terça-feira, 30 de julho de 2013

D. Quixote

Assim à aldeia volta o da triste figura
Ao tardo caminhar do Rocinante lento;
No arcabouço dobrado um grande desalento,
No entristecido olhar uns laivos de loucura.


Sonhos, a glória, o amor, a alcantilada altura,
Do ideal e da fé, tudo isto num momento,
A rolar, a rolar, num desmoronamento,
Entre risos boçais do bacharel e o cura.


Mas certo, ó D. Quixote, ainda foi clemente,
Contigo a sorte ao pôr neste teu cérebro oco,
O brilho da ilusão do espírito doente;


Porque há cousa pior: é o ir-se pouco a pouco
Perdendo qual perdeste um ideal ardente
E ardentes ilusões e não se ficar louco.


 
Euclides Rodrigues da Cunha

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