Em 1961, os EUA definiram a meta de enviar um homem à lua no prazo de dez anos.
Cinquenta e dois anos depois, o governo brasileiro definiu a meta de alfabetizar
suas crianças de oito anos até 2022.
Talvez nada demonstre mais o nosso atraso do que a diferença entre essas duas
metas. E o governo comemora com fanfarras, ao invés de pedir desculpas pelo
atraso do Brasil.
Nesta segunda década do século XXI, os países que desejam estar sintonizados
com o futuro têm como metas, entre outras, a conquista do espaço, o entendimento
das ciências biológicas, o desenvolvimento de técnicas nas telecomunicações, a
implantação de sistemas industriais sintonizados com os avanços técnicos.
Fica impossível imaginar uma sociedade do conhecimento sem centros de
pesquisa e um amplo sistema universitário com qualidade. Isto só é possível se a
educação de base for de alta qualidade para todos. E isto é impossível sem a
alfabetização universal e completa em idades precoces, que garantam não apenas o
controle dos códigos alfabéticos, mas também leituração e domínio das bases da
matemática.
Foto: Leo Drumond
Na economia do conhecimento, nenhuma sociedade pode deixar de desenvolver o
potencial do cérebro de cada um de seus habitantes desde os primeiros anos,
desde a alfabetização.
Mas não é isso o que vem acontecendo com o Brasil. Ao não fazer a
universalização da educação completa o país tapa poços de conhecimento.
Igualmente atrasado é o caminho usado para enfrentar o problema da
deseducação, com o velho truque publicitário: um pacto entre partes incapazes de
levar a meta adiante. Imagine os EUA fazendo um pacto entre seus estados para
ver qual deles chegaria à lua, ao invés de usar a NASA federal.
Se o Brasil deseja recuperar seu atraso, deve definir metas nacionais
ambiciosas: todas as crianças na escola em horário integral, com professores
muito bem preparados e dedicados, o que exige elevados salários, em escolas com
os mais modernos equipamentos pedagógicos, em todo o território nacional, desde
os mais ricos aos mais pobres municípios, atendendo igualmente as crianças mais
ricas e as mais pobres.
Isto não se consegue por meio de pactos ilusórios, assinados sem qualquer compromisso real das partes, especialmente entre partes tão desiguais, que levam os pactos a parecer caricaturais.
A única maneira de recuperar os séculos perdidos no passado para dar o salto que o Brasil precisa no futuro é envolver diretamente a União na implantação de um novo sistema educacional para, ao longo de poucos anos, substituir o atual sistema estadual e municipal por um sistema federal.
Isto exige mais do que um pacto ilusório. Exige uma espécie de federalização da responsabilidade e da construção do novo sistema educacional.
O Brasil não dará o salto educacional, e sem este não haverá os outros, sem um governo federal que empolgue o país com a meta de, em 20 ou 30 anos, ter uma educação de qualidade comparável à dos países mais educados do mundo. Isto é possível e é preciso.
Cristovam Buarque é professor da UnB e senador pelo
PDT-DF.
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