domingo, 31 de agosto de 2014

Droga contra ebola tem 100% de eficácia em testes em animais

Foto AP
 
Os únicos resultados de testes clínicos feitos até agora com a droga experimental ZMapp, cuja finalidade é combater a infecção pelo vírus ebola, mostram que ela teve 100% de eficácia em macacos, mesmo em casos avançados de infecção. Os pesquisadores responsáveis pelo estudo, cujos detalhes foram divulgados na revista Nature, disseram que se trata de "um importante passo adiante".

Eles agora querem iniciar testes clínicos em pessoas para entender melhor os efeitos da droga. O ZMapp ainda está em estágio inicial de desenvolvimento. Até agora, não havia dados sobre sua eficácia. Médicos vêm recorrendo a ele - mesmo sem que ele tenha recebido aprovação para uso em pessoas - pelo fato de o ebola não ter cura.

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BBC Brasil

Todo o amor é imaginário

Os homens não amam aquilo que cuidam que amam. Por quê? Ou porque o que amam não é o que cuidam; ou porque amam o que verdadeiramente não há. Quem estima vidros, cuidando que são diamantes, diamantes estima e não vidros; quem ama defeitos, cuidando que são perfeições, perfeições ama, e não defeitos. Cuidais que amais diamantes de firmeza, e amais vidros de fragilidade: cuidais que amais perfeições angélicas, e amais imperfeições humanas. Logo os homens não amam o que cuidam que amam. Donde também se segue, que amam o que verdadeiramente não há; porque amam as coisas, não como são, senão como as imaginam, e o que se imagina, e não é, não o há no mundo.

Padre Antônio Vieira, in "Sermões"

Charge

sábado, 30 de agosto de 2014

Um menino de caráter

Guilherme Murray tem 12 anos e está disputando o Campeonato Panamericano de Esgrima pelo Brasil, em Aruba, no Caribe, numa categoria, espada, dois anos acima de sua idade.

Hoje ele foi eliminado nas oitavas de final. Perdeu de 10 a 9.

Mas só porque quis. Ele ganharia o jogo. O árbitro deu o toque em favor dele.

O Guga foi ao árbitro e disse que havia um engano, que ele não havia tocado o adversário.

O árbitro tirou-lhe o ponto.

O menino deixou as pessoas impressionadas com seu espírito olímpico.

Um garoto, no meio dos grandes, que poderia estar entre os oito melhores da América, vai ao árbitro, comunica o erro e é eliminado da prova por sua atitude, ao recusar um ponto que não era dele.

Também fruto dos ensinamentos de ética no esporte que os Mestres Régis Trois, Ricardo Ferazzi e Carla Evangelisti professam na sala de esgrima do Club Athletico Paulistano.

Antes de formarem atletas, se preocupam em formar pessoas de caráter.

Hoje Guilherme Murray, campeão brasileiro, sul-americano, e de tantos outros torneios nacionais e internacionais, saiu de Aruba mais campeão do que nunca.
 
 
Juca Kfouri
Uol

A gravidade e o poder

(Foto: Jacob Sutton)
 
O Poder político e econômico exerce uma espécie de atração gravitacional sobre as pessoas. Umas parecem mais sensíveis a essa atração do que outras. Onde quer que estejam, aquilo começa a puxá-las irresistivelmente para cima, na direção dos postos de comando. Uma força irracional, inconsciente, que em muitos momentos chega a parecer involuntária. A pessoa parece pedindo socorro, veladamente. Ela não quer o Poder, mas é como se estivesse sendo empurrada para ele (que é na verdade o Abismo) por tudo que a cerca. Percebe-se isto naquele velho discurso com que alguns políticos anunciam uma candidatura: “Eu não queria ser candidato, porque não me sinto à altura de uma missão tão espinhosa, de um compromisso que exige alguém mais preparado do que eu, mas é uma exigência do meu partido, dos meus eleitores, dos meus companheiros de luta, e não possso me furtar a esse chamamento, não posso fugir a esse grande desafio...” Parece jogador de futebol recitando aquela fala sobre objetivo e resultado.

No romance Os Portais de Anúbis, de Tim Powers, há um feiticeiro magicamente ligado à Lua por uma série de encantamentos e rituais. Isto faz com que ele seja fisicamente atraído para ela, e precise andar amarrado a um peso qualquer. Se saísse solto ao ar livre, a atração o faria subir pelo ar rumo à estratosfera, e de lá “cair para cima” na direção da Lua. Tem gente que é assim: parece estar sendo atraída pelo Poder, e sobe rumo a ele, esperneando, pedindo licença, pedindo desculpa, dizendo que não quer, dizendo: “É algo mais forte do que eu.” E é mesmo. Não é uma virtude que essas pessoas têm. É antes uma fraqueza. O Poder precisa de pessoas como elas, pessoas que não têm forças para resistir a ele, que não têm um peso a que possam se amarrar para escapar à sua atração.

O Poder precisa de pessoas de olhar fixo e vidrado, capazes de sacrificar sua vida pessoal e emocional, seu tempo como pessoa, seu prazer, seu lazer, seu crescimento íntimo, para servir-lhe 24 horas por dia. “O Poder é um sacrifício, é um sacerdócio,” suspiram os poderosos, e é mesmo. Um sacerdócio vampírico que suga algumas almas deixando-as com um vazio central que alguns tentam preencher com fortunas promissórias, outros com drogas e orgias, outros com a paranóia exaltatória de que são mais iguais do que os iguais. Surgem os rituais do poder, as coroas, os tronos, os Versalhes, os jatinhos, as Swats de assessores. Para que serve isso tudo? Para dar àquela pessoa a ilusão de que tem poder. Essa pessoa é como aquele parafuso que acha que é ele quem está girando aquela chave de fenda e que está entrando por vontade própria naquela rosca.
 
 
Bráulio Tavares
(mundofantasmo)

A perseverança

Se há pessoas que não estudam ou que, se estudam, não aproveitam, elas que não se desencorajem e não desistam; se há pessoas que não interrogam os homens instruídos para esclarecer as suas dúvidas ou o que ignoram, ou que, mesmo interrogando-os, não conseguem ficar mais instruídas, elas que não se desencorajem e não desistam; se há pessoas que não meditam ou que, mesmo que meditem, não conseguem adquirir um conhecimento claro do princípio do bem, elas que não se desencorajem e não desistam; se há pessoas que não distinguem o bem do mal ou que, mesmo que distingam, não têm uma percepção clara e nítida, elas que não se desencorajem e não desistam; se há pessoas que não praticam o bem ou que, mesmo que o pratiquem, não podem aplicar nisso todas as suas forças, elas que não se desencorajem e não desistam; o que outros fariam numa só vez, elas o farão em dez, o que outros fariam em cem vezes, elas o farão em mil, porque aquele que seguir verdadeiramente esta regra da perseverança, por mais ignorante que seja, tornar-se-á uma pessoa esclarecida, por mais fraco que seja, tornar-se-á necessariamente forte.

Confúcio, in 'A Sabedoria de Confúcio'

Igualdade não é liberdade

Todos os homens são iguais em sociedade. Nenhuma sociedade se pode fundamentar noutra coisa que não seja a noção de igualdade. Acima de tudo não pode fundamentar-se no conceito de liberdade. A igualdade é qualquer coisa que quero encontrar na sociedade, ao passo que a liberdade, nomeadamente a liberdade moral de me dispor à subordinação, transporto-a comigo.

