sábado, 31 de março de 2012

A cidade das palavras

"A 12 de Setembro de 1918, Franz Kafka, de trinta e cinco anos, padecente há muito da tuberculose que acabaria por condená-lo, recusou-se a dar entrada no sanatório ao qual os médicos o queriam confinar e, em vez disso, partiu para a aldeia de Zürau, onde vivia a sua irmã Ottla. Um mês após a sua chegada, recomeçou a escrever: não contos nem um novo romance, mas reflexões, fragmentos de pensamentos e aforismos que seriam publicados em 1931, sete anos volvidos sobre a sua morte, pelo seu amigo Max Brod, sob o título Meditações sobre o Pecado, o Sofrimento e a Esperança. Entre esses fragmentos, dois em particular parecem complementar-se e quase contradizer-se. O primero, com o número 18, afirma: “Se tivesse sido possível construir a Torre de Babel sem a subir, ela teria sido permitida.” O segundo é o número 48: “Acreditar no progresso não significa acreditar no progresso já feito. Isso não seria crença.” O primeiro aforismo parece considerar que não foi a construção da Torre de Babel que desencadeou a ira divina, mas o desejo de atingir logo o Céu, no presente dos construtores; este desejo (uma forma de crença, sugere o segundo aforismo) está condenado a ser enunciado no tempo futuro. Nas palavras de Kafka, para ser eficaz, a linguagem em que enunciamos as nossas crenças tem de nos levar em frente, na direcção de algo ainda não realizado."


[Alberto Manguel, A Cidade das Palavras; trad. Maria de Fátima Carmo, Gradiva, Junho 2011]

Hora do cafezinho

Recém-chegados à São Paulo, dois nordestinos passeiam pelo centro, quando vêem a polícia dando o maior cacete em um sujeito.
Curiosos, eles pararam uma pessoa que passava e perguntaram:
- Por que é que estão batendo tanto nesse coitado?
- É que ele estava cheirando farinha!
Apavorado, um deles virou-se para o outro e comentou:
- Tá vendo compadre, se eles fazem isso com os coitados que cheiram farinha, imagine o que eles vão fazer se descobrirem que a gente come!

Cinema Paradiso - Ennio Morriconne (ao vivo - em Veneza)

Fracassamos


Há despolitização, corrupção nos três Poderes e oligarcas como Sarney. A Nova República fez aniversário, ninguém lembrou. Havia motivo?

Nem o dr. Pangloss, célebre personagem de Voltaire, deve estar satisfeito com os rumos da nossa democracia. Não há otimismo que resista ao cotidiano da política brasileira e ao péssimo funcionamento das instituições.

Imaginava-se, quando ruiu o regime militar, que seria edificado um novo país. Seria a refundação do Brasil. Ledo engano.

Em 1974, Ernesto Geisel falou em distensão. Mas apenas em 1985 terminou o regime militar. Somente três anos depois foi promulgada uma Constituição democrática. No ano seguinte, tivemos a eleição direta para presidente.

Ou seja, 15 anos se passaram entre o início da distensão e a conclusão do processo. É, com certeza, a transição mais longa conhecida na história ocidental. Tão longa que permitiu eliminar as referências políticas do antigo regime. Todos passaram a ser democráticos, opositores do autoritarismo.

A nova roupagem não representou qualquer mudança nos velhos hábitos. Pelo contrário, os egressos da antiga ordem foram gradualmente ocupando os espaços políticos no regime democrático e impondo a sua peculiar forma de fazer política aos que lutaram contra o autoritarismo.

Assim, a nova ordem já nasceu velha, carcomida e corrompida. Os oligarcas passaram a representar, de forma caricata, o papel de democratas sinceros. O melhor (e mais triste) exemplo é o de José Sarney.

Mesmo com o arcabouço legal da Constituição de 1988, a hegemônica presença da velha ordem transformou a democracia em uma farsa.

Se hoje temos liberdades garantidas constitucionalmente (apesar de tantas ameaças autoritárias na última década), algo que não é pouco, principalmente quando analisamos a história do Brasil republicano, o funcionamento dos três Poderes é pífio.

A participação popular se resume ao ato formal de, a cada dois anos, escolher candidatos em um processo marcado pela despolitização. A cada eleição diminui o interesse popular. Os debates são marcados pela discussão vazia. Para preencher a falta de conteúdo, os candidatos espalham dossiês demonizando seus adversários.

O pior é que todo o processo eleitoral é elogiado pelos analistas, quem lembram, no século 21, o conselheiro Acácio. Louvam tudo, chegam até a buscar racionalidade no voto do eleitor.

Dias depois da "festa democrática", voltam a pipocar denúncias de corrupção e casos escabrosos de má administração dos recursos públicos. Como de hábito, ninguém será punido, permitindo a manutenção da indústria da corrupção com a participação ativa dos três Poderes.

Isso tudo, claro, é temperado com o discurso da defesa da democracia. Afinal, no Brasil de hoje, até os corruptos são democratas.

No último dia 15, a Nova República completou 17 anos. Ninguém lembrou do seu aniversário. Também pudera, lembrar para que?

