sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Foi um privilégio pertencer à Humanidade enquanto ela durou

Lembra do bug do milênio? Depois que o fim do mundo não aconteceu como previsto, no começo dos anos 2000, o Apocalipse ficou desmoralizado. Mas pode ter havido apenas um erro nas datas da sua chegada. Das 940 quadras das profecias de Nostradamus, em apenas nove ele dá datas especificas, e é compreensível que tenha se enganado em alguma.
 
Na quadra 72 da décima centúria das profecias de Nostradamus está escrito que “no ano de 1999 e sete meses dos céus virá o grande rei do terror”. O costureiro Paco Rabanne, um estudioso da obra de Nostradamus, deduziu que o dia do grande terror, quando o mundo começaria a acabar, seria 28 de julho de 1999. Inclusive, dizem que ele fez o que seria seu último desfile no dia 27 e pagou todo mundo com cheques pré-datados. Segundo Paco, o fim se iniciaria com a explosão de uma estação espacial abandonada pelos russos sobre Paris. Feitos alguns ajustes nas datas, a previsão mantém-se perfeitamente plausível.
 
O que viria depois da explosão Nostradamus não esclareceu. Disse que o rei do terror faria ressuscitar uma grande potência do Oriente e dela viria um anticristo que reinaria no Ocidente. Exegetas das profecias interpretaram suas palavras como uma referência a hordas mongóis lideradas por um Gengis Khan redivivo. Hoje a interpretação pode ser outra: a grande potência que ressuscita é a Rússia, e a grande ameaça que vem do Oriente é Putin, provavelmente a cavalo e sem camisa.
 
Como se sabe, junto com os discos de vinil e a Wanderléa, a Guerra Fria voltou. E a Rússia tem novos foguetes de longo alcance com múltiplas ogivas nucleares, capazes de destruir 17 Hiroshimas ao mesmo tempo, só um pouco menos do que os foguetes americanos. Paco Rabanne se precipitou. O fim pode estar próximo agora.
 
Quero aproveitar a oportunidade para dizer que foi um privilégio pertencer à Humanidade enquanto ela durou. E sei que falo pelos bilhões e bilhões de pessoas que frequentaram este planeta desde que éramos pré-hominídeos que não sabiam nem fazer fogo nem sexo de frente quando digo que foi bom. Fizemos muita bobagem, é verdade — guerras, filhos demais, carros com rabos de peixe, Brasília —, mas também fizemos coisas admiráveis.
 
Dois exemplos: a Catedral de Chartres e a Patricia Pillar. E nos divertimos, é ou não é? Parabéns à Terra, que nos acolheu sem fazer perguntas, nos deu a água e o oxigênio de que precisávamos para viver e ainda nos proporcionou grandes crepúsculos, sem falar no cheiro de capim molhado e no pudim de laranja. Obrigado, velha. Que venha o Apocalipse. Viva o Internacional.
 
 
Luis Fernando Veríssimo

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