessa às coisas do mundo, Clarice Lispector (1920-1977) _ a voz mais singular que a literatura brasileira produziu nas últimas décadas _ foi, na verdade, uma sensível intérprete do real. Quase 40 anos após sua morte, sua obra se conserva como um poderoso instrumento de interpretação e de interrogação da realidade. Clarice escrevia para chegar “atrás de detrás do pensamento”. Desconfiava das idéias feitas, dos lugares comuns e dos consensos. Não confiava na primeira leitura, exaltada e apressada, que costumamos fazer da realidade. Também não praticava a ficção com o propósito de espelhar o mundo, mas, ao contrário, de interrogá-lo. As perguntas que nos deixou valem muito mais do que a maior parte das respostas impacientes que ainda hoje formulamos para tentar viver.
São muitas as provas de seu engajamento. Escreveu certa vez: “O escritor não é um ser passivo que se limita a recolher dados da realidade, mas deve estar no mundo como uma presença ativa, em comunicação com o que o cerca”. A literatura teria como função promover um desnudamento do real. Um desmascaramento das crenças e superstições que o encobrem e o desfiguram. A ficção de Clarice se torna muito útil em um mundo atordoado por um grande falatório, um mundo excessivo, inquieto e superficial, que se limita a deslizar _ e a tirar proveito _ sobre a face da verdade. O mundo das pessoas “cheias de si”, que simulam a posse da verdade. Nele, é útil ouvir as palavras perplexas da escritora: “Sem me surpreender, não consigo escrever. E também porque para mim escrever é procurar”. Em vez de achar (de “acreditar”), simplesmente buscar.
Não aceitar rapidamente a verdade _ eis um ensinamento insistente de Clarice. Em um mundo enfático e retórico, regido pelos consensos e pela verdade gritada, apostar nas nuanças, na dúvida, na força da interrogação. Postar-se diante do real com as mãos vazias e a mente disponível para o encontro de novos caminhos e de novas perspectivas. Saber esperar que a verdade – pequena e discreta – finalmente apareça. Clarice chegou a se interessar intensamente pelo jornalismo. Em uma crônica de 1972, ela escreveu: “Hemingway e Camus foram bons jornalistas, sem prejuízo de sua literatura. Guardadas as devidas e significativas proporções, era isso o que eu ambicionaria para mim também, se tivesse fôlego”. Unir verdade e delicadeza. Arrancar os segredos sutis que se escondem atrás da brutalidade dos fatos.
Sua obstinação em chegar ao coração das coisas levou-a a destinos longínquos. Em uma entrevista ao “Correio da Manhã”, no ano de 1972, quando a repórter lhe perguntou por que escrevia, respondeu: “Eu fiz essa pergunta a Alain Robbe-Grillet quando ele veio ao Brasil. Ele me respondeu: _ Escrevo para saber por que escrevo. Minha resposta é diferente: eu escrevo para entender melhor o mundo. É uma lucidez meio nebulosa, porque a gente não tem direito consciência dela”. Mas talvez só essa “consciência nebulosa” nos sirva para interpretar um mundo igualmente complexo e nevoento, que parece avançar muito mais rápido do que nós. 
A tecnologia dá saltos. O desenrolar dos acontecimentos é atordoante. Nossas mentes parecem pequenas demais para conter o real. Ele nos perturba e nos oprime com sua estridência. Não se enganem: a literatura de Clarice não nos oferecerá respostas prontas e imediatas. Tampouco nos trará afirmações. Estas são, em geral, enganosas e arriscadas. Pouco antes de morrer, o roqueiro Cazuza declarou ter lido Água viva, um de seus mais densos romances, 111 vezes _ e ainda não tinha chegado ao coração do livro. As respostas que Clarice oferece _ se é que podemos chamá-las assim _ são muito diferentes de soluções. Elas se limitam a lançar novas luzes, dissonantes e desconcertantes, sobre um mundo cada vez mais tenso e contraditório. Daí, provavelmente, a marginalidade de Clarice Lispector dentro de nosso sistema literário. Uns a vêem como uma filósofa. Outros, como uma bruxa. Clarice se tornou, na verdade, uma escritora inclassificável. É difícil aceitar as respostas que Clarice nos dá. Ela nos ensina que mundo é muito mais difuso, imperfeito e insano do que em geral consideramos. E que, por isso, devemos sempre pisá-lo com muito cuidado.
“A vida se me é e eu não entendo o que digo”, se lamenta, em certo momento, sua personagem G. H. Não aceita as ilusões do Eu – cheio de certezas, de empáfia, de insolência. Acredita que a humanidade está “ensopada de humanização” _ gêneros, modas, tendências, griffes _ , e isso impede o homem de chegar a si. A humanidade é risco _ e não retórica. É delicadeza _ e não intolerância.  O homem não pode tudo e, por isso, deve considerar os limites estreitos de seu saber. Contudo, vivemos em um mundo repleto de “donos do saber”. Temos um grande temor à imperfeição e à limitação. A literatura de Clarice nos devolve, assim, o que perdemos em matéria de humildade e de brandura.
A aceitação da ignorância pode ser muito útil em um mundo no qual os saberes (e os poderes) se chocam, em busca de uma supremacia absoluta, na qual todas as divergências seriam anuladas. Diante dessa zoeira, Clarice propunha, é bem melhor calar-se. A amiga Olga Borelli, em um livro delicado de memórias, escreveu: “Ela possuía a dignidade do silêncio”. Calar-se, esperar, escutar _ eis a lição simples, mas dolorosa, que a ficção de Clarice nos transmite. Atitudes que parecem quase impossíveis em um mundo de falatório interminável. 
Em nosso mundo de prepotência e de violência _ sobretudo verbal _, cabe pensar na inesquecível Macabea, a protagonista de A hora da estrela, seu romance de despedida. Uma mulher não só afastada da língua, a que tem um acesso precário e turbulento, mas, sobretudo, do mundo dos significados enfáticos e das fórmulas prontas. Das verdades tempestuosas. Seu romance evoca um antigo provérbio chinês: “Diga-me e esquecerei. Mostre-me e talvez em lembre. Envolve-me e entenderei”. No lugar da palavra usada como faca, para rasgar e sangrar, a escuta silenciosa. No lugar do escândalo, a espera. Em um mundo que tende cada vez mais aos saberes pétreos e aos fundamentalismos, a leitura de Clarice se torna uma forma salvadora de respiração.
José Castello