No discurso que fez no dia 15 de janeiro de 1985, logo após a sua eleição pelo colégio eleitoral, Tancredo Neves disse que vinha "para realizar urgentes e corajosas mudanças políticas, sociais e econômicas, indispensáveis ao bem-estar do povo".

Mais do que uma promessa, era um desejo. Tudo não passou de ilusão.

Certos estavam Monteiro Lobato e Euclides da Cunha. Escreveram em uma outra conjuntura, é verdade. Mas, como no Brasil a história está petrificada, eles servem como brilhantes analistas.

Para Lobato, o Brasil "permanece naquele eterno mutismo de peixe". E Euclides arremata: "Este país é organicamente inviável. Deu o que podia de dar: escravidão, alguns atos de heroísmo amalucado, uma república hilariante e por fim o que aí está: a bandalheira sistematizada".


Marco Antonio Villa, 55, é historiador e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)


*Transcrito da Folha de S. Paulo de 29 de março de 2012
 

sexta-feira, 30 de março de 2012

Quanto tempo uma mulher fica sem respirar ?

Todo homem, ao nascer, tem sempre uma conta a pagar – porque recebeu um bem, chamado Vida, que precisa ser honrado. Ninguém pode liquidar seu débito de uma vez só, portanto o que fazemos é abrir um crédito – com juros. Podemos ficar um mês ou outro sem fazer o depósito, mas isso sempre nos deixa infelizes. Como pagamos esta conta? Vivendo intensamente. Só isso”


Morris West


Ainda que mal


Ainda que mal pergunte,
ainda que mal respondas;
ainda que mal te entenda,
ainda que mal repitas;
ainda que mal insista,
ainda que mal desculpes;
ainda que mal me exprima,
ainda que mal me julgues;
ainda que mal me mostre,
ainda que mal me vejas;
ainda que mal te encare,
ainda que mal te furtes;
ainda que mal te siga,
ainda que mal te voltes;
ainda que mal te ame,
ainda que mal o saibas;
ainda que mal te agarre,
ainda que mal te mates;
ainda assim te pergunto
e me queimando em teu seio,
me salvo e me dano: amor.


Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 29 de março de 2012

Bela interpretação da trilha sonora do filme "Três homens em conflito". Vale a pena conferir!


"O bom, o mau e o feio", do Clássico Western Spaghetti do diretor italiano Sergio Leone, produzido em 1967".

Sugestão de postagem do amigo e leitor Adauto Neto.
Repito um velho conselho, cada vez mais válido, sobretudo pro Congresso: Quando alguém gritar “- Pega ladrão”, finge que não é com você.


Millôr Fernandes

quarta-feira, 28 de março de 2012

Brasileira é premiada pela Universidade de Salamanca na Espanha

A Universidade de Salamanca, Espanha, concede como reconhecimento aos seus alunos destacados em cada Curso, todos os anos, com o Prêmio de Grado de Salamanca. Todos os licenciados e diplomados que tenham tido excelência no rendimento acadêmico e se sobressaído em sua defesa monográfica podem entrar na disputa. Os trabalhos selecionados passam por uma Comissão Julgadora de cada Centro que avalia os respectivos méritos. Na Faculdade de Geografia e História, o Trabajo de Grado elegido pelos jurados foi o de Vanessa Spinosa, doutoranda no curso Fundamentos de la Investigación Historica. Seu trabalho, intitulado Uma Justiça para o Estado: formação jurídica e produção legislativa no Brasil do período tardo-colonial à Regencia (1750-1841), era uma monografia de qualificação doutoral e foi orientada pelo Professor Doutor Jose Manuel Santos Pérez da sobredita Universidade. O reitorado emitiu neste mês o Diploma del Premio de Trabajo de Grado de la Universidad de Salamanca à historiadora brasileira, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Os nossos mais sinceros parabéns a bela jovem e competente professora Vanessa Spinosa, que tive o prazer de conhecê-la, recentemente, quando de sua passagem pela terrinha realizando pesquisas.  

É sempre bom lembrar...

Rem Van Den Bosch, fotógrafo holandês


Rem van den Bosch, “Caviale y Tar”, 100 x 150 cm, 2005

Doce português

Foto: João Espinho
(Portugal)

Sexo com menor pode não ser estupro


STJ revê jurisprudência em caso de vítimas de 12 anos que já tinham vida sexual anterior; na época, lei falava em ‘violência presumida’


O Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que nem sempre o ato sexual com menores de 14 anos poderá ser considerado estupro. A decisão livrou um homem da acusação de ter estuprado três meninas de 12 anos de idade e deve direcionar outras sentenças. Diante da informação de que as menores se prostituíam, antes de se relacionarem com o acusado, os ministros da 3.ª Seção do STJ concluíram que a presunção de violência no crime de estupro pode ser afastada diante de algumas circunstâncias.

Na época do ocorrido, a legislação estabelecia que se presumia a violência sempre que a garota envolvida na relação sexual fosse menor de 14 anos. Desde 2009, prevê-se que a idade de "consentimento" para atos sexuais continua a ser 14 anos, mas o crime para quem se envolve com alguém abaixo dessa idade passou a ser o de "estupro de vulnerável".