A sociedade que me acolhe tem portanto que me dizer: «É teu dever ser igual a todos nós». E não pode acrescentar mais que isto: «Desejamos que tu, com toda a convicção, de tua livre e racional vontade, renuncies aos teus privilégios».

O nosso único passe de mágica consiste no facto de prescindirmos da nossa existência para podermos existir.

A mais elevada finalidade da sociedade é consequência das vantagens que assegura a cada um. Cada um sacrifica racionalmente a essa consequência uma grande quantidade de coisas. A sociedade, portanto, muito mais. Por causa da dita consequência, a vantagem pontual de cada membro da sociedade anda perto de se reduzir a nada.

Johann Wolfgang von Goethe, in 'Máximas e Reflexões'

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

O brasileiro do século

Com Celso Furtado, a economia era reflexão sobre a produção da riqueza em seu sentido mais amplo
 
Neste momento em que se inicia uma nova campanha eleitoral para presidente da República, não há lançamento editorial mais bem-vindo que a publicação de Obra Autobiográfica, do economista Celso Furtado, em edição cuidadosa organizada por Rosa Freire de Aguiar. O retorno de tais obras às livrarias talvez permita que uma nova geração conheça este que, ainda hoje, é o intelectual brasileiro mais traduzido, com 53 traduções em línguas que vão do inglês ao sueco, polonês e farsi. Uma curiosidade biográfica que indica com clareza o reconhecimento da originalidade e importância de sua obra.
 
Descobrir a formação, as preocupações e habilidades de Celso Furtado nos leva a encarar com tristeza o que as universidades brasileiras fizeram com uma disciplina como a economia. Nas mãos de Furtado, a economia era um setor das ciências humanas indissociável de profunda reflexão histórica e de compreensão estrutural das relações globais de poder. Por isso, ela era a base para toda e qualquer crítica social. O resultado foram realizações como sua tese a respeito da Formação Econômica do Brasil. Talvez o caso mais bem realizado, na literatura econômica do mundo todo, de uma obra capaz de aliar análise do processo histórico de formação nacional e considerações sobre as dificuldades do desenvolvimento econômico.
 
Mas com Celso Furtado a economia era também reflexão sobre a produção da riqueza em seu sentido mais amplo, e neste ponto sua condição de economista aliava-se à sua grandeza como homem público. Pois Furtado sabia que não era o caso de falar apenas da produção do que se estoca e do que se consome, mas produtividade da criatividade humana nos campos da cultura. Ele sabia mais do que todos não haver crescimento sem desenvolvimento das potencialidades criativas da vida social. É esse desenvolvimento das potencialidades que deve orientar a verdadeira reflexão econômica.
 
Dificilmente encontraremos algo tão distante da formação instrumental e financista que hoje nossos alunos recebem nos cursos de economia deste país, para quem uma consideração dessa natureza parecerá quase um devaneio poético. Por isso, quem mais desconhece Celso Furtado são, atualmente, os economistas, principalmente esses que acreditam que pensar um país é operação feita com a mesma racionalidade de quem gerencia carteira de investimentos. Afinal, o que esperar de uma ciência humana recalcitrante que acredita hoje garantir suas cartas de nobreza vendendo-se como setor aplicado das, vejam só vocês, “ciências matemáticas”?
 
Quem teve a honra de conhecer Furtado e ouvi-lo falar concordará que seu traço mais impressionante não era apenas sua lucidez analítica implacável que lhe permitia enxergar os problemas que quase todos preferiam ignorar. O que mais impressionava era como uma figura praticamente lendária como ele, que havia participado ativamente dos momentos mais ricos da história deste país, era animado por um desejo límpido de perguntar, de ouvir outras experiências, por mais que seu interlocutor fosse um simples estudante vivendo com o dinheiro do carro que sua namorada vendera. Essa era, talvez, sua maior lição e o maior ensinamento aos que o conheceram: o desejo de continuar a descobrir, a generosidade de quem pergunta.
 
Talvez isso explique um pouco do que animou sua vida singular, marcada pela capacidade em mesclar o que qualquer outro ser humano separaria, ou seja, pragmatismo e desejo. Que um de seus livros autobiográficos se chame A Fantasia Organizada, eis algo que diz muito. Pois haveria melhor definição da verdadeira atividade intelectual do que esta, a saber, a capacidade de organizar a fantasia? Capacidade de se deixar tocar pela fantasia, de sempre continuar tendo a força de fantasiar mundos possíveis, mas de não se contentar em compensar a miséria da vida cotidiana com elaborações fantasmáticas. Ao contrário, organizar a força transformadora da fantasia, fazê-la habitar a prosa seca do conceito para, ao conciliá-la com o que anteriormente parecia o seu oposto, abrir o espaço à verdadeira transformação.
 
Por isso, neste tempo em que poucos ousam realmente organizar a produtividade da fantasia, nada mais aconselhável do que reler a vida de Celso Furtado e sua genialidade.
 
 
Carta Capital

Ariano e Tolkien

A obra de Ariano Suassuna passa por muitos territórios, que vão da música ao teatro, mas os que me interessam mais são o romance, a poesia e a ilustração gráfica. (Sem diminuir, claro, a importância dos demais.) Nesses três campos ele desenvolveu a vertente fantástica de sua criação: a articulação de um universo emblemático, simbolista, repleto de ressonâncias cósmicas, profundamente impregnado de um passado simultaneamente histórico e mitológico, carregado de implicações éticas e morais.
 
Como escritor, Ariano pertence a uma linhagem que também inclui J. R. R. Tolkien (de O Senhor dos Anéis), e há mais semelhanças entre eles do que parece à primeira vista. Há paralelos na vida pessoal: a perda precoce do pai e a importância da figura materna, e o fato de que ambos se dedicaram desde cedo à carreira de professor universitário, praticando a literatura nas horas vagas, por assim dizer.
 
A semelhança, no entanto, é mais literária do que biográfica. São escritores que têm uma profunda identificação com a tradição e o passado, e uma certa aversão a modismos e modernismos de superfície. Ambos católicos, criaram ciclos romanescos onde o Catolicismo está ausente como fato e presente como espírito, através de temas de pecado e redenção, e da luta do Bem contra o Mal. Ambos recorrem a fontes lendárias de um passado remoto – escandinavo no caso de Tolkien, ibérico no de Ariano. Ambos têm uma identificação instintiva com a simbologia da realeza e das ordens cavalarianas, com os emblemas e brasões, com a genealogia das famílias nobres, com a heráldica. E em ambos esse painel de heróis tem sua grandiosidade e nobreza contrastadas à presença de protagonistas humanos, frágeis, mas igualmente notáveis: os pequenos hobbits de Tolkien, e, em Ariano, a figura picaresca, plebéia e moralmente escorregadia de Quaderna.
 
Do ponto de vista técnico, ambos produziram trilogias épicas (a de Ariano ainda em progresso) recheadas de poemas bem integrados à trama. Ambos revelam um fascínio pelo grafismo, e produziram numerosas ilustrações para os próprios textos. Tolkien, filólogo, criou um idioma élfico com alfabeto próprio. Ariano produziu também um alfabeto armorial, inspirado nos desenhos dos ferros de marcar gado. Seus admiradores recorrem constantemente a esses alfabetos nas obras relativas ao universo de cada um.
 
O mundo de Tolkien é totalmente fictício; o de Ariano, em comparação, é de um realismo histórico-geográfico quase excessivo. O que aproxima os dois é o avistamento de um Passado grandioso, semi-histórico, semi-lendário, que se superpõe ao Real na obra de Tolkien, e na obra de Ariano é um pólo energizador do Presente.
 
 
Bráulio Tavares (blogue Mundo Fantasm0)

Uma visita a Bandeira

         Participei em Curitiba, no papel de mediador, do projeto "Nascente e Foz", dirigido pelo músico Pedro de Sá Moraes. Quatro dias dedicados a quatro grandes poetas brasileiros _ Bandeira, Cecília, Jorge de Lima e Oswald _ e sua relação com a música. A releitura que fiz de Bandeira, "interpretado" pela magnífica banda de Pedro e com leituras precisas do poeta Emilio de Mello, me fez rever o poeta que guardava na lembrança. Conservamos, em geral, uma imagem lírica e distante de Bandeira. Uma imagem difusa e ausente _ quase como que a de um anjo perdido sobre a Terra. Mas o século 20, com suas trepidações, ainda nos agita e afeta. Na verdade, Bandeira _ um homem que se apegou ferozmente ao real _ continua entre nós. 

          Manuel Bandeira foi o poeta da impureza, o poeta que gritou: "Abaixo os puristas". Lutou, todo o tempo, contra as normas implacáveis, as regras literárias e os clichês _ contra o que ele chamava de "lirismo de dicionário". Propunha, ao contrário, um "lirismo libertário", próximo das coisas da vida e das contradições do chão. No lugar da norma, que é monotonia e repetição, a riqueza do erro. Em vez do chavão, que asfixia e encarcera, a libertação do engano. Foi um homem ligado à cidade e a seus eventos banais. Permaneceu, todo o tempo, ao lado dos loucos, dos bêbedos, dos esquecidos. Não se importava com medalhas, glórias e consagrações _ o objeto de sua poesia era a vida impura, cheia de nuances e de fraquezas, de impasses e de incertezas, exatamente como ela é. A vida como um eterno rascunho que nunca chega à forma definitiva.

          Por isso, essa poesia, que carrega "a marca suja da vida", ainda hoje conserva brutal atualidade. É uma poesia que fala do presente _ não do presente do poeta, que virou passado, mas do presente do leitor, eterno presente a que estamos presos. Nada disso excluiu - ao contrário, incluiu _ a melancolia, a tristeza, a angústia, de quem passou a existência em luta contra a tuberculose e os árduos limites que lhe impunha. A vida inclui imperfeições, moléstias físicas e espirituais, dores sem cura. A vida inclui o vazio e a fragilidade. Bandeira lidou com esses problemas humanos com naturalidade. Eles não o assustavam, em vez disso o seduziam. Não são exceções, mas regras que norteiam nossa 
passagem pelo mundo. Bandeira sabia que viver é errar. É tropeçar e erguer-se, para logo tropeçar de novo. 

          Teve seus justos sonhos de serenidade _ encarnados na célebre Pasárgada _, mas eles nunca o impediram de celebrar as trepidações da existência. Nunca se esquivou do torto e do marginal, nem excluiu o deslize e a dúvida como elementos fundamentais do ser. Propunha a vida como uma aventura _ uma viagem inconsequente, da qual não temos controle e cujos movimentos não podemos dominar. Algo de que "sofremos": mas há muita beleza nesse sofrer. A vida acima de tudo: eis Bandeira. 

          É um alívio ler Bandeira em nosso despedaçado e veloz século 21. Contra a fragmentação radical, que nos dispersa e deprime, a poesia de Bandeira propõe a placidez das coisas reais _ serenidade difícil, pois a existência está sempre agitada pelo imprevisível. Contra a velocidade delirante e o frenesi contemporâneo, que nos leva a fragmentar o presente colocando em seu lugar a fantasia da felicidade virtual, ela propõe as vantagens do amor sereno e da lentidão. O poeta apreciava as longas e lentas caminhadas pelas ruas do Rio de Janeiro. Gostava do contato com a realidade vulgar, simples, livre de artifícios e afetações. Soube encontrar a força da vida exatamente ali onde ela é mais desprotegida e fraca. Tirou força da fraqueza _ foi um poeta que não temeu o humano e, por isso, entre tantos gênios do século 20 brasileiro, foi talvez o mais humano dos poetas. 

          Por isso, hoje, a leitura de Manuel Bandeira nos ajuda a viver. Primeiro _ em um mundo que parece reduzido a um abalo sem fim _ ela nos dá um colo e um chão. Depois, nos ensina a amar espontaneamente, sem as maquinações da performance, sem as tramas da vantagens e das linhagens. É uma poesia que nos deixa serenos porque nos ajuda a encarar a vida serenamente. Sem a procura de êxtases artificiais. Sem o desejo de crescer além de nossas próprias pernas. Sem o auxílio mentiroso das máscaras e das etiquetas. Simplesmente viver, tratando das coisas com brandura e confiança. Simplesmente ser o que se é. Uma poesia que, em um mundo que exalta a grandeza e o sucesso a qualquer preço, nos ensina a não temer as miudezas e as injustiças, reaproximando-nos da delicada embriaguez do chão.
 
José Castello
 

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

"Tanto faz." Novo sucesso de Raimundo Fagner


O preciosismo jurídico e a limitação da comunicação

Em um julgamento de um crime, o promotor pediu a palavra para fazer uma pergunta ao réu. O juiz concedeu.
 
Então, o promotor levantou-se e disse ao réu:
 
- Por favor, responda-me apenas "sim" ou "não". O senhor esteve em tal lugar? (e mencionou o local do crime).
 
O réu que havia estado no lugar mencionado, mas momentos antes de tudo acontecer, respondeu balbuciando:
 
- Bem, eu...
 
O promotor interrompeu a resposta pedindo ao réu que dissesse apenas: "sim" ou "não". O réu, para ser fiel aos fatos, respondeu que "sim".
 
Essa resposta conduziria à condenação de um inocente. Então, nesse momento, o advogado de defesa pediu ao juiz para fazer uma pergunta ao promotor.
 
O juiz concede, e o advogado dirigindo-se ao promotor diz:
 
- Excelência, vou lhe fazer uma pergunta e o senhor me responda apenas "sim" ou "não". E, rapidamente, dispara:
 
- O senhor já deixou de roubar?

O difícil facilitário do verbo ouvir

Um dos maiores problemas de comunicação, tanto a de massas como a interpessoal, é o de como o receptor, ou seja, o outro, ouve o que o emissor, ou seja, a pessoa, falou.Numa mesma cena de telenovela, notícia de telejornal ou num simples papo ou discussão, observo que a mesma frase permite diferentes níveis de entendimento.Na conversação dá-se o mesmo. Raras, raríssimas, são as pessoas que procuram ouvir exatamente o que a outra está dizendo.
 
Diante desse quadro venho desenvolvendo uma série de observações e como ando bastante entusiasmado com a formulação delas, divido-as com o competente leitorado que, por certo, me ajudará passando-me as pesquisas que tenha a respeito.
 
