A carreira de Silvino
está documentada nos folhetos de Francisco das Chagas Batista, que cobrem suas
aventuras até 1912. Uma ótima avaliação deles está em Memória de
Lutas de Ruth Brito Lemos Terra (Global, 1983), onde ela compara a abordagem
de Chagas Batista, mais documental, com a de Leandro Gomes de Barros, mais
fantasiosa e romantizada. Tal como Lampião, Silvino foi exaltado por poetas e
escritores como um guerreiro nobre e ético. Em As Infâncias de Quaderna,
de Ariano Suassuna, é ele quem resgata o menino Quaderna, raptado por ciganos, e
o devolve à família; em Menino de Engenho, José Lins do Rego reconstitui
uma visita do cangaceiro ao coronel José Paulino, que o recebe à mesa, com todas
as honras.
Foi, aliás, o próprio Zé Lins que em 1938 levou
Graciliano Ramos a visitar Silvino na prisão, antes do seu indulto. Numa
crônica no Jornal de Alagoas (18-9-1938, aqui: http://bit.ly/NI7SRl), Graciliano faz um
retrato elogioso do ex-cangaceiro, onde ficam evidentes os preconceitos de raça
e classe que ambos inconscientemente compartilhavam. Diz ele: “Antonio Silvino é
um homem branco. Seria mais razoável que fosse um representante das raças
inferiores, que, no Nordeste e em outros lugares, constituem a maioria da classe
inferior. Mas é um branco, e se for examinado convenientemente, não dá para
bandido. (...) Homem de ordem, indispôs-se com outros homens de ordem, fez
tropelias no sertão, caiu numa cilada e penou vinte anos para lá das grades.
Continuou, porém, a ser o que era, apesar da cadeia: homem de ordem, membro da
classe média, com todas as virtudes da classe média”. Sertanejos escritores,
políticos ou cangaceiros que respiravam o mesmo ar, as mesmas idéias.
Braulio Tavares
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