sábado, 11 de janeiro de 2014

Memória descritiva

Durante anos, acreditei que o sono mata.
 
E como o sono me estimulasse a vontade de morrer, raras foram as noites em que não estreei uma morte nova.
 
Com a prática, aprendi a prolongar a morte, adiando a agonia do despertar.
 
Para minha surpresa, ou decepção, a manhã confrontava-me com a extensão da empresa.
 
Vítima e espectador da minha vítima, acabei por vulgarizar a morte, com prejuízo do repouso que o sono me exigia.
 
Hoje durmo com uma facilidade espantosa e, raramente, me lembro de adormecer. Ou sonhar.
 
Sem que eu ou a morte tenhamos assinado qualquer espécie de tréguas.

 
 

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