Imagens fortes: Vídeo mostra momento em que vaqueiro e cavalo sofrem descarga elétrica durante corrida de vaquejada na região de Cajazeiras [São João do Rio do Peixe]

A aflição tomou conta dos participantes e das pessoas que estavam no local assistindo a corrida dos vaqueiros. Confira vídeo!


A aflição tomou conta dos participantes e das pessoas que estavam no local assistindo a corrida 

Um cavalo morreu eletrocutado durante uma vaquejada na Zona Rural da cidade de São João do Rio do Peixe. O fato ocorreu num Parque de Vaquejada bastante conhecido e tradicional na realização desse esporte.

Uma pessoa estava gravando o momento em que os vaqueiros tentavam derrubar o boi, quando um dos cavaleiros parou e pegou na cerca do parque, que estaria energizada.

O acidente ocorreu na semana passada, mas somente neste domingo (26), o vídeo vazou na internet. O cavaleiro ficou se debatendo e foi arrastado do local com muita dificuldade por duas pessoas que estavam dentro do parque.

O cavalo não teve a mesma sorte. Foi retirado do local um pouco depois e acabou morrendo. O local se encheu rapidamente de gente na tentativa de ajudar os acidentados. O rapaz sofreu uma forte descarga elétrica, mas sobreviveu.

Acompanhe o momento do acidente! (atenção: imagens fortes) 


Diário do Sertão

terça-feira, 28 de julho de 2015

Humor


Emergência


Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela
abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas, profundamente respirar.
 
Quem faz um poema salva um afogado.
 
(QUINTANA, Mario. Emergência. In: _____. Apontamentos de história sobrenatural. São Paulo: Globo, 2005, p. 46, "Coleção Mario Quintana", Tania F. Carvalhal.)

*Enviado pelo amigo Adauto Neto

Recado ao Sr. 903

Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador do prédio, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal - devia ser meia-noite - e a sua veemente reclamação verbal.

Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão . O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a lei e a polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003.

Ou melhor: é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números , dois números empilhados entre dezenas de outros.

Eu, 1003, me limito a leste pelo 1005, a oeste pelo 1001, ao sul pelo Oceano Atlântico, ao norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos; apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua.

Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão; ao meu número) será convidado a se retirar às 21:45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois às 8 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará até o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305.

Nossa vida, vizinho, está toda numerada, e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas - e prometo silêncio.

Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: "Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou". E o outro respondesse: "Entra, vizinho, e come de meu pão e bebe de meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela". E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz. 

Rubem Braga

Barbaridades

Não à maldade que fazem com o ganso para podermos comer seu fígado gordo. Mas, pensando bem, comer qualquer coisa — salvo, talvez, yogurte natural — é uma barbaridade
Sou solidário com o ganso. Também acho uma barbaridade alimentarem o pobre bicho à força para hipertrofiar seu fígado e produzir o (mmmm) “foie gras”. Desculpe, retiro o “mmmm”. É uma barbaridade.
Mas, se vamos reprovar o que fazem com o ganso, devemos lembrar também o que fazem com outros animais que nos dão de comer. Os métodos para abater bois nos matadouros não são exatamente humanitários.
E o que dizer dos bois mantidos em cativeiro a vida toda, só comendo e crescendo sem sair do lugar, sem ter qualquer vida social, sem conhecer o mundo? A carne excepcionalmente tenra que produzem justifica o sacrifício, mas vá dizer isso ao boi.
E os galetos, galinhas assassinadas antes de chegar à puberdade sem que nenhuma voz se erga contra o infanticídio? E as poedeiras, também condenadas a viver confinadas até morrer, só produzindo ovos, ovos, ovos, sua única razão de ser? Camus escolheu o mito de Sísifo, cuja punição por desafiar os deuses foi passar a vida inteira empurrando uma grande pedra para cima de um morro, só para vê-la rolar morro abaixo quando chegava ao topo, como uma representação do absurdo da existência.
Descontado o ridículo de usar uma galinha poedeira no lugar de Sísifo (perdão, Camus), sua sina é a mesma. Uma vida reduzida a um ovo depois do outro depois do outro. Nenhuma variedade, nenhuma diversão, nenhuma vida sexual, nenhum sentido. Nada. Onde estão os protestos contra a existência absurda das galinhas poedeiras?
Os hortifrutigranjeiros também são coisas vivas, ou eram até chegar no nosso prato. Quem colhe uma fruta ou um vegetal está interrompendo uma vida. Uma colheita, qualquer colheita, não deixa de ser um massacre.
Especula-se sobre como seria se as plantas gritassem e gemessem como gente, na perspectiva de serem arrancadas do seu chão para virar comida. E se as árvores dissessem “Ai, ai, ai” ao som de uma serra elétrica, ou uivassem de dor ao serem cortadas? Imagine uma grande plantação de trigo ou soja rebelando-se e gritando “Não! Não!” à aproximação das colheitadeiras.
Não à maldade que fazem com o ganso para podermos comer seu fígado gordo. Mas, pensando bem, comer qualquer coisa — salvo, talvez, yogurte natural — é uma barbaridade.
Luis Fernando Veríssimo

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Charge


Aninha e suas pedras

Não te deixes destruir…
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
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As meninas de Santa Leopoldina

Assim como o juiz Sérgio Moro decifra a origem das petrorroubalheiras do andar de cima, pode-se pesquisar a origem de um sucesso do andar de baixo
Há algumas semanas havia um pedágio na entrada da cidade de Santa Leopoldina (800 habitantes), na região serrana do Espírito Santo. Jovens pediam dinheiro aos motoristas para ajudar a pagar a viagem das trigêmeas Fábia, Fabiele e Fabíola Loterio ao Rio.
Filhas de pequenos agricultores da zona rural próxima a Vitória, elas iriam a uma cerimônia no Theatro Municipal para receber as medalhas de ouro e prata que conquistaram na 10ª Olimpíada de Matemática das Escolas Públicas. Fábia e Fabiele empataram no primeiro lugar, e Fabíola ficou em segundo entre os concorrentes capixabas.
Matematicamente, coisas desse tipo talvez aconteçam uma vez a cada milênio, mas as meninas de Santa Leopoldina ofenderam várias outras vezes a lei das probabilidades. O pai, Paulo, cursara até o 2º ano do ensino fundamental; a mãe, Lauriza, foi até o 4º. Vivem do que plantam, numa casa sem conexão com a internet. A roça de 18 hectares de hortaliças, legumes e eucaliptos da família fica num município de 12 mil habitantes, cujo PIB per capita está abaixo de R$ 1 mil mensais.
Numa época em que tudo parece dar errado, apareceram as meninas de 15 anos de Santa Leopoldina. Elas são um exemplo do vigor do andar de baixo de Pindorama e da eficácia de políticas públicas na área de Educação.
Assim como o juiz Sérgio Moro decifra a origem das petrorroubalheiras do andar de cima, pode-se pesquisar a origem de um sucesso do andar de baixo.
As trigêmeas de Santa Leopoldina tiveram o estímulo dos pais. Antes delas, educou-se Flávia, a irmã mais velha. Estudou na rede pública e formou-se em Enfermagem com a ajuda de uma bolsa de estudos integral (aos 23 anos, ela hoje faz doutorado em Biotecnologia na Universidade Federal do Espírito Santo e trabalha no projeto de um equipamento robótico para pessoas que sofreram AVCs.) Ainda pequenas, as quatro brincavam de estudar. Flávia foi a primeira jovem da região a entrar para uma faculdade.
Há dez anos, o professor Cesar Camacho, diretor do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, o Impa, levou a ideia da olimpíada de escolas públicas ao então ministro de Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos.
Lula comprou-a, e hoje ela é a maior do mundo, com 18 milhões de participantes. O programa administra não só o exame, como a concessão de bolsas aos medalhistas. Custa R$ 52 milhões por ano. Nunca foi tisnado por um fiapo de irregularidade, mas raramente recebe o devido reconhecimento.
As trigêmeas começaram a competir quando cursavam o 6º ano do ensino fundamental. Em 2012, Fabíola conseguiu uma medalha de bronze e uma vaga no Programa de Iniciação Científica, com direito a uma ajuda de R$ 1.200 anuais e reuniões periódicas em Vitória. No ano seguinte, Fabiele ganhou a bolsa do PIC, e Fábia conseguiu a sua indo assistir às aulas com as irmãs. Viajavam no velho caminhão do pai.
Todas três ingressaram no Instituto Federal do Espírito Santo, onde cursam o ensino profissionalizante em Agropecuária e vivem no campus da instituição, em Santa Teresa. Passam a maior parte do tempo na biblioteca e há pouco procuraram professores, interessadas em conhecer o currículo do ano que vem. Para receber suas medalhas, as irmãs entraram pela primeira vez num avião.
As trigêmeas de Santa Leopoldina são um produto da força de vontade de cada uma, do estímulo dos pais, do sistema público de ensino, de políticas bem-sucedidas e de uma professora que estimula seus alunos, Andréia Biasutti.
Elio Gaspari, O Globo

domingo, 26 de julho de 2015


Qual a missão dos anjos da guarda?

A Igreja sempre acreditou na existência dos santos anjos da guarda, a partir do testemunho das próprias Sagradas Escrituras. Nosso Senhor, por exemplo, ao pedir que não se escandalizassem os pequeninos, disse que "os seus anjos, no céu, contemplam sem cessar a face do meu Pai que está nos céus" [1]. Em um episódio relatado nos Atos dos Apóstolos, a comunidade cristã, que rezava por São Pedro enquanto ele era mantido na prisão, confundiu a sua presença com a de seu anjo [2]. Por fim, o Catecismo da Igreja Católica ensina que "cada fiel é ladeado por um anjo como protetor e pastor para conduzi-lo à vida [zoé]" [3].
A partir desta citação de São Basílio Magno, fica bem evidente que a missão dos anjos da guarda é "conduzir à vida", ao Céu, os seres humanos. Mesmo já contemplando a Deus face a face, eles receberam na Terra a missão de levar os homens à Pátria Celeste. O seu ofício não é, pois, uma simples "proteção física", como se os anjos existissem tão somente para ajudar criancinhas a atravessarem a rua. Trata-se de uma missão eminentemente espiritual, cujo foco é a salvação eterna das almas – mesmo que, para isso, se passe por sofrimentos, doenças ou tragédias.
Santo Tomás de Aquino, ao questionar se "os anjos sofrem pelos males dos que guardam", responde:
"Os anjos não sofrem nem pelos pecados, nem pelas penas dos homens. No dizer de Agostinho, tristeza e dor resultam do que contraria a vontade. Ora, nada acontece no mundo que contrarie a vontade dos anjos e dos demais bem-aventurados, porque suas vontades aderem perfeitamente à ordem da divina justiça. Com efeito, nada acontece no mundo que não seja feito ou permitido pela justiça divina. Portanto, absolutamente falando, nada acontece no mundo que contrarie a vontade dos bem-aventurados. Todavia, o Filósofo diz no livro III da Ética, que se diz voluntário de modo absoluto aquilo que alguém quer em particular quando age, isto é, consideradas todas as circunstâncias, embora considerado em geral fosse voluntário. Por exemplo, o navegante que não quer de modo absoluto e em geral atirar as mercadorias ao mar, mas que, na iminência de um perigo de vida, o quer. Um gesto assim é mais voluntário que involuntário como aí mesmo se diz. Assim os anjos, falando de modo geral e absoluto, não querem que os homens pequem e sofram. Mas querem que a respeito disso seja guardada a ordem da justiça divina segundo a qual alguns são sujeitos a penas, sendo-lhes permitido pecar" [4]
Então, os anjos da guarda querem e lutam pela salvação dos homens – inspirando-os, iluminando-os e, às vezes, até realizando milagres e lutando contra os próprios demônios. Como são instrumentos santos que possuem inteligência e são livres, eles são chamados de "ministros", pois foram colocados por Deus ao nosso serviço.
São João Bosco, ao recomendar a invocação ao anjo da guarda na hora das tentações, dizia que "ele deseja ajudar você mais do que você deseja ser ajudado por ele". Por isso, não deve haver dificuldade alguma em pedir o auxílio dos nossos santos anjos: não precisamos convencê-los, mas apenas abrir-nos à sua ação.
Pe. Paulo Ricardo

Referências

  1. Mt 18, 10
  2. Cf. At 12, 6-15
  3. Catecismo da Igreja Católica, 336
  4. Suma Teológica, I, q. 113, a. 7