quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A mais bela metáfora da escritura

A metáfora arar por escrever passou da literatura latina medieval às literaturas em língua vulgar. Em um missal moçárabe do século VIII ou IX, conservado em Verona, descobriram em 1924 as seguintes palavras: Se pareva boves alba pratalia araba et albo versorio teneba et negro semen seminaba, isto é: "Aguilhoava os bois, arava campos brancos e firmava um arado branco e uma negra semente semeava". Mudando as formas e a ordem das palavras, tentou-se tirar disso uma quadra rimada em italiano antigo, e foi apresentada como valioso testemunho de poesia bucólica popular. Na realidade, estamos diante de uma legenda de copista, cuja origem é culta: os campos brancos são as páginas, o arado branco é a pena, a semente negra a tinta.

In
Ernst Robert Curtius. Literatura Europea y Edad Media Latina. México (DF): Fondo de Cultura Económica, 1975. Iº vol.

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