Tudo bem, tio Nelson Rodrigues já dizia: um homem aos 20 e poucos anos não sabe
sequer pronunciar um bom dia para uma mulher.
Certo, certíssimo. Como no mantra dos sertões: certo como boca de padre,
justo como boca de bode.
A gente demora pra cacete a amadurecer. É sério. Não existe carbureto ou
qualquer outra química que avexe tal processo bananoso -o carbureto, como
qualquer homem de verdade há de saber, é uma pedra milagrosa amadurecedora de
frutas em tempo recorde.
Há até quem diga, a tirar pela nossa zoação permanente, que os homens não
amadurecem nunca.
Pode ser. É realmente um eterna pelada com direito a churrasco e cerveja
depois. Nada tão ruim assim. Há uma leveza boa também nisso, como me alertava
uma ex, coisa marlinda das minas sem mares das Gerais do mundo inteiro.
“Ora, homem vai até pra guerra, não é fácil a vida de vocês”, dizia a mesma
graça de moça tentando entender as nossas bobagens nos quintais da vila Pompeia
& arredores paulistanos.
Tudo bem que a gente demora, volto algumas casas. Mas daí achar que a vida do
macho começa apenas aos 54 é exagero. Demais da conta.
É o que diz uma pesquisa inglesa publicada esta semana pelo “The Telegraph”,
um jornal dito sério. Se é que existe jornal sério no mundo fora “O Pharol” de
Petrolina.
A vida principia aos 54 anos para os marmanjos. Ah, é? A manchete me faz
deitar na rede branca e reler tudinho do Tolstói de novo. É a única maneira
honesta e proveitosa para esperar a minha hora na varanda do Capibaribe.
A tese da pesquisa é até simples: somente a esta altura os miseravões começam
a aproveitar a vida como adultos de verdade –haja aspas para adultos de verdade.
Somente nesta fase outonal, digamos assim, os homens estariam “resolvidos e
seguros”.
Ao contrário das gerações anteriores, a madureza de hoje é/seria mais
demorada. O cara demora mais pra sair da casa dos pais, o cara demora mais pra
ter filho, o cara é um ser demorado, folgado, que foge do vínculo e dos
compromissos à moda antiga.
O temor de não acertar na vida –como se a vida fosse uma planilha do Excel-
faz também o homem adiar esse momento ideal.
É medo de tudo, rapaz:
De ficar sem grana, um looser perdido e estranho no paraíso como um
personagem de filme de Jim Jarmusch. Pior: um velho lesado e mais liso que
muçum (Synbranchus marmoratus) do açude do Orós.
O medo da solidão também pega. Principalmente aos domingos. Ai de mim,
Copacabana.
O medo do corpo caído (ah, seus metrossexuais mal-agradecidos dos seiscentos
diabos!) e outras inseguranças anatômicas. Ah, vão se danar, homem que é homem
não se preocupa com um galinheiro inteiro, quanto mais com um ou outro pezinho
de galinha no poleiro da existência.
Deixai as rugas residirem, sem pagar o aluguel da vaidade, em vossos
rostos.
Quanta frescura, meu Deus, quanta perobice, quanto baitolismo, quanta
qualiragem, quanto frufru e nove-horas, se é que você me entende.
Haja medo. A pesquisa também detectou o medinho de lidar com a careca, com o
queixo duplo e com as mamas (rs). Só rindo, amiga. Las tetas. Tetinhas mais
lindas, como diria meu grande amigo Marcelo Coppola.
Um autêntico macho-jurubeba não teme essas frescuras. Em um mundo onde os
fracos não têm vez isso não existe. Suponho, supunhetamos.
No Ceará não tem disso não, como alertava Gonzaga. Pelo menos no Cariri eu
garanto (rs). Lá em nós até a velha da foice, mexicana e fatal, chega educada,
cheia de com-licenças e cerimônias.
Fiquei invocado com esta pesquisa. Cá entre nós, você acha que somente aos 54
alcançamos essa segurança? Ou nunca?
Xico Sá
Nenhum comentário:
Postar um comentário