sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Nietzsche e o fim da filosofia de parachoque

Aquilo que não me mata, só me fortalece”. Assina que é teu, amado mestre Friedrich Nietzsche, aquele do vassourístico bigode.
 
“O que não mata, engorda”. Essa é frase de qualquer vagabundo anônimo de olho gordo mesmo, aquele sujeito que se expressa apenas em ditados populares.
 
Aí é que você vê, nos exemplos, como a filosofia de pára-choque de caminhão sempre foi nietzscheana ou tradutora do alemão para a estrada.
 
Reflito aqui à beira do caminho, na cidade de Iconha (ES), a encruzilhada que mais junta caminhoneiros no Brasil. Venho de Cachoeiro, terra do Roberto, terra de Sérgio Sampaio, terra de Rubem Braga.
 
É filosofia alemã pura, havia me alertado, muitos anos antes dessa viagem, o amigo Paulo Mota, cearense de Sucesso. Agora faço um eterno retorno do tema.

O pior, porém, é que não é mais possível filosofar em parachoquês. Já era.
 
Havia tomado um susto, dez anos atrás, sobre a escassez das frases nos caminhões. Foi em uma jornada entre Juazeiro do Norte/SP, na boleia de uma possante carreta, em reportagem sobre caminhoneiros para a revista “V”, na companhia do fotógrafo Tiago Santana.
 
Agora é para valer: a filosofia de parachoque morreu na buraqueira da estrada. Nietzsche deve estar molhando seu bigodón em lágrimas de Viena.
 
Sai a filosofia popular-nietzchiana e entra a louvação religiosa.
 
Jesus, aqui resguardado todo respeito e devoção cristã, acabou com as clássicas frases, sempre sábias e decifradoras da vida. Jesus invadiu todos os parachoques, lameiras e painéis de caminhões.
 
Quando não tem Jesus, vai o escudo de time, mas o amor clubístico também não é mais o mesmo. Um Flamengo aqui, um Corinthians acolá, um São Paulo mais adiante, um Vasco, um Atlético Mineiro…
 
Os mais românticos ainda pintam lá um coração com o nome dela, a amada, como na canção do Roberto. O mais lindo que avistamos foi um “Eu te amo, Joaninha, luz da minha vida”.
 
No que Caetano, o motorista cearense que nos conduzia, sábio de rodagem, não se contém: “Ser caminhoneiro tudo bem, ninguém escolhe o destino; mas ser caminhoneiro e corno também já é demais da conta!”
 
Manda a pérola e aperta a trilha sonora, DJ de boleia, na marcha lenta: Benito de Paula. “Ah, como eu amei…”
 
É, amigo, a filosofia de parachoque já era, mas você há de ter na memória a sua preferida. Vamos recuperar essa memória da estrada? Deixe nos comentários, por favor, a sua pérola.

 
 
Xico Sá

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