sábado, 18 de maio de 2013

O PT e sua Dulcinéia

O moinho de vento contra o qual arremetia dom Quixote de la Mancha era aquele que ameaçava a donzela Dulcinéia del Toboso.
 
Dom Quixote delirava. Imaginava duelos heróicos contra cavaleiros que não existiam para defender a pureza da donzela que também não existia.
 
Um pouco da raiz ontológica da política moderna deve ser procurada na metafísica onírica de dom Quixote de la Mancha: para manter-se motivado, sempre é preciso dispor de um inimigo, verdadeiro ou imaginário, e através dele manipular as conveniências. Quando o inimigo não existe, inventa-se um.
 
O PT executa esse trabalho com extraordinário zelo desde que vislumbrou a possibilidade concreta da instalar-se no poder e exercer o seu escassíssimo apetite para o exercício da alternância.
 
O professor Marco Antonio Villa escreveu um artigo, esta semana, em “O Globo”, defendendo a tese de que o partido não gosta da democracia.
 
E enumera uma série de evidências que vão desde a recusa de assinar a Constituição de 1988 até as despudoradas investidas parlamentares contra a independência do STF, por pura retaliação contra o resultado do julgamento do mensalão.
 
É evidente que não fica bem a um partido político nascido exatamente da evolução democrática lenta e penosamente construída após a derrocada da ditadura militar declarar-se abertamente avesso à democracia.
 
Então o PT cria seus moinhos de vento e a sua Dulcinéia del Toboso para praticar seu bullying anti-democrático fingindo defender a donzela dos cavaleiros andantes que não existem.
 
A velha cantilena petista voltou a ser ensaiada durante as comemorações de dez anos do partido. Depois uma espécie de ensaio de mea culpa com aquela história de “resgatar os valores” do partido (só se resgata algo que se perdeu), Lula mirou de novo nos moinhos de vento da oposição e da imprensa, como se a primeira de fato existisse e como se a segunda de fato não fosse a fundadora do mito em que ele se tornou.
 
Entre uma festa e outra, no cenário que já vai ficando velho, surge a inefável figura do presidente do partido, Ruy Falcão, para rezar seu mantra de controle da imprensa, agora acrescido da irresistível tentação de controlar o Judiciário, condições indispensáveis para que o partido se perpetue no poder.
 
Assim, para guardar a donzela Dulcinéia del Toboso dos ataques dos cavaleiros andantes , o PT, como dom Quixote, precisa alimentar a fantasia dos recorrentes moinhos de vento: a oposição, a imprensa, a Justiça.
 
O que não faltam são Sanchos Panças e Rocinantes para ajudar o cavaleiro a compor a saga de sua triste figura.
 
Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez.

Um comentário:

Jairo Alves disse...

Éssa comparação foi fantástica. E verdade, esta cheios de Sanchos Panças por aí querendo caminhar e enrolar toda cúpula que engloba o PT e o Brasil PT.