Questionada por Pedro Bial, bailarina recifense elegeu o escritor como o maior da história de Pernambuco e gerou polêmica nas redes sociais
Bella Maia: Ariano Suassuna!
Pedro Bial: Ah, que bom. Espero que ele esteja ouvindo isso...
O que achou da resposta de Bella Maia?
Eu fiquei muito agradecido. Foi uma delicadeza muito grande dela em relação a mim. Não sei quem é ela… Ela é pernambucana, né? Eu imagino que seja, porque se não Bial não ia perguntar a ela sobre Pernambuco, especialmente. Mais um motivo, mais um carinho que recebo do povo pernambucano. Eu sei que iam questionar. Mas eu vou fazer a defesa dela. Bial não perguntou “qual é o maior escritor pernambucano?”. Ele perguntou: “qual é o maior escritor da história de Pernambuco?”. Pode-se questionar se eu sou, mas não que ela tenha dado uma resposta errada. Porque nasci na Paraíba, mas eu pertenço à história cultural de Pernambuco também. Eu estreei na literatura em Pernambuco. Você sabe quantos anos tenho de vida? 86. Sabe quantos anos eu vivi na Paraíba? 15.
Costuma assistir ao Big brother Brasil?
O que acha da adaptação de Amores roubados?
Gosto muito do texto, dos atores. O diálogo tá bom. E não me admiro. Se não me engano, foi escrito por George Moura (roteirista), né? Quem eu conheço, gosto e admiro muito.
O que acha de adaptações literárias para televisão?
Gosto de umas, sim, outras, não. Eu devo muito à televisão por ver espetáculos que jamais veria. Outro dia, eu vi um concerto regido… Veja que coisa simpática: o regente era um judeu, o pianista era um chinês “endiabrado” e uma orquestra austríaca. Um concerto universal. Eu vi no canal chamado Arte 1. É muito bom.
Qual não o agradou?
Grande Sertões Veredas (Guimarães Rosa) perdeu a adaptação para a televisão. Perdeu muito. Eles fizeram uma coisa que não sei por que fizeram isso. Toda a história se baseia no fato de que o personagem é representado como homem, mas ele é uma mulher. Isso só se revela no fim do romance. Na televisão, eles colocaram logo no começo. Foi estragado.
Adaptação transforma a obra em outra?
Tem que transformar. É outra arte. Principalmente, como no caso de A pedra do reino, porque era romance para um espetáculo de televisão. Quando é de teatro para televisão, ainda há parentesco. Mas do romance é uma dificuldade muito grande. E ele venceu. Tudo o que coloquei no romance tava lá. Eu tive a impressão que o público, por causa do sucesso de Auto da Compadecida, esperava uma outra Compadecida…. Mas é completamente diferente. Não tem a leveza da comédia. A maior parte é dramática. Eu nunca tive romance adaptado para o teatro.
Qual a adaptação favorita de sua obra?
Não tem a de que mais gosto. Gostei muito das minhas experiências na televisão. Fui procurado pela primeira vez em 1963, mais ou menos. Vi que eles queriam que eu me adaptasse aos padrões. Recusei. Então fiquei 30 anos sem ter nada na televisão. Até que fui procurado por um extraordinario diretor, chamado Luiz Fernando Carvalho (Lavoura arcaica), e eu não tive dificuldade com ele. Ele era entusiasta da música armorial. Eu não tive que fazer concessão. Fizemos a adaptação da minha primeira peça, Uma mulher vestida de Sol. Fiz com ele A farsa da boa preguiça e, por fim, Guel Arraes fez O auto da compadecida. Teve também A pedra do reino. Gostei muito, mas acho que o público ficou absolutamente indiferente, não gostou muito. Os espetáculos são muito bonitos. Mas o grande público estranha.
Acha que a televisão mudou no quesito qualidade?
Eu acho que ela tem grandes momentos. Não gosto do que é ruim artisticamente e o que é o grosso. O que me queixo muito dos meios de comunicação de massa é porque eles procuram uma coisa, e eu, outra. Eles, lucro, audiência. Eu, não. Eu gosto de arte. E, aí, normalmente, a TV comum se nivela pelo gosto médio. E aí eu digo: o gosto médio é péssimo. Às vezes, eu digo que, entre o gosto médio e o mau gosto, a arte tem mais a ver com o mau gosto.
Você acompanha seriado americano?
Não. Não quer dizer que eu não gosto indiscriminamente, não. Existe um filme em que um autor norte-americano era apaixonado pelo México. Me identifico muito com ele. O tesouro de Sierra Madre. Vi na TV e gostei muito.
Você acompanha o cinema pernambucano?
Não acompanho. Eu não vou mais a cinema. Não tenho mais tempo, nem resistência.
Por que considera o Armorial um movimento?
É o que ele é. O movimento é organizado por um grupo de artistas e escritores, com características em comum, que se reúnem para mostrar que aquilo é um dos caminhos possíveis da arte. Foi assim com o movimento modernista.
E o Tropicalismo e o Mangue?
Eu acho pobre. Me diga uma coisa: Você já viu uma peça de teatro ou conhece um romance tropicalista? Conhece algum poeta tropicalista? Então é mais uma onda musical. Eu gostava muito de Chico (Science). Ele foi me procurar. Fiz críticas a ele. Acho o maracatu rural uma coisa linda. Acho rock uma desgraça. Eu disse a ele: gosto muito do que você tem de Chico. Mude o nome para Chico Ciência, que eu subo no palco com você. Tenho horror esse abastardamento do português pela língua inglesa. Hoje, inclusive, não se diz mais “tempo”. Diz fulano tem um time. Isso é uma coisa ridícula. País sem personalidade, meu Deus.
O que acha do brega?
Eu não tenho tempo para perder com isso. Gosto muito de Dostoiévski, Tolstói… Essas coisas, nem me pergunte. Até o nome eu tenho antipatia….
Como está a recuperação?
Está bem. A fisioterapeuta está me esperando para a gente continuar. Isso que estou fazendo aqui (a entrevista) é uma extravagância. Teve esse episódio do infarto e o aneurisma. Graças a Deus, escapei dos dois.
O senhor continua escrevendo?
Sim… mas não posso falar muito. Meu editor pediu. É o romance O jumento sedutor (escrito há mais de três décadas). Eu sou mais conhecido como dramaturgo, menos como romancista e, como poeta, sou completamente desconhecido. Nele, pela primeira vez, tô procurando fundir teatro, romance e poesia.
diariodepernambuco.com.br
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