Confesso com ressentimentos ter sido extremamente levado quando criança, nada parava quieto no ensejo das minhas travessuras. As ruas do comércio (Cel. João Leite), Jerônimo Rosado, de Baixo (Benigno Cardoso) e, principalmente, a Vila do Arco (Rubens Medeiros), são testemunhas inertes de um passado que não volta mais, palcos de inúmeras "reinações" infantis.
Baixinha, de pele branca, mas com traços indígenas, cocó prendendo o cabelo, morava com minha avó, dona Lourdes, uma senhora que chamávamos de Nina. Católica praticante, extremamente devotada ás coisas e causas da igreja.
Nina era também vaidosa. Perfumava-se e colocava talco em profusão quando ia sair para seus afazeres religiosos. Invariavelmente passava o dia nas igrejas, a maior parte na matriz de Nossa do Bom Sucesso, enfeitando os altares, acendendo velas, rezando e entoando ladainhas. Esse era o seu universo, seu mundo que a enchia de encantos e prazeres.
Nina era uma das responsáveis pelas romarias, quando das secas que ciclicamente castigam o semi-árido, puxando coros de rezas e cânticos, os quais, conforme dizia, tinha aprendido com sua mãe, também devotada católica praticante.
Moribundos eram assistidos por Nina, que também se responsabiliza pela coleta de flores em praças e jardins pombalenses visando enfeitar urnas mortuárias. No meu entender, era uma mulher santa, pois seu único vício era fumar com voracidade cachimbo repleto de fumo de rolo.
Achava aquilo tétrico, tinha que aspirar a fumaça do cigarro de dona Lourdes e a do cachimbo de Nina. De tanto fazer travessuras para que as duas parassem de fumar, creio que fui castigado, pois, fumante inveterado, tento me livrar sofregamente do vício que adquiri somente após completar dezoito anos.
Infelizmente a maldade humana atiçou-se contra a singela Nina. Apelidaram-na de Pata Choca, talvez devido a forma surreal como saía à rua em direção aos templos religiosos pombalenses.
A face de Nina reascendia a talco Alma de Flores, rouge era usado em larga escala, perfazendo tonalidade bizarra que a caracterizava indelevelmente. Era a bondade em forma de gente, mas com profundo mau gosto para se arrumar, algo que não é natural no gênero feminino.
Nina odiava quando a chamavam pelo apelido, desagradava-lhe ter que percorrer verdadeiro corredor Polonês formado pelo começo da rua do comércio, nas imediações do Pombal Ideal Clube, até chegar á porta de minha casa, lócus principal dos achincalhes a ela destinada.
Com minha clássica impulsividade de infância, também cerrei fileiras, apelidando-a e fazendo coisas mais desagradáveis, em razão de que a mesma, por morar em minha casa, tornara-se alvo fácil de minhas "brincadeiras", confesso hoje, extremamente desagradáveis.
Como vingança pela exposição á fumaça do cachimbo de Nina, certa vez recheei-o com pólvora, causando susto e cólera á doce Nina. Me arrependo disso, imagino se tivesse provocado uma tragédia com àquela formidável criatura humana.
Colocar gelo em seu local de dormida, uma rede armada vizinha à de dona Lourdes, também era forma usual de dar vazão aos meus planos nada salutares ao respeito à pessoa humana.
Era um choque para a pobre Nina quando se deitava, geralmente acordando com seus berros a família do primo Marquês, vizinha da minha família.
Nunca é tarde para pedir perdão, motivo pelo qual venho com humildade lembrar de nossa querida Nina, clamando ao Pai celestial que a tenha acolhido na mais suntuosa mansão de uma dimensão que resguarda as almas dos justos e puros de coração.
Nina, esse é meu testemunho de amor e respeito, minha confissão de culpa, meu absoluto arrependimento e meu pedido de perdão por todas as travessuras das quais você, minha doce e meiga Nina, foi vítima, tanto de minha parte, como, acredito, da parte dos que a fizeram sofrer nesse plano ainda, infelizmente, desassistido de amor ao próximo e de ênfase à dignidade e ao respeito humanos.
