quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Envelhecer dói

Enquanto pudermos curtir os Stones em carne e osso, não estamos velhos. A afirmativa está no livro The Rolling Stones, de Cristopher Sandford, sobre a banda, que tem subtítulo pretencioso -“A biografia definitiva”. Definitivo mesmo só a morte e os filhos. Os dois não têm volta. Não há ex-filho, muito menos – e lamentavelmente - ex-morte.
 
Mas a frase, além de boa, é um alento. No mínimo, ainda haverá uma próxima super turnê internacional dos roqueiros setentões, com suas roupas coladas e seu sonzão que, desde os anos 60, embala e delicia quem gosta do rock.
 
Sonzão e embala me entregam, né? Tenho mais de 50. Estou entre os mais doídos, porque ainda por cima sou mulher. Envelhecer dói mais ainda nas mulheres. (Preciso mesmo explicar por quê?) E nem me venha com o eufemismo de “melhor idade”. Melhor pra quem, cara pálida?
 
Melhor mesmo é ter 20 anos. Tudo em cima. Inocência e alegria de ainda botar muita fé na vida, na política, etc. Estou mais sábia? Tenho mais conhecimento, mais vivência, diria. Estou mais saudável? Mais bonita? Claro que não. Mais divertida, menos ansiosa? Sei não. Mais interessante? Também não.
 
Isso de ser “mais interessante” é outro dos eufemismos/delicadeza que arranjaram pra aliviar a dor de ser “mais” de 50. Conheci uma mulher muito interessante... Pode ter certeza. Ela tem bem mais do que 40.
 
Enfim, um festival de não, não, não respondem a questão posta: melhor idade pra quem?
 
Vão dizer, mas hoje em dia, com tantos recursos da cosmética, medicina & saúde, uma mulher de 70 está em plena forma. Ummm... Digamos, está mesmo muito melhor do que estiveram mamãe e vovó na mesma idade. Mas em “plena forma” é só mais um dos reforços positivos de amenizar a dor do inexorável envelhecimento, com tudo contido nesse pacote indigesto.
 
Cirurgias plásticas são maravilhosas – e defendo todas, para todas as idades. Botox e afins idem. Mas têm os limites do bem ou mal feito, do quanto e até quando? Popularizados, vão nos mantendo, mas, infelizmente, também deixando rastros e fazendo monstros.
 
Quem, ao encontrar alguém somando muitas cirurgias e/ou botox, não pensou: Eita! Exagerou na dose. Ou seja, a figura está parecendo travesti de si mesma, peça inflável, caricaturada de jovem.
Você, então, dói por ele/a. Teme também perder o limite do limite para continuar na tal do em plena forma. Não tem jeito. O tempo passa. O tempo estraga.
 
E a alternativa ao estrago é a morte. Aquela dita cuja de quem a maioria foge feito a Dilma tem fugido da Marina (ou vice-versa). Assim, enquanto a definitiva não chega, melhor mesmo é contar com a próxima turnê dos Rolling Stones para, mais uma vez, ouvir Satisfaction ao vivo, como se fosse ontem e nem houvesse amanhã.
 
PS.: O livro é ótimo, inclusive, para quem tem menos de 60.
 
 
Tânia Fusco
(Do blog do Noblat)

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