quarta-feira, 31 de outubro de 2012

De cabeça pensada

Tinha 30 anos quando decidiu: a partir de hoje nunca mais lavarei a cabeça. Passou o pente devagar nos cabelos, pela última vez molhados. E começou a construir sua maturidade.
 
Tinha 50, e o marido já não pedia, os filhos haviam deixado de suplicar. Asseada, limpa, perfumada, só a cabeça preservada, intacta com seus humores, seus humanos óleos. Nem jamais se deixou tentar por penteados novos ou anúncios de xampu. Preso na nuca, o cabelo crescia quase intocado, sem que nada além do volume do coque acusasse o constante brotar.
 
Aos 80, a velhice a deixou entregue a uma enfermeira. A qual, a bem da higiene, levou-a um dia para debaixo do chuveiro, abrindo o jato sobre a cabeça branca.
 
E tudo o que ela mais havia temido aconteceu.
 
Levadas pela água, escorrendo liquefeitas ao longo dos fios para perderem-se no ralo sem que nada pudesse retê-las, lá se foram, uma a uma, as suas lembranças.

Marina Colasanti
(Do livro Contos de Amor Rasgados)
Destruição no caminho do furacão Sandy nos Estados Unidos. Curiosamente a imagem de Nossa Senhora permaneceu intacta, rodeada pelos destroços.
Quero apenas cinco coisas..
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.

 
Pablo Neruda

terça-feira, 30 de outubro de 2012

A Paixão da Sua Vida

Amava a morte. Mas não era correspondido.
Tomou veneno. Atirou-se de pontes. Aspirou gás. Sempre ela o
rejeitava, recusando-lhe o abraço.
Quando finalmente desistiu da paixão entregando-se à vida, a morte, enciumada, estorou-lhe o coração.
 
 
Marina Colasanti
À beira do caminho das tropas, num tabuleiro grande, onde cresciam a canela-d'ema e o pau-santo, havia uma tapera. A velha casa assombrada, com grande escadaria de pedra levando ao alpendre, não parecia desamparada. O viandante a avistava de longe, com a capela ao lado e a cruz de pedra lavrada, enegrecida, de braços abertos, em prece contrita para o céu. Naquele escampado onde não ria ao sol o verde escuro das matas, a cor embaçada da casa suavizava ainda mais o verde esmaiado dos campos.
 
(...)
 
Afonso Arinos (Assombramento - História do Sertão)

 

Drummond

Cobras cegas são notívagas.
O orangotango é profundamente solitário.
Macacos também preferem o isolamento.
Certas árvores só frutificam de 25 em 25 anos.
Andorinhas copulam no vôo.
O mundo não é o que pensamos.



Carlos Drummond de Andrade

Diálogo bobo

- Abandonou-te?
- Pior ainda: esqueceu-me...
 
 
Mario Quintana

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Bom negócio

O ex-ministro Gustavo Krause conta em seu livro “Poder Humor” que Ibrahim Abi-Ackel era ministro da Justiça do general João Figueiredo quando recebeu a atriz Ruth Escobar. Ele tentava fazê-la desistir de montar peças teatrais em presídios e argumentou:

- Penso em sua segurança. Mesmo que agora não haja problema, dentro de dez anos um desses bandidos, já em liberdade, pode até estuprá-la.

Determinada a levar adiante o projeto, Ruth Escobar ironizou a ameaça:

- Pois, ministro, um estupro, se for daqui a dez anos, até que pode ser um bom negócio.
 
 
 *Da Coluna de Cláudio Humberto

Imagens para inspirar o início da semana


"Os corpos são hieróglifos sensíveis"

domingo, 28 de outubro de 2012


 
 
- Alguém precisa explicar a moça que, mesmo ela querendo, não dá para repetir...
"Há mais Deus que água numa gota de água."

