Há muito o consumo de drogas no Brasil deixou de ser restrito ao âmbito
familiar para se tornar um problema social. Segundo pesquisa do Instituto
Nacional de Pesquisas de Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (Inpad),
da Unifesp, concluída em 2012, o Brasil é hoje o maior mercado mundial de crack
e o segundo maior de cocaína.
Estima-se que mais de um milhão de brasileiros consumam crack, cujos pontos
de consumo e tráfico, as chamadas cracolândias, chegaram às 27 capitais
brasileiras e à quase totalidade das grandes e médias cidades brasileiras.
O Brasil que cresceu economicamente é o mesmo que, nos últimos anos, passou
de rota a porto final do tráfico internacional — 60% da cocaína produzida pela
Bolívia são vendidos e consumidos no Brasil sob o olhar inerte do governo
federal.
Foto: Nilton Fukuda / AE
A droga que ultrapassa os limites da fronteira brasileira é aquela que
abastece o bolso do crime organizado, aumentando a insegurança, que condena à
incerteza de um futuro nebuloso milhares de jovens brasileiros e suas
famílias.
Diante deste quadro dantesco, São Paulo não se calou. Foi pioneiro em
implantar clínicas públicas para tratamento de dependentes químicos ainda em
2010, mesmo enfrentando a resistência do Ministério da Saúde e tendo de arcar,
sozinho, com o custo do tratamento. Atualmente, há 910 leitos disponíveis e, até
2014, serão 1.300.
No início de maio, o governador Geraldo Alckmin deu outro importante passo
para melhorar a rede de assistência aos dependentes químicos com o lançamento do
Cartão Recomeço. Por meio dele, entidades especializadas receberão até R$ 1.350
por mês para acolher, recuperar e reinserir essas pessoas na sociedade.
Enfrentar o tráfico e tratar os dependentes requer ações rápidas e medidas
urgentes. Infelizmente, o Governo Federal, com a morosidade que lhe é habitual,
não consegue acompanhar esse processo com a agilidade necessária.
Difundido fortemente durante a campanha eleitoral da presidente Dilma
Rousseff, o programa Crack, É Possível Vencer já foi inventado e reinventado
antes de conseguir deixar o papel e chegar às ações práticas.
Difundido em 2010, o programa foi relançado em dezembro de 2011. No ano
seguinte, 2012, apenas 10% dos recursos autorizados para as ações do programa
tinham sido empenhados. E, pela execução orçamentária até o momento, nada aponta
que 2013 tenha um fim diferente.
Possibilitar aos dependentes químicos uma alternativa de tratamento e,
consequentemente, de mudança de vida requer mais que palavras e bonitos
programas na TV. Requer coragem, ações efetivas e compromisso com as pessoas.
Para isso, é preciso superar a inércia do discurso.
Duarte Nogueira é deputado federal e presidente do PSDB
em São Paulo.
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