A fofoca corresponde a uma
atitude mental infantilóide e maligna, de quem se auto-gratifica com pequenas
maldades (porque até as grandes maldades exigem algum tipo de grandeza). A
fofoca tem duas faces. Uma é a fofoca verdadeira: você descobre alguma coisa
negativa (comprometedora, constrangedora, problemática) sobre alguém e espalha
essa informação, pelo prazer mórbido de ver exposto em público o deslize ou o
desvio de conduta de alguém com quem não simpatiza. (Ou mesmo de uma pessoa
qualquer – muitas fofocas são propagadas com indiferença pela pessoa que está
sendo alvejada, apenas pelo prazer de prejudicar alguém, como quando a galera
jogava um plástico cheio de mijo na arquibancada do
Maracanã).
Outra face é a fofoca inventada. Talvez seja melhor chamá-la de “fase”, porque parece ser um estágio que vem depois do outro, uma espécie de pós-graduação. O prazer de estragar (ou pelo menos atrapalhar) a vida alheia é tão grande que o fofoqueiro não pode ficar à espera de que alguma coisa denunciável aconteça. Parte logo para a invenção, e quando é assim, sai de baixo que vem tijolo.
A fofoca se reflete naquela figura jurídica chamada de “calúnia, injúria e difamação” (existe aliás uma distinção, entre estas categorias, que até hoje me escapa.). Nasce de um prazer perverso e sem proveito externo, como o de um garoto que se diverte trocando o conteúdo do saleiro e do açucareiro, escondendo a carteira do pai, queimando insetos com álcool, afrouxando o degrau de uma escada. Tem gradações de seriedade que vão desde a travessura e a peraltice até o crimezinho sádico, que pode indicar uma psicopatia qualquer.
A fofoca, praticada com requintes de premeditação e de estratégia, é uma forma de tiro pelas costas. É o passatempo de mentes mesquinhas que por autodefesa querem amesquinhar tudo à sua volta. A reação do sujo que só sossega quando prova que o limpo é um mal-lavado.
Não é de admirar, então, que haja toda uma imprensa voltada para esse tipo de atividade: os paparazzi que registram desde celulites até adultérios, as colunistas que revelam a intimidade alheia sob pretextos cada vez mais tênues, os comentaristas políticos que vivem plantando insinuações ou indiscreções para adquirir um poder que não obteriam de outra forma, as colunas de olho grande e boca pequena cochichando meias verdades a meia voz. A fofoca é, a rigor, um subproduto da vida helmíntica, parasitária, de quem se nutre da existência alheia e fica mais feliz com um fracasso alheio do que ficaria com um triunfo próprio. Ninguém está a salvo dela, ninguém tem a certeza de que nunca será sua vítima ou seu praticante.
Bráulio Tavares
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