Pascal

Ética Mínima – 15 microlições para pensar no dia a dia

1- Ética é teoria que é ação, é pensar que é fazer na intenção de sustentar uma sociedade democrática;

 

2- Ética é questionamento da moral. Não é crítica abstrata que se contenta em fazer pouco caso do que critica, mas crítica concreta que é sempre autocrítica e superação do criticado na direção de algo melhor;

 

3- Sou ético quando incluo o outro - seja a pessoa, a sociedade ou a natureza – na minha perspectiva;

 

4- Sou ético se não me entrego à alienação moral, estética e política;

 

5- Sou ético quando não tenho medo de desagradar os donos do poder ou seus sacerdotes covardes com minhas interrogações sobre a sociedade, sua moral, estética e política;

 

6- Sou ético se me pergunto “o que estou fazendo com o outro?”;

 

7- Sou ético quando reflito sobre o respeito e o pratico;

 

8- Sou ético quando penso que a responsabilidade é coletiva;

 

9- Sou ético quando sou sincero com o outro e, antes, comigo mesmo;

 

10-Sou ético quando não tenho medo de aplicar princípios éticos a mim mesmo. Quando não pratico a corrupção e luto contra ela, pagando o preço da minha própria ação na contramão do estabelecido;

 

11-Sou ético quando admiro a diferença do outro;

 

12-Sou ético quando a diferença do outro que me perturba, me serve para minha própria autocrítica;

 

13-Sou ético quando não imponho meu modo de ver o mundo, mas abro meus valores e princípios ao debate;

 

14-Sou ético quando combato toda forma de autoritarismo, fascismo e negação da liberdade;

 

15-Sou ético quando, pensando, vejo-me grão de areia no cosmos, e vejo, além de mim, o tamanho da vida, do mundo, da natureza e, mesmo envenenado da miséria humana, não desisto de viver do melhor modo possível em nome da construção de uma condição mais justa para todos em escala social.

 
 
Márcia Tiburi

"Pracas"





O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.
 
 

 
 
Da net

sábado, 27 de outubro de 2012

Todos os sentimentos podem conduzir ao amor e à paixão. Todos: o ódio, a compaixão, a indiferença, a veneração, a amizade, o medo e até mesmo o desprezo. Sim, todos os sentimentos... exceto um: a gratidão. A gratidão é uma dívida: todo o homem paga as suas dívidas... mas o amor não é dinheiro.
 
 

Uma noite no Cairo

Noite no Egito. O céu claro e profundo
Fulgura. A rua é triste. A Lua Cheia
Está sinistra, e, sobre a paz do mundo,
A alma dos Faraós anda e vagueia.



Os mastins negros vão ladrando à lua...
O Cairo é de uma formosura arcaica.
No ângulo mais recôndito da rua
Passa cantando uma mulher hebraica.



O Egito é sempre assim quando anoitece!
Às vezes das pirâmides o quêdo
E atro perfil, exposto ao luar, parece
Uma sombria interjeição de medo!



Como um contraste aqueles míseres
Num quiosque em festa a alegre turba grita
E dentro dançam homens e mulheres
Numa aglomeração cosmopolita.



Tonto do vinho, um saltimbanco da Asia
Convulso e rôto, no apogeu da fúria,
Executando evoluções de razzia
Solta um brado epiléptico de injúria!



Em derredor duma ampla mesa preta
- Última nota do conúbio infando -
Vêem-se dez jogadores de roleta
Fumando, discutindo, conversando.



Resplandece a celeste superfície
Dorme soturna a natureza sabia...
Em baixo, na mais próxima planície,
Pasta um cavalo esplêndido da Arábia.



Vaga no espaço um silfo solitário.
Trôam kinnors! Depois tudo é tranquilo...
Apenas, como um velho stradivario,
Soluça toda a noite a água do Nilo!




Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Jullya e seu sapatinho

A irreverência da priminha Jullya, a mais nova integrante do nosso clã.

O cara que nunca sumiu das nossas vidas

Hoje eu não estou interessado em nenhuma teoria. Nem em coisas do oriente, romances astrais…
 
Quero apenas parabenizar o genial aniversariante do dia. Da maneira mais simples, quase num rondó de Bandeira, quase com uma redondilha, abaixo o migué da prosa jornalística.
 
