Uber X Taxi (Arquivo Google)
O secretário Rafael Picciani partiu para o ataque e prometeu logo “repressão”, sem disfarçar ser parte interessada na questão
Não estou entre os cinco cariocas que, segundo levantamento, se queixam diariamente à Secretaria de Transportes dos táxis da cidade, mesmo porque não utilizo o serviço todo dia. Se tivesse que reclamar, seria por algum gesto de descortesia ou antipatia, mas nenhuma falta grave. Até fiz amizade com alguns taxistas e fiquei sabendo que, em grande parte, são explorados, porque não são donos do seu carro — trabalham para uma cooperativa ou pagam aluguel ao proprietário de uma frota (segundo me contaram, há vários poderosos).
É a eles que recorro para meus eventuais deslocamentos, ou, mais recentemente, também ao Easy Táxi. Por isso ou por sorte, o fato é que poderia me colocar ao lado deles nessa briga com o Uber. Porém, pelo que leio no noticiário e ouço de conhecidos, é provável que o meu exemplo seja exceção. Já em relação ao aplicativo, que usei apenas uma vez, como acompanhante, só tenho ouvido elogios à qualidade do atendimento.
A alegação é que o chamado sistema de “carona paga” praticaria uma concorrência desleal por não se submeter às mesmas obrigações fiscais, ou seja, por não pagar os mesmos impostos, o que é discutível. Mas se é isso, por que não equipará-los em direitos e deveres?
Em termos de imagem, a dos táxis piorou depois da carreata de protesto. Enquanto a atitude deles prejudicava o trânsito e deixava na mão os seus passageiros, a dos concorrentes conquistava simpatia. Eles telefonavam aos clientes oferecendo corridas grátis. Injustificável foi o gesto de autoridades municipais engajando-se no movimento, como se estivessem em campanha eleitoral — como se estivessem?
Sabe-se o quanto o apoio político da categoria é decisivo para candidatos a cargos eletivos. O secretário de Transportes chegou a discursar num carro de som como porta-voz dos manifestantes, vestindo a camisa de militante onde só faltou estar escrito “Eu sou taxista”. O Uber, no entanto, foi tratado como pirata, “um caso de polícia”, como ele disse, indispondo a população contra uma novidade tecnológica bem aceita e sem culpa formada.
Ao contrário de cidades como Nova York, que antes de uma decisão, está avaliando os efeitos do aplicativo — se melhora ou não o trânsito, se é vantajoso para o usuário — o secretário Rafael Picciani partiu para o ataque e prometeu logo “repressão”, sem disfarçar ser parte interessada na questão.
Mais sensato foi o presidente do Conselho Estadual dos Taxistas, José Marcos Bezerra. Diante das críticas que recrudesceram após os protestos de sexta-feira passada, informou que os motoristas passarão por cursos de reciclagem a partir de dezembro. Ele quer que nas Olimpíadas de 2016 os 54 mil taxistas não façam feio. Tem que vencer assim, pela competição, não pela reserva de mercado.
Zuenir Ventura
Do Blog do Noblat
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