De acordo com dados da Justiça paulista, as supostas vítimas do estupro "já se dedicavam à prática de atividades sexuais desde longa data". A mãe de uma delas chegou a dizer que a filha faltava às aulas para ficar em uma praça com outras meninas para fazer programas em troca de dinheiro.

"A prova trazida aos autos demonstra, fartamente, que as vítimas, à época dos fatos, lamentavelmente, já estavam longe de serem inocentes, ingênuas, inconscientes e desinformadas a respeito do sexo. Embora imoral e reprovável a conduta praticada pelo réu, não restaram configurados os tipos penais pelos quais foi denunciado", decidiu o Tribunal de Justiça de São Paulo.

No julgamento no STJ, venceu a tese segundo a qual o juiz não pode ignorar o caso concreto. "O direito não é estático, devendo, portanto, se amoldar às mudanças sociais, ponderando-as, inclusive e principalmente, no caso em debate, pois a educação sexual dos jovens certamente não é igual, haja vista as diferenças sociais e culturais encontradas em um país de dimensões continentais", afirmou a relatora do caso, ministra Maria Thereza de Assis Moura. "Com efeito, não se pode considerar crime fato que não tenha violado, verdadeiramente, o bem jurídico tutelado - a liberdade sexual -, haja vista constar dos autos que as menores já se prostituíam havia algum tempo", completou a ministra.

Segundo a ministra Maria Thereza, a 5.ª Turma entendia que a presunção era absoluta, ao passo que a 6.ª considerava ser relativa. A polêmica já motivou opiniões diversas dentro até do Supremo Tribunal Federal (STF), que passou a considerar a exigência de constrangimento mediante ameaça (veja ao lado).

Diante da alteração significativa de composição da Seção, era necessário agora ao STJ rever a jurisprudência. Por maioria, a Seção entendeu por fixar a relatividade da presunção de violência.


Mariângela Gallucci, Estadão.com.br


(Source: sciatic, via vaacuum)




Uma velhinha de 80 anos foi presa na França por estar roubando no supermercado.

Quando foi levada à presença do Juiz, ele perguntou a ela: - O que a senhora roubou ?

E ela respondeu: - Uma lata pequena de pessegos.

O Juiz perguntou o motivo dela ter roubado a lata pequena de pessegos e ela respondeu que estava com fome.

O Juiz então perguntou a velha senhora quantos pessegos tinha dentro da lata. Ela disse que tinha 6.

O Juiz proferiu a sentença: - Eu vou prender a senhora por 6 dias.

Mas, antes que o Juiz pudesse terminar, o velhinho, marido da velhinha, perguntou se poderia falar sobre o acontecido. O Juiz disse que sim e perguntou o que ele queria dizer.

Aí, o marido da velhinha disse: - Ela também roubou uma lata de ervilhas...

terça-feira, 27 de março de 2012

Promotor de Justiça de Jacaraú-PB troca o terno por um dia com gari

De comportamento excêntrico e fora do padrão ao qual os membros do Ministério Público estão habituados, o promotor de justiça Marinho Mendes Machado resolveu inovar mais uma vez.

Há poucos dias, quem andava pelas ruas da cidade de Jacaraú se espantava com o que via, o promotor dirigindo um trator da coleta de lixo.

Segundo Marinho Mendes, a performance teve a intenção de despertar a população para o vital trabalho realizado pelos garis e a necessidade de se manter a cidade limpa.

Recentemente, o promotor causou polêmica numa entrevista que concedeu a uma emissora de rádio na cidade de Mari. Ao tratar da violência doméstica, Marinho Mendes afirmou que ‘o cara que bate em mulher é veado enrustido’.


*Blog do Célio Alves

Reforma ortográfica






segunda-feira, 26 de março de 2012

Clara de Assis: a coragem de uma mulher apaixonada


Há 800 anos, na noite de 19 de março de 1212, dia seguinte à festa de Domingos de Ramos, Clara de Assis, toda adornada, fugiu de casa para unir-se ao grupo de Francisco de Assis na capelinha da Porciúncula que ainda hoje existe. As clarissas do mundo inteiro e toda a família franciscana celebram esta data que significa a fundação da Ordem de Santa Clara espalhada pelo mundo inteiro.

Clara junto com Francisco - nunca devemos separá-los, pois se haviam prometido, em seu puro amor, que “nunca mais se separariam” segundo a bela legenda época - representa uma das figuras mais luminosas da Cristandade.

É bom lembrá-la neste mês de março, dedicado às mulheres. Por causa dela, há milhões de Claras e Maria Claras no mundo inteiro. Ela, de família nobre de Assis, dos Favarone, e ele, filho de um rico e afluente mercador de tecidos, dos Bernardone.

Com 16 anos de idade quis conhecer o então já famoso Francisco com cerca de 30 anos. Bona, sua amiga íntima conta, sob juramento nas atas de canonização, que entre 1210 e 1212 Clara “foi muitas vezes conversar com Francisco, secretamente, para não ser vista pelos parentes e para evitar maledicências”.