Observe que:
 
1) Em geral o receptor não ouve o que o outro fala: ele ouve o que o outro não está dizendo.
 
2) O receptor não ouve o que o outro fala: ele ouve o que quer ouvir.
 
3) O receptor não ouve o que o outro fala. Ele ouve o que já escutara antes e coloca o que o outro está falando naquilo que se acostumou a ouvir.
 
4) O receptor não ouve o que o outro fala. Ele ouve o que imagina que o outro ia falar.
 
5) Numa discussão, em geral, os discutidores não ouvem o que o outro está falando. Eles ouvem quase que só o que estão pensando para dizer em seguida.
 
6) O receptor não ouve o que o outro fala, Ele ouve o que gostaria ou de ouvir ou que o outro dissesse.
 
7) A pessoa não ouve o que a outra fala. Ela ouve o que está sentindo.
 
8) A pessoa não ouve o que a outra fala. Ela ouve o que já pensava a respeito daquilo que a outra está falando.
 
9) A pessoa não ouve o que a outra está falando. Ela retira da fala da outra apenas as partes que tenham a ver com ela e a emocionem, agradem ou molestem.
 
10) A pessoa não ouve o que a outra está falando. Ouve o que confirme ou rejeite o seu próprio pensamento. Vale dizer, ela transforma o que a outra está falando em objeto de concordância ou discordância.
 
11) A pessoa não ouve o que a outra está falando: ouve o que possa se adaptar ao impulso de amor, raiva ou ódio que já sentia pela outra
.
12) A pessoa não ouve o que a outra fala. Ouve da fala dela apenas aqueles pontos que possam fazer sentido para as ideias e pontos de vista que no momento a estejam influenciando ou tocando mais diretamente.
 
Esses doze pontos mostram como é raro e difícil conversar. Como é raro e difícil se comunicar! O que há, em geral, são monólogos simultâneos trocados à guisa de conversa, ou são monólogos paralelos, à guisa de diálogo. O próprio diálogo pode haver sem que, necessariamente, haja comunicação. Pode haver até um conhecimento a dois sem que necessariamente haja comunicação. Esta só se dá quando ambos os pólos ouvem-se, não, é claro, no sentido material de "escutar", mas no sentido de procurar compreender em sua extensão e profundidade o que o outro está dizendo.
 
Ouvir, portanto, é muito raro. É necessário limpar a mente de todos os ruídos e interferências do próprio pensamento durante a fala alheia.
 
Ouvir implica uma entrega ao outro, uma diluição nele. Daí a dificuldade de as pessoas inteligentes efetivamente ouvirem. A sua inteligência em funcionamento permanente, o seu hábito de pensar, avaliar, julgar e analisar tudo interferem como um ruído na plena recepção daquilo que o outro está falando.
 
Não é só a inteligência a atrapalhar a plena audiência. Outros elementos perturbam o ato de ouvir. Um deles é o mecanismo de defesa. Há pessoas que se defendem de ouvir o que as outras estão dizendo, por verdadeiro pavor inconsciente de se perderem a si mesmas. Elas precisam "não ouvir" porque "não ouvindo" livram-se da retificação dos próprios pontos de vista, da aceitação de realidades diferentes das próprias, de verdades idem, e assim por diante. Livram-se do novo, que é saúde, mas as apavora. Não é, pois, um sólido mecanismo de defesa.
 
Ouvir é um grande desafio. Desafia de abertura interior; de impulso na direção do próximo, de comunhão com ele, de aceitação dele como é e como pensa. Ouvir é proeza, ouvir é raridade. Ouvir é ato de sabedoria.
 
Depois que a pessoa aprende a ouvir ela passa a fazer descobertas incríveis escondidas ou patentes em tudo aquilo que os outros estão dizendo a propósito de falar.
 
 
Távola, Artur. Artigo publicado no jornal O Globo, de 4/2/1979

Frase

Podemos nos defender de um ataque, mas somos indefesos a um elogio.
 
Sigmund Freud

A história do chocolate

Segundo cientistas, o lar original do cacau ficava nas florestas da região do Amazonas no Brasil, ou na região do Orinoco, na Venezuela. Ambos são rios famosos na América do Sul. Colombo, que descobriu a América, teve a oportunidade, durante sua 4ª viagem à América, de conhecer os grãos de cacau, mas não lhes deu atenção.


O crédito por descobrir o cacaueiro para o mundo europeu cabe a outro viajante espanhol, o conquistador do México – Hernando Cortez. Ele chegou ao México em 1519, supostamente com intenções pacíficas de desenvolver o comércio, e foi recebido com honras pelo Imperador Montezuma dos astecas (os índios locais). O Imperador era grande apreciador de uma bebida especial, que ele bebia em copos de ouro, sempre novos. A cada vez que esvaziava um copo, ele o jogava fora, para mostrar que valorizava mais a bebida que o ouro. O Imperador ofereceu esta bebida ao visitante espanhol, que mais tarde relatou que tinha um sabor forte, agridoce, que ele apreciou muito.
 
Hernando Cortez mais tarde aprisionou o Imperador e, gradualmente, conquistou o México para o Rei da Espanha. Quando voltou à Espanha em 1528, Cortez levou grãos de cacau para o Rei, apresentando-o ao maravilhoso chocolate líquido.
 
Cortez, que amava o dinheiro mais que a qualquer outra coisa, ficou muito impressionado pelo fato de os grãos de cacau serem usados como dinheiro pelos astecas. Um escravo podia ser comprado por cem grãos de cacau. Vendo que este "dinheiro" literalmente crescia em árvores, ele decidiu plantar esta árvore de dinheiro em diversas ilhas tropicais que tinha capturado: Trinidad e Haiti na América Central, e na ilha Fernando-Po, na costa da África Ocidental. O cacau foi transplantado dessa ilha para o continente africano – em quatro países (Costa do Marfim, Gana, Nigéria e Camarões) que atualmente, são os líderes no comércio mundial do cacau. 
 
A Espanha foi o primeiro país na Europa onde o chocolate quente tornou-se uma bebida favorita – primeiro nos círculos aristocratas, depois de forma geral.
 
Durante cerca de 100 anos a Espanha teve o monopólio do comércio de grãos de cacau, graças às plantações de Cortez. Nesse meio tempo, porém, esta deliciosa bebida tinha começado a ficar conhecida em outros países da Europa Ocidental. Eles começaram a plantar cacaueiros em suas próprias colônias tropicais onde o clima era favorável. Os ingleses tinham suas plantações nas Índias Ocidentais, após terem capturados algumas dessas ilhas dos espanhóis, como Trinidad, Jamaica, etc.
 
Em 1700 as "Casas de Chocolate" começaram a competir com as "Casas de Café" em Londres. Uma xícara de chocolate quente não era mais um luxo somente para os ricos. A revolução Industrial e a invenção de diversas máquinas tornaram possível a produção em massa, além de tornar os produtos mais baratos, e o mesmo aconteceu com a indústria do chocolate.
 
A produção de chocolate foi então levada da Inglaterra para o "Novo Mundo" onde em 1765, foi fundada a primeira fábrica de chocolate em Massachusets, então colônia inglesa, que ainda hoje é chamada de Nova Inglaterra. Desde então, o chocolate quente se tornou uma bebida preferida também na América do Norte.
 
