terça-feira, 23 de julho de 2013

Alienação do poder

O governo federal encontra-se em uma situação que Marx qualifica como a alienação do poder. Dentre outras teorias, umas frutíferas outras não, Marx desenvolve a teoria da alienação do poder.
 
Existe uma relação numérica entre os que mandam e a população, relação esta que é estrutural, numericamente definida em suas proporcionalidades e limites, ou seja, nem todos podem mandar ou ser mandados ao mesmo tempo.
 
Para justificar o poder, as elites passam então a formular ideologias que legitimam sua presença e continuidade, em maior ou menor contraposição aos desejos expressos pela população.
 
Quando ambos dominantes e dominados aceitam tacitamente os argumentos do poder no âmbito de acordos de benefícios recíprocos, os argumentos passam então a ser chamados de “ideologia dominante”, como diz Gramsci.
 
Mas quando a elite começa a acreditar em seus próprios argumentos de manutenção, em franca discrepância com os anseios da população, passa então ao estado da alienação do poder, prenúncio de sua queda por leitura equivocada da conjuntura política.
 
Alienação do poder com diagnósticos equivocados ou geração de factóides para a manutenção do poder? Ambos ocorrem hoje no Brasil na esfera do governo federal.
 
Por um lado, a população demanda pelo fim da corrupção, por saúde, educação e transporte.
 
Por outro lado, o governo federal oferece Constituinte específica, plebiscito, reforma política, e médicos compelidos ao trabalho obrigatório no SUS para a obtenção do diploma em plena afronta ao livre arbítrio das profissões.
 
Importante observar que na pesquisa do Americas’ Barometer da Universidade de Vanderbuilt, na comparação de 24 países em 2012, o Brasil somente superava o Haiti e Trinidad-Tobago na satisfação com os serviços públicos, e somente o Haiti, Panamá e Honduras no apoio ao sistema político.
 
A popularidade tácita dos 65% se desfez, despencando para os 30% atuais.
 
Hoje, Dilma Rousseff apresenta rejeição de 45%, índice proibitivo para a sua reeleição, sem tempo hábil para atender as demandas populares nestes próximos 12 meses, e com discurso em diapasão dessincronizado com as demandas populares.
 
É alto o custo das avaliações e das ações equivocadas a somente um ano das eleições.
 
 
Ricardo Guedes, Ph.D. em Ciências Políticas pela Universidade de Chicago, é Diretor-Presidente do Instituto de Pesquisa Sensus.

Fonte: Do Blog do Noblat

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