Uma organização que movimenta R$ 120 milhões por ano, que possui mais de 11 mil
"colaboradores" e que atua em 22 estados brasileiros, além da presença em dois
países vizinhos, seria, sob todos os aspectos, um empreendimento respeitável, se
não estivéssemos falando da maior agremiação criminosa do país.
Segundo O Estado de S.Paulo, o faturamento estimado da quadrilha a colocaria
entre as mil maiores empresas do país.
O poder de corromper, de ameaçar e de subjugar por meio da violência que um
grupo desses possui ultrapassa os limites das atribuições, jurisdições e
responsabilidades dos entes públicos isoladamente.
Quando o crime se articula com tal poderio e sofisticação, ele deve ser
objeto de uma política de Estado, e não somente de governos. Isso significa
esforços contínuos e integrados na repressão policial, no sistema prisional, no
monitoramento de fronteiras e no ativismo judiciário, sem esquecer da lavagem de
dinheiro.
Mas quando analisamos as investigações do Ministério Público descobrimos que
o grupo possui uma rede de laranjas para "girar" seu capital criminoso; que ele
se utiliza das liberdades do Estado de direito para conspirar contra a lei e a
ordem; que a única preocupação ao cruzar fronteiras é quanto ao meio de
transporte.
Nada disso parece sensibilizar o judiciário. Mesmo planejando fugas e
resgates, armando campanas contra agentes do Estado, cuidando abertamente da
logística dos crimes ou ameaçando a vida de autoridades, os criminosos foram
"aliviados" pela Justiça, que viu nas solicitações do MP algo "infundado,
desproporcional, desnecessário e inútil".
Se tais circunstâncias não põem a ordem pública em risco, é de supor que as
52 mil páginas de evidências compiladas pelo MP nos últimos três anos e meio,
embasadas em gravações telefônicas de clareza inquestionável, não passam de
ficção -- embora a violência e a impunidade estejam aí, vergonhosamente
reais.
A sociedade cobra do Estado brasileiro um poder de reação pactuado acima dos
governos e dos partidos. Mas enquanto as mazelas que assolam a vida dos
brasileiros servirem como artefato político, o imobilismo não vai deixar de ser
a política oficial do governo federal.
O crime prospera quando as esferas de poder, achando que o problema é dos
outros, deixam de se importar.
José Aníbal é economista e ex-presidente do
PSDB.
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