Além da maior taxa de desemprego do país, a região Nordeste abriga a maior
proporção de pessoas que não trabalham nem procuram ocupação -e esse percentual
está crescendo.
O descompasso entre o mercado de trabalho nordestino e o do resto do país
ficou evidente com a nova pesquisa de emprego do IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística), que passou a coletar dados em todo o território
nacional.
Enquanto a apuração anterior, limitada às maiores metrópoles, sugeria um
cenário de pleno emprego, os novos números mostraram que no Nordeste 10%
procuram uma vaga sem conseguir.
Além disso, na região, 43,9% das pessoas consideradas em idade de trabalhar
-de 14 anos de idade ou mais- estão fora do mercado, por opção ou por desalento.
No país, o percentual médio é de 38,5%.
Não parece difícil imaginar por que os números nordestinos são mais elevados
que os das demais regiões: pobreza, setor empresarial menos estruturado e menor
participação do trabalho feminino são explicações plausíveis.
Mais complicado é explicar por que a força de trabalho está encolhendo no
Nordeste, como mostram números calculados pelo Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada, ligado ao Palácio do Planalto).
Montado a partir de pesquisas populacionais do IBGE, o banco de dados do Ipea
aponta que, em dez anos, a população economicamente ativa -quem trabalha e quem
procura emprego- caiu de 55,7% para 51,8% da população em idade ativa (nesse
cálculo, entram pessoas com dez anos de idade ou mais).
Nesse período, de 1992 a 2012, o percentual cresceu no Sudeste, no
Centro-Oeste e no Norte, com leve queda no Sul. O Nordeste, que fez cair o
percentual do país, teve crescimento econômico acima da média nacional.
"É um certo paradoxo", diz a pesquisadora Ana Luiza Neves, do Ipea. Um estudo
do instituto mostra que, de 2009 para cá, a força de trabalho diminuiu em todas
as regiões -e a queda nordestina foi a mais aguda.
Segundo os dados nacionais, boa parte dessa diminuição se deve a jovens que
retardam o ingresso no mercado -na melhor das hipóteses, porque podem estudar
mais; na pior, porque não acreditam nas suas chances de conseguir uma ocupação.
As pesquisas disponíveis ainda não permitem identificar com segurança se o
encolhimento da força de trabalho está mais ligado a bons ou maus motivos, mas o
Ipea adianta que, entre os brasileiros de 15 a 24 anos de idade, 40,6% das
mulheres e 25,7% dos homens estão fora da escola.
BENEFÍCIOS SOCIAIS
Para o economista Miguel Pinho Bruno, estudioso do mercado de trabalho, a
maior oferta de educação e benefícios sociais deu opções para jovens e adultos.
"Em vez de aceitar imediatamente um emprego de baixa remuneração, a pessoa
pode ficar na escola ou recorrer a algum programa social."
Ele é cauteloso, porém, ao relacionar os programas de renda, como o Bolsa
Família, à redução da força de trabalho no Nordeste, porque os dados sobre isso
ainda são precários.
Ana Luiza Neves não acredita nessa hipótese: "A evidência empírica mostra que
o impacto desses programas no mercado de trabalho é quase nulo".
Folha de São Paulo
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