É incrível, inacreditável, mas o PT, antes de ser golpeado pela pesquisa
Datafolha deste fim de semana, parecia estar conseguindo verter a seu favor a
repulsa das ruas aos seus métodos e modos.
Como em um passe de mágica, a marquetagem oficial transformou as
manifestações de milhões contra governos, políticos, os péssimos serviços
públicos e a corrupção em um plebiscito que ninguém pediu e que só serve à
presidente Dilma Rousseff e ao seu partido.
Com treinada desfaçatez, dizem que a consulta popular para a reforma política
atende ao clamor das ruas – uma voz muda que só o Planalto ouviu.
O arcabouço para convencer as ruas que elas querem o que elas não pediram foi
montado com tal requinte que até a pisada na bola da presidente, que se
embananou ao lançar uma inconstitucional Constituinte exclusiva, pouco
atrapalhou.
Na versão corrigida, Dilma, em sua extrema bondade, reservou ao eleitor o
papel de protagonista. Ele poderá indicar o que prefere entre cinco questões que
não frequentam os ônibus abarrotados ou as filas do SUS que o sacrificam no dia
a dia. Isso no prazo recorde de dois meses. Uma maravilha da democracia
moderna.
E ai de quem criticar.
Paralelamente, como as ruas não são mais suas, o PT decidiu atrair a
juventude aliada para os gabinetes. Na quarta-feira, o ex Lula reuniu-se com o
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, a União da Juventude Socialista, o
Levante Popular da Juventude e o Conselho Nacional da Juventude.
No dia seguinte, a mídia governista estampou: “Lula assume papel decisivo na
organização das manifestações em todo o país” (Correio do Brasil). Nem o Pravda
faria melhor.
Na sexta-feira foi a vez de Dilma recebê-las. Agregou ao grupo de Lula a
Pastoral da Juventude, a Marcha das Vadias e as ex-combativas UNE e Ubes.
“Houve um consenso em torno da proposta de reforma política por meio de
plebiscito”, disse a secretária nacional da Juventude Severine Macedo, como se
esse fosse o eixo dos protestos que tomaram conta do País.
Como os blogueiros pagos deixaram Dilma e o PT na mão, o governo correu para
anunciar uma plataforma virtual, apelidada de Observatório Participativo, a fim
de marcar presença nas redes sociais.
Dificilmente conseguirá êxito também nessa rede, mas garantirá mais alguns
empregos para a turma aliada.
Todos reconhecem – PT, Dilma e seu marqueiteiro também - que as manifestações
passam longe de uma consulta popular sobre reforma política.
A voz das ruas exige transporte público de qualidade, saúde e educação no
padrão Fifa. Reivindica o fora Renan Calheiros, cadeia para os mensaleiros. Quer
a Papuda para calar corruptos. E o PT sabe disso. Por isso mesmo prefere
enganá-la.
Mary Zaidan é jornalista
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