O moinho de vento contra o qual arremetia dom Quixote de la Mancha era aquele
que ameaçava a donzela Dulcinéia del Toboso.
Dom Quixote delirava. Imaginava duelos heróicos contra cavaleiros que não
existiam para defender a pureza da donzela que também não existia.
Um pouco da raiz ontológica da política moderna deve ser procurada na
metafísica onírica de dom Quixote de la Mancha: para manter-se motivado, sempre
é preciso dispor de um inimigo, verdadeiro ou imaginário, e através dele
manipular as conveniências. Quando o inimigo não existe, inventa-se um.
O PT executa esse trabalho com extraordinário zelo desde que vislumbrou a
possibilidade concreta da instalar-se no poder e exercer o seu escassíssimo
apetite para o exercício da alternância.
O professor Marco Antonio Villa escreveu um artigo, esta semana, em “O Globo”, defendendo a
tese de que o partido não gosta da democracia.
E enumera uma série de evidências que vão desde a recusa de assinar a
Constituição de 1988 até as despudoradas investidas parlamentares contra a
independência do STF, por pura retaliação contra o resultado do julgamento do
mensalão.
É evidente que não fica bem a um partido político nascido exatamente da
evolução democrática lenta e penosamente construída após a derrocada da ditadura
militar declarar-se abertamente avesso à democracia.
Então o PT cria seus moinhos de vento e a sua Dulcinéia del Toboso para
praticar seu bullying anti-democrático fingindo defender a donzela dos
cavaleiros andantes que não existem.
A velha cantilena petista voltou a ser ensaiada durante as comemorações de
dez anos do partido. Depois uma espécie de ensaio de mea culpa com
aquela história de “resgatar os valores” do partido (só se resgata algo que se
perdeu), Lula mirou de novo nos moinhos de vento da oposição e da imprensa, como
se a primeira de fato existisse e como se a segunda de fato não fosse a
fundadora do mito em que ele se tornou.
Entre uma festa e outra, no cenário que já vai ficando velho, surge a
inefável figura do presidente do partido, Ruy Falcão, para rezar seu mantra de
controle da imprensa, agora acrescido da irresistível tentação de controlar o
Judiciário, condições indispensáveis para que o partido se perpetue no
poder.
Assim, para guardar a donzela Dulcinéia del Toboso dos ataques dos cavaleiros
andantes , o PT, como dom Quixote, precisa alimentar a fantasia dos recorrentes
moinhos de vento: a oposição, a imprensa, a Justiça.
O que não faltam são Sanchos Panças e Rocinantes para ajudar o cavaleiro a
compor a saga de sua triste figura.
Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor
do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação
da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do
livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani
Sanchez.
Um comentário:
Éssa comparação foi fantástica. E verdade, esta cheios de Sanchos Panças por aí querendo caminhar e enrolar toda cúpula que engloba o PT e o Brasil PT.
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