segunda-feira, 22 de julho de 2013

Orson Welles e Jeanne Moreau, num fotograma do filme dele, Falstaff, 1965
 
Todos os personagens que representei, e de quem estamos falando, são formas variadas de Fausto, e sou contra todos os Faustos, porque acho impossível um homem ser grande a menos que admita haver algo maior que ele. Pode ser a Lei, pode ser Deus, pode ser a Arte, ou qualquer outra concepção, mas deve ser maior que o homem.

Interpretei toda uma linha de egotistas, e detesto o egotismo, o do Renascimento, o de Fausto, todos os egotismos. Mas, evidentemente, um ator fica apaixonado pelo papel que faz: é como um homem beijando uma mulher, dando-lhe algo de si mesmo. Um ator não é um advogado do diabo, é um amante, um amante de alguém de outro sexo. E Fausto, para mim, é como um outro sexo.

Para mim, há dois grandes tipos de humanidade no mundo, e uma delas é Fausto. Pertenço ao outro campo, mas, ao representar Fausto, quero ser justo e leal em relação a ele, dar-lhe o melhor de mim mesmo e os melhores argumentos que possa encontrar, já que vivemos num mundo feito por Fausto.

Nosso mundo é Faustiano.
 
 


Conversas com Orson Welles in André Bazin. Orson Welles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.


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