Esses dias resolveram definitivamente especular com a minha idade. Não que eu tenha algum problema em declará-la, mas é que quando a mulher resolver vasculhar nossa cabeleira, ou o que sobrou dela, desbravando os teimosos fios brancos, é sinal que os anos já andam com o pincel soltando tintas em nossa direção há algum tempo.
Os dias entortam o nosso corpo, escrevem em nossas rugas, tingem nossos cabelos, mas a alma continua irretocada, guardada, novinha em folha.
E tem ainda aqueles parentes, geralmente as tias, que costumam encomendar-me uma tintura a caju, coisa fina e na moda, segunda elas, claro! Não tem conversa. Na moda somente se for na cabeça delas. Deixem em paz os meus novos cabelos brancos.
Porém, insatisfeito, surge o meu compadre, cioso em suas observações, aconselhando-me substituir a sunga pela decantada cueca samba canção, mais confortável e melhor adaptada à nossa idade, arrematou ele.
Sabe de uma coisa? Estou me sentindo um dinossauro.
Inevitável ir contra os anos, sobraram-me, ao menos, as minhas reminiscências, coisinhas que os próprios anos cuidaram de colorir mais cedo na nossa vida, na nossa infância e foi assim, tocado, ora pelos parentes, ora pelos compadres, ora pelos anos, que resolvi apresentar ao meu pequeno Yan, de um ano e meio de vida, o velho Zé do Amendoim. Personagem que povoou, mesmo sem saber, meus primeiros anos de vida. Ele, vendendo doces e balinhas em frente ao Cine Lux. Eu, consumidor contumaz de suas guloseimas espalhadas em sua carrocinha de mão.
Passei a minha infância sendo seu freguês, tivesse ou não uns trocados no bolso, e geralmente não os tinha.
Passados os idos, acudiu-me agora o juízo do velho e bom vendedor de ilusões.
Pois bem, seu Zé do Amendoim continua há 38 anos trabalhando no mesmo ofício, vendendo balinhas. Tem nome e sobrenome: José Camilo de Araújo, é natural de Pombal, casado com a senhora Severina Maria de Sousa, quatro filhos e, como já dito, empresário do ramo dos confeitos vendidos em carrocinha de madeira surrada que se ergue e locomove sob o eixo de uma bicicleta caloi.
Apesar de seus 77 anos, percorre todos os dias as ruas da cidade de Pombal empurrando a sua carrocinha, fazendo ponto de parada o oitão da igreja matriz e a coluna da hora. A freguesia diminuiu, mas ainda vende pipoca, amendoim, balinhas, drops, pirulitos e chicletes. Gaba-se de ser hoje o mais antigo empresário do ramo ainda em plena atividade.
Dos quatro filhos, três foram criados com o auxílio do rendimento financeiro da carrocinha de doces. Nunca sonegou imposto. Paga a sua conta de água e luz sempre em dia. Jamais recebeu reconhecimento algum das autoridades pelo longo exercício de sua atividade e ao trabalho prestado aos munícipes, nunca foi escolhido como melhor vendedor ambulante do ano, ou melhor, sequer sua categoria funcional existe na lista de escolha dos melhores. Nenhuma entidade se preocupou com isso. É o senhor José Camilo de Araújo apenas e tão somente o Zé do Amendoim, nada mais. Um elemento na paisagem árida desta cidade, muito pouco notado, segue a sua rotina de vender doces ilusões. Trôpego, cansado, vai passando pelas ruas com a mesma destinação por que passam os poetas: solitários, apaixonados e anônimos.
Um dia, assim como nós, caminhará por estas ruelas sem alardes, em silêncio.
Enquanto isso, meu filho, lhe apresento o velho Zé do Amendoim, cidadão brasileiro.
Os dias entortam o nosso corpo, escrevem em nossas rugas, tingem nossos cabelos, mas a alma continua irretocada, guardada, novinha em folha.
