Sophia Loren e Marcello Mastroianni: “Um dia
inesquecível”
Ela deixa uma calcinha na casa dele, o macho moderno já assusta.
Ela deixa duas calcinhas, epa, o medo do cara diante do varal só aumenta.
Ela deixa um biquíni, afina de contas ela é carioca e quer ir à praia a
qualquer momento que estiver na casa dele.
Ela deixa um shorts jeans, destes atuais, com os bolsos por fora.
Epa!
O macho moderno, que foge do vínculo como um beduíno sem rumo no deserto,
começa a ficar assustado, bota aquele olho do desespero, fica ensaiando para
dizer algo para a moça, uma advertência etc.
Mais uma calcinha, agora no chuveiro, cada pingo um suspense na cabeça do
sujeito.
Sem coragem para dizer nada, ele põe aquela tromba entediada, para começo de
história.
Um colar, dois colares, brincos espalhados pela casa, joias e bijuterias …
Tudo que reluz é susto para o rapaz.
Ele, estranhamente, vai se afastando da gazela. Começa a sabotagem.
Tenho um amigo, também do time dos assustados, que estabeleceu um critério:
“Passou da meia dúzia de peças de roupa eu devolvo”.
Como se as seis inocentes calcinhas significassem casamento.
Bobagem, meu filho.
Às vezes ela deixa por praticidade, como o biquíni acima citado, por exemplo.
Ela deixa por se tratar de uma moça relax, a leveza do ser em pessoa.
O medo do macho moderno diante do varal ou do cabide.
Bobeira.
Nada mais bonito do que aquela primeira calcinha pingando ainda um difuso
sentimento no chão do banheiro.
O varal, aos poucos, como se fosse a primavera, florindo com as calcinhas
dela.
Como me disse outro dia o Manuel, meu porteiro de Copacabana, “como é feio e
triste um varal só de cuecas”.
De mudança, eu subia distraído com um varal recém comprado.
Manuel completou: “O varal já tem, seu Xico, agora só falta a mulher”.
O sábio porteiro ainda me acompanhou no elevador, com mais uma pérola:
“Compre umas calcinhas e pendure no varal, pelo menos para se iludir que tem
uma mulher”.
Uma onda esse paraibano morador de Duque de Caxias.
Profissional, ele sabe como a presença da mulher é capaz de injetar vida no
inóspito ambiente com o cheiro do queijo da solidão e da solteirice
absoluta.
Uma calcinha, duas calcinhas, três calcinhas… Deixa a moça enfeitar sem medo
a árvore da vida.
Xico Sá

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