Aquilo que não me mata, só me fortalece”. Assina que é teu, amado mestre
Friedrich Nietzsche, aquele do vassourístico bigode.
“O que não mata, engorda”. Essa é frase de qualquer vagabundo anônimo de olho
gordo mesmo, aquele sujeito que se expressa apenas em ditados populares.
Aí é que você vê, nos exemplos, como a filosofia de pára-choque de caminhão
sempre foi nietzscheana ou tradutora do alemão para a estrada.
Reflito aqui à beira do caminho, na cidade de Iconha (ES), a encruzilhada que
mais junta caminhoneiros no Brasil. Venho de Cachoeiro, terra do Roberto, terra
de Sérgio Sampaio, terra de Rubem Braga.
É filosofia alemã pura, havia me alertado, muitos anos antes dessa viagem, o
amigo Paulo Mota, cearense de Sucesso. Agora faço um eterno retorno do tema.
O pior, porém, é que não é mais possível filosofar em parachoquês. Já era.
Havia tomado um susto, dez anos atrás, sobre a escassez das frases nos
caminhões. Foi em uma jornada entre Juazeiro do Norte/SP, na boleia de uma
possante carreta, em reportagem sobre caminhoneiros para a revista “V”, na
companhia do fotógrafo Tiago Santana.
Agora é para valer: a filosofia de parachoque morreu na buraqueira da
estrada. Nietzsche deve estar molhando seu bigodón em lágrimas de Viena.
Sai a filosofia popular-nietzchiana e entra a louvação religiosa.
Jesus, aqui resguardado todo respeito e devoção cristã, acabou com as
clássicas frases, sempre sábias e decifradoras da vida. Jesus invadiu todos os
parachoques, lameiras e painéis de caminhões.
Quando não tem Jesus, vai o escudo de time, mas o amor clubístico também não
é mais o mesmo. Um Flamengo aqui, um Corinthians acolá, um São Paulo mais
adiante, um Vasco, um Atlético Mineiro…
Os mais românticos ainda pintam lá um coração com o nome dela, a amada, como
na canção do Roberto. O mais lindo que avistamos foi um “Eu te amo, Joaninha,
luz da minha vida”.
No que Caetano, o motorista cearense que nos conduzia, sábio de rodagem, não
se contém: “Ser caminhoneiro tudo bem, ninguém escolhe o destino; mas ser
caminhoneiro e corno também já é demais da conta!”
Manda a pérola e aperta a trilha sonora, DJ de boleia, na marcha lenta:
Benito de Paula. “Ah, como eu amei…”
É, amigo, a filosofia de parachoque já era, mas você há de ter na memória a
sua preferida. Vamos recuperar essa memória da estrada? Deixe nos comentários,
por favor, a sua pérola.
Xico Sá
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