O nome dele é tão comprido quanto a grandeza da sua música: Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, o Belchior, bigode que me faz sempre lembrar de outro ídolo, o cubano Bienvenido Granda de tantos boleros dominicais na casa paterna.
 
Não sei por onde andas, meu caro, tomara que ainda no Uruguai, essa nova ilha da utopia de Latino América. Pouco importa adonde andas, compay, só espero que estejas vivendo da melhor maneira possível a divina comédia humana.
 
A minha alucinação, amigo, bem sabes, é suportar o dia-a-dia, meu delírio é a experiência com coisas reais…
 
Que me desculpes por traduzir, com o filtro azulado do piegas, as tuas belas letras, é que aniversário, sabe como é, deixa a gente meio eternecido.
 
Lembrei até do meu primeiro porre, no balneário do Caldas, no vale do Cariri, Barbalha, ouvindo a ti e ao pessoal do Ceará ainda todo junto.
 
Éramos a molecada da rua Santa Luzia, Juazeiro, quase todo o time do Santa Cruz local celebrando um triunfo, o amigo Adailton que o diga.
 
Um deles, vejo aqui na polaroide amarelada, até já partiu desta, Deus te guarde Sullivan, meu velho e bom vizinho, o único que era mais Rolling Stones do que Beatles.
 
Há tempo, muito tempo, que eu estou longe de casa e nessas ilhas cheias de distância, o meu blusão de couro se estragou…
 
Parabéns, meu caro Belchior, menino de Sobral que escreveu, inclusive com o seu mítico e suposto sumiço, a biografia de todos os rapazes que partiram das pequenas cidades do Brasil.
 
 
Xico Sá
Fonte: Folha de S. Paulo


"Sejamos incontroláveis então…
e que a gente não desista porque ninguém acredita."
 

 (Machado de Assis)

Aviso

Pedimos desculpas aos amigos seguidores do blog e internautas em geral pelos problemas verificados recentemente no nosso link destinado a "enquete". De repente, todos os votos já compuatdos foram zerados sem razão aparente para isso.
 
 
Estamos trabalhando na tentando identificar a causa e corrigir o problema o mais rápido possível.
 



Cinema paradiso


quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Retrato da seca


Não se trata de montagem ou de imagem importrada da África. Trata-se de uma foto tirada nesta quarta na zona rural sertaneja pelo Padre Djacy Brasileiro, esse apóstolo dos desvalidos, na qual ele exibe a cara limpa da seca que assola o nosso interior, na inútil tentativa de sensibilizar as chamadas autoridades constituídas para o problema. Digo vã porque nossas autoridades estão preocupadas com algo mais relevante: o segundo turno das eleições.
 
 
Tião Lucena

Comprando inteligência

Os cortes orçamentários na Europa provocaram um importante manifesto por parte de vários agraciados com o Nobel em áreas diversas. Assinam o documento André Geim (física, 2010), Martin Evans (medicina, 2007), John Walker (química, 1997), entre muitos outros luminares. Eles perguntam, no final do texto, qual será o papel da ciência no futuro da Europa, a partir da dramática redução do orçamento para pesquisa.
 
 
Os pesquisadores partem do princípio de que a crise europeia, ao invés de ensejar atitudes conservadoras, deveria estimular soluções criativas. Pelo simples fato de que representa uma imensa oportunidade: por meio da ciência, soluções para a economia e para outros problemas do mundo poderiam ser alcançadas.
 
Eles afirmam, ainda, que a Europa não pode se dar o luxo de perder seus cientistas.
 
Na Inglaterra, o endurecimento das regras de controle da imigração está causando outro efeito negativo: a perda de estudantes com potencial para vitalizar a economia por meio de iniciativas inovadoras.
 
No lugar da tradicional permissão de dois anos para trabalhar no país após completar o curso, as novas regras dão apenas alguns meses para que o formando encontre alguém que esteja disposto a lhe pagar.
 
 
A consequência foi a redução no número de estudantes que conseguem ficar no Reino Unido depois de concluir os estudos.
 