Destes dois anos de encontro nasceu grande fascínio um pelo outro. Como comenta um de seus melhores pesquisadores, o suíço Anton Rotzetter em seu livro Clara de Assis: a primeira mulher franciscana (Vozes 1994): “neles irrompeu o Eros no seu sentido mais próprio e profundo pois sem o Eros nada existe que tenha valor, nem ciência, nem arte, nem religião, Eros que é a fascinação que impele o ser humano para o outro e que o liberta da prisão de si mesmo”(p. 63). Esse Eros fez com que ambos se amassem e se cuidassem mutuamente mas numa transfiguração espiritual que impediu que se fechassem sobre si mesmos. Francisco afetuosamente a chamava de a “minha Plantinha”.

Três paixões cultivaram juntos ao longo de toda vida: a paixão pelo Jesus pobre, a paixão pelos pobres e a paixão um pelo outro. Mas nesta ordem. Combinaram então a fuga de Clara para unir-se ao seu grupo que queria viver o evangelho puro e simples.

A cena não tem nada a perder em criatividade, ousadia e beleza, das melhores cenas de amor dos grandes romances ou filmes. Como poderia uma jovem rica e bela fugir de casa para se unir a um grupo parecido com os “hippies” de hoje?

Pois assim devemos representar o movimento inicial de Francisco. Era um grupo de jovens ricos, vivendo em festas e serenatas que resolveram fazer uma opção de total despojamento e rigorosa pobreza nos passos de Jesus pobre. Não queriam fazer caridade para pobres, mas viver com eles e como eles. E o fizeram num espírito de grande jovialidade, sem sequer criticar a opulenta Igreja dos Papas.

Na noite do dia 19 de março, Clara, escondida, fugiu de casa e chegou à Porciúncula. Entre luzes bruxoleantes, Francisco e os companheiros a receberam festivamente. E em sinal de sua incorporação ao grupo, Francisco lhe cortou os belos cabelos louros. Em seguida, Clara foi vestida com as roupas dos pobres, não tingidas, mais um saco que um vestido.

Depois da alegria e das muitas orações foi levada para dormir no convento das beneditinas a 4 km de Assis. 16 dias após, sua irmã mais nova, Ines, também fugiu e se uniu à irmã. A família Favarone tentou, até com violência, retirar as filhas. Mas Clara se agarrou às toalhas do altar, mostrou a cabeça raspada e impediu que a levassem.

O mesmo destemor mostrou quando o Papa Inocêncio III não quis aprovar o voto de pobreza absoluta. Lutou tanto até que o Papa enfim consentisse. Assim nasceu a Ordem das Clarissas.

Seu corpo intacto depois de 800 anos comprova, uma vez mais, que o amor é mais forte que a morte.


Leonardo Boff é teólogo e filósofo

O Globo

2headedsnake:

beautifuldecay.com
Nancy Fouts
(Source: , via alecshao)

Sucesso de 1987

domingo, 25 de março de 2012

Marketing do outro mundo

Dois corações - Nana Caymmi

O pássaro cativo

Armas, num galho de árvore, o alçapão.
E, em breve, uma avezinha descuidada, batendo as asas cai na escravidão.


Dás-lhe então, por esplêndida morada, a gaiola dourada.
Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos, e tudo.


Por que é que, tendo tudo, há de ficar o passarinho
mudo, arrepiado e triste, sem cantar?


É que, criança, os pássaros não falam.
Só gorgeando a sua dor exalam, sem que os homens os possam entender.
Se os pássaros falassem,
talvez os teus ouvidos escutassem este cativo pássaro dizer:


"Não quero o teu alpiste!


Gosto mais do alimento que procuro na mata livre em que a voar me viste.
Tenho água fresca num recanto escuro.


Da selva em que nasci; da mata entre os verdores,
tenho frutos e flores, sem precisar de ti!


Não quero a tua esplêndida gaiola!
Pois nenhuma riqueza me consola de haver perdido aquilo que perdi...
Prefiro o ninho humilde, construído de folhas secas, plácido, e escondido.


Entre os galhos das árvores amigas...
Solta-me ao vento e ao sol!
Com que direito à escravidão me obrigas?


Quero saudar as pompas do arrebol!
Quero, ao cair da tarde, entoar minhas tristíssimas cantigas!


Por que me prendes? Solta-me, covarde!
Deus me deu por gaiola a imensidade!
Não me roubes a minha liberdade...


QUERO VOAR! VOAR!..."


Estas coisas o pássaro diria, se pudesse falar.
E a tua alma, criança, tremeria, vendo tanta aflição.
E a tua mão, tremendo, lhe abriria a porta da prisão...




Olavo Bilac
Não sei qual é a opinião da senhora, doutora Sazlavski, mas, para mim, o supostamente maravilhoso que a infância tem, segundo muita gente, é uma das rasteiras que a memória nos passa.


(Guadalupe Nettel)


“Porque estamos juntos?”, a sua resposta foi: “Qual é a alternativa?” Claro que não há alternativa. Para o melhor e para o pior, somos animais gregários, condenados ou abençoados a vivermos juntos. A minha pergunta não implica a existência de uma alternativa; ao invés, procura saber quais os benefícios e males dessa união e como conseguimos traduzir esta imaginação de união por palavras.

