Uma das coisas mais
fascinantes das redes sociais é o fato de que, quando temos um número grande de
seguidores ou amigos, temos direito a vislumbres rapidíssimos e enigmáticos da
vida de pessoas que conhecemos só superficialmente, ou que nem fazemos idéia de
quem são. Parece uma lei-não-escrita dessas redes que cada um de nós é livre
para postar o que bem entender; mas, devido ao excesso de exposição pública, é
melhor não ser demasiado explícito. Vai daí que as redes sociais são um terreno
fértil para a Insinuação, a Indireta, a Vagueza Proposital, a Alfinetada Sutil,
a Cotovelada de Quem Não Está Mais Aqui, a Ameaça Pública Velada, o Queixume Com
Destino Certo...
Você vai correndo a tela,
olha aqui, olha acolá, e de repente se depara com alguém que posta: “Muita gente
pensa que só quem cai pra baixo é a chuva, mas não perde por esperar!”. Como sou
um cara meio paranóico, tudo que leio penso que é comigo, até as quadras de
Nostradamus. Aí, verifico direitinho quem é a pessoa, peço ao Facebook para
exibir nossa amizade, acabo me tranquilizando. Não é comigo. Mas quando retorno
à página, um sujeito de má catadura acabou de postar: “De falsos intelectuais
este Facebook está cheio, mas tudo bem, isso me dá motivos para gargalhadas, e
faz bem à saúde!”. Recuo, desconcertado. Que mal fiz eu ao barbudo para ele me
chamar de pseudo-intelectual? Meia hora para me auto-dissuadir, para me
refazer.
Você se distrai com as
postagens de uns e de outros, este aqui indicando um clip de erros de
continuidade no cinemão blockbuster, outro mostrando um número ao vivo de Django
Reinhardt, outro com a lista dos dez gols mais bonitos na votação da Fifa... O
mundo vira um parque de diversões inofensivo, ou uma confeitaria onde as
guloseimas são de graça e não empanturram. Mas de repente, surge aquela postagem
lacônica de alguma senhora: “Uma certa pessoa deveria tirar o cavalinho da chuva
pensando que está com a bola toda. Não está não, mas vai descobrir da pior
maneira possível”. Meu dia desmorona. O que foi que eu fiz a essa postante? Nem
reconheço o nome! Clico, verifico a foto, a verdade é que nunca a vi mais gorda,
tenho até vontade de comentar seu post dizendo isso, mas se ela já está belicosa
é capaz até de levar a mal.
O que me salva são os
mistérios positivos. Uma moça posta: “Tiiinnn-tiiinnn... Gente, não caibo em mim
(é caibo que se diz? Xapralá!), estou com uma novidade ma-ra-vi-lho-sa mas por
motivos óbvios não posso tornar público ainda. # felizdavida”. Continuo sem
saber quem é, o que será que lhe aconteceu; mas a luz alheia também nos ilumina,
e por essa noite vou dormir feliz.
Eduardo Salles
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