sábado, 13 de julho de 2013

Que violência você pratica?

“Que Violência você pratica?” Foi a frase que li anos atrás num muro da Vila Pompéia em São Paulo. Desde então, medito sobre ela em 3 tempos: 1- a frase, 2 – sobre mim que me impressionei com a frase e 3 – a própria questão da violência que me transcende como sujeito capaz de pensar nela.

 

1- A frase com sua retórica visual, escrita no muro, me interpela, me exige atenção, ela que está contra o muro, me coloca contra a parede, exige minha resposta. Me obriga a autocrítica.

 

2 – Penso, então, em que tipo, que forma de violência eu pratico. O que me faz tentar evitar a violência, pois ela nunca é boa, mesmo quando é – ou parece – inevitável. O próprio limite entre o ser e o parecer inevitável da violência é questão para pensar. Eu não quero praticar violência, mas acabo por praticar alguma mesmo que tente, com todas as forças, praticar o seu contrário.

 

3- Nosso tempo coloca em cena o tema da violência como uma categoria da prática contra o outro. Ela pode ser pensada ou impensada, voluntária ou involuntária. Se os ativistas de todos os movimentos que estão nas ruas pregam a não violência é porque sabem que a violência não é uma boa arma na luta por direitos em um estado democrático. Por outro lado, oportunistas de várias linhas, aproveitam o momento para praticar a sua própria violência sem precisar justificar-se. O estado de violência generalizada soa para alguns como “violência legítima”. O mesmo vale para a corrupção (ela mesma uma forma de violência muito disfarçada) que vale como universal e legítima quando se diz que todos são corruptos ou que é impossível ser político sem se ser corrupto. São argumentos falsos, mas que eximem da responsabilidade e permitem a cada um se tornar o canalha capaz de se sentir autorizado – ou acobertado – pelo sistema.

 

No meio disso tudo, vemos a Polícia, treinada para a violência a cumprir ordens violentas do Estado ele mesmo violento. O governador, o prefeito, podem ser os canalhas que se valem da força bruta contra as pessoas apenas porque, no lugar do poder, se sentem mais legitimados do que os outros. O poder tem que ser revisto, assim como a violência. O papel da polícia, certamente, precisa ser reorganizado na direção da cidadania.

 

Enquanto as coisas não mudam, os desinformados sobre a importância das instituições na democracia rasgam bandeiras. Não sabem que é hora de assumir a democracia como uma bandeira e ela implica assumir o estado das coisas para ver se é possível melhorar sem medidas violentas. No contexto, há aqueles que parecem ter sido criados para o ódio e que, no mínimo, xingam sem conhecimento de causa: é o mesmo xingar alguém de “comunista” ou de “burguês” (usar palavrões não vai resolver nenhuma parte da questão senão expor a raiva inútil). Curioso é que os que apoiam a diminuição da maioridade penal e a militarização da polícia estejam em várias classes sociais, de pobres a ricos, todos padecem do mesmo mal: a ausência de reflexão sobre o que dizem.

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Dia desses conversando com uma mulher (esposa e mãe, funcionária pública, de classe média) ela afirmava a importância da diminuição da maioridade penal. Eu sugeri um projeto social e educional para o Brasil. Estarrecida e curiosa, ela afirmou jamais ter pensado sob este aspecto. Se ela queria pensar e queria conversar para saber se havia outra saída e não tinha pensado até então é porque não tinha a oportunidade de um diálogo sem violência sobre o tema.

 

Enquanto os deputados e senadores mantém a violência como destruição do poder público e oportunamente tentam fazer o jogo da tendência dominante como qualquer personalidade autoritária e fascista (ou puxa-saco) sempre faz, enquanto as televisões dão espaço para que cada repórter seja o Eichmann – ou o canalha – da vez, no facebook e nas redes sociais, as pessoas mais simples e, muitas vezes, aquelas que mais respeitamos, praticam, em larga medida, a animosidade, a disputa por razões que a própria razão desconhece.

 

A raiva, da mais sutil à mais brava, parece generalizada.

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A violência tem como oposto o diálogo. O diálogo sempre é comunicação sem violência, diferente de uma disputa para vencer um debate (sem precisar ter razão) como tenho visto nas redes sociais onde a maioria que deseja expressão, tem encontrado um lugar. O espaço do diálogo está dado, mas creio que não está sendo usado. Todos querem falar, falar, falar. Quem quer dialogar? Dialogar é difícil, requer uma verdadeira abertura ao outro, uma escuta real e, sobretudo, atenção o que o outro quer dizer.

 

Raramente vivemos o diálogo e, no entanto, somente ele produz a democracia.

 

Fica aí o convite de algo que vai além da violência e requer um esforço sem igual. Desmilitarizar a polícia – garantindo aos policiais uma formação para a cidadania - e desmilitarizar-se a si mesmo (Sim, desmilitarizar-se) é um bom começo.

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Marcia Tiburi

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