Quando os figurões do governo Nixon envolvidos no escândalo de Watergate
começaram a ir para a cadeia, um cômico americano imaginou-os liderando um motim
entre os presos, batendo nas mesas do refeitório com seus talheres e pedindo
“Montrachet! Montrachet!” ou outro vinho da mesma estirpe para acompanhar a
comida.
Se a prisão dos acusados do mensalão estiver mesmo inaugurando uma nova
prática jurídica no país, o encarceramento de condenados sem distinção de nível
social ou importância política, uma das consequências disso pode ser uma melhora
dos serviços penitenciários para receber a nova clientela.
Prevejo duas coisas: uma que quando exumarem esse processo do mensalão daqui
a alguns anos, como agora fazem com os restos mortais do Jango Goulart,
descobrirão traços de veneno, injustiças e descalabros que hoje não dão na vista
ou são ignorados. O que só desgravará alguns dos condenados quando não adiantar
mais nada. Outra profecia é que, mesmo sem “Montrachet”, a comida das
penitenciárias certamente melhorará.
Prisões mais humanas e democráticas serão um avanço, mas nossa meta deve ser
o que acontece na Suécia, como li há dias. Lá vão fechar algumas penitenciárias
por falta de detentos. Diminuiu a população carcerária na Suécia, abrindo
imensos espaços ociosos até para — por que não? — importarem presos de países
onde há superpopulação carcerária.
Não se imagina uma campanha de incentivo à criminalidade na Suécia para
reabastecer suas penitenciárias igual a campanhas de incentivo à fertilidade que
havia na França, onde as pessoas eram premiadas por ter filhos.
Na Itália havia, e acho que ainda há, uma crise educacional grave, não por
falta de lugar nas escolas, mas por excesso de lugar: simplesmente não existiam
crianças suficientes para encher as salas de aula e fazer o sistema funcionar
normalmente.
A solução era animar a população: façam filhos, façam filhos! Ou, no caso da
Suécia: roubem! Matem! Enganem o fisco! Temos uma cela quentinha para você!
Especula-se que os programas de reabilitação de presos nas cadeias sejam
responsáveis pela diminuição da criminalidade na Suécia e que... Mas do que
adianta sonhar com outra realidade quando a nossa, nesse assunto, ainda é
medieval?
Mesmo que melhore a frequência nas nossas cadeias ainda estaremos longe do
ideal. Ou, no mínimo, do escandinavo.
Luís Fernando Veríssimo é jornalista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário