Cerca de 97% dos brasileiros, acima dos 15 anos,
consomem café diariamente
Quem resiste àquele cheirinho de café de
manhãzinha ou no meio da tarde? Quentinho, frio, com leite, puro, amargo ou bem
docinho, o café está no topo das bebidas mais consumidas não só pelos
brasileiros, mas no mundo todo. Além de saborosa e popular, a bebida também é
controversa: afinal, o café faz bem ou faz mal para a saúde?
O café não é considerado uma das paixões
nacionais à toa. Ele apresenta números bem impressionantes. Segundo dados do
Conselho Nacional de Café de 2012, cerca de 97% dos brasileiros com mais de 15
anos consomem café diariamente. Outro levantamento, do Instituto Brasileiro do
Café, mostra que no país são consumidos mais de 80 litros da bebida por pessoa
por ano.
Apesar de ser uma das bebidas mais populares,
ainda existem muitas controvérsias acerca do café. Alguns pesquisadores garantem
que ele traz benefícios para a saúde, como estimular o foco e a atenção e até
ajudar a combater a depressão. Mas outros afirmam que pode prejudicar a saúde,
causando arritmia, problemas gastrointestinais e insônia.
No entanto, a maioria dos pesquisadores parece
concordar que o limite entre os benefícios e os prejuízos da bebida é a
quantidade consumida e o modo de preparo.
"Tudo que é consumido em excesso pode fazer mal.
O café pode trazer efeitos negativos em algumas pessoas, como ansiedade, dor de
cabeça, insônia e até mesmo irritabilidade", explica a nutricionista Andressa
Barbosa, coordenadora do programa de Educação Nutricional Viva Melhor da Risa
Restaurantes Empresariais.
A forma como o café é preparado também faz
diferença na saúde. Dois conhecidos elementos químicos dos grãos do café, o
cafestol e o caveol, elevam os níveis de colesterol no sangue. "A água quente
utilizada para o preparo remove dos grãos algumas dessas substâncias gordurosas
que contribuem para o aumento do colesterol sanguíneo. Os filtros de papel
ajudam a reter o restante dessas substâncias, mas o coador de pano não", afirma
Tatiane Muniz de Oliveira, nutricionista do Hospital Israelita Albert
Einstein.
Além disso, o café não deve ser muito torrado –
quando o grão é submetido a altas temperaturas por tempo prolongado, ele perde
suas substâncias benéficas ao organismo. Por isso é melhor optar por pós de cor
marrom mais clara (cor de chocolate) do que os mais escuros.
Cafeína
O componente mais conhecido do café é a cafeína.
No entanto, ela é apenas uma pequena parte da composição do café: um grão tem de
0,8% a 2,5% de cafeína. Além disso, a bebida não é o única alimento que contém
cafeína.
"Existem outros produtos ricos em cafeína, como
os refrigerantes à base de cola, chás gelados e chocolates. Sua ingestão também
deve ser moderada, não sendo recomendado um consumo maior que 2,5 mg de cafeína
por quilo de peso ao dia. Ou seja, se uma pessoa pesa 60 kg, o máximo de cafeína
que deve consumir é 150 mg, o que equivale a duas ou três xícaras de café
coado", alerta Oliveira.
Por muito tempo, a cafeína foi vista como uma
substância que traria malefícios à saúde. Isso porque, quando consumida em altas
doses (mais de 500 mg - cerca de quatro xícaras grandes por dia), pode causar
arritmia, ansiedade, estresse, insônia, irritabilidade, tremores e diarreia.
A cafeína também aumenta a eliminação de cálcio e
compete com a vitamina C e o ferro, podendo anular esses nutrientes. Por isso,
quem sofre de estresse, problemas psiquiátricos ou gástricos, e pessoas com
osteoporose devem ter cautela ao ingerir a bebida.
"Gestantes também devem ter cuidado e consumir a
cafeína com moderação, pois quando consumida em excesso a cafeína pode levar a
abortos", diz Oliveira.
Estudos recentes, porém, vêm mostrando que a
cafeína não é tão má assim. Em doses moderadas, pode até mesmo trazer benefícios
para o organismo, como diminuir a sensação de fadiga e sonolência, aumentar a
capacidade de processamento mental e aumentar a irrigação coronária, além de
exercer uma função de vasoconstrição do sistema vascular cerebral.
Além disso, a cafeína também tem características
analgésicas, agindo na inibição da ação de uma enzima chamada fosfodiesterase,
envolvida no processo doloroso. Por isso são vários os medicamentos que a
colocam como ingrediente em suas formulações – especialmente os para dor de
cabeça.
"A cafeína de uma xícara de café forte pode
contribuir para o alívio da enxaqueca, quando ingerida nos primeiros momentos da
dor de cabeça; por ser uma substância vasoconstritora, pode ajudar a combater os
efeitos dolorosos da dilatação dos vasos sanguíneos da cabeça", diz Barbosa.
Mocinho ou
bandido?
Mas não é só de cafeína que o café é composto. A
fruta também possui potássio, magnésio, cálcio, sódio, ferro, manganês, ácidos
graxos livres, niacina e diversos outros minerais, aminoácidos e lipídeos
importantes para o bom funcionamento do organismo.
"Estudos sugerem que a cafeína pode ajudar a
prevenir doenças metabólicas, como diabetes, diminuir o risco de doenças como
parkinson, alzheimer, cirrose e cálculos da vesícula biliar, combater os
radicais livres, além de favorecer a oxidação de lipídeos, ou seja, a queima de
gordura", aponta Oliveira.
Além disso, o café possui potentes antagonistas
opioides (o ácido clorogênico e quinídeo), substâncias que agem bloqueando os
receptores opioides, impedindo-os de atuar. Com isso, reduzem a necessidade de
opioides naturais, como a endorfina (conhecida como o hormônio do prazer), e
também dos artificiais, como morfina, heroína e codeína.
Por isso alguns estudos apontam que o café pode
ajudar no tratamento da depressão, além do alcoolismo e da dependência química
de drogas.
E não é só: o café também contribuiria para
diminuir o risco de insuficiência cardíaca. Um estudo realizado por
pesquisadores do Centro Médico Beth Israel, hospital ligado à Universidade de
Harvard, nos Estados Unidos, publicado no ano passado no periódico Circulation:
Heart Failure, da Associação Americana do Coração, demonstrou que o consumo de
quatro xícaras pequenas de café por dia diminui em até 11% as chances de uma
pessoa desenvolver insuficiência cardíaca.
"Isso porque ele favorece o controle dos níveis
de colesterol no sangue, pois diminui a oxidação do colesterol ruim (LDL), que é
capaz de causar inflamação nas artérias. Além da cafeína, outras substâncias
presentes na bebida, como os ácidos clorogênicos, reduzem a incidência de
diabetes, fator de risco importante para o desenvolvimento da doença
coronariana", explica Barbosa.
Na dose certa
Mas a diferença entre o remédio e o veneno é a
dose. Por isso é bom consumir o café moderadamente. Exagerar na dose pode levar
a taquicardia, agravamento das lesões no aparelho digestivo (aftas, gastrite),
piora dos sintomas das doenças intestinais, como os da doença de Crohn
(constipação, disenteria e aparecimento de pólipos) e, o mais comum, a
dificuldade para dormir.
A FDA (Food and Drug Administration), órgão
regulatório de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos, classifica a cafeína
como uma substância segura, que não implica riscos para a saúde, desde que
consumida moderadamente.
Para desfrutar da bebida com prazer e sem ter
complicações, a entidade alerta que o ideal é não ultrapassar o limite de 150 ml
a 200 ml de café ao dia (o equivalente a três ou quatro xícaras pequenas),
distribuídos em três porções: uma de manhã e as outras duas ou três no início e
até o final da tarde, dando um espaço de tempo de ao menos uma hora entre uma
tomada e outra.
Fonte: UOL
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