Baixinha, de pele branca, mas com traços indígenas, cocó prendendo o cabelo, morava com minha avó, dona Lourdes, uma senhora que chamávamos de Nina. Católica praticante, extremamente devotada ás coisas e causas da igreja.
Nina era também vaidosa. Perfumava-se e colocava talco em profusão quando ia sair para seus afazeres religiosos. Invariavelmente passava o dia nas igrejas, a maior parte na matriz de Nossa do Bom Sucesso, enfeitando os altares, acendendo velas, rezando e entoando ladainhas. Esse era o seu universo, seu mundo que a enchia de encantos e prazeres.
Nina era uma das responsáveis pelas romarias, quando das secas que ciclicamente castigam o semi-árido, puxando coros de rezas e cânticos, os quais, conforme dizia, tinha aprendido com sua mãe, também devotada católica praticante.
Moribundos eram assistidos por Nina, que também se responsabiliza pela coleta de flores em praças e jardins pombalenses visando enfeitar urnas mortuárias. No meu entender, era uma mulher santa, pois seu único vício era fumar com voracidade cachimbo repleto de fumo de rolo.
Achava aquilo tétrico, tinha que aspirar a fumaça do cigarro de dona Lourdes e a do cachimbo de Nina. De tanto fazer travessuras para que as duas parassem de fumar, creio que fui castigado, pois, fumante inveterado, tento me livrar sofregamente do vício que adquiri somente após completar dezoito anos.
Infelizmente a maldade humana atiçou-se contra a singela Nina. Apelidaram-na de Pata Choca, talvez devido a forma surreal como saía à rua em direção aos templos religiosos pombalenses.
A face de Nina reascendia a talco Alma de Flores, rouge era usado em larga escala, perfazendo tonalidade bizarra que a caracterizava indelevelmente. Era a bondade em forma de gente, mas com profundo mau gosto para se arrumar, algo que não é natural no gênero feminino.
Nina odiava quando a chamavam pelo apelido, desagradava-lhe ter que percorrer verdadeiro corredor Polonês formado pelo começo da rua do comércio, nas imediações do Pombal Ideal Clube, até chegar á porta de minha casa, lócus principal dos achincalhes a ela destinada.
Com minha clássica impulsividade de infância, também cerrei fileiras, apelidando-a e fazendo coisas mais desagradáveis, em razão de que a mesma, por morar em minha casa, tornara-se alvo fácil de minhas "brincadeiras", confesso hoje, extremamente desagradáveis.
Como vingança pela exposição á fumaça do cachimbo de Nina, certa vez recheei-o com pólvora, causando susto e cólera á doce Nina. Me arrependo disso, imagino se tivesse provocado uma tragédia com àquela formidável criatura humana.
Colocar gelo em seu local de dormida, uma rede armada vizinha à de dona Lourdes, também era forma usual de dar vazão aos meus planos nada salutares ao respeito à pessoa humana.
Era um choque para a pobre Nina quando se deitava, geralmente acordando com seus berros a família do primo Marquês, vizinha da minha família.
Nunca é tarde para pedir perdão, motivo pelo qual venho com humildade lembrar de nossa querida Nina, clamando ao Pai celestial que a tenha acolhido na mais suntuosa mansão de uma dimensão que resguarda as almas dos justos e puros de coração.
Nina, esse é meu testemunho de amor e respeito, minha confissão de culpa, meu absoluto arrependimento e meu pedido de perdão por todas as travessuras das quais você, minha doce e meiga Nina, foi vítima, tanto de minha parte, como, acredito, da parte dos que a fizeram sofrer nesse plano ainda, infelizmente, desassistido de amor ao próximo e de ênfase à dignidade e ao respeito humanos.
José Romero Araújo Cardoso.
Um comentário:
Antes tarde do que nunca, ah,ah,ah...Brincadeiras a parte,quero dizer que as peripécias do colega Romero eram compreensíveis,face o gênio-mirim que então se formava,onde , não fui testemunha ocular, mas as suas artimanhas do bem foram inúmeras, coisas do tipo em desafiar a lei da gravidade pulando do primeiro andar do antigo colégio Josué Bezerra com um guarda-chuvas na mão.(Adivinhe o resultado...Ah,ah,ah...(Grande figura).
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