Descobri que, com o passar dos anos, a minha ignorância em incontáveis áreas – antropologia, etnologia, sociologia, economia, ciência política e muitas outras – se foi aperfeiçoando enquanto, ao mesmo tempo, a prática de uma vida de leituras aleatórias me legou uma espécie de lugares-comuns em cujas páginas encontro os meus pensamentos nas palavras de outros. No reino das histórias sinto-me um pouco mais à-vontade e, uma vez que as histórias, ao contrário das formulações científicas, não esperam (na verdade, rejeitam) respostas claras, posso deambular neste território sem me sentir forçado a fornecer soluções ou conselhos."


[Alberto Manguel, A Cidade das Palavras; trad. Maria de Fátima Carmo, Gradiva, Junho 2011]

Músico japonês Kitaro e imagens de prender a respiração


Pescado do face do Ricardo Sérgio de Paiva

Fazendo a sua parte

A reportagem de Eduardo Faustini no “Fantástico”, revelando as fraudes no sistema de saúde, prova que a imprensa está fazendo a sua parte.

Sem qualquer protecionismo ou espírito corporativo, pode-se afirmar que não há um grande escândalo no país que não seja denunciado ou noticiado por algum jornal, revista, emissora de rádio, de TV ou site.

Ela pode pecar por excesso, não por omissão. O trabalho de Faustini desfaz a lenda saudosista de que hoje não há mais lugar na mídia para grandes reportagens, que bom era o jornalismo de antigamente. Engano.

Com criatividade, paciência e argúcia, ele fez um dos mais contundentes libelos contra a corrupção, sem aparecer e sem precisar usar um adjetivo sequer, passando a palavra aos próprios personagens para se confessarem e se incriminarem. Nada é contado por ele, mas mostrado ao telespectador sem mediação ou retoque, didaticamente.

Assim, desvenda-se não só o mecanismo dos desvios — a técnica, o modus operandi — como a cultura que envolve seus autores. Em meio a gargalhadas, a pândega representante de uma das empresas corruptas recorre, na maior desfaçatez, à “ética do mercado”; o sócio de outra fornecedora fala com orgulho no exemplo de conduta que “deixo pros meus filhos”.

O terceiro detalha como será entregue o dinheiro, disfarçado em “caixas de uísque”. Tudo muito natural, como se fossem práticas legítimas realizadas em clima de absoluta normalidade.

Assistiu-se a um impressionante festival de hipocrisia, cinismo e escárnio que deveria estarrecer e revoltar nossas instituições republicanas.

Por que a Justiça (e também o Congresso) não faz a sua parte? Para só ficar nesse caso — deixando de lado os muitos e velhos escândalos famosos que continuam impunes — das quatro empresas corruptas mostradas no “Fantástico”, pelo menos duas — Locanty e Rufolo — vêm há 15 anos lesando hospitais e prefeituras, negociando propina para obter vantagens.

Será que o destino delas e de todas as outras comprometidas até o pescoço é não pagar pelo mal que fizeram? Não é normal que, apesar das evidências que a mídia costuma escancarar, o Brasil continue sendo o país do “nada ficou provado”.


Zuenir Ventura, O Globo

Religiosos já se preparam para o regime pós-irmãos Castro

Foto: Reuters


O regime que até a década de 1990 se declarava ateu e que já expulsou religiosos se prepara com empenho quase fervoroso para receber a visita do Papa Bento XVI a Cuba.

Com uma página especial na internet sobre a viagem do Pontífice, editoriais no "Granma", e a concessão de folgas para que funcionários públicos acompanhem os eventos com a presença de Joseph Ratzinger, o governo quer deixar clara a mensagem de um país em transição, onde a Igreja Católica e seu maior representante são bem-vindos.

A preocupação com o potencial uso político da visita do Papa, que marca os 400 anos da descoberta da imagem da Virgem da Caridade do Cobre, padroeira de Cuba, é grande. O número dois do Vaticano, cardeal Tarcísio Bertone, afirmou que a passagem do Pontífice ajudará a promover a democracia na ilha e disse não acreditar que a visita será explorada pelo governo.


Fonte e créditos
Janaina Lage, O Globo
 

Regalia

O Senado é pródigo em benefícios a seus parlamentares. Além da verba indenizatória de R$ 15 mil e do direito de contratar até 72 servidores, os senadores e seus dependentes têm direito a assistência médica pelo resto da vida.


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Grupo Moxuara

sábado, 24 de março de 2012

O Amor: promessa e dúvida


Amor é uma palavra que precisamos hoje usar com cuidado. Para os poetas é uma palavra bonita, para os conquistadores sexuais ou religiosos, é estratégica. De outro lado, é sincera tanto quanto é confusa, para muitos amantes que, adolescentes ou maduros, se perdem em suas promessas. Não há amor sem promessa de felicidade, já dizia Sthendal, escritor do século XIX. Amantes são aqueles que vivem em nome do amor, que o praticam à procura de um ideal de felicidade que só o amor parece realizar. Quem acredita nisto pode bem ser chamado de romântico.

Para os descrentes, porém, os que desistiram de amar, amor não passa de uma palavra em desuso. Algo nela pode soar a pieguice ou sentimentalismo. Melhor deixá-la de lado, pensa o decepcionado. Mera máscara sem rosto, rememoração do ressentimento de não se ter mais a realização da promessa na qual acreditara, o amor, para muitos, está fora da ordem. E, por isso, fora de moda e mesmo algo banal.

AMAR O AMOR, DUVIDAR DO AMOR

Além daquele que olha o amor com a dor que lhe restou há alguém que ainda crê no amor, ainda que seja seu crítico. Talvez o amor não tenha sido a parte feliz de sua sina e é melhor analisá-lo racionalmente como qualquer objeto. Nele pesa a voz de ilusão do amor interna a uma promessa ideal. Algo que faz duvidar dele. Ainda que ao duvidar se esteja buscando chegar, de algum modo, perto do amor. Só a dúvida poderia nos levar a ter esperança de, algum dia, chegar à certeza. O que há de mais certo sobre o amor, é, todavia, que ele é plenamente incerto. Mesmo assim pensar nele é uma prazer mais que romântico.

Neste caso, como palavra, o amor é menos substantivo e mais verbo. Intransitivo, o que simplesmente é e não se conjuga, como no título do romance escrito em 1923 por Mário de Andrade “Amar, verbo intransitivo”. Ama-se o amor, mais do que alguém que amar. Quer-se amar, amar é preciso, mais do que saber o que é o amor. Definir o amor é o que menos importa. Neste título, porém, há uma definição do amor, a de que ele é um sentimento que se vive, não importa quando, nem onde, nem em relação a quê.

Talvez o amor sobre o qual tanto falamos esteja hoje longe de nós à medida que confundimos a riqueza da expressão amor com a paixão. Falta-nos atenção ao amor quando o confundimos com a simples paixão que é o desejo autoritário e desenfreado por alguma coisa ou pessoa. É como se o amor fosse algo que nos toma e que não podemos compreender, quando muito ter sorte com ele, ou aceitar o sofrimento, a dor com cuja rima já não podemos deixar de vê-lo.

AMOR PLATÔNICO

O amor está presente no nascimento da filosofia. No período clássico da Grécia antiga, o amor é uma das questões mais importantes. Podemos dizer que a filosofia começa com a descoberta do amor. O amor é o que nos faz pensar. Na base do amor está o espanto, o encantamento. Para os filósofos antigos, o amor não é uma palavra complexa, mas três: eros, philia, ágape. Cada uma delas tenta designar um sentimento que é bem maior que a palavra com a qual é expresso. O sentimento nunca é simples, a palavra que o batiza também não.

Eros é o amor como desejo. Na obra de Platão trata-se de um sentimento que compõe a própria filosofia, o modo como se pode pensar. Não apenas desejo do belo, do corpo de outro, anseio de alegrias carnais, mas, sobretudo, é o sentimento que compõe o desejo de saber o que está para além do corpo. Quando se ama alguém, do ponto de vista platônico, se ama o que está além do que se vê. Se ama, inclusive, o que não se vê. Por isso, a curiosa expressão “amor platônico” tem uso corrente em nosso vocabulário. Com ela procuramos expressar o amor que vive de ser teoria sobre si mesmo. Ele se auto-alimenta. É uma espécie de amar como verbo intransitivo. Um amor sem prática, pura admiração, pura contemplação. Contemplação, ver algo, é o termo pelo qual se traduz a palavra “teoria”. Podemos dizer que o amor platônico é um amor teórico, um amor que se compraz em ver, olhar, pensar no que se vê. O que se vê, porém, não corresponde ao olho do corpo, mas ao olho da alma.

ALÉM DO AMOR

“Filia” significa amizade. Filosofia (Philia+Sophia) é uma espécie de amizade pela sabedoria. A amizade é próxima do desejo, pois ambos querem chegar os memso lugar que é o bem. Apenas é um pouco diferente de Eros, pois na Philia a racionalidade exerce sua força. Ela designa um passo além do desejo enquanto este é fortemente platônico e contemplativo. Na amizade constitui-se um laço que vai além do contemplativo ainda que dele precise, que ele permaneça em sua base.

De um amigo queremos ficar perto por admiração e respeito. Ao mesmo tempo a amizade envolve a noção de companheirismo, de estar junto do outro. O amigo é o que se une ao outro em nome de algo comum. Quando a palavra filosofia foi forjada no século V a.C. na escola pitagórica, ela se referia ao grupo de filósofos reunidos na prática de uma vida contemplativa, uma vida em nome da sabedoria. A filosofia era uma prática de vida que se realizava entre amigos.

Ágape era o amor que se tinha por tudo o que existia. Era o amor desinteressado, o amor pela vida. Sobretudo, Ágape define uma amor pela natureza, é o amor altruísta. Amor que envolve uma determinada compreensão do mundo como morada do humano dentro do cosmos, como ordem da natureza e da cultura. Os gregos acreditaram no amor como uma potência essencial a tudo o que existia, assim como o cristianismo primordial. Como poderíamos hoje retirar o amor da banalização à qual foi lançado e restituir seu sentido maior, aquele que leva à liberdade humana? A resposta a esta pergunta exige o próprio amor.


Marcia Tiburi



Publicado originalmente na Revista Vida Simples.

Bons amigos

Abençoados os que possuem amigos, os que os têm sem pedir.
Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende.
Amigo a gente sente!

Benditos os que sofrem por amigos, os que falam com o olhar.
Porque amigo não se cala, não questiona, nem se rende.
Amigo a gente entende!

