sexta-feira, 31 de maio de 2013

Foto Nicholas McCalip
 
Por vezes parece mentira a vida que tenho. A pele que visto. A roupa que me serve. Os sapatos que calço. Parece não ser verdade que sou quem sou. Com todo o peso que carrego ou com toda a leveza que transpiro. Por vezes vejo outro reflexo que não é o meu. Como se vivesse numa bolha ou na via láctea.

Tantas vezes olho para as minhas conquistas e não me lembro de as combater. Ou esgatanho-me até alcançar o que não me realiza. Perdi tanta memória que tanto gostava de recuperar. Não me basta ler entradas vagas nas agendas ou nos cadernos ou ver fotos de outros tempos. Há momentos dos quais gostava de conseguir recuperar cheiros, dores, angústias, alegrias. Vedo e acimento de tal forma episódios da minha vida que mesmo que queira recuperar coisas boas dessas épocas não o consigo fazer. É como se fosse outra pessoa a viver algo vivido por mim. Os meus filhos cresceram depressa demais. As pálpebras carregadas revelam demasiado o caminho que já percorri.
 
 
Madalena Palma

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