segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Alegoria de Renascimento: a Experiência Florentina (excerto)

Em 1475, os Medici receberam uma máquina encomendada a um artesão: um relógio. Marsilio Ficino o interpreta duplamente, como alegoria explicativa do próprio procedimento de interpretação alegórica, e como alegoria do universo.

O relógio é alegoria do cosmos porque em sua forma visível se intui Deus, círculo espiritual cujo centro está em toda parte e cuja circunferência não se acha em  nenhuma. Alegoria sensibilizadora, o relógio é também um exemplo de intelecção humana da arte, segundo Ficino, nos seguintes termos: não se pode compreender como uma obra de arte foi feita por um artista se não se possui também, em mesmo grau, a inteligência artística. O intérprete é movido pela simpatia, que é um 'sentir junto'

Se consegue chegar a tal compreensão graças a correspondência da inteligência, poderá também, depois de descobrir o mecanismo da obra, reproduzi-la, desde que tenha a matéria adequada para fazê-lo.

Todos os homens são relojoeiros, desde que compreendam o mecanismo e tenham a matéria adequada para produzi-lo. O relógio, contudo, também  alegoriza o universo, nele espelhado.

 

In João Adolfo Hansen. Alegoria: Construção e Interpretação da Metáfora São Paulo: Hedra/Unicamp.

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