sábado, 2 de novembro de 2013

A amizade no Lísis de Platão

 
               Dentre as relações humanas destacam-se as várias formas de amor. O amor era entendido pelos gregos a partir de vários conceitos ou dimensões especificas, tais como: o amor erótico (Eros), a amizade (Philía), o amor espiritual (Ágape), etc. A amizade é uma das primeiras relações que os homens mantêm entre si em sua cotidianidade, e sua análise do ponto de vista filosófico é de grande importância, fato comprovado tanto pela análise feita pelos filósofos gregos mais importantes como Pitágoras, Platão e Aristóteles, Epicuro, além de Cícero e Sêneca (em Roma), como pela sua imediata proximidade na vida humana, no sentido de ser esta amizade uma relação espontânea.
 
Talvez em nenhum outro lugar a amizade assumisse tão grande importância quanto na Grécia clássica. Já nos tempos heróicos temos conhecimento da amizade perene entre Aquiles e Pátroclo, enfatizada na Ilíada de Homero, e no período clássico Sócrates é conhecido como admirador da amizade no seu sentido mais autêntico. O termo grego philía, que traduzimos por amizade é importante para se compreender inclusive a própria palavra “philosophia”, que remonta segundo a tradição a Pitágoras, que com grande humildade não queria ser chamado sábio (sofos - sophos), mas amigo (filos - philos) da sabedoria (sofia - sofia), reflexo disso também observamos em Sócrates, que ao dizer que sabia que nada sabia foi considerado o mais sábio entre os gregos pelo oráculo de Delfos.
 
Platão chegou a escrever um diálogo sobre tal assunto chamado Lísis, um diálogo da juventude no estilo maiêutico, tendo como principal interlocutor Sócrates. Lísis (lisis em grego) significa ‘libertação’ e, de certo modo, podemos compreender que a amizade nos possibilita uma saída do mundo sensível em direção ao mundo inteligível e do sumo Bem, ou seja, uma libertação das aparências, este que é o escopo da filosofia platônica. Também Aristóteles trata da questão da amizade em seu livro Ética a Nicômaco (livro VIII), dividindo-a em três tipos: a amizade por utilidade, por prazer e por virtude.
 
Segundo Epicuro: “De todas as coisas que nos oferece a sabedoria para a felicidade de toda a vida, a maior é a aquisição da amizade”. Epicuro é conhecido pela valorização da amizade, talvez o bem mais precioso cultivado no seu famoso jardim. Em muitos de seus aforismos destaca-se a importância dada à amizade como um bem e uma fonte de felicidade, seja para jovens, crianças e idosos.
 
A filosofia em sua essência só se dá numa relação amistosa, ou seja, a amizade à sabedoria pode ser compreendida também como uma sabedoria da amizade. Isto é evidente na medida em que os grandes filósofos sempre trataram a amizade como uma relação fundamental não apenas para a vida humana em geral, mas como condição de possibilidade do diálogo filosófico. Haveria diálogo possível entre inimigos?
 

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