Os holandeses plantaram cacau nas suas colônias no Extremo Oriente, nas ilhas das Índias Orientais (atual Indonésia). Com o tempo, Amsterdã se tornou o centro de importação de cacau na Europa. Atualmente, cerca de 15% da produção mundial de cacau passa por Amsterdã. A metade é para a sua própria fabricação de chocolate, e o restante vai para os outros países da Europa.
 
Em 1828, um fabricante holandês de chocolate, Conrad van Houtten, descobriu um método de extrair a gordura dos grãos de cacau moídos, e transformá-la em manteiga de cacau. Então ele pressionou o líquido até que pedaços duros de cacau permaneciam inteiros. Isso ele moeu e transformou num pó, que se dissolvia facilmente na água quente, criando uma bebida boa, suave e saborosa, que podia ser tornada mais doce com a adição de açúcar. No entanto, comer chocolate em pedaços só se tornou popular 20 anos depois em 1847, quando uma firma inglesa, Fry and Sons (que mais tarde se associou à famosa Cadbury) começou a produzir chocolate doce em barras para comer (e não apenas chocolate em pó para beber), misturando o cacau moído com manteiga de cacau e açúcar.
 
Em 1875, um fabricante suíço de chocolate criou uma barra de chocolate ao leite, usando leite fresco. Desde então numerosas fábricas de chocolate em diferentes países desenvolveram diversos tipos de chocolate – doce, meio-doce, amargo, com leite ou sem leite, com ou sem nozes, licor e sem licor, e inumeráveis tipos de chocolates para satisfazer a todos os paladares.
 

 
 Nissam Mindel
Fonte: http://www.chabad.org.br/biblioteca/artigos/chocolate

Sucesso de 1973


quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Fotografia

Leia, ouça, veja, mas sobretudo, pense.

Se grandes invenções ou descobertas, como o fogo, a roda ou a alavanca, se fizeram antes que o homem fosse, historicamente, capaz de escrever, também se põe como fora de dúvida que mais rapidamente se avançou quando foi possível fixar inteligência em escrita, quando o saber se pôde transmitir com maior fidelidade do que oralmente, quando biblioteca, em qualquer forma, foi testamento do passado e base de arranque para o futuro. A livro se veio juntar arquivo, para o que mais ligeiro se afigurava; e fora de bibliotecas ou arquivos ficaram os milhões de páginas de discorrer ou emoção humana que mais ligeiras pareceram ainda, ou menos duradouras. Escrevendo ou lendo nos unimos para além do tempo e do espaço, e os limitados braços se põem a abraçar o mundo; a riqueza de outros nos enriquece a nós. Leia.

Milhões de homens, porém, no mundo actual estão incapacitados de escrever e de ler, muito menos porque faltam métodos e meios do que incitamento que os levante acima do seu tão difícil quotidiano e vontade de quem mais pode de que seus reais irmãos mais dependam de si próprios do que de exteriores e quase sempre enganadoras salvações. Mais se comunica falando do que de qualquer outra forma; o que nos dizem muitas vezes nos parece de nenhuma importância, mas talvez tenha havido uma falha na atitude de escutar do que no conteúdo do que se disse; porventura a palavra-chave estava aí, mas estávamos distraídos, ou ansiosos por nós próprios falarmos; e no vento fugiu, a outros ouvidos ou a nenhuns. Ouça.

No tempo em que a antropologia ainda julgava que o homem descendia do macaco notou-se, para os distinguir, que um, mesmo no estádio mais primitivo, desenhava; o outro, mesmo que antropóide superior, nem olhava o desenho. Imagem nos veio acompanhando pela História fora, desde as pinturas ou gravuras rupestres, cujo verdadeiro significado ainda está por encontrar, até cinema ou televisão, sobre cujo significado igualmente muitas vezes nos podemos interrogar e que se tem de arrancar o mais depressa possível ao domínio do lucro, da publicidade ou das propagandas ideológicas para que possam cumprir, como nas formas mais antigas, a sua missão de iluminar, inspirar e consagrar o mundo. Imagem o cerca. Veja.

Mas o que vê e ouve ou lê nada mais lhe traz senão matéria-prima de pensamento, já livre de muita impureza de minério bruto, porquanto antes do seu outros pensamentos o pensaram; mas, por o pensarem, alguma outra impureza lhe terão juntado. Nunca se precipite, pois, a aderir; não se deixe levar por nenhum sentimento, excepto o do amor de entender, de ver o mais possível claro dentro e fora de si; critique tudo o que receba e não deixe que nada se deposite no seu espírito senão pela peneira da crítica, pelo critério da coerência, pela concordância dos factos; acredite fundamentalmente na dúvida construtiva e daí parta para certezas que nunca deixe de ver como provisórias, excepto uma, a de que é capaz de compreender tudo o que for compreensível; ao resto porá de lado até que o seja, até que possa pôr nos pratos da sua balancinha de razão. A tudo pese. Pense.

Agostinho da Silva, in 'Textos e Ensaios Filosóficos'

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Daqui a vinte e cinco anos

Perguntaram-me uma vez se eu saberia calcular o Brasil daqui a vinte e cinco anos. Nem daqui a vinte e cinco minutos, quanto mais vinte e cinco anos. Mas a impressão-desejo é a de que num futuro não muito remoto talvez compreendamos que os movimentos caóticos atuais já eram os primeiros passos afinando-se e orquestrando-se para uma situação económica mais digna de um homem, de uma mulher, de uma criança. E isso porque o povo já tem dado mostras de ter maior maturidade política do que a grande maioria dos políticos, e é quem um dia terminará liderando os líderes. Daqui a vinte e cinco anos o povo terá falado muito mais.

Mas se não sei prever, posso pelo menos desejar. Posso intensamente desejar que o problema mais urgente se resolva: o da fome. Muitíssimo mais depressa, porém, do que em vinte e cinco anos, porque não há mais tempo de esperar: milhares de homens, mulheres e crianças são verdadeiros moribundos ambulantes que tecnicamente deviam estar internados em hospitais para subnutridos. Tal é a miséria, que se justificaria ser decretado estado de prontidão, como diante de calamidade pública. Só que é pior: a fome é a nossa endemia, já está fazendo parte orgânica do corpo e da alma. E, na maioria das vezes, quando se descrevem as características físicas, morais e mentais de um brasileiro, não se nota que na verdade se estão descrevendo os sintomas físicos, morais e mentais da fome. Os líderes que tiverem como meta a solução económica do problema da comida serão tão abençoados por nós como, em comparação, o mundo abençoará os que descobrirem a cura do câncer.

Clarice Lispecto, in Crónicas no 'Jornal do Brasil (1967)'

Versículos do dia

Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade

2 Coríntios 4:2

A nossa verdade

A verdade é aquilo que todo o homem precisa para viver e que ele não pode obter nem adquirir de ninguém. Todo o homem deve extraí-la sempre nova do seu próprio íntimo, caso contrário ele arruina-se. Viver sem verdade é impossível. A verdade é talvez a própria vida.
 
 
Franz Kafka, in 'Conversas com Kafka'

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Curiosidade: Qual a origem da expressão "feito nas coxas"?