Nos Estados Unidos, o livro The immigrant exodus, de Vivek Wadhwa, está causando grande impacto por alertar para o fato de que o país está perdendo a capacidade de atrair talentos, para estudar ou trabalhar. Além da dificuldade de obter vistos, os estudantes – tal qual no Reino Unido – não conseguem trabalhar ou, se conseguem trabalho, não podem mudar de emprego, sob pena de perderem o visto e terem de abandonar o país.
 
 
Leia mais acessando aqui
 
 
Murillo de Aragão, é cientista político 
Fonte: Blog do Noblat

Eles podem?


A França e a tradição escrita

A França é um país de escritores e leitores, não somente por causa de sua riquíssima literatura, mas porque quem vive neste país é constantemente estimulado (maneira sutil de dizer “obrigado”) a escrever.
 
Quem procura um emprego deve escrever uma carta de motivação de pelo menos três parágrafos; os candidatos às eleições devem escrever o que chamam de “profissão de fé”; uma declaração pública de seus compromissos; que posteriormente será lida pelos eleitores; quem procura um apartamento deve escrever uma justificativa; e quem quer um visto deve escrever uma carta de compromisso.
 
Eu ousaria dizer que a França é um país onde impera a “razão gráfica”, citando descaradamente Jack Goody, grande antropólogo inglês que observou as consequências da escritura nos modos de pensamento.
 
Não se assustem, não tenho a intenção de fazer um estudo antropológico da sociedade francesa e tenho consciência que meus conhecimentos em antropologia são bastante limitados, mas minha experiência empírica e minha ousadia – mais a segunda que a primeira – indicam que existe uma lógica diferente no funcionamento da sociedade francesa e eu acredito que isso tem suas origens na tradição escrita.
 
Observo exemplos disso cotidianamente, quando me explicam um endereço mostrando em um mapa e não citando pontos de referência como o posto de gasolina ou a padaria da esquina; quando me dizem que é melhor explicar algo por e-mail que por telefone; ou quando uma matéria em uma revista para o grande público tem citações bibliográficas. Entender isso foi vital para minha adaptação na França.
 
Ainda segundo Goody, a palavra escrita permite o distanciamento crítico, ela pode ser discutida e comentada. Eu acho que vem daí a impressionante capacidade de reflexão dos franceses e a habilidade de integrar o pensamento crítico à vida cotidiana. Seja em discursos, teses, conversas na mesa do bar ou nas páginas dos jornais.
 
Na imprensa esta complexidade é marcada não somente na escolha das palavras mas também do ponto de vista. Questões banais ganham sempre um enquadramento reflexivo.
 
Tudo isso constrói a complexidade desta sociedade, que me convida e me provoca sempre a pensar, a refletir e me “obriga”, sem querer, a escrever novos textos.

 
Ana Carolina Peliz é jornalista, mora em Paris há cinco anos onde faz um doutorado em Ciências da Informação e da Comunicação na Universidade Sorbonne Paris IV. Ela estará aqui conosco todas as quintas-feiras.

Mais uma seguidora

Mais uma seguidora no nosso blog. Nossas saudações a prima Maria França, muito obrigado por integrar conosco esse espaço virtual!
O traço todo da vida é para muitos um desenho da criança esquecido pelo homem, mas ao qual ele terá sempre que se cingir sem o saber... Pela minha parte acredito não ter nunca transposto o limite das minhas quatro ou cinco primeiras impressões...
(...)
 
 
Fragmento de "Massangana", (minha formação 1900) de Joaquim Nabuco

Fascínio

Casado, continuo a achar as mulheres irresistíveis.
Não deveria, dizem.
Me esforço. Aliás,
já nem me esforço.
Abertamente me ponho a admirá-las.
Não estou traindo ninguém, advirto.
Como pode o amor trair o amor?
Amar o amor num outro amor
é um ritual que, amante, me permito.
 
 
Affonso Romano de Sant'Anna

Senhores e senhoras, com vocês, João Bezerra (Fonhonhon) interpretando "galopeira"


O nosso inconfundível João Bezerra (fonhonhon) fazendo uma capela solo de "galopeira", um clássico da  canção paraguaia eternizada pelo cantor Donizete na década de 80 e agora na voz marcante do nosso querido "fonhonhon".
 
