segunda-feira, 22 de julho de 2013

Zefa lavadeira (excerto)

Depois de lavar a roupa dos outros, Zefa lava a roupa que a cobre
no momento. Depois deixa-a corando sobre o capim. Então Zefa
lavadeira ensaboa o seu próprio corpo, vestido de manto de pele
negra com que nasceu.

Outras Zefas, outras negras vêm lavar-se no rio. Eu estou ouvindo
tudo, eu estou enxergando tudo. Eu estou relembrando a minha
infância.

A água, levada nas cuias, começa o ensaboamento; desce em
regatos de espuma pelo dorso, e some-se entre as nádegas rijas.

As negras aparam a espuma grossa, com as mãos em concha,
esmagam-na contra os seios pontiagudos, transportam-na, com
agilidade de símios, para os sovacos, para os flancos; quando a
pasta branca de sabão se despenha pelas coxas, as mãos côncavas
esperam a fugidia espuma nas pernas, para conduzi-la aos sexos em
que a África parece dormir o sono temeroso de Cam.

Jorge de Lima: Poemas Negros in Poesias Completas.
Rio de Janeiro: INL/Aguilar, 1974. (vol. I)
Prima edizione de Poemas Negros: 1947

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