A expressão “fazer nas coxas” surgiu na época da colonização brasileira. As telhas usadas nas construções da época, feitas de barro, eram moldadas nas próprias coxas dos escravos. Assim, algumas vezes ficavam largas, outras vezes finas, nunca com um tamanho uniforme. Foi desta forma que surgiu a expressão, utilizada para indicar algo mal feito.

A história da telha

A palavra "cerâmica" provém do termo grego KERAMIKÉ, derivação de KERAMOS, que significa argila. Por cerâmica entende-se o conjunto de atividades destinadas à obtenção de toda a espécie de objetos confeccionados com barros de qualquer tipo. Podem ser decorados ou não, utilizando-se, para isso, a propriedade que possui a argila de se moldar facilmente no seu estado plástico (barro umedecido) adquirindo dureza à medida que avança a sua secagem, ou, por efeito da cozedura.


Sendo uma das atividades mais antigas usada na manufatura de utensílios e produtos que sempre foram utilizados na construção e ornamento de habitações, no armazenamento e transporte de produtos (especialmente gêneros alimentícios), calcula-se que o barro vermelho já teria sido explorado no período Neolítico (8.000 anos antes de Cristo).
 
No fim da Idade da Pedra, iniciou-se a cozedura da argila em fornos, o que revolucionou a utilização da telha ao conferir-lhe propriedades de resistência que viriam a permitir a sua utilização em projetos mais arrojados. Como exemplos, a famosa Torre de Babel, a grande muralha da China e a inscrição dos primeiros hieróglifos (a palavra escrita, base de toda a Civilização) em placas de argila.
 
Tendo desenvolvido e aperfeiçoado as técnicas de cerâmica, os romanos impulsionaram a utilização genérica deste material em diversos tipos de construções, difundindo os seus segredos por povos e civilizações ao longo de todo o seu império. É interessante mencionar que já nessa época muitos fabricantes gravavam nos seus produtos, uma marca distintiva da sua origem.
 
A cobertura de colmo ou madeira, que cobria a casa primitiva, foi substituída pela de telhas, justapostas e/ou sobrepostas. O invento das telhas atribui-se a Kiniras, rei de Chipre, mas é possível que os Assírios já conhecessem muito antes o seu uso. De fato, julga-se que o emprego da telha seja quase tão antigo como o do tijolo. Mas, o avançado estado de ruína em que chegaram até nós os monumentos anteriores à época romana torna difícil fazer uma idéia exata do que poderiam ter sido as coberturas e a forma como se aplicavam as telhas. 2
Uma vez generalizado o uso da telha, e devido às suas qualidades de resistência e duração, passou também a ser utilizada como elemento decorativo, aparecendo em peças acessórias, por vezes pintadas, como cabeças de mulher, flores e folhas, animais, etc. Estas eram aplicadas como complementos com as telhas de cumeeira, com todas as outras já existentes e com as que foram depois aparecendo, de diversas formas e dimensões.
 
Os romanos utilizavam duas espécies de telhas. Umas, as "Tégulae" planas, de forma retangular, munidas de rebordos laterais nos seus lados mais compridos e tendo em média cerca de 34 a 40 cm de comprimento por 23 a 27 cm de largura. As outras, chamadas "Imbrices" e de secção semi-cilíndrica (como a antiga telha de canudo ou mourisca) eram utilizadas para recobrir as juntas deixadas pelas "Tégulae". O uso das telhas romanas mantém-se muito tempo na Europa, tendo sido utilizadas na França até o Séc. XI, e só posteriormente foi substituída a sua forma retangular pela trapezoidal, mais adequada à sua função.
 
Mas, com o andar dos tempos, foram aparecendo novos tipos de telhas, como a telha dita "Champagne" (Flamenga) e a telha "canudo" ou "canal" que se assemelhava à Flamenga cortada em duas. Porém, as telhas romanas continuaram ainda a ser usadas até ao Séc. XVIII. Foi finalmente em 1841 que se verificou a invenção que iria revolucionar a fabricação das telhas, dando-lhes o alto grau de perfeição que hoje possuem. Trata-se do aparecimento das telhas de encaixe, fabricadas mecanicamente, e cuja invenção se deve aos Irmãos Gilardon d'Altkirche, franceses, da Alsácia. E foi assim, embora inicialmente apenas se fabricassem telhas planas e de encaixe, que posteriormente apareceram as telhas Marselha e Romana, e ainda mais tarde, outra resultante da junção da "Tégulae" com a "Imbrice", conhecida no Brasil por "Telha Portuguesa".
 
 
 
Fonte: www.massimatelhagres.com.br/curiosidade-historia-da-telha

Trupizupe, o raio da Cilibrina


A covardia de chamar mulher de louca


Tás louca”. O pseudo argumento de nove entre dez homens quando as mulheres têm razão. (Karina Jucá, de Belém do Pará, no Facebook)
 
Quando acaba a decência e a razão machista encurta, só nos resta, acuados, chamar a mulher de louca. Quantas vez não me peguei nesse jogo sujo, assumo.
 
Quando o menino desatina, a louca é sempre a menina.
 
Quando estamos à beira do hospício, amarrados com as cordas do agave do velho Erasmo de Roterdam, rumo ao Santa Tereza do Crato, rumo a Itapira ou Barbacena, só nos resta berrar: só pode estar louca essa peste!
 
Quando somos pegos com a boca na botija e nada justifica o vacilo, só nos resta um indignado, indignadíssimo, você tá louca?
 
Quando ela realmente está louca de amor e não correspondemos, só nos resta dizer “você confundiu as coisas”, você tá louca.
 
Quando ela dança com outro e diz que é sem compromisso, até o Chico alerta, no seu belo lirismo: não faça papel de louca, para não haver bate-boca dentro do salão…
 
Quando ela realmente fica pirada, de tanto ser chamada de maluca, só nos resta, porcos chauvinistas, nos dizermos donos da razão histórica: “Bem que eu falei que você é louca de pedra, bem que eu falei…”
 
Quando ela enche o saco e vai embora, só nos resta chorar as pitangas, ouvindo um Waldick Soriano ou um Leonard Cohen na radiola. No que o garçom tenta nos confortar, com drinque caubói e a conclusão de sempre: “Mulher é tudo louca, amigo, não tem explicação, relaxa”.
 
Quando…
 
Quando ela enche, vai com outro e nos enfeita a fronte do artista, quem dera tivéssemos feito ela cantar mais vezes “me deixas louca” -em vez de reclamar da sua bela falta de juízo.

 
 
Xico Sá

É ela! É ela! É ela! É ela!

É ela! é ela! — murmurei tremendo,
e o eco ao longe murmurou — é ela!
Eu a vi... minha fada aérea e pura —
a minha lavadeira na janela.

Dessas águas furtadas onde eu moro
eu a vejo estendendo no telhado
os vestidos de chita, as saias brancas;
eu a vejo e suspiro enamorado!

Esta noite eu ousei mais atrevido,
nas telhas que estalavam nos meus passos,
ir espiar seu venturoso sono,
vê-la mais bela de Morfeu nos braços!

Como dormia! que profundo sono!...
Tinha na mão o ferro do engomado...
Como roncava maviosa e pura!...
Quase caí na rua desmaiado!

Afastei a janela, entrei medroso...
Palpitava-lhe o seio adormecido...
Fui beijá-la... roubei do seio dela
um bilhete que estava ali metido...