E tem ainda aqueles parentes, geralmente as tias, que costumam encomendar-me uma tintura a caju, coisa fina e na moda, segunda elas, claro! Não tem conversa. Na moda somente se for na cabeça delas. Deixem em paz os meus novos cabelos brancos.
Porém, insatisfeito, surge o meu compadre, cioso em suas observações, aconselhando-me substituir a sunga pela decantada cueca samba canção, mais confortável e melhor adaptada à nossa idade, arrematou ele.
Sabe de uma coisa? Estou me sentindo um dinossauro.
Inevitável ir contra os anos, sobraram-me, ao menos, as minhas reminiscências, coisinhas que os próprios anos cuidaram de colorir mais cedo na nossa vida, na nossa infância e foi assim, tocado, ora pelos parentes, ora pelos compadres, ora pelos anos, que resolvi apresentar ao meu pequeno Yan, de um ano e meio de vida, o velho Zé do Amendoim. Personagem que povoou, mesmo sem saber, meus primeiros anos de vida. Ele, vendendo doces e balinhas em frente ao Cine Lux. Eu, consumidor contumaz de suas guloseimas espalhadas em sua carrocinha de mão.
Passei a minha infância sendo seu freguês, tivesse ou não uns trocados no bolso, e geralmente não os tinha.
Passados os idos, acudiu-me agora o juízo do velho e bom vendedor de ilusões.
Pois bem, seu Zé do Amendoim continua há 38 anos trabalhando no mesmo ofício, vendendo balinhas. Tem nome e sobrenome: José Camilo de Araújo, é natural de Pombal, casado com a senhora Severina Maria de Sousa, quatro filhos e, como já dito, empresário do ramo dos confeitos vendidos em carrocinha de madeira surrada que se ergue e locomove sob o eixo de uma bicicleta caloi.
Apesar de seus 77 anos, percorre todos os dias as ruas da cidade de Pombal empurrando a sua carrocinha, fazendo ponto de parada o oitão da igreja matriz e a coluna da hora. A freguesia diminuiu, mas ainda vende pipoca, amendoim, balinhas, drops, pirulitos e chicletes. Gaba-se de ser hoje o mais antigo empresário do ramo ainda em plena atividade.
Dos quatro filhos, três foram criados com o auxílio do rendimento financeiro da carrocinha de doces. Nunca sonegou imposto. Paga a sua conta de água e luz sempre em dia. Jamais recebeu reconhecimento algum das autoridades pelo longo exercício de sua atividade e ao trabalho prestado aos munícipes, nunca foi escolhido como melhor vendedor ambulante do ano, ou melhor, sequer sua categoria funcional existe na lista de escolha dos melhores. Nenhuma entidade se preocupou com isso. É o senhor José Camilo de Araújo apenas e tão somente o Zé do Amendoim, nada mais. Um elemento na paisagem árida desta cidade, muito pouco notado, segue a sua rotina de vender doces ilusões. Trôpego, cansado, vai passando pelas ruas com a mesma destinação por que passam os poetas: solitários, apaixonados e anônimos.
Um dia, assim como nós, caminhará por estas ruelas sem alardes, em silêncio.
Enquanto isso, meu filho, lhe apresento o velho Zé do Amendoim, cidadão brasileiro.
Um comentário:
Parabens teófilo pela homenagem prestada a Zé do amendoim,que para mim faz parte do cartão postal da cidade de pombal,principalmente quando ele ficava(parece que não fica mais)nas imediações da coluna do relógio.este sim,merece um titulo de cidadão pombalense caso não tenha nascido aqui, as vezes passo na coluna do relogio e não o vejo mais,.é um simbolo de nossa cidade,sempre com aquela voz suave e jeito manso de ser,vendendo balas e o amendoim embrulhado em um papel e que me faz ser mais do que consumidor do mesmo a mais de 30 anos, virei fã, pois ele é a verdadeira cara do Brasil.
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