quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Quando se perde a esperança

 
Quando os habitantes de Gotham perdem a perspectiva de justiça e quando nada mais lhes restam, eis que renasce, entre as trevas, a esperança na figura de um cavaleiro mascarado.

Acredito que conosco, guardadas as devidas proporções entre a ficção e a realidade, as coisas funcionam mais ou menos assim. Quase sempre, ao primeiro sinal de insucesso, nos escondemos em nosso imobilismo interior e ficamos no aguardo de um sinal luminoso no céu que nos aponte o rumo certo, confortável e seguro....


Parece ser mais cômodo assistirmos, impassíveis, o depósito de nossos derradeiros credos e batalhas nas mãos de algum cavaleiro solitário disposto a sair por ai cortando a escuridão em nosso nome.

O processo de transferência é muito claro. A impressão que se tem que a luta dos servidores com o Tribunal de Justiça não é de cada um de nós. Talvez, quem sabe, de algum Sindicato ou Associação.

E tudo é motivo para não se engajar na luta.

Falta-me tempo, haverá quem diga, inclusive, para acomodar em nossos guardados a mais incontrolável irresignação e, continuamos o nosso trabalho, virando páginas, contando o tempo dos autos, apondo carimbos, perseguindo metas, certificando e dando fé a mitigação de nossas próprias forças físicas e também a nossa capacidade mais primitiva de inconformismo e de organização. E isso me soa de uma gravidade imensurável! Bem maior até que a invisibilidade adotada pelo Tribunal.

Indiscutivelmente, creio que somente a morte é mais grave que a perca da percepção do mundo que nos rodeia. Mas há também quem acredite que a apatia e a indiferença aos nossos problemas é a maneira mais trágica de conhecer a morte. De uma forma ou de outra asseguro que somente “os covardes morrem várias vezes antes de sua morte, mas o homem corajoso experimenta a morte apenas uma vez.”

A indiferença de uma classe atenta contra a sua dignidade e feri perigosamente o exercício da cidadania. Há, contudo, de refletirmos se essa falta de empenho de servidores desencorajados, combalidos e esquecidos entre pilhas de processos exerce maiores reflexos sobre a própria classe, sobre o Tribunal ou sobre a sociedade. Sinceramente, não sei onde os danos são mais nefastos.

O certo é que poderia aqui discorrer lauda e mais lauda sobre essa indiferença que repousa sobre a nossa luta funcional, mas nada do que aqui estou dizendo é novidade para alguém.

Então você, revolucionário distraído, perguntará como é que me arvoro em porta voz de nossa coletividade. Não me arvoro! Talvez, isso seja, inconscientemente, o meu mais particular grito de socorro a algum cavaleiro mascarado de Gotham City.
 

 
Teófilo Júnior

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