Oh! decerto... (pensei) é doce página
onde a alma derramou gentis amores;
são versos dela... que amanhã decerto
ela me enviará cheios de flores...

Tremi de febre! Venturosa folha!
Quem pousasse contigo neste seio!
Como Otelo beijando a sua esposa,
eu beijei-a a tremer de devaneio...

É ela! é ela! — repeti tremendo;
mas cantou nesse instante uma coruja...
Abri cioso a página secreta...
Oh! meu Deus! era um rol de roupa suja!

Mas se Werther morreu por ver Carlota
Dando pão com manteiga às criancinhas,
Se achou-a assim tão bela... eu mais te adoro
Sonhando-te a lavar as camisinhas!

É ela! é ela, meu amor, minh'alma,
A Laura, a Beatriz que o céu revela...
É ela! é ela! — murmurei tremendo,
E o eco ao longe suspirou — é ela!

 
 
Álvares de Azevedo

O arte do algodão doce chinês


domingo, 24 de agosto de 2014

Recordo ainda

Recordo ainda... e nada mais me importa...
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,...

Algum brinquedo novo à minha porta...


Mas veio um vento de Desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança...


Estrada afora após segui... Mas, aí,
Embora idade e senso eu aparente
Não vos iludais o velho que aqui vai:


Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino... acreditai!...
Que envelheceu, um dia, de repente!...



Mário Quintana

Era uma vez no oeste

Adooro cinema! E lamento muito hoje na minha cidade não existir mais nenhuma sala de exibição.
Um dos grande clássicos que pude assistir nas saudosas poltronas do charmoso e extinto Cine Lux foi o filme "Era uma vez no oeste".

A trilha sonora (abaixo) da película é algo sublime e me emociona até hoje porque me remonta a momentos muitos caros de minha tenra idade...

Da minha janela

Mar alto! Ondas quebradas e vencidas
Num soluçar aflito, murmurado...
Vôo de gaivotas, leve, imaculado,
Como neves nos píncaros nascidas!

Sol! Ave a tombar, asas já feridas,
Batendo ainda num arfar pausado...
Ó meu doce poente torturado
Rezo-te em mim, chorando, mãos erguidas!

Meu verso de Samain cheio de graça,
Inda não és clarão já és luar
Como um branco lilás que se desfaça!

Amor! Teu coração trago-o no peito...
Pulsa dentro de mim como este mar
Num beijo eterno, assim, nunca desfeito!...


Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"


Frase

"A minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e, foram sempre positivas para mim:silêncio e solidão".
 

Um dólar furado


Un dollaro bucato (O Dólar Furado (título no Brasil) ou Um Dólar Furado (título em Portugal)) é um filme italo-francês de 1965, do gênero faroeste, dirigido por Giorgio Ferroni, roteirizado pelo diretor e Giorgio Stegani, música de Gianni Ferrio.
 
Após a guerra civil, ex-combatente sulista tem a vida salva por um dólar de prata em um confronto e, inadvertidamente, causa a morte de seu irmão.
 
Era maravilhoso ver Giuliano Gemma na tela do velho CINE LUX!

Paraíba vai sediar a 7ª edição de torneio de surfe nu em setembro.

Foto Ilustrativa
 
Segundo a organização do evento, a expectativa é de que 40 surfistas disputem o Tambaba Open de Surfe Nu
 
A praia de Tambaba vai receber a sétima edição do Tambaba Open de Surfe Nu nos dias 6 e 7 de setembro. A competição foi idealizada com a intenção de divulgar a cultura naturista através do esporte. Pelo menos, foi isso que informou o coordenador do projeto Surfe Nu, Carlos Santiago, que disse também que a expectativa é de que o evento recebe 40 atletas este ano.

De acordo com informações da assessoria de imprensa, o evento vai contar com disputas em três categorias: open, expression session e local.

- Nós fizemos o lançamento do Tambaba Open no Congresso Brasileiro de Naturismo no mês passado, na Bahia. Estamos conversando com outras organizações naturistas no Brasil para tentar montar um circuito de surfe nas praia naturistas brasileiras. As conversas vêm desde o ano passado, mas ainda não saiu do papel. O lançamento em outro estado foi importante para dar visibilidade a competição. Esperamos uma média de 40 surfistas aqui em Tambaba – contou Carlos Santiago.

Segundo o coordenador do evento, as inscrições já estão abertas e custam R$ 35. Carlos Santiago disse também que elas podem ser feitas até 30 minutos antes do início da competição. A organização disponibilizou o e-mail movimento.nu@gmail.com para tirar duvidas.
 
 
Globoesporte

Gírias

Uma gíria é um apelido numa coisa que já tinha nome. Linguagem para uso interno, que se espalha por ouvidos e bocas de desconhecidos, chega ao rádio e à TV, vai parar no dicionário. Acho que também toda família tem gírias internas, tem palavras inventadas ou redefinidas, termos meio absurdos que só fazem sentido para as pessoas que moram naquela casa.

Um dos termos mais curiosos que já vi foi, num estúdio de gravação, um bando de músicos discutindo um arranjo e usando o termo “carrapateira”, onomatopéia pura, para descrever um riff instrumental. Muitas gírias musicais têm essa intenção de onomatopéia, um cascatear de sons. O famoso samba-enredo do Império Serrano, “Bumbum Paticumbum Prugurundum”, surgiu de uma tentativa de descrever para alguém como era uma das batidas básicas do samba. No meio musical circulou durante muito tempo o termo “chacundum” para designar certo tipo de música dançante e padronizada.
Músicos chamam de “gig” (pronuncia-se GUÍ-gue) qualquer trabalho, tarefa, contrato, viagem. De início pensei que era alusão às viagens aéreas, pois a sigla do aeroporto do Galeão, no Rio, é “GIG”. Depois descobri que já era usada entre músicos de jazz, quando o Galeão nem existia. “Terça-feira eu tenho uma gig em Belo Horizonte mas na quarta de tarde estou de volta.”

Para a turma de teatro, branco é a amnésia súbita que se sente no palco, diante do público, quando nos foge da memória um texto mil vezes repetido; bife é um trecho longo a ser dito pelo ator do começo ao fim, um parágrafo que ocupa grande espaço semirretangular na página; merda é uma exclamação de “boa sorte!” antes de uma apresentação qualquer. (Em inglês, atores dizem antes da cortina abrir: “break a leg, quebrem a perna!”. Uma maneira de exorcizar o azar dizendo o contrário do que se pretende.)

A gíria de um grupo é um pouco como aqueles segredos gastronômicos a que só uns poucos têm acesso. Quem vem de fora diz: “não quero jantar nos lugares para turistas, quero comer onde vocês comem”. Todo grupo tem sua linguagem das-internas só conhecida de quem faz parte. O grupo se expande, sua ação se multiplica, começam a crescer a bolha do conhecimento indireto à sua volta: histórias, relatos, pistas de seus hábitos e atitudes. O grupo fica conhecido, começa a ser admirado, cobiçado, endeusado, mal entendido. Quem vem de fora do grupo apressa-se a usar, forçoso, as gírias do grupo para mostrar que está enturmado, sabe das coisas. Certos termos de gíria funcionam como um “xibolete”, teste de familiaridade com a língua no qual uns passam e outros não. A ansiedade em se fazer “de casa” indica quem não é bem dela.
 