João, apesar de fanho, consegue alcançar notas musicais altíssimas na interpretação desse sucesso.
 
Vale a pena ouvir e conferir!
"Menino palestino olha para cabras sendo levadas de mercado local no vilarejo de Qabatiya, na Cisjordânia, para serem sacrificadas durantes as festas Eid al-Adha. O Eid al-Adha ou "Festa do Sacrifício" muçulmana marca o fim da peregrinação anual à Meca. Segundo a tradição islâmica, é uma celebração em memória da disponibilidade de Abraão de sacrificar seu filho Ismael para Alá - na hora do sacrifício o menino foi substituído por um carneiro."
 
 
 (Fonte - Portal Terra)

Oração

Dai-me a alegria
Do poema de cada dia.
E que ao longo do caminho
Às almas eu distribua
MInha porção de poesia
Sem que ela diminua...
Poesia tanta e tão minha
Que por uma eucaristia
Possa eu fazê-la sua
"Eis minha carne e meu sangue!"
A minha carne e meu sangue
Em toda a ardente impureza
Deste humano coração...
Mas, ó Coração Divino,
Deixai-me dar de meu vinho,
Deixai-me dar de meu pão!
Que mal faz uma canção?
Basta que tenha beleza...
 
(Mario Quintana)
 
 
Enviada por e-mail pelo amigo Adauto Neto

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

 

 Pablo Picasso
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Decretem nossa extinção e nos enterrem aqui

A declaração de morte coletiva feita por um grupo de Guaranis Caiovás demonstra a incompetência do Estado brasileiro para cumprir a Constituição de 1988 e mostra que somos todos cúmplices de genocídio – uma parte de nós por ação, outra por omissão
 
 
Pedimos ao Governo e à Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas decretar nossa morte coletiva e enterrar nós todos aqui. Pedimos, de uma vez por todas, para decretar nossa extinção/dizimação total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar nossos corpos. Este é o nosso pedido aos juízes federais.
 
 
O trecho pertence à carta de um grupo de 170 indígenas que vivem à beira de um rio no município de Iguatemi, no Mato Grosso do Sul, cercados por pistoleiros. As palavras foram ditadas em 8 de outubro ao conselho Aty Guasu (assembleia dos Guaranis Caiovás), após receberem a notícia de que a Justiça Federal decretou sua expulsão da terra. São 50 homens, 50 mulheres e 70 crianças. Decidiram ficar. E morrer como ato de resistência – morrer com tudo o que são, na terra que lhes pertence.
 
 
Há cartas, como a de Pero Vaz de Caminha, de 1º de maio de 1500, que são documentos de fundação do Brasil: fundam uma nação, ainda sequer imaginada, a partir do olhar estrangeiro do colonizador sobre a terra e sobre os habitantes que nela vivem. E há cartas, como a dos Guaranis Caiovás, escritas mais de 500 anos depois, que são documentos de falência. Não só no sentido da incapacidade do Estado-nação constituído nos últimos séculos de cumprir a lei estabelecida na Constituição hoje em vigor, mas também dos princípios mais elementares que forjaram nosso ideal de humanidade na formação do que se convencionou chamar de “o povo brasileiro”. A partir da carta dos Guaranis Caiovás, tornamo-nos cúmplices de genocídio. Sempre fomos, mas tornar-se é saber que se é.
Os Guaranis Caiovás avisam-nos por carta que, depois de tantas décadas de luta para viver, descobriram que agora só lhes resta morrer. Avisam a todos nós que morrerão como viveram: coletivamente, conjugados no plural.
 
