sexta-feira, 22 de setembro de 2017

O lado engraçado de Raymundo Asfora

Ele foi poeta e orador, criminalista e boêmio, sonhador e anjo. Morreu sozinho, numa casa de campo, a Granja Uirapuru, tendo ao lado uma garrafa de uísque e um revólver, o revólver que calou seu canto e inundou a Paraíba de saudade. Raymundo Asfora, a voz que fazia tremer os adversários e encantava as multidões que enchiam as praças para ouvir seus discursos, foi deputado estadual, deputado federal e vice-governador. Mais que isso, foi um homem bom.

O ás de copa
 
Nas eleições proporcionais de 1978, Campina Grande mandou para a Assembléia Legislativa dois talentosos advogados: Antonio Vital do Rego e Raymundo Yasbeck Asfora. O primeiro eleito pela legenda do PSD e o segundo representando o PR. No parlamento estadual, logo a inteligência de ambos foi notada pela imprensa e pela sociedade pessoense.

Os debates entre os dois despertavam a atenção, principalmente pela fulgurante oratória, inflamada, em Asfora,por ser da oposição,e retórica,em Vital,face a sua condição de governista.

Uma bela tarde,Asfora, na tribuna, verberava contra o governador Pedro Gondim, no exercício do cargo em virtude da doença do titular,Flávio Ribeiro. Na defesa do governador, o culto Vital do Rego.Eis um trecho do memorável debate:

Vital do Rego – Deputado Raymundo Asfora,vossa excelência é um ás fora dessa jogada.

Raymundo Asfora-E que ás, nobre deputado Vital do Rego?

Vital do Rego – O de copa, deputado Raymundo Asfora.

Raymundo Asfora – Senhor presidente,dê-me licença que eu quero entrar nesse Rego duro”.

Cacique Juruna
 
Raymundo Asfora e José Maranhão, logo após a posse na Câmara Federal, em 1983, inventaram de trazer à Paraíba o cacique Juruna, eleito, também, deputado federal.

Foi uma festa, principalmente para a imprensa, que a todo instante estava entrevistando o índio.

Em Campina Grande os jornalistas perguntaram a Juruna se ele nomearia Raymundo Asfora para o Ministério, caso chegasse à Presidência da República.

-Não, Amundo toma muito uísque...

Doçura
 
Asfora metia a ripa em José Fernandes de Lima, que estava no Governo, quando foi aparteado pelo deputado José Pires de Sá:

-Deputado Raymundo Asfora,gostaria de solicitar do nobre colega um tratamento mais doce, mais elegante, tanto com o governador quanto com seus colegas de Assembléia...

-Senhor presidente – retoma Asfora o seu discurso - que doçura se pode esperar de um Pires de Sá?

Mulheres suspeitas
 
O advogado Raymundo Asfora estava em um clube campinense acompanhado por duas jovens. O diretor social veio reclamar, afirmando que se tratava de duas mulheres suspeitas.

-Suspeitas não. Elas são prostitutas. Suspeitas são as que estão aí -, afirmou Asfora.

Quem provoca...
 
Defensor da tese de que, quem provoca não tem direito a defesa, Asfora estava em seu escritório, debruçado sobre um processo com prazo de devolução prestes a se vencer, quando chegou uma jovem vendedora de livros, oferendo com insistência algumas coleções forenses.

Asfora desculpou-se, explicando que não poderia atendê-la antes de concluir a leitura. Mandou que ela sentasse e esperasse alguns instantes. Ao sentar, a moça deixou, propositalmente, que a saia subisse bem acima do joelho. Surpreso, o advogado olhou-a demoradamente e sentenciou:

-Se você, na condição de ré, tivesse que alegar legítima defesa, estaria perdida.

-Por que?

-Por causa da provocação.

Trocadilhos
 
Candidato a prefeito de Campina, Asfora chamou Amir Gaudêncio para ser o seu vice. Amir respondeu:
-Como você é poeta, só aceito o inverso.

Candidato Amir, Asfora explicou:

-Antes queriam a mim.,.. No fim ficou Amir.

Descortesia
 
Ramalhetes de flores foram colocados pelo deputado Antonio Nominando Diniz na mesa das taquígrafas da Assembléia, uma maneira de homenageá-las pela passagem do seu dia.

Na tribuna, exaltado, o udenista Joacil de Brito Pereira fazia contundente discurso contra o PSD. Raymundo Asfora tirou algumas flores da mesa de taquigrafia e levou para o orador, que explodiu:

-Senhor presidente, eu não admito palhaçada.

Nominando Diniz levantou-se e abriu a seguinte questão de ordem:

-É a primeira vez, senhor presidente, que vejo alguém protestar por receber flores.

Sem ter medo de fogo
 
Uma multidão enorme estava concentrada na Lagoa do Parque Solon de Lucena participando do comício promovido por Jânio Quadros, candidato à Presidência da República.

Na hora em que Jânio começou a falar, alguém soltou um busca-pé. Foi um pânico geral, milhares de pessoas correndo. Raymundo Asfora, que também participava do comício, tomou o microfone do orador e gritou:

-Começa a provocação. É fogo baixo do Governo. Não sei como brinca com fogo quem tem lã.
Referia-se a Ruy Carneiro.
 
Tião Lucena

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