 
 
Bráulio Tavares
(mundofantasmo)

sábado, 23 de agosto de 2014

Vivemos presos ao nosso passado e ao nosso futuro

A nós ligam-nos o nosso passado e o nosso futuro. Passamos quase todo o nosso tempo livre e também quanto do nosso tempo de trabalho a deixá-los subir e descer na balança. O que o futuro excede em dimensão, substitui o passado em peso, e no fim não se distinguem os dois, a meninice torna-se clara mais tarde, tal como é o futuro, e o fim do futuro já é de fato vivido em todos os nossos suspiros e assim se torna passado. Assim quase se fecha este círculo em cujo rebordo andamos. Bem, este círculo pertence-nos de fato, mas só nos pertence enquanto nos mantivermos nele; se nos afastarmos para o lado uma vez que seja, por distracção, por esquecimento, por susto, por espanto, por cansaço, eis que já o perdemos no espaço; até agora tínhamos tido o nariz metido na corrente do tempo, agora retrocedemos, ex-nadadores, caminhantes atuais, e estamos perdidos. Estamos do lado de fora da lei, ninguém sabe disso, mas todos nos tratam de acordo com isso.



Franz Kafka, in 'Diário (1910)'

Amóz Oz e a primazia do ser

              É muito comum escritores ouvirem uma pergunta que pode ser sintetizada assim: "De onde você tirou esse texto?" A ideia da origem, da procedência, e dos possíveis paralelos com outros livros ou com aspectos da realidade, sempre fascina os leitores. Desejam decifrar a mágica. Buscam uma fórmula, ou uma estratégia, que, quem sabe, poderiam depois repetir com o mesmo sucesso. Como se o método se antecipasse à escrita. A ideia é a de que, primeiro, o escritor planeja, teoriza, projeta e só depois disso _ com um caminho traçado e um destino seguro _ ele escreve.

          Um pequeno poema de Amós Oz, "Desperta o desejo", guardado na página 132 de "O mesmo mar" (Companhia das Letras), desmente e desmascara essa hipótese. Numa noite de chuva, surge no poeta "o desejo de ser o que eu teria sido/ se não soubesse o que se sabe". A vontade de "ser antes de conhecer,/ como as colinas". Ocorre que esse conhecimento na ignorância já está ali, ou o poema não se sustentaria de pé. É antes de conhecer, apenas apalpando, intuindo, adivinhando, que um escritor escreve. Sim, depois vem a parte iluminada: sobre o caos da criação se impõe o domínio da razão. Mas sem esse caos primitivo, sem esse "não saber", não haveria escrita. Tudo se inicia na face escura.

          O poeta deseja ser "como uma pedra na superfície da Lua". Esquecida, anterior ao nome e à palavra, em estado bruto e sólido. Não vista. Impondo-se pela força de ser, e não pela força da argumentação. Escreve Oz: "Lá está ela, silenciosa e segura/ durante toda a vida da prateleira". Esse estado de esquecimento é fundamental para o nascimento das coisas _ e não apenas da escrita. O próprio ato sexual é um apagar (um desmaio) que, só porque não pensa no que faz, mas apenas faz, chega a gerar uma vida. Também os escritores produzem nesse estado de letargia e olvido. As primeiras linhas se rabiscam às cegas, sem uma razão de ser, sem um destino _ como alguém que, de olhos vendados, se movimenta no deserto. 

          É desses primeiros impulsos, e seus registros, que enfim surge o material para a escrita. Surge a pedra que resiste solitária sobre a face da Lua, imóvel, esquecida, anterior a qualquer definição, anterior a qualquer cadeia de significado, a qualquer nome. Coisas brutas, brutalidade do real _ aquilo que uma escritora como Clarice Lispector, que deseja alcançar o que está atrás de detrás do pensamento, tanto buscou. E de onde tirou seus relatos magníficos. Esse mundo anterior ao pensamento é, também em nossa existência humana, o mundo original. É o começo de tudo _ caos absoluto sobre o qual, aos poucos, as ideias se desenham e ganham formas.

          Também o método, ou a estratégia, só vem depois. Só depois da experiência do caos, só depois da geração dos destroços que o representam, a razão enfim entra em cena e, como estratégia e método, impõe sua ordem. É um momento de grande risco, já que a ordem pode matar a escrita. Mas é também um momento absolutamente necessário, sem o qual nenhuma escrita seria compreensível. Toda escrita começa, portanto, como pedra. Começa esquecida, largada, entregue a sua própria ferocidade. Começa antes que se possa dizer, antes que o escritor possa, enfim, se expressar. Esse momento anterior é fundamental - e por isso guarda o caráter mágico que Amós Oz lhe atribui. É preciso coragem para enfrentá-lo _ é preciso estar desarmado para conseguir isso _ ou escrita alguma toma corpo.
 
José Castello
 

Órgão nos EUA defende que macaco não tem direitos autorais sobre selfie

O Copyright Office, órgão do governo norte-americano responsável pelo registro de direitos autorais, determinou que uma foto tirada por um macaco não pertence ao bicho. A determinação foi incluída em uma atualização de termos divulgada na terça-feira (19), que especifica: "O órgão não registra trabalhos produzidos pela natureza, animais ou plantas". Entre os exemplos, estão "uma foto tirada por um macaco" e "um mural pintado por um elefante".

O órgão dos EUA equivale no Brasil ao Inpi ( Instituto Nacional da Propriedade Industrial). Apesar de seu texto não tratar de casos específicos, a determinação pode ser usada em uma batalha entre o fotógrafo britânico David Slater e a Wikimedia Foundation, organização responsável pela enciclopédia colaborativa Wikipedia.

O profissional afirma ter os direitos sobre o selfie registrado com sua câmera, por uma macaca da Indonésia. A Wikimedia discorda e, por isso, disponibilizou o autorretrato no Wikimedia Commons. Esse braço da fundação oferece conteúdo de domínio público – que pode ser usado por qualquer um, sem pagamento. Se Slater levar adiante a briga na Justiça, ele pode usar a seu favor os argumentos fornecidos pelo Copyright Office.

'Xis'
O registro da foto foi em 2011, durante uma viagem de Slater à Indonésia. Na ocasião, ele acompanhou um grupo de 20 macacos pela floresta da ilha de Sulawesi. No final do segundo dia da expedição para tirar fotos, os macacos já pareciam estar acostumados com o fotógrafo. Foi quando começaram a procurar insetos em seu cabelo e a inspecionar sua câmera, conforme relatou ao "Daily Mail".

"Eles passaram a mostrar um lado brincalhão, pulando em cima do equipamento. A princípio, o barulho do clique os assustou, mas alguns voltaram." Slater então colocou a câmera sobre um tripod (suporte) e deitou no chão segurando o equipamento, para que os macacos não o levassem embora. Durante cerca de meia hora, ele deixou os bichos brincarem com a novidade – eles registraram centenas de fotos e, entre elas, estava o famoso selfie.

Sobre a imagem que rodou o mundo, ele explicou: "Não se trata de um sorriso". Segundo Slater, esses macacos mostram os dentes quando veem um semelhante que não conhecem – foi o que fez a macaca, quando se viu refletida na lente. "Pode indicar uma situação em que eles não sabem o que fazer."


Do Uol