 
Nos trechos mais pungentes de sua carta de morte, os indígenas afirmam:
 
 
- Queremos deixar evidente ao Governo e à Justiça Federal que, por fim, já perdemos a esperança de sobreviver dignamente e sem violência em nosso território antigo. Não acreditamos mais na Justiça Brasileira. A quem vamos denunciar as violências praticadas contra nossas vidas? Para qual Justiça do Brasil? Se a própria Justiça Federal está gerando e alimentando violências contra nós. Nós já avaliamos a nossa situação atual e concluímos que vamos morrer todos, mesmo, em pouco tempo. Não temos e nem teremos perspectiva de vida digna e justa tanto aqui na margem do rio quanto longe daqui. Estamos aqui acampados a 50 metros do rio Hovy, onde já ocorreram 4 mortes, sendo que 2 morreram por meio de suicídio, 2 em decorrência de espancamento e tortura de pistoleiros das fazendas. Moramos na margem deste rio Hovy há mais de um ano. Estamos sem assistência nenhuma, isolados, cercados de pistoleiros e resistimos até hoje. Comemos comida uma vez por dia. Tudo isso passamos dia a dia para recuperar o nosso território antigo Pyleito Kue/Mbarakay. De fato, sabemos muito bem que no centro desse nosso território antigo estão enterrados vários de nossos avôs e avós, bisavôs e bisavós, ali está o cemitérios de todos os nossos antepassados. Cientes desse fato histórico, nós já vamos e queremos ser mortos e enterrados junto aos nossos antepassados aqui mesmo onde estamos hoje. (…) Não temos outra opção, esta é a nossa última decisão unânime diante do despacho da Justiça Federal de Navirai-MS.
 
 
Eliane Brum
 
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Versículo do dia

Não se aparte da tua boca o livro desta lei; antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme a tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e serás bem sucedido. 
 
 
(Josué 1-8)
 
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O mito de Sisifo

Filho de Eolo (o deus dos ventos), Sísifo foi considerado como o homem mais astuto do seu tempo. Tendo presenciado o rapto de Egina, filha de Asopo (o deus rio) denunciou Zeus, o deus dos deuses, ao pai da moça, em troca de uma fonte na sua cidade. Furioso com tal insolência Zeus ordenou a Tânatos que o matasse. Sísifo no entanto armou uma cilada e conseguiu aprisionar o deus da morte, provocando desse modo um desequilíbrio no Hades. Efesto, preocupado com a parada de ingresso dos mortais em seus domínios, queixou-se a Zeus. Este providenciou pessoalmente para que a tarefa da morte de Sísifo fosse cumprida. Sabendo do inexorável da sentença, Sísifo ordenou à sua mulher para que não lhe prestasse homenagem fúnebre nenhuma. Chegando ao Hades nessas condições foi interpelado por Efesto: como poderia um rei apresentar-se de modo tão irregular perante o deus dos mortos, sem ter realizado os rituais premonitórios? Fingindo estar furioso, atribuiu toda a culpa dessa profanação à mulher e exortou que lhe fosse permitido voltar, apenas por um dia, para puni-la de forma exemplar. Efesto hesitou porem não pode negar-lhe o direito de fazer cumprir os rituais obrigatórios para a sua passagem ao mundo dos mortos. Sísifo aproveitou-se da concessão e não retornou ao Hades, conforme havia prometido. Voltou a defrontar-se com a morte somente muitos anos depois e, dessa vez, ele sim, foi castigado de forma exemplar – condenado a subir uma montanha carregando uma pedra enorme, a qual, a partir do cume deveria fazer rolar pela encosta abaixo, repetindo a tarefa indefinidamente – empurrar a pedra até o topo do morro e deixá-la rolar pela encosta abaixo, repetindo essa operação indefinidamente.
Segundo o filósofo francês Albert Camus, o sentido desse castigo era o de provar aos homens sobre a inutilidade e o absurdo de tentar iludir a morte.

Ainda sobre o mensalão

"Estamos a condenar não atores políticos, mas protagonistas de sórdidas práticas criminosas. Esses deliquentes ultrajaram a República. É o maior escândalo da história.
 
 
Celso de Melo, o decano dos ministros do STF, sobre os mensaleiros condenados por formação de quadrilha

terça-feira, 23 de outubro de 2012



A escolha do seu par

Há trinta anos, os adolescentes encontravam o sexo oposto em bailes de são organizados por clubes, igrejas ou pais responsáveis preocupados com o sucesso reprodutivo de seus rebentos.
 

