terça-feira, 30 de junho de 2020

A vida...ela toda...
é um extenso nascimento.


Mia Couto
Foto: Natalya Karaway
Há na memória um rio onde navegam
Os barcos da infância, em arcadas
De ramos inquietos que despregam
Sobre as águas as folhas recurvadas. 


Há um bater de remos compassado
No silêncio da lisa madrugada,
Ondas brandas se afastam para o lado
Com o rumor da seda amarrotada. 


Há um nascer do sol no sítio exacto,
À hora que mais conta duma vida,
Um acordar dos olhos e do tacto,
Um ansiar de sede inextinguida.


Há um retrato de água e de quebranto
Que do fundo rompeu desta memória,
E tudo quanto é rio abre no canto
Que conta do retrato a velha história.


(José Saramago, in "Os poemas possíveis")
[Photo from Pexels]
"A finalidade da arte é, simplesmente, criar um estudo da alma."

(Oscar Wilde)

Ah! Dentro de toda a alma existe a prova
De que a dor como um dartro se renova,
Quando o prazer barbaramente a ataca...

Augusto dos Anjos
 

segunda-feira, 29 de junho de 2020


Existem nas recordações de todo homem coisas que ele só revela aos seus amigos. Há outras que não revela mesmo aos amigos, mas apenas a si próprio, e assim mesmo em grande segredo. Mas também há, finalmente, coisas que o homem tem medo de desvendar até de si próprio; e, em cada homem honesto, acumula-se um número bastante considerável de coisas do gênero. E acontece até o seguinte: quanto mais honesto é o homem, mais coisas assim ele possui. Pelo menos, eu mesmo só recentemente me decidi a lembrar as minhas aventuras passadas e, até hoje, sempre as contornei com alguma inquietação. Mas agora, que não lembro apenas, mas até mesmo resolvi anotar, agora quero justamente verificar: é possível ser absolutamente franco, pelo menos consigo mesmo, e não temer a verdade integral? Observarei a propósito: Heine afirma que uma autobiografia exata é quase impossível, e que uma pessoa falando de si mesma certamente há de mentir.

Fiódor Dostoiévski, em "Memórias do Subsolo"


domingo, 28 de junho de 2020

O medo é que faz que não vejas, nem ouças porque um dos efeitos do medo é turvar os sentidos, e fazer que pareçam as coisas outras do que são!





Cinema

Uma filme baseado em fatos reais!

Durante a guerra em Jerusalém, um garoto cresce em um apartamento lotado de livros dos mais diferentes idiomas. Aos doze anos de idade sua mãe comete suicídio, mudando para sempre a vida da família. Após a tragédia, ele entra para um kibbutz, muda seu nome e começa a trabalhar como escritor, participando ativamente da vida política do país. Adaptação do livro de memórias escrito por Amos Oz

“Sem os brancos, não é possível superar o racismo”, afirma Silvio Almeida, no Roda Viva

Por Nara Rúbia Ribeiro (Revista Pazes)

O jurista, filósofo, escritor e professor Silvio Almeida foi o entrevistado de hoje, 23-06-20 no programa “Roda Viva”, da TV Cultura.

Almeida é doutor em filosofia e teoria do direito pela USP, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) e da Universidade Mackenzie, professor visitante da Universidade Duke, nos Estados Unidos, e presidente da Fundação Luiz Gama. O jurista é também autor de diversas obras sobre filosofia, racismo e consciência de classe, como o livro “Racismo Estrutural”, que discute como o racismo está na estrutura social, política e econômica da sociedade brasileira.

Para o pensador, “a gente só pode sair dessa grande noite juntos”.

O professor nos leva a refletir no quão necessário é que a luta por uma sociedade igualitária e com maior justiça não pertença apenas àqueles que historicamente se encontram em situação desvantajosa, acapachante, discriminados por sua raça. Pelo contrário: a luta humanitária é uma missão e prerrogativa do humano, seja ele de que raça for.

Para Sílvio, a democracia se sustentará tão somente se o discurso racial ganhar o status necessário à promoção do equilíbrio:

“Democracia, desenvolvimento econômico, possibilidade de expurgar a violência, ou seja, o racismo é algo que se infiltra na vida social e que se não tratado leva ao aprofundamento das crises e compromete o futuro da humanidade”, declarou.

Para assistir a toda a entrevista, que é uma verdadeira aula sobre essa temática tão importante, clique no vídeo abaixo:


sábado, 27 de junho de 2020


O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente...

Mário Quintana

Arte com areia


É hoje, pelo You Tube



Costumamos dizer que amigos de verdade são os que estão ao seu lado em momentos difíceis... Mas não! Amigos verdadeiros são os que suportam a tua felicidade! Porque em um momento difícil qualquer um se aproxima de você. Mas o seu inimigo jamais suportaria a sua felicidade!


“E como poderia suportar o fato de ser humano, se o homem também não fosse poeta, decifrador de enigma e redentor do acaso! Resgatar o passado e transformar cada “assim foi” em “assim eu quis!” – é o que chamo de redenção! Vontade – assim é o libertador e o portador da alegria: assim eu ensinei a vós, meus amigos! Mas agora aprendei isto também: a própria vontade é ainda uma prisão.”

(Fragmento retirado de “Assim falou Zaratustra”, Friedrich Nietzsche)

Loja de eletrônicos - 1975


sexta-feira, 26 de junho de 2020

Pipa voando...

Você já viu uma Pipa voar a favor do vento? Claro que não.

Elas sempre voam contra o vento. 

