A introdução de cotas na USP e no sistema universitário brasileiro é um
verdadeiro absurdo.
No Brasil, sabe-se pouca matemática. Com o 6º PIB do mundo, em dois rankings
diferentes, o Brasil ocupa o 53º lugar dentre 65 países no ranking do Programa
Internacional de Avaliação de Alunos da OCDE, e o 116º lugar dentre 144 países
no ranking do Fórum Econômico Mundial.
É nítido o esforço do governo brasileiro no aumento do número de estudantes
nos níveis fundamental, médio e universitário, o que resulta no aumento do IDH,
mas aprende-se pouco no Brasil, com qualidade que deixa a desejar.
A nota média de matemática no ENEM fica bem abaixo dos 50%, ou seja, o aluno
brasileiro aprende menos que 50% da grade formal do ensino no país.
A introdução de cotas vai no sentido contrário da excelência.
A USP ocupa hoje a 45ª posição nos rankings internacionais, a única
universidade da América Latina a ocupar uma posição entre as 100 melhores do
mundo.
Após a derrota na Revolução Constitucionalista de 1932, a USP foi criada em
1934 “para retomar a hegemonia política através das ideias, e não através da
força”, segundo seus fundadores.
A criação da USP assemelha-se em muito à fundação da Universidade de Berlim,
em 1808, quando a Alemanha estava enfraquecida pelas Guerras Napoleônicas.
Seu objetivo era a geração do conhecimento pelo conhecimento, com a qualidade
e a excelência necessárias à apreensão e compreensão do conhecimento
organizado.
Teodoro Ramos, matemático brasileiro, foi então designado para trazer para a
USP os melhores talentos do exterior. Para a Física veio Gleb Wataghin,
discípulo de Enrico Fermi, físico que pela primeira vez quebrou o átomo de forma
controlada em 1942. Para as Ciências Sociais, Levi Strauss, que formou gerações
de pensadores brasileiros. Dentre outros.
Do Departamento de Física resultou a indústria eletrônica no Brasil, o ITA, a
Embraer, e nossa capacidade de utilizar a energia atômica. Do de Ciências
Sociais, pesquisas socioeconômicas que tanto nos beneficiaram. E muito mais, em
diversas áreas, como química, medicina, e inúmeras outras.
É através da ciência pela ciência que se chega ao conhecimento prático, de
utilidade. As tentativas da implantação de uma “ciência natural dialética” na
Rússia de Josef Stalin, ou na China, durante a Revolução Cultural Proletária de
Mao Tse Tung, não deram certo, sendo substituídas por centros de excelência.
Enquanto o MIT e Harvard garantem recursos para os selecionados com alto
nível de rendimento intelectual e científico, independentemente de classe,
etnia, nacionalidade ou grupo social, aqui se estabelece previamente cotas para
grupos sociais específicos, como se a ciência pudesse ser aprendida por
decreto.
Há falta de qualidade no ensino básico, equívoco e retrocesso no ensino
universitário.
Precisamos de excelência para o desenvolvimento e gestão do país.
Ricardo Guedes, Licenciado em Física pela UFRJ e Ph.D.
em Ciências Políticas pela Universidade de Chicago, é Diretor-Presidente do
Instituto de Pesquisa Sensus.
O Globo
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