Benditos os que guardam amigos, os que entregam o ombro pra chorar.
Porque amigo sofre e chora.
Amigo não tem hora pra consolar!

Benditos sejam os amigos que acreditam na tua verdade ou te apontam a realidade.
Porque amigo é a direção.
Amigo é a base quando falta o chão!

Benditos sejam todos os amigos de raízes, verdadeiros.
Porque amigos são herdeiros da real sagacidade.
Ter amigos é a melhor cumplicidade!

Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho,
Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!



Machado de Assis

A galinha fuzilada

Naquele tempo era coronel. Hoje, passados que são uns anos, deve ser muito mais. Declaro, em seu favor, que foi o militar mais militar que conheci. Morava em Jacarepaguá, em frente à minha casa, e sua família, muito numerosa, era sua tropa, perfeitamente instruída e disciplinada. Na rua, mesmo em passeio, andavam todos de passo certo, mulher, filhos e cachorro. Seu ardor patriótico fazia-o acordar às cinco da manhã e, no banheiro, cantava todos os hinos que conhecia. Apenas reservava o Hino Nacional, com introdução e tudo, para os dias santos e feriados. A farda era seu invólucro: nunca o vi na rua à paisana.

Esperava o bonde perfeitamente empertigado, quase em posição de sentido, e continência, apenas para as senhoras e superiores. A roupa (a farda) era sempre impecável, de vinco firme, com botas que poderiam servir de espelhos. No tempo da guerra, que acompanhou todinha pelo Repórter Esso, redobrou de austeridade. Aí já não cumprimentava os vizinhos, e as continências às senhoras, como tudo na época, foram drasticamente racionadas. No bairro, todos o respeitavam e não havia ladrão que se atrevesse a passar na esquina daquela rua. As filhas é que não olhavam com bons olhos aquele excesso de austeridade. Embora jeitosas, corriam o risco de ficar solteiras, pois nenhum mancebo se atrevia a aproximar-se da casa, ou melhor, do quartel.

Tinha um hobby: criar galinhas. Possuía umas cinqüenta cabeças, algumas de boa raça. Todo domingo, num espetáculo inédito, soltava as galinhas na rua e, de pijama e cinturão — com um bruto revólver do lado —, ficava vigiando o piquenique. Passados uns trinta minutos, bastava que fizesse um "Xô, galinha" para que as cinqüenta, uma a uma, fossem voltando para o jardim da casa e, finalmente, ao galinheiro. Era uma prova eloqüente de que a disciplina naquela casa era igual para todos.

Até que um domingo não foi bem assim. Lembro-me bem de uma galinha preta que não atendeu ao primeiro "xô", provocando, com esse ato de rebeldia, uma repetição do mesmo, em tom menos amigo. Ocorreu uma nova desobediência, seguida de novo "xô".

Mas a doida, naturalmente julgando-se uma galinha civil, novamente desatendeu a ordem. Considerando-a insubmissa, e passível de crime militar, uma vez que estávamos em guerra, o valente coronel sacou de sua arma e fez partir um balaço que deve ter ido direto ao coração da galinha. Que nem estrebuchou. Ficou o dia inteiro por ali mesmo, gelando o sangue, até que foi encontrada por um mulato que, à noite, na encruzilhada, ao lado do corpo de penas pretas fez acender sete velas de cera. Até hoje, porém, não se sabe se foi macumba ou velório. E a única testemunha do crime foi este seu criado que, a respeito, nunca prestou declarações, mesmo porque, até agora, nada lhe foi perguntado.



Max Nunes

"Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinácia. E, no entanto, o leitor se desgasta, se esvai, em milhares de livros mais áridos do que três desertos."


 NELSON RODRIGUES

sexta-feira, 23 de março de 2012

Entre o sono e sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.


Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.


Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.


E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre-
Esse rio sem fim.




Fernando Pessoa



"Amuada mas obediente, ela se deixava conduzir como uma criança."



(Lygia Fagundes Telles)

Intervalo

A verdadeira história do pinto

Quando Deus criou Adão e Eva, disse aos dois:

... - Tenho dois presentes para distribuir entre vocês: um é para fazer xixi em pé e...

Adão, ansioso , interrompeu, gritando:

- Eu ! Eu ! Eu ! Eu quero , por favor ... Senhor , por favor . Sim, iria me facilitar vida substancialmente ! Por favor ! Por favor!

Eva concordou e disse que essas coisas não tinham importância para ela .

Então , Deus presenteou Adão, que ficou maravilhado . Gritava de alegria, corria pelo jardim do Éden fazendo xixi em todas as árvores .

Correu pela praia fazendo desenhos com seu xixi na areia . Brincava de chafariz . Acendia uma fogueirinha e brincava de bombeiro ...

Deus e Eva contemplavam o homem louco de felicidade , até que Eva perguntou a Deus :

- E ... qual é o outro presente , Senhor ?

Deus respondeu:

- Cérebro, Eva, o cérebro é seu.


*Pescado do face do Mario Ancenso
No meio da turma há sempre uma engraçadinha

quinta-feira, 22 de março de 2012

quarta-feira, 21 de março de 2012

Mario Ascenso e suas fotografias

Mario Ascenso





Do fundo do baú

É tempo de umbu

Passadinha rápida na feira para comprar umbú (Spondias tuberosa Arruda). Nossa fruta de época!