Elas são valentes. Vão em frente, encarando cada vento contrário uma oportunidade de subir e crescer. Como se viver e brilhar fosse ter a sabedoria de ver uma lição em cada dificuldade. 

Na verdade, todo mundo deveria aprender a empinar pipas para entender, desde cedo, que Deus só lhes dá um céu imenso porque elas têm condições de alcançar.

Assim como nos dá sonhos, projetos e desejos, quando possuímos os meios de realizar. De tempos em tempos, voltaríamos às salas de aula das tardes claras só para vê-las, feito bandeiras, salpicando o azul.

Assim compreenderíamos, de uma vez por todas, que pipas são como pessoas e empresas bem sucedidas: usam a adversidade para subir às alturas.

Anotações de um jovem médico, de Mikhail Bulgákov

O Mestre e Margarida é um dos melhores livros que já li. Então, é natural que persiga outros livros de Bulgákov. Este Anotações de um jovem médico reúne trabalhos da juventude do escritor. Algumas das histórias foram publicadas numa revista de medicina — Bulgákov foi também médico — e falam da época em que ele foi mandado para ser o único médico numa gelada comunidade rural da Rússia. 

Há um pouco do humor do escritor maduro, mas o que chama a atenção é o tremendo realismo e poder de observação presentes no texto. Além disso, o texto de Bulgákov nos envolve totalmente. Enviado para assumir um posto como clínico geral em um hospital isolado da civilização, ele é, à princípio, um médico 100% inseguro. O hospital é bem provido materialmente, mas o novo médico não sabe como utilizar boa parte do que tem… E ele lidera uma pequena equipe que conta com um enfermeiro-dentista e duas parteiras-obstetras, acostumados com a liderança de seu antecessor, um médico velho e experiente. Há momentos em que o jovem doutor volta até sua casa para dar uma olhada em seus livros de medicina… Mas ele começa a trabalhar adequadamente, a salvar vidas, sua fama se solidifica e ele passa a atender mais de 100 pacientes por dia. Está sempre exausto. Se você já exerceu um trabalho de grande responsabilidade irá sentir empatia pelo jovem. A ansiedade é muito bem descrita.

Os contos não têm uma ligação cronológica rígida e retratam os episódios mais notáveis da temporada glacial do jovem doutor. Da parte dele, há sincera preocupação pelos pacientes, que costumam ser muito desinformados, chegando um deles a receber comprimidos para tomar um por dia, mas que acaba tomando todos de uma vez porque com esse negócio de um por dia ele poderia esquecer de tomá-los.

O livro também traz o famoso relato Morfina, que narra a história do vício em morfina do Dr. Poliakov, um colega do protagonista de Anotações — que vai receber o nome de Dr. Bomgard. Poliakov substitui Bomgard no hospital isolado. Usando a morfina uma vez para amenizar uma dor física, ele percebe que esta também lhe amenizava os problemas pessoais e renovava sua capacidade de trabalho. A partir daí, já viram… O conto é muito realista e doloroso.

Morfina é também autobiográfico. Bulgákov foi viciado em morfina em sua juventude, e sua primeira esposa, Tatiana Lappa, foi de extrema importância para ajudá-lo a superar a dependência. Ela é considerada o modelo para a personagem Anna, de Morfina, do mesmo modo que a terceira esposa de Bulgákov, Elena, serviu de base para a Margarida de seu maior romance.

Mas há também o conto Eu matei, que traz a aventura de um médico forçado a servir o exército de Petliura, líder nacionalista ucraniano que colaborou com as tropas alemãs durante a Primeira Guerra Mundial, resistindo aos bolcheviques durante a Revolução de 1917.

Excelente! Recomendo!
Mikhail Bulgákov
 
 
Do blog do Milton Ribeiro 

Frase

Não fosse isso e era menos. Não fosse tanto e era quase. 

Paulo Leminski

Brisas não pagam contas

Companheiro de farras históricas do saudoso senador Teotônio Vilela, o compositor e boêmio inveterado Zé do Cavaquinho, dono do bar “Trovador Berrante”, em Viçosa (AL), é o autor de uma frase célebre: “Vida é negócio para ser vivido e gozado, nunca filosofado.” 

Certa vez, ele precisou de um empréstimo no Banco do Brasil. Fez a barba, ajeitou os cabelos, vestiu a melhor roupa, mas esbarrou no gerente desconfiado: “Seu Zé, de que o senhor vive? 

Zé do Cavaquinho respondeu, sem hesitar: “Vivo de olhares e sorrisos…” 

O empréstimo foi negado.
 
 
DiáriodoPoder 

terça-feira, 23 de junho de 2020



"Tenho a certeza...
Que Tu, és o meu Maior Amigo...
O mais Dedicado...
O melhor de todos! 


Como eu o vi hoje bem!
Como tu, és Leal e Bom!

Tão diferente de todos os homens...
Que, para te pagar...
O que no Futuro, hei-de dever-te...
Será pequena, a minha vida inteira...
Mesmo que ela seja imensa!

Os outros, amando as mulheres...
São como os gatos...
Que quando acariciam...
É a eles, que acariciam!

AMAR...
Não é ser Egoísta...
É tantas vezes...
O Sacrifício de nós próprios!

A Dedicação de todos os instantes...
Um Interesse, sem cálculo...
Uns Cuidados...
Que, em pequeninas coisas...
Se revelam!

E o Pensamento Constante...
De fazer a Felicidade...
De quem se Ama!"

Florbela Espanca( in Correspondência 1920)
( escultura de Camille Claudel)