Na dança de salão o homem tem uma série de obrigações, como cuidar da mulher, planejar o rumo, variar os passos, segurar com firmeza e orientar delicadamente o corpo de uma mulher. Homens levam três vezes mais tempo para aprender a dançar do que mulheres. Não que eles sejam menos inteligentes, mas porque têm muito mais funções a executar. Essa sobrecarga em cima do homem permite à mulher avaliar rapidamente a inteligência de seu par, a sua capacidade de planejamento, a sua reação em situações de stress. A mulher só precisa acompanhá-lo. Ela pode dedicar seu tempo exclusivamente a tarefa de avaliação do homem.

 
Uma mulher precisa de muito mais informações do que um homem para se apaixonar, e a dança permitia a ela avaliar o homem na delicadeza do trato, na firmeza da condução, no carinho do toque, no companheirismo e no significado que ele dava ao seu par. Ela podia analisar como o homem lidava com o fracasso, quando inadvertidamente dava uma pisada no seu pé. Podia ver como ele se desculpava, se é que se desculpava, ou se era do tipo que culpava os outros.

 
Essa convenção social de antigamente permitia ao sexo feminino avaliar numa única noite vinte rapazes entre os quinhentos presentes num grande baile. As mulheres faziam verdadeiros testes psicológico, físico e social de um futuro marido e obtinham o que poucos testes psicológicos revelam. Em poucos minutos conseguiam ter uma primeira noção de inteligência, criatividade, coordenação, tato, carinho, cooperação, paciência, perseverança e liderança de um futuro par.

 
Infelizmente, perdemos esse costume porque se começou a considerar a dança de salão uma submissão da mulher ao poder do homem, porque era o homem quem convidava e conduzia a mulher.

 
Criaram o disco dancing, em que o homem e a mulher dançam separados, o homem não mais conduz e nem sequer toca no corpo da mulher. O som é tão elevado que nem dá para conversar, os usuais 130 decibéis nem permite algum tipo de interação entre os sexos.

 
Por isso, os jovens criaram o costume de “ficar”, o que permite a uma garota conhecer, pelo menos, um homem por noite sem compromisso, em vez de conhecer vinte rapazes numa noite, também sem compromissos maiores.

 
Pior: hoje o primeiro contato de fato de um rapaz com o corpo de uma mulher é no ato sexual, e no início é um desastre. Acabam fazendo sexo mecanicamente em vez de romanticamente como a extensão natural de um tango ou bolero. Grandes dançarinos são grandes amantes, e não é por coincidência que mulheres adoram homens que realmente sabem dançar e se apaixonam facilmente por eles.

 
Mas masculinizamos as mulheres no disco dancing em vez de tornar os homens mais sensíveis, carinhosos e preocupados com o trato do corpo da mulher. Não é por acaso que aumentou a violência no mundo, especialmente a violência contra as mulheres. Não é à toa que perdemos o romantismo, o companheirismo e a cooperação entre os sexos.

 
Hoje uma garota ou um rapaz tem e escolher o seu par num grupo muito restrito de pretendentes e com pouca informação de ambas as partes, ao contrário de antigamente.

 
Eu não acredito que homens virem monstros e mulheres virem megeras depois de casados. As pessoas mudam muito pouco ao longo da vida, na realidade elas continuam a ser o que eram antes de se casar. Você é que não percebeu, ou não sabe avaliar, porque perdemos os mecanismos de antigamente de seleção a partir de um grupo enorme de possíveis candidatos.

 
Fico feliz ao notar a volta da dança de salão, dos cursos de forró, tango e bolero, em que novamente os dois sexos dançam juntos, colados e em harmonia. Entre o olhar interessado e o“ficar” descompromissado, eliminamos infelizmente uma importante etapa social que era dançar, costume de todos os povos desde o início dos tempos.

 
Se você for mãe de um filho, ajude a reintroduzir a dança de salão nos clubes, nas festas e nas igrejas, para que homens aprendam a lidar com carinho com o corpo de uma mulher.

 
Se você tem uma filha, devolva a ela a oportunidade que seus pais lhe deram, em vez de deixar sua filha surda, casada com um brutamontes, confuso e insensível idiota.