"O umbuzeiro foi batizado por Euclides da Cunha em, Os Sertões, como uma árvore sagrada da caatinga. Graciliano Ramos também o descreve em Infância e Gilberto Freyre disseminou a receita de um doce de calda preparado com umbu verde.

Árvore com até 6 m de altura de copa ampla em forma de guarda-chuva com diâmetro de 10 a 15 m projetando sombra densa sobre o solo.

O umbuzeiro perde totalmente as folhas durante a época seca e reveste-se de folhas após as primeiras chuvas.

Flores brancas, aromáticas e melíferas. A floração, pode iniciar-se após as primeiras chuvas independentemente da planta estar ou não enfolhada; a abertura das flores dá-se entre 0 hora e quatro horas (com pico as 2 horas).

Frutos tipo drupa de forma arredondada, de 2 a 4 cm de comprimento, casca amarelo-esverdeada com um caroço. Polpa comestível branca, mole, suculenta e de sabor agridoce. 60 dias após a abertura da flor o fruto estará maduro.

O umbu é utilizado na fabricação de polpa, suco, sorvete, doce, geléia e uma grande variedade de produtos. Industrializado o fruto apresenta-se sob forma de sucos engarrafados, de doces, de geléias, de vinho, de vinagre, de acetona, de concentrado para sorvete, polpa para sucos.

O umbu possui metade de vitamina C do suco de laranja.

A resistência à seca é a principal característica do umbuzeiro, uma planta originária do semi-árido nordestino. É na raiz que se encontra o cheropódio, uma espécie de batata que armazena água utilizada pela planta nos períodos mais secos. Um umbuzeiro adulto vive em média 100 anos e pode até armazenar dois mil litros de água em suas raízes.

Seu nome em tupi-guarani é "y-mb-u", que significava "árvore que dá de beber"

Meu sobrinho Lucas dando uma de Lennon
"Olhar os mapas pode ser esclarecedor. Olhar para eles de ângulos novos pode ser ainda mais esclarecedor. Mas, se você quer libertar a sua mente de todas as idéias preconceituosas e preconcebidas que os planisférios tendem a produzir, provavelmente só terá um remédio: arranje um globo - e mantenha-o sempre rodando."


Basil Blackwell

O mistério das coisas

O mistério das coisas, onde está ele?
Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
Que sabe o rio disso e que sabe a árvore?
E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?
Sempre que olho para as coisas e penso no que os homens pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra.
Porque o único sentido oculto das coisas
É elas não terem sentido oculto nenhum,
É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as coisas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender.
Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: —
As coisas não têm significação: têm existência.
As coisas são o único sentido oculto das coisas.


Alberto Caeiro

Senado aprova benefício integral a servidor aposentado por invalidez


O Senado aprovou ontem proposta de emenda à Constituição que concede benefício integral a servidores aposentados por invalidez.

A medida vale para funcionários da União, dos Estados e dos municípios que tenham entrado no serviço público até 31 de dezembro de 2003. Como já foi aprovada pela Câmara, a PEC segue para promulgação.

Essa emenda corrige uma distorção da reforma da Previdência de 2003. Na época, uma emenda acabou com a aposentadoria integral e com a paridade no serviço público.

A reforma, que entrou em vigor em 2004, determinou que o valor do benefício por invalidez fosse proporcional ao tempo de contribuição, mas atingiu quem já tinha ingressado no serviço público sem regra de transição. A emenda permite a vinculação entre os proventos da aposentadoria e a remuneração da ativa a quem ingressou na carreira até 2003.
 
 
Folha de São Paulo




terça-feira, 20 de março de 2012

Pescado da net

Grandes canalhas da literatura (I)

Só existem dois tipos de homens, amigo, os Vadinhos e os Teodoros.

Simples assim e esquemático. Ou se é um ou se é o outro.

O primeiro não presta, mas derrete o coração das mulheres com a sua canalhice; o segundo é um sujeito virtuoso, direito, o objeto de desejo de uma fêmea quando está sofrendo, no dia-a-dia do lar, com um macho desmantelado.

Os dois se completam. Os Vadinhos jogam, bebem e são raparigueiros, piolhos de cabarés, só voltam para casa quando fecha a última barraca do mercado do Peixe, para ficarmos na geografia soteropolitana.

Os Teodoros não deixam faltar nada em casa, homens corretos, responsáveis, cumpridor dos seus deveres.

Como de besta não tinha nada, Dona Flor, por força da quentura do corpo e de alguma espiritualidade, conseguiu o milagre de viver com os dois maridos ao mesmo tempo, o safado e o virtuoso.

Morena gulosa. Mas fez por merecer em vida o banquete, a moqueca de machos fervida no óleo da testosterona.

Fora dos livros e do cinema, pode ser que o esquema não funcione a contento, mas o centenário Jorge Amado realizou o desejo secreto das mulheres, aquela vontade guardada lá no fundo do pote do juízo.

E assim começamos a série sobre grandes canalhas da literatura. Sugestões para as próximas crônicas?

Quem é o seu canalha predileto?


Xico Sá