 
Stephen Kanitz é administrador por Harvard


Editora Abril, Revista Veja, edição 1877, ano 37, nº 43, 27 de outubro de 2004, página 22
No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento...
 
 

segunda-feira, 22 de outubro de 2012


A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.


(Guimarães Rosa)

Enviada por e-mail pelo amigo Adauto Neto

Nossas saudações

Nossas boas vindas a mais nova integrante do nosso time. Kelli Oliveira é a mais nova seguidora do blog.
 
Obrigado por acessar e seguir este espaço que é de todos nós!

Todo dia é menos um dia

Todo dia é menos um dia; menos um dia para ser feliz; é menos um dia para dar e receber;

é menos um dia para amar e ser amado; é menos um dia para ouvir e, principalmente, calar !

Sim, porque calando nem sempre quer dizer que concordamos com o que ouvimos ou lemos,

mas estamos dando a outrem a chance de pensar, refletir, saber o que falou ou escreveu.

Saber ouvir é um raro dom, reconheçamos. Mas saber calar, mais raro ainda. E como humanos estamos sujeitos a errar.

E nosso erro mais primário, é não saber: Ouvir e calar ! Todo dia é menos um dia para dar um sorriso.

Muitas vezes alguém precisa, apenas de um sorriso para sentir um pouco de felicidade !

Todo dia é menos um dia para dizer: - Desculpe, eu errei! Para dizer: - Perdoe-me por favor, fui injusto!

Todo dia é menos um dia; para voltarmos sobre os nossos passos. De repente escobrimos que estamos muito longe.

E já não há mais como encontrar onde pisamos quando íamos.

Já não conseguiremos distinguir nossos passos de tantos outros que vieram depois dos nossos.

E se esse dia chega, por mais que voltemos; estaremos seguindo um caminho, que jamais nos trará ao ponto de partida.

Por isso use cada dia com sabedoria. Ouça e cale se não se sentir bem;

Leia e deixe de lado, outra hora você vai conseguir interpretar melhor e saber o que quis ser dito.

 
Carlos Drummond de Andrade

Sessão retrô: Sweet Child O Mine (Guns N Roses) - 1990


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domingo, 21 de outubro de 2012

Começou o horário de verão


Avenida Brasil

De acordo com a revista norte-americana Forbes, a novela quebrou um recorde comercial na história brasileira, ao ter ganho cerca de R$ 1 bilhão com propagandas ao longo de sete meses. Considerando que muitos contratos são fechados com as afiliadas, esse número sobe para R$ 2 bilhões. Não há precedentes em toda a América Latina.
O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons.
 
Martin Luther King
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Quintana

A viagem
Como é bela uma asa em pleno vôo...
Uma vela em alto-mar...
Sua vida - toda ela! - está contida
Entre o partir e o chegar...

 
O poema
O poema é um objeto súbito.
Os outros objetos já existiam...
 
 
 
Mário Quintana
 
Sugestão de postagem do amigo Adauto Neto.

No Brasil, punição para furto é mais severa que para corrupção

A baixíssima incidência de presos condenados por corrupção no sistema carcerário brasileiro não pode ser atribuída à natureza não violenta do crime. Prova disso é que aproximadamente 70 mil pessoas cumprem pena no país por furto, destaca o pesquisador da Fundação Getulio Vargas Pedro Abramovay, ex-secretário nacional de Justiça.
 
Para cada preso por corrupção no país, há cem encarcerados por subtração de coisa alheia, de acordo com a estatística mais atualizada do Depen. Embora considere os dois crimes graves, Abramovay não concorda com a adoção de diferentes critérios na hora de decidir quem deve ir ou não para a cadeia.
 
 
Fonte
Thiago Herdy e Roberto Maltchik, O Globo

sábado, 20 de outubro de 2012

Temo o dia em que a tecnologia se sobreponha à nossa humanidade: o mundo terá apenas uma geração de idiotas".

Albert Einstein
 
 
No Café
 

